O papel da Atenção Primária à Saúde (APS) para a estruturação de sistemas universais de saúde e a importância da formação de recursos humanos para sustentação deste modelo foram os destaques nas discussões ocorridas no último dia do seminário APS – estratégia chave para a sustentabilidade do SUS, realizado nesta quarta-feira (18/04), em Brasília. O encontro faz parte da agenda 30 anos de SUS, que SUS em 2030?, promovida pela OPAS, que propicia o debate técnico sobre o futuro do Sistema Único de Saúde (SUS). “Este seminário é a peça principal desta agenda no sentido que a Atenção Primaria é a coluna vertebral do SUS. A nossa convicção é que a materialização do SUS Constitucional para o SUS real passa pelo fortalecimento da APS. No seminário tentamos ilustrar isto, mostrar as evidências e experiências reais de como fortalecer a APS no país”, explica Renato Tasca, coordenador da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS.
No primeiro dia de encontro (ver matéria), as discussões abordaram a eficiência dos gastos em saúde e as evidências científicas sobre os resultados de uma APS forte, baseada na Estratégia Saúde da Família, que contribuem para a melhoria das condições de saúde da população. Nesta quarta-feira (18/04), a formação de recursos humanos na saúde e o desafio da APS para enfrentar as demandas das condições crônicas foram os principais pontos levantados.
A apresentação do modelo de integração da saúde da Espanha e do sistema público de saúde do Canadá propiciaram a reflexão sobre a importância da formação de recursos humanos, especialmente, de médicos especialistas em Saúde da Família e Comunidade em quantidade e qualidade suficientes para atender o modelo de saúde baseado na APS. “Na Espanha, a APS tem um modelo comum em todo país e valoriza a formação em Medicina da Família e Comunidade que tem o mesmo status de outras especialidades como a Cardiologia”, afirmou o pesquisador Sergio Minué, da Escola de Saúde Pública de Andaluzia, Espanha.
O professor Jacques Girard, Universidade Laval, em Quebec, ressaltou o caráter de bem público do sistema de saúde canadense e a responsabilidade do governo na formação de recursos humanos na Saúde para atuar na APS. “Temos a responsabilidade de criar as condições para que jovens estudantes de medicina possam optar pela Medicina da Família e Comunidade”, disse.
Experiências inovadoras do SUS
A Escola Multicampi de Ciências Médicas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, apresentou a experiência de formação de médicos inseridos no sistema de saúde do território. “Nós estimulamos a formação dos nossos futuros médicos no sistema de saúde onde residem, investimos no ensino integrado às redes de atenção, inserindo o estudante nos diferentes níveis de atenção e na equipe multiprofissional”, explicou George Dantas, diretor da Escola.
Como experiência inovadora na mudança do modelo de atenção à saúde com enfoque na APS, foram apresentadas as experiências do Distrito Federal e do município de Santo Antônio do Monte, em Minas Gerais, este especialmente no manejo das condições crônicas.
No Distrito Federal, o projeto Converte transformou o modelo assistencial de saúde tornando todas as unidades básicas de saúde em Estratégia Saúde da Família, por meio da adesão dos profissionais de saúde estatutários. “Em um ano conseguimos ampliar a cobertura populacional da Estratégia Saúde da Família de 30% para 69% no DF, inauguramos nove UBS com novo modelo e estamos investindo na capacitação dos profissionais de saúde”, ressaltou Daniel Seabra, subsecretário de Saúde do Distrito Federal.
Já a pesquisadora Mônica Viegas, da Universidade Federal de Minas Gerais, apresentou os resultados do Laboratório de Inovações na atenção às condições crônicas em Santo Antônio do Monte/Minas Gerais (Samonte) que implantou o modelo de atenção à saúde na cidade, com foco no cuidado dos usuários com hipertensão arterial e diabetes, gestantes e crianças de até um ano de idade. “De 2015 a 2017, tivemos uma redução de 7% nos gastos em saúde do município com a mudança do modelo de atenção”, ressaltou o prefeito Dinho do Braz.
O sanitarista Eugênio Vilaça, que coordenou o processo de implantação do modelo de manejo das condições crônicas em Samonte, por meio do Laboratório de Inovação desenvolvido entre CONASS, SES MG e OPAS, explicou que a iniciativa utilizou como referencial teórico o Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC), que une o Modelo da Atenção Crônica, o Modelo da Pirâmide de Risco e o Modelo da Determinação Social da Saúde de Dahlgren e Whitehead. Vilaça também apresentou a importância de se organizar os macros e microprocessos da Atenção Primária e do manejo das doenças crônicas que envolvem desde a territorialização, cadastramento das famílias, classificação de riscos familiares, diagnostico local, planejamento da infraestrutura física, planejamento de recursos humanos, estratificação de risco das condições crônicas até a implantação dos procedimentos operacionais padrão (pops) e fluxos administrativos nas unidades básicas.
Apesar de toda organização do sistema de saúde realizado em Samonte, Vilaça destacou que a peça chave para o sucesso de transformação do SUS foi a adesão do usuário. “Em condições crônicas, se a pessoa não souber cuidar de si o sistema de saúde não conseguirá estabilizar a sua situação de saúde. E a tarefa de ativação do autocuidado nos usuários portadores de condições crônicas é da equipe da Atenção Primaria à Saúde”, assegura o sanitarista Eugenio Vilaça
Acesse as apresentações:
LAboratório de Inovação em Samonte – Mônica Viegas, Universidade Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, Brasil.