O médico e pesquisador da Escola Andaluza de Saúde Pública (Granada, Espanha), Sérgio Minué, que participou nesta terça-feira (29/10) da cerimônia do Prêmio APS Forte para o SUS: acesso universal, ressaltou durante a sua palestra que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem muito a contribuir no fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS) no mundo, inclusive em países onde a APS já conta com longa tradição. “As experiências apresentadas aqui trazem muitas inovações que podem contribuir para o aperfeiçoamento da APS em países da Europa e de outras Regiões”, declarou Minué.
Andaluzia é um centro de referência sobre APS e colabora tecnicamente com a OMS, a OPAS, instâncias do SUS e instituições acadêmicas na formação de profissionais brasileiros e de diversos países. Este foi um dos motivos que a OPAS e Ministério da Saúde escolheram a Andaluzia como destino da viagem de estudo que os autores das 11 experiências finalistas do Prêmio farão no primeiro semestre de 2020.
Em sua palestra, Sérgio Minué apresentou os principais desafios da APS globalmente, com ênfase nas proposições da Conferência Mundial sobre APS de Astana, Cazaquistão, realizada 40 anos após Alma-Ata, em 2018. Ele destacou as diferenças entre as garantias de cobertura e de acesso, as dificuldades de se assegurar o acesso aos serviços de saúde para todas e todos, em especial em ambientes de crise financeira e de tendências à restrição de políticas públicas.
Para Minué, a redução da iniquidade deve ser um dos objetivos centrais da APS. “A Atenção primária e forte contribui para reduzir as inequidades, as hospitalizações e apresenta melhores resultados em saúde”, pontuou.
O pesquisador ressaltou ainda a importância da satisfação dos profissionais de saúde que atuam no serviço público na prestação do cuidado, que segundo ele, contribui para a própria sustentabilidade da APS e qualifica a atenção prestada à população. Outro ponto defendido em sua palestra foi a eficiência da APS enquanto organizadora da rede de atenção, contribuindo para a redução de custos e desperdício de recursos.
Dentre das perspectivas colocadas para a APS no futuro, Sérgio Minué destacou a necessidade de adequar os sistemas de saúde às necessidades sanitárias das populações e aos avanços tecnológicos, em especial nos campos da informação e da comunicação, que podem impactar nas práticas profissionais, na conformação do mercado de trabalho e nas demandas dos usuários.
Brasil e Espanha
Para o Portal da Inovação, o médico especialista em Saúde da Família e Comunidade fez uma análise da evolução dos sistemas universais de saúde da Espanha, que completou 40 anos, e do Brasil, dez anos mais novo. “Espanha aplica 5.5% do Produto Interno Bruto, que ainda é muito baixo, devido às restrições da União Europeia mas mesmo assim oferecemos um bom serviço para a população. Mas a Espanha é uma país fácil no sentido que representa a quarta parte do Brasil, onde as profissões são majoritariamente públicas, pois a população recebe a atenção à saúde de um provedor público e neste aspecto não é tão complexo como em um país como o Brasil, que tem mais de 200 milhões de habitantes e com o provimento fragmentado entre setor público e privado, com uma desigualdade social tão grande”, explica Sergio Minué. Mas mesmo assim o pesquisador ressalta os avanços do SUS no período e atribui à expansão da cobertura da APS no país. Confira a entrevista.