“Percebemos diminuição drástica das obstruções de cateteres venosos centrais e, por conseguinte, da perda destes dispositivos decorrente de cristalizações por incompatibilidade medicamentosa. A equipe passou a consultar as possíveis interações antes de administrar determinado medicamento ou instalar soluções de infusão contínua.”
Raquel Sousa, enfermeira
Para garantir que pacientes pediátricos e adultos recebam a medicação injetável de forma certa e na dose correta, a equipe de enfermagem do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), vinculado à Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (DF), desenvolveu o Manual de Orientações para Preparo e Administração de Medicamentos Injetáveis para estes pacientes. Acesse aqui
Institucionalizado como documento oficial da rede pública de saúde para toda equipe multidisciplinar, em 2019, o Manual serve para consulta rápida pela equipe de Enfermagem durante a prática medicamentosa. Traz a descrição de 103 medicamentos injetáveis apresentando informações como a maneira correta de preparo, o tempo de administração, a conservação, a estabilidade do medicamento, entre outras informações.
“Apesar dos esforços para aumentar a segurança do paciente, incidentes relacionados a medicamentos estão entre os mais comuns nos serviços de saúde contribuindo para o aumento do tempo de internação, dos custos hospitalares e da morbimortalidade”, relata Raquel Sousa, enfermeira especialista assistencial na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos do HMIB, autora principal do estudo que resultou no Manual. Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o desafio de reduzir em 50% os danos graves e evitáveis associados a medicamentos em todos os países até 2022, conhecido como Global Patient Safety Challenge on Medication Safety.
O estudo desenvolvido no HMIB mostrou que a falta de informações disponíveis para consultas rápidas pela equipe de enfermagem prejudicava o manejo adequado da terapia medicamentosa infusional. Também evidenciou que parte dos erros associados às obstruções trombóticas de cateteres venosos centrais (CVC) ocorria por incompatibilidade medicamentosa, ou seja, muita diluição e administração de medicamentos injetáveis, e outras forma equivocadas de manejo do paciente. Devido ao perfil pediátrico do hospital, era frequente questionamentos sobre o procedimento neste público.
O Manual tem a potencialidade de impactar diretamente na assistência, no gerenciamento do cuidado e na educação permanente dos profissionais envolvidos na terapia medicamentosa. “Percebemos diminuição drástica das obstruções de CVC e, por conseguinte, da perda destes dispositivos decorrente de cristalizações por incompatibilidade medicamentosa. A equipe passou a consultar as possíveis interações antes de administrar determinado medicamento ou instalar soluções de infusão contínua”, afirma Raquel Sousa.
“Práticas que satisfaçam as necessidades dos pacientes de forma individualizada e que melhorem a segurança durante o processo de medicação devem ser exploradas”, destaca Onislene Alves, enfermeira e tutora de Enfermagem da Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva/ESCS/FEPECS/SES-DF, coautora da experiência.
Para elas, a produção do Manual promoveu a integração interdisciplinar entre médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e farmacêuticos. “A assistência tornou-se individualizada na elaboração de documento auxiliar à prescrição médica, com os detalhes sobre o preparo e a administração do medicamento injetável conforme especificidades do paciente, dos medicamentos e dos recursos materiais disponíveis”, ressaltam.
Quanto aos aspectos gerenciais e educacionais, as autoras destacam “o fomento dado à cultura de segurança do paciente, envolvendo não somente prática de técnicas isoladas, mas o empoderamento da enfermagem para promover a redução do risco de danos desnecessários associados à assistência em saúde”.
Fonte – Informações cedidas pelos autores.
Estudo Observacional
O HMIB presta assistência exclusiva aos pacientes do SUS, com capacidade para 252 leitos. O estudo desenvolvido entre 2014 e 2019, que originou o Manual de Orientações para Preparo e Administração de Medicamentos Injetáveis para pacientes adultos e pediátricos, apontou que cateteres venosos centrais (CVC) estavam obstruindo – com muita frequência – na unidade de cuidados intensivos pediátricos (UCIP). O estudo observacional concluiu que 25% dos CVC complicam com obstruções, sendo que as causas não trombóticas totalizam 42% das oclusões. Essa ocorrência é frequente em ambientes hospitalares, afetando significativamente a assistência, exigindo prevenção (requer identificação das causas).
Após investigação, o diagnóstico foi de que as obstruções eram, em sua grande maioria, decorrentes de incompatibilidade medicamentosa, ou seja, muita diluição e administração de medicamentos, incluindo outras decisões tomadas de forma equivocada. Também ficou evidenciada a falta de informações disponíveis para consultas rápidas, o que prejudicava o manejo adequado da terapia medicamentosa infusional. Por ser instituição pediátrica, frequentemente surgiam questionamentos sobre a correta diluição e manipulação dos fármacos em pediatria.
No primeiro momento, foi realizado o levantamento dos principais medicamentos injetáveis usados na instituição, e de tópicos essenciais ao manejo seguro de seu preparo e administração: Apresentação; Técnica de preparo: reconstituição e diluição adequada para cada faixa etária, assim como reajustes para pacientes que exijam restrição hídrica; Técnica de administração: via, tempo de infusão, cuidados especiais; Especificidades do fármaco: propriedades químicas, incompatibilidades, reações adversas mais comuns.
No segundo momento, iniciou-se a pesquisa bibliográfica sistematizada em base de dados e outros referenciais teóricos, incrementados por consulta aos bulários e fabricantes por meio do apoio ao consumidor. Após o levantamento das informações, os dados foram checados por profissionais convidados que também foram orientados a adequar as informações à realidade brasileira e acrescentando experiências clínicas. Neste ponto, o Manual apresentava a descrição de 103 medicamentos em 222 páginas de orientações práticas e informações seguras e primordiais para prescritores e executores de terapias infusionais.
O material foi disponibilizado durante 30 dias para consulta pública no site da Secretaria de Saúde, o que resultou em algumas alterações. O produto final desta experiência foi celebrado em cerimônia de lançamento, onde estiveram presentes autoridades públicas, gestores locais e servidores do hospital.
Algumas necessidades e lacunas foram sendo identificadas ao longo da implementação, em especial, a necessidade de capacitação da equipe de enfermagem da UTI Pediátrica/HMIB no manuseio e aplicabilidade do Manual, que se deu por meio de aulas teóricas e práticas com simulação realística, possibilitada graças ao apoio dos gestores locais que reconheceram a importância deste produto na qualidade e segurança da assistência, acreditando em seu potencial.
Valorização da Enfermagem
Uso de evidências científicas na prática da enfermagem
Raquel Sousa de Mores
Raquel Sousa de Moraes
Elaborado manual de consulta para orientar o preparo e administração de medicamentos injetáveis , inicialmente voltado para a equipe de enfermagem do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) . Atualmente o material é institucionalizado para toda a rede pública do DF e utilizado por toda equipe multidisciplinar. Foi elaborado por uma enfermeira, apoiada por farmacêuticos.
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