“O objetivo tem sido dialogar sobre questões pertinentes ao universo da loucura, utilizando-se da metodologia do Teatro do Oprimido com a sociedade, além de buscar alternativas para um tratamento mais humanizado da saúde mental, baseado na máxima do “cuidar sim; excluir não”. Fazemos isso até hoje por meio de apresentações teatrais em diversos contextos sociais”, informam os autores Eloana Gentil, Claudia Oliveira, Sérgio Lima e Alessandro Conceição no relato da experiência.
Criado em 1997, o grupo de Teatro do Oprimido Pirei na Cenna é composto por usuários de saúde mental, familiares e simpatizantes do Movimento da Luta Antimanicomial para dialogarem sobre questões pertinentes ao universo da loucura, utilizando-se da metodologia do Teatro do Oprimido. Foi no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, em Charitas, Niterói/RJ, onde tudo começou. Sempre com o apoio do hospital e do Centro de Teatro do Oprimido (CTO), o Pirei na Cenna vem contribuindo para dialogar sobre tratamento de saúde mental mais humanizada e desmistificada. Com 26 anos de existência, o grupo contabiliza mais de 500 apresentações, atingindo cerca de 10 mil pessoas em 13 estados brasileiros e uma temporada internacional em 2012 na Argentina (nas cidades de Buenos Aires e Rosário).
No repertório, o Pirei na Cenna possui 7 espetáculos: HIVida (1997), Ser ou não ser positivo (1998), Um Amor Muito Louco (2000), Os Contrários – de perto ninguém é normal (2002), É Melhor Prevenir que Remédio Dar (2003), Saúde Mental Positiva (2005) e, o mais recente, Doidinho para trabalhar (2007/2008) que segue em temporada popular. “Nosso público prioritário são pessoas que atuam na área de saúde mental, sejam pacientes, profissionais e familiares, além de toda a sociedade, pois o diálogo tem que ser com toda a sociedade”, destacam os autores Eloana Gentil, Cláudia Oliveira, Sérgio Lima e Alessandro Conceição.
“A experiência do Pirei na Cenna mostra que é preciso romper barreiras, muros e fronteiras. É preciso sair do nosso nicho e dialogar com outras áreas. Quando a gente sai dos limites do muro do hospital e dialoga, através da arte, com a sociedade, a resolução de problemas fica mais intensificada. Assim, não à toa o Movimento da Reforma Psiquiátrica conseguiu envolver a sociedade e mudar os rumos da legislação psiquiátrica, através de leis que fez fechando hospitais arcaicos até hoje. Para nós do Pirei na Cenna, contribuir com isso, além de gratificante, é tranformador”, explicam os autores.
Sobre o principal desafio, pontuaram a dificuldade do grupo em se manterem firmes e existindo, “Não foram e não são poucos os momentos em que o grupo quase acabou. Seja por falta de incentivo, seja por uma estrutura política que não contribui para nossa continuidade, esse foi e tem sido nosso principal desafio. No governo federal anterior, os retrocessos na saúde mental afetaram e ainda afetam a nossa ação. Mas seguimos na luta e na caminhada”, quanto à experiência ser inovadora, disseram: “Inovador é reconhecer ações que pessoas e coletivos já vinham avisando há tempos. Então, trabalhar com arte na saúde mental, estimular o diálogo e lutar por uma vida mais justa e humanizada, serão ações que parecerão sempre inovadoras, mas que desejamos há milênios. Talvez, a inovação seja realizar essas ações e continuar existindo, pois assim servimos de estímulos para gerações futuras e para a continuidade do desejo de não deixar a peteca cair”.