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A inserção da cultura de segurança na assistência de Enfermagem Pediátrica Ortopédica

“A adoção de uma nova prática de cuidado mostrou que o gestor de um serviço precisa entender seu papel como agente de mudança e qualificar seu trabalho com base em evidências e metas. A experiência também mostrou que a segurança é essencial para a qualidade do cuidado com a criança e o adolescente hospitalizados.”

Janaína Maria Giandalia Paraguassú, enfermeira

 

A segurança dos pacientes pediátricos costuma ser um desafio maior do que a dos adultos. As características próprias da faixa etária e sua dificuldade de identificar perigos e reconhecer limites podem influenciar no processo de recuperação, tornando-os mais vulneráveis ao erro e a eventos adversos durante a assistência das equipes de saúde. Para enfrentar o problema, em 2018, o setor da enfermagem pediátrica ortopédica do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) elencou metas e indicadores para instituir, de fato, uma cultura de segurança nos cuidados diários da enfermagem pediátrico-ortopédica no Instituto.

A reorganização na assistência prestada pela enfermagem envolveu diferentes parceiros e interfaces. Participaram do projeto as área de Qualidade, que orientou os protocolos de segurança; de Planejamento, que estruturou os indicadores operacionais; da comissão de Curativo, que estratificou o risco de lesão de pele em pediatria (escalas Bradem e Bradem Q); de Educação Continuada, que estruturou os treinamentos pertinentes e; a da Informática. Tudo foi estrategicamente pensado, inclusive o descanso de tela dos computadores da ala pediátrica do hospital e os monitores de LED, que passaram a circular informações do boletim Gestão à Vista, permitindo transparência ao processo.

Após analisar os dados das “não-conformidades”, que indicam as áreas que necessitam de melhorias na assistência de enfermagem, a equipe pactuou as metas de segurança do paciente pediátrico ortopédico (seis ao total), com os respectivos indicadores para monitoramento: Meta 1 – Identificar o paciente; Meta 2 – Melhorar a Eficácia da Comunicação; Meta 3 – Melhorar a Segurança dos Medicamentos de Alta Vigilância; Meta 4 – Cirurgia Segura; Meta 5 – Reduzir o risco de infecções relacionadas à assistência à saúde; Meta 6 – Reduzir os riscos de danos resultantes de quedas.

Os resultados passaram a ser analisados mensalmente e divulgados no boletim Gestão à Vista. A cada trimestre é realizada a devolutiva para cada plantão da Enfermagem e comparados os resultados entre os plantões que compõem o serviço pediátrico ortopédico do Into, estimulando uma saudável competição entre as equipes por meio da evolução dos indicadores. Foi criado um Certificado de Reconhecimento trimestral, que motivou a equipe de Enfermagem e fortaleceu o trabalho em equipe, superando os desafios profissionais.

Como resultado, a experiência apresenta a ampla adesão aos protocolos institucionais, a maior liderança dos enfermeiros e o reconhecimento da gestão pelo trabalho. O reflexo positivo dos indicadores contribuiu para a valorização profissional e responsabilização da equipe pela nova prática do cuidado em saúde.

A satisfação da equipe de Enfermagem Pediátrica Ortopédica do Into foi medida e atestada pelas respostas positivas dadas durante pesquisa de Clima Organizacional. A experiência deu visibilidade ao setor, atraindo a visita de outros gestores do Instituto e gerando convites para a divulgação da nova prática em razão do êxito e da facilidade de reprodução do modelo.

Fonte – Informações cedidas pelos autores.

Fotos – visita dos avaliadores do Laboratório de Inovação à experiência.

Para estimular a adesão, foram confeccionados cartazes lúdicos e educativos sobre as seis Metas, que eram afixados em locais diferentes em pequenos intervalos de tempo para que sua mensagem não acabasse “incorporada à paisagem”. Os orientadores do cuidado seguro ganharam um bottom de identificação único, passado de um responsável para outro a cada troca de plantão para evitar que sua função fosse contínua. Para fomentar a valorização profissional, a cada trimestre foi entregue um certificado de reconhecimento à equipe que mais se destacou.

Os desafios institucionais e profissionais foram grandes. Havia falta de recursos humanos, o que levava à sobrecarga de trabalho, à falta de adesão aos protocolos padronizados e à pouca motivação das equipes diante da necessária mudança de cultura em direção à Cultura de Segurança. Mas os gargalos foram enfrentados e os resultados chegaram.

Houve um avanço contínuo dos índices das metas preconizadas por indicador. Foi evidente o empenho das equipes em atingir as metas estabelecidas, com a transparência do Gestão à Vista. As reuniões de equipe para a articulação de ações de melhoria e o uso do bottom aumentaram a liderança dos enfermeiros plantonistas no trabalho e intensificaram a adesão aos protocolos institucionais preconizados.

A adoção de uma nova prática de cuidado mostrou que o gestor de um serviço precisa entender seu papel como agente de mudança e qualificar seu trabalho com base em evidências e metas, de modo a organizar, dirigir, controlar e avaliar o que se propõe, com transparência e trabalho em equipe. A experiência também tornou evidente como a segurança é essencial para a qualidade do cuidado com a criança/adolescente hospitalizado. O enfermeiro, por assumir uma posição singular de líder, educador, cuidador e influenciador, deve se imbuir de valores, comportamentos e atitudes voltadas para um cuidado seguro.

Ficha Técnica: A Inserção da Cultura de Segurança na Assistência de Enfermagem Pediátrica Ortopédica

Valorização da Enfermagem

Gestão do trabalho com foco na valorização do profissional de enfermagem

Janaina Maria Giandalia Paraguassú
Keillla Couto Machado
Neidianna Martins Mendonça Pascoaleto

Este processo de trabalho foi idealizado e aplicado pela gestão imediata do Serviço de Enfermagem Pediátrica , com apoio da Divisão de Enfermagem, Área de Qualidade e Área de Planejamento do Into, tendo como atores a equipe de enfermagem que compõe a Pediatria.

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