“Uma das razões do sucesso do Programa foi considerar, desde o início, o conhecimento das comunidades. As pessoas não eram somente pacientes dos enfermeiros, mas parceiras. Com isso, o Programa tornou-se um espaço social de produção, utilização, transformação e (re) significação de saberes e práticas interdisciplinares, por meio de atividades comunitárias e educativas.”
Nébia Maria Almeida de Figueiredo, enfermeira
Em busca de saúde, lazer e atenção às comunidades vizinhas, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), na Urca, por meio da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) construiu uma parceria com duas associações de moradores (da Lauro Muller e Adjacências – Alma e da Vila Benjamin Constant – Amovila). A mobilização evoluiu para um Projeto de Extensão chamado Fábrica de Cuidados (PEFC), que ao longo de 25 anos soma a participação de mais de 1,2 mil estudantes de graduação, 60 de pós-graduação e seis de pós-doutorado.
“O Programa tornou-se um espaço social de produção, utilização, transformação e (re) significação de saberes e práticas interdisciplinares, por meio de atividades comunitárias e educativas”, destaca a enfermeira Nébia Figueiredo, uma das autoras da experiência. Um colegiado formado por três professores e dois representantes das associações de moradores definem as atividades de esporte e lazer, arte e cultura voltados para abordar os problemas de saúde recorrentes na comunidade.
No projeto, os moradores do bairro contribuem ao sinalizar as demandas diárias de saúde e compartilhar experiências de vida. A academia participa com as bases teóricas e práticas das ciências humanas, sociais e exatas visando construir modelos de intervenção e tecnologias de cuidados, para a prevenção de agravos e doenças e promoção da saúde da comunidade. Também participam das atividades de assistência à saúde os alunos, professores e funcionários da universidade, que necessitam de cuidados de menor complexidade.
As atividades do PEFC ocorrem por meio de oficinas que envolvem docentes, estudantes e comunidade em ações de saúde (atenção aos usuários com Hipertensão e Diabetes); nutrição; educação (Práticas de Leitura e Escrita: Grupo cultural para jovens e adultos); esporte e lazer (dança de salão, judô e Kung- Fu); práticas alternativas (Shiatsu, Música e Saúde e Yoga); e arte e cultura (Ballet, Teatro e o Projeto A arte como instrumento de cuidado de enfermagem)”.
Também é realizada uma grande mobilização chamada Fábrica na Praça, em pontos estratégicos da comunidade, para rastrear pessoas com diabetes mellitus, hipertensão e problemas de visão. Quem apresentar sintomas ou sinais de agravos ou doenças é encaminhado para consultas de acompanhamento (agendamento imediato), onde a decisão clínica pode ser tomada com maior eficácia e eficiência após um histórico de enfermagem detalhado. Também são feitas simulações de primeiros socorros com a participação de adolescentes e adultos das comunidades.
A Fábrica de Cuidados se estruturou em dois eixos: Assistência de qualidade, para assegurar o direito à saúde, e Administração participativa para gerência de qualidade, que incorporou ideais da interdisciplinaridade e da democracia ao considerar não apenas o saber acadêmico e promover o trabalho coletivo a partir do compartilhamento de ideias e ações. Vinculado ao Departamento de Extensão da UNIRIO, o Programa de Extensão se distinguiu por considerar o conhecimento das comunidades.
Todos os usuários atendidos recebem orientações para manutenção e promoção da saúde. Segundo os autores, o Programa de Extensão foi “uma conquista lenta, mas extremamente gratificante apesar de dificuldades estruturais”. Entre os maiores desafios, os autores destacam as relações/interações humanas, demandando muitas reuniões entre a universidade e as comunidades para não deixar que o PEFC fosse entendido como uma atividade da academia. “Para além do que se sabia, descobrimos que a enfermagem é uma profissão singular, complexa e de difícil definição, quando focamos o seu saber-fazer em prol da saúde e de seus desvios”, ressaltam os autores.
Fonte – Informações cedidas pelos autores.
Fotos – visita dos avaliadores do Laboratório de Inovação à experiência.
A experiência mostra várias transformações desde a implantação do Programa: reconhecimento dentro e fora da Universidade (por outros docentes, por estudantes, técnicos administrativos, prestadores de serviço e pela). Ao longo de 25 anos foram muitos os contatos de profissionais e instituições nacionais e estrangeiras para conhecer o trabalho desenvolvido no PEFC, com a intenção de reproduzi-lo em seus territórios.
Por três meses, uma das atribuições de uma das docentes foi compartilhar a prática na Colômbia, como parte do doutorado. Como tecnologia social, o PEFC permite transformar o pensamento de atenção para inclusão social e relação de ajuda. Isso foi tratado na tese de doutorado “Avaliação das ações desenvolvidas no Programa Fábrica de Cuidados: agenciamentos da ajuda prestada aos clientes”, de autoria de uma das coordenadoras do Programa. Outro mérito do PEFC é seu caráter replicável. Há casos bem sucedidos de transferência tecnológica para Roraima e a Colômbia, por exemplo.
Valorização da Enfermagem
Liderança e função coordenadora da enfermagem na assistência à saúde
Inovação na qualidade da formação profissional em enfermagem
Nébia Maria Almeida de Figueiredo
Eva Maria Costa
Teresa Tonini
Nébia Maria Almeida de Figueiredo
Inicialmente, é necessário dizer que participar deste edital nos toca profundamente que vivemos intensamente a criação e implantação. Esta oportunidade de mostrá-la essa vivência interdisciplinar, comunitária e cogestão. Somos três coordenadoras, que se responsabilizaram em manter em funcionamento acadêmico, gestão técnica e organicidade de processos. Docentes com características bem diferentes, mas complementares e com comportamentos únicos para fazer a experiência existir: somos resistentes, máquinas do desejo-guerra, agenciadores que nunca perdem a esperança.
Cremos que essas características são as molas propulsoras para manter essa experiência por 20 anos.
A ideia nasce em 1996, quando os docentes do Departamento de Enfermagem Fundamental foram movidos pelo desejo em criar um projeto de extensão universitária para atender a demanda de articulação com duas comunidades adstritas à Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, em busca de cobertura de serviços inexistentes na área.
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