“Uma verdadeira revolução na Atenção Primária foi possível com a ampliação das consultas de enfermagem. Os enfermeiros tornaram-se responsáveis por até 90% do atendimento da demanda espontânea. É cada vez mais possível atender o usuário no dia em que procura o serviço.”
Ana Cristina Magalhães Fernandes Báfica, enfermeira
A ampliação do escopo da prática clínica da enfermagem na atenção primária de Florianópolis (SC) permite uma assistência resolutiva e oportuna para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com informações do Infosaúde, o prontuário eletrônico da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis (SC), os enfermeiros foram responsáveis por até 90% do atendimento da demanda espontânea nos centros de saúde, permitindo a consulta no dia em que o usuário procura o serviço (acesso avançado). Das 500 mil pessoas que viviam na cidade, em 2018, 189 mil foram atendidas por um(a) enfermeiro(a) da rede pública municipal.
A mudança ocorre por meio da implantação de protocolos clínicos de enfermagem, que visa oportunizar o atendimento e superar a lógica da atenção com foco na doença em vez da prevenção. Entre 2013 e 2018, foram publicados os protocolos clínicos para o cuidado ao usuário com hipertensão, diabetes e outros fatores associados a doenças cardiovasculares; para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e outras doenças transmissíveis de interesse em saúde coletiva (dengue e tuberculose); atenção à saúde da mulher e da criança na atenção primária; atendimento à demanda espontânea do usuário adulto; e, o cuidado à pessoa com ferida.
A construção dos protocolos passa pela Comissão Permanente de Sistematização da Assistência de Enfermagem (CSAE), formada por grupo de enfermeiros da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que auxilia na tomada de decisão visando a qualificação da assistência prestada pelos enfermeiros do primeiro nível de atenção, com foco na segurança do paciente e com respaldo jurídico ao profissional, segundo os princípios éticos da profissão.
Segundo os autores do relato, a cada protocolo instituído, os enfermeiros relatam que suas ações são mais resolutivas, garantindo autonomia e valorização profissional. Em contrapartida as filas nos postos são reduzidas, o papel fundamental do enfermeiro no atendimento clínico é reafirmado, os usuários se sentem cuidados e identificam o enfermeiro como sua referência no serviço de saúde.
A qualificação da prática clínica do enfermeiro na APS é recomendada por evidências científicas e repercute no sistema de saúde. O modelo de assistência fundamentado na abrangência da Atenção Primária à Saúde (APS) em Florianópolis possibilitou o primeiro acesso a quase 60 mil habitantes no serviço municipal de saúde na capital catarinense, segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além de melhora no indicador de acesso, o censo também revelou uma ampliação do atendimento de forma resolutiva e qualificada, diminuindo o encaminhamento para outros níveis de atenção e aumentando a satisfação do usuário.
Fonte – Informações cedidas pelos autores.
Foto – SMS Florianópolis.
De acordo com números do Infosaúde, o prontuário eletrônico da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis (SC), os enfermeiros foram responsáveis por até 90% do atendimento da demanda espontânea da APS, permitindo o acesso avançado (atendimento no dia em que o usuário procura o serviço). Geralmente esse atendimento é feito pelos mesmos profissionais, reforçando o vínculo com a equipe de assistência. A resolutividade também aumentou, entre outras razões porque os enfermeiros passaram a ter respaldo legal para a prescrição e renovação de receitas. Tudo isso reduziu a necessidade de novos agendamentos.
A atuação do profissional de enfermagem foi decisiva, por exemplo, para a ampliação do acesso, o diagnóstico e o início oportuno de tratamento da sífilis, declarada um grave problema de saúde pública no Brasil em 2016. Já no ano seguinte, o número de testes rápidos para detecção da doença foi de 1.360 na rede pública de Florianópolis. Em 2019, esse total tinha chegado a 6.778 somente nos primeiros quatro meses do ano, um aumento de 392% em relação a todo o ano de 2017.
Os enfermeiros realizaram mais de 90% desses testes, o que dá a medida de sua importância na detecção e combate à sífilis. Entre 2016 e 2018, observou-se um aumento do manejo da sífilis realizado por enfermeiros na APS, passando de 222 atendimentos para 1.702, segundo o Infosaúde.
Há dois anos, os enfermeiros da rede municipal de saúde de Florianópolis estão sendo treinados para a inserção do dispositivo intrauterino (DIU) de cobre. Até o momento, 115 profissionais foram habilitados (incluindo residentes de enfermagem) e atenderam 1.454 mulheres que aguardavam o dispositivo – metade delas vive em áreas de interesse social. O resultado significou um incremento de 60% de ampliação de acesso e oferta às mulheres.
Dos 49 Centros de Saúde do município, 36 ofertam a inserção do DIU por enfermeiros. O acesso e o uso de métodos contraceptivos têm efeitos positivos nos níveis de saúde sexual e reprodutiva, pois atuam na prevenção de gestações não planejadas e, consequentemente, na redução de morbimortalidade materna e abortos inseguros.
O caminho até esses resultados foi longo. A reação de outras categorias profissionais de saúde, que ainda não entendiam a proposta dos protocolos, foi um dos desafios encontrados. O diálogo foi fundamental para mostrar que não se tratava de invadir espaços, mas de regulamentar e aplicar o que é próprio da profissão do enfermeiro, visto que são dispositivos garantidos por lei.
Houve resistência dentro da própria enfermagem, visto que alguns profissionais não compreendiam os avanços e, muitas vezes, questionavam as práticas presentes nos protocolos. Mais uma vez diálogo, aproximação e múltiplos treinamentos foram necessários para deixar clara a prática de uma enfermagem forte e abrangente.
Ampliação do escopo de práticas
Melhoria do acesso aos serviços de saúde
Redução do tempo de espera nas consultas
Maior adesão ao tratamento, gestão de sintomas e utilização dos serviços
Efetividade clínica na atenção aos usuários/pacientes
Maiores níveis de satisfação do usuário, unidos a uma atenção mais personalizada, a provisão de informação e uma
maior dedicação no tempo consulta
Ana Cristina Magalhães Fernandes Báfica
Ana Cristina Magalhães Fernandes Báfica
A experiência ocorreu no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis, desde janeiro de 2014, com a formação da Comissão Permanente de Sistematização da Assistência de Enfermagem. Os serviços envolvidos são todos aqueles que envolvem a prática do enfermeiro, tendo foco especial para a Atenção Primária à Saúde. Os atores são enfermeiros da Secretária Municipal de Saúde sendo que as ações se dirigem ao público que acessa os serviços de saúde oferecidos pelo município.
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