“Esse é um circuito de amor, em que os profissionais de saúde assistem as gestantes e suas famílias, com respeito à ciência e à comunidade. É um caminho em que todos ganham, em que todos nós acolhemos e somos acolhidos, em que todos aprendemos”.
Mara Gabriela Brasileiro de Lucena Ferreira, enfermeira
A baixa adesão de algumas gestantes e de seus parceiros ao pré-natal tornou-se um desafio para os profissionais da Estratégia de Saúde da Família Branca II, em Atalaia, na Zona da Mata alagoana. Instigada por aquela realidade, a equipe desenvolveu e implementou o “Circuito Eu Sou SUS – Pré-Natal”, que ampliou o cuidado gestacional e materno, estreitando os laços entre a equipe da atenção primária e mulheres e familiares da região.
Desde julho de 2017, assim que descobre a gestação, a mulher é apresentada ao programa e, caso aceite participar, assina um termo de compromisso. O Circuito é orientado por um cartão-guia onde estão impressas as etapas que a gestante percorre ao longo do pré-natal. O cartão, ilustrado com um “M” de “Mãe” e de “Mulher”, tem espaços para os profissionais da saúde registrarem as etapas cumpridas pela gestante até a conclusão do percurso, em consonância com o Ministério da Saúde.
São várias fases a serem superadas: um mínimo de oito consultas intercaladas entre médico e enfermeira, consulta do pai da criança, imunização e testes rápidos, saúde bucal, atividades educativas, participação do Dia “G” (Gestante) – quando se enfatiza a promoção da saúde e prevenção de doenças e outros agravos tornando as mulheres e suas famílias co-autoras do processo de saúde-cuidado –, visita à maternidade e construção do plano de parto, ensaio fotográfico e consulta domiciliar puerperal. Há ainda o estímulo à doação ao leite humano.
O Circuito deu resultado rapidamente. Segundo dados do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), de zero consulta do pai em 2017, chegou-se a mais de 60% de pais presentes em 2019. O índice de vacinação de gestantes está em 100%. A taxa de pré-natais iniciados no primeiro trimestre da gestação é de 94,7%. O aleitamento materno exclusivo de zero a três meses beneficia 91.6% dos bebês.
Registrou-se também uma diminuição do indicador de gravidez de mulheres menores de 20 anos – dos três casos registrados no período, dois foram planejados. Hoje, as gestantes fazem em média mais de seis consultas ao longo da gestação e dois terços dos testes do pezinho são feitos dentro do período ideal, uma redução significativa de coletas realizadas com mais de 10 dias de vida.
Fonte – Informações cedidas pelos autores.
Fotos – SMS Atalaia/A
Etapas do Circuito |
Nas consultas na Unidade Básica de Saúde (UBS) são prescritas e incentivadas a leitura das páginas da caderneta da gestante que trazem informações sobre sua idade gestacional, numa construção solidária, de respeito aos saberes e fazeres comunitários trazidos por elas. Antes dos atendimentos com médico ou enfermeiro, a equipe conversa com a gestante sobre os temas do pré-natal visando fortalecer a Rede SUS e os serviços que o sistema oferece.
No “Dia G” são realizadas palestras para gestantes que estão no primeiro e segundo trimestres gestacionais e uma outra para as que estão no terceiro trimestre, mediadas por uma enfermeira obstétrica que conduz a problematização e o diálogo, invertendo a tenda do conhecimento como recomenda a Política Nacional de Educação Popular. Se necessário, no encontro é feita a atualização da gestante às etapas do Circuito. O ensaio fotográfico com as mulheres com idade gestacional maior que 25 semanas é o destaque do “Dia G”. Elas são maquiadas, vestidas e penteadas e podem trazer a família para participar.
Os testes rápidos para sífilis são feitos em três momentos: na primeira consulta, por volta da 24ª semana de gestação e entre a 33ª e a 34ª semanas. Essa é uma estratégia adotada por esta UBS, pois, ao se analisar a realidade da comunidade, acreditou-se potencializar a detecção da sífilis, possibilitando tratamento seguro a tempo e reduzindo ao máximo as chances de surgimento de sífilis congênita. Desde a adoção do terceiro teste não houve novos diagnósticos da doença na unidade – os que tinham sido diagnosticados foram tratados com Penicilina Benzatina, otimizando a luta por zero sífilis congênita.
Uma das metas na elaboração do Circuito era integrar o pai ao desenvolvimento da gestação. Para a “consulta do papai” foi criado um convite específico, entregue à gestante na primeira consulta do pré-natal – caso pai e mãe não estejam juntos, o convite é entregue pelo agente comunitário de saúde.
A “consulta do papai” começa com uma visita pela UBS, quando a recepcionista apresenta-o aos profissionais da equipe. A técnica de enfermagem faz a triagem e o encaminha ao atendimento pela enfermeira. O pai será apresentado à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), com ênfase na valorização da paternidade. São oferecidos testes rápidos para sífilis, hepatites B e C e HIV (com aconselhamento antes e depois dos testes) e são solicitados exames de rotina preconizados pelo Ministério da Saúde.
Em seguida, o pai recebe vacinas pendentes ou de reforço; passa por um dentista para triagem de lesões da mucosa, traumatismos dentários, cárie e outras doenças bucais para posterior tratamento e reabilitação. É explicado ao pai o risco desses problemas e a relação com a saúde sistêmica. Fala-se de prevenção do tabagismo, alcoolismo, outras drogas, de câncer bucal e faz-se os encaminhamentos necessários.
Ao final, o pai participa de uma oficina de cuidados com recém-nascido como troca de fraldas, higienização íntima, posições para amamentar, “pega” correta e cuidado com o coto umbilical. Com a autorização do pai, é feito um registro fotográfico para o certificado de “Super Papai”, uma forma de parabenizá-lo pela participação. No dia da consulta ele é atendido sem espera, como prevê a PNAISH.
A construção do plano de parto se dá a partir da 35ª semana de gestação. As mulheres são convidadas a vir à maternidade com a pessoa que vai acompanhá-la no parto, como prevê a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Nesta visita é apresentado o processo de admissão na unidade de saúde na hora do parto, o momento adequado de procurar atendimento, conversa-se sobre violência obstétrica, aleitamento materno, hora ouro, a importância do acompanhante, o parto, métodos não farmacológicos de alívio da dor e puerpério. Todo o processo permite o desempenho da autonomia e a reflexão dos sujeitos. A visita tem a retaguarda de uma equipe de profissionais da maternidade que acompanha e interage.
Ao final do percurso as gestantes realizam seu plano de parto e recebem kits com fraldas, álcool a 70% e um certificado parabenizando-a pela dedicação às ações do circuito. É proposta uma reflexão sobre o aleitamento materno, reforçando sua importância, e, por fim, é servido um lanche comunitário para festejar esse encontro. Vale destacar que as gestantes com mais de 36 semanas têm atendimento facilitado na UBS, o que reduziu substancialmente as ausências nas consultas dessa fase gestacional.
Numa parceria com a maternidade de referência de baixo risco, as enfermeiras das UBS são informadas sobre as puérperas que tiveram alta para, obedecendo ao fluxo preconizado pelas Redes Integradas em Saúde, fazerem a consulta puerperal domiciliar e o teste do pezinho entre o terceiro e o quinto dias do nascimento do bebê. Esta é uma consulta multiprofissional sempre que possível. Com o objetivo de manter motivados os profissionais da maternidade, a consulta termina com a elaboração de uma carta de agradecimento com a foto do bebê e da mãe tirada na ocasião.
Apesar de a equipe mediar a escrita para as pessoas analfabetas, são elas as autoras da avaliação. Além de eventuais agradecimentos, podem fazer críticas e sugerir melhorias. Ao final de cada mês, as cartas são reunidas e entregues aos profissionais da maternidade no dia da visita das novas futuras mães. Outra ação relevante do Circuito, “Eu Sou Mãe Doadora”, estimula a doação de leite humano. Ensina-se às puérperas e aos seus familiares como coletar e armazenar o leite.
Ampliação do escopo de práticas
Maior adesão ao tratamento, gestão de sintomas e utilização dos serviços
MARA GABRIELA BRASILEIRO DE LUCENA FERREIRA
TAMIRES CORREIA DOS SANTOS.
NAILZA MARQUÊS FARIAS.
FERNANDO M. MARTINS DE ALMEIDA.
MÔNICA Mª FELIX DA SILVA.
VILMA COSTA VIANA.
JOSÉ MARIA DA SILVA MORAES FILHO
DILMA DIOGO DA SILVA
VERA ÁVILA.
LUCINEIDE DOS SANTOS APOLINÁRIO.
CÍCERO FILIPE DOS SANTOS.
SILVANETE DOS SANTOS DA SILVA
MARA GABRIELA BRASILEIRO DE LUCENA FERREIRA
O Circuito Eu Sou SUS-Pré-Natal acontece na zona rural do município de Atalaia-AL, foi idealizado e vem sendo desenvolvido e aprimorado por Todos os profissionais que nela atuam. É caracterizado por ser um trabalho em rede,com foco na integralidade da assistência ,nas singularidades e tendo a gestante como protagonista em todo o processo. Os atores envolvidos são a princípio a gestante no advento da descoberta da gestação e com ela toda família é abraçada, com uma atenção especial também ao papai(pré-natal do parceiro-modificamos o termo pois parceiro muitas não tem, mas papai eles serão sempre). Contamos com o apoio de toda rede de saúde que se fez necessária no decorrer das ações de pré-natal(PN)
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