Foi realizada nesta quarta-feira (26/10), a primeira live de intercâmbio de conhecimentos do Laboratório de Inovação em Política Nacional de Saúde Bucal – Brasil Sorridente, promovida pelo Ministério da Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil. Com transmissão ao vivo e disponível nos canais do youtube do Portal da Inovação e DataSUS, os autores apresentaram experiências inovadoras desenvolvidas no Sistema Único de Saúde em Teleodontologia. A ampliação do acesso dos usuários ao sistema, a melhoria da qualidade da assistência de saúde bucal, a praticidade e as ferramentas de comunicação e informação utilizadas pelas secretarias municipais de Sorocaba e Florianópolis foram destacadas pelos autores das práticas no encontro.
O coordenador da área de Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS Brasil, Roberto Tapia, parabenizou na abertura da live os participantes lembrando que na véspera foi comemorado o Dia Nacional dos Cirurgiões-Dentistas (25 de outubro). Contextualizou também que a temática da Teleodontologia ganhou visibilidade após a pandemia de Covid-19. “Para nós, é muito interessante participar do Laboratório de Inovação em Saúde Bucal. A ideia é projetar o movimento da odontologia no Brasil por meio das experiências robustas de Teleodontologia, e projetá-las, o que, normalmente, é uma área complexa nos demais países.”.
Em seguida, o moderador Wellington Mendes de Carvalho, coordenador de Saúde Bucal da Coordenação Geral de Saúde Bucal, da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, parabenizou a força de trabalho da saúde bucal do SUS. “Somos o país com maior número de cirurgiões-dentistas do mundo, são mais de 380.000 profissionais e, desses, cerca de 66.000 têm vínculo direto com o SUS. Somos muitos e fazemos muito pela saúde bucal do nosso país, a nossa Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) está completando 18 anos e é motivo de orgulho. O Brasil tem uma das políticas mais avançadas do mundo, integrada ao SUS – que é público e universal – que também é motivo de orgulho de todos.”.
Sobre a iniciativa dos LIS, o coordenador destacou que existem muitas inovações no território brasileiro e que o Laboratório tem como objetivo sistematizá-las e divulgá-las para que possam ser reproduzidas em outros contextos similares. “O trabalho é produzir um conhecimento com base científica, mas também, aquele conhecimento que se desenvolve na prática, nos processos de trabalho dos serviços de saúde, seja na APS ou na unidade hospitalar, vendo como funciona e compartilhando os aprendizados das experiências para que outras pessoas possam aprender também”, pontuou Wellington Mendes de Carvalho.
A debatedora Fernanda Carrer, da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo/FOUSP, comentou sobre a importância da inovação: “Inovar no cuidado do paciente é muito importante, se a gente ainda tem tanta gente precisando de cuidado e ampliação do acesso é porque precisamos inovar mesmo. A pandemia foi ruim para a humanidade como um todo, mas tirou a gente da zona de conforto. Quero parabenizar as secretarias de Sorocaba e Florianópolis, que mostraram que é possível fazer teleodontologia, quebrar barreiras e preconceitos. A gente precisa investir em telessaúde para garantir o acesso de todos ao sistema de saúde”.
“Parabenizo as duas iniciativas, são modelos potentes, duas ferramentas diferentes e interessantes, que vão buscando soluções de acordo com cada lugar, mas que tem o mesmo objetivo de vencer a pandemia. De certa forma, existe sempre, em todo processo de atendimento, uma distância entre o usuário do SUS e o mundo sanitário. O que se busca é romper fronteiras de várias maneiras, como a experiência de agentes comunitários no Brasil, por exemplo. Aqui temos uma amostra de como levar o serviço até as pessoas, gerando bom atendimento e conexão para vencer a batalha real e psicológica que traz uma pandemia, são múltiplas as possibilidades para o futuro”, comentou Dr. Roberto Tapia.
“Teleodontologia aplicada na vigilância em saúde bucal da gestante na Atenção Primária em Sorocaba/SP”
O cirurgião-dentista Diego Diniz, da secretaria municipal de saúde de Sorocaba, apresentou o Sistema de Tele Atendimento Odontológico criado para o cadastramento das gestantes que estão realizando o pré-natal nas Unidades Básicas de Saúde. O sistema web pode ser acessado tanto pelo computador, quanto pelo celular, e o funcionamento da plataforma é simples e intuitivo. Possui um formulário para ser aplicado à gestante para entender a condição de saúde da paciente. O sistema gera orientações automáticas, assim como relatórios de gestão com dados quantitativos de atendimentos e o registro da teleorientação. O software foi desenvolvido pelo município e está disponível para ser utilizado, de forma gratuita, por outros municípios.
Segundo Diniz, as principais dificuldades envolvem a necessidade de capacitação e apropriação da tecnologia pelos atores envolvidos e também a necessidade de quebra de paradigma em relação à potência que a teleodontologia pode proporcionar ao sistema de saúde.
“O projeto nasceu de um colegiado de equipe de saúde bucal de Sorocaba/SP, composto por dentistas, cirurgiões-dentistas, especialistas de saúde bucal que atuam em diversos pontos da rede, atenção básica, atenção especializada. Construímos a proposta para enfrentar os desafios da pandemia, das demandas espontâneas, e também, para atender a uma situação que nos preocupava, que era o acesso da gestante, que parou de frequentar a unidade de saúde, mas precisava manter o pré-natal e o tratamento odontológico. Nessa discussão, buscamos possibilidades e vimos algumas iniciativas no município configurando grupos de WhatsApp, usando Instagram, cada um com iniciativas interessantes para buscar o melhor acesso para aquele momento. Assim, fomos buscando outros municípios também, e pensamos em desenvolver uma ferramenta de atendimento odontológico para ofertar teleorientação”, explicou Diego Diniz.
O programa de teleodontologia elencou como metas e linhas de ações os seguintes pontos: aprimoramento do protocolo de atenção em saúde bucal da gestante no SUS de Sorocaba inserindo a possibilidade do uso da ferramenta de teleorientação; desenvolvimento de um site para sistematizar e facilitar a realização do telemonitoramento; capacitação dos profissionais envolvidos; realização de pilotos para a aplicação da ferramenta virtual; e implantação da ferramenta na rede municipal.
A plataforma funciona da seguinte forma: a evolução da semana de gestação vai atualizando automaticamente e o sistema gera um alerta de aviso para a realização dos atendimentos às gestantes. Considerando o protocolo de atenção bucal durante o pré-natal, será utilizada a ferramenta de teleorientação. Após o atendimento, o sistema emite um relatório que pode ser impresso e armazenado no prontuário físico ou, no caso de prontuário eletrônico, gera um pdf que pode ser anexado. Nessa teleorientação, portanto, busca-se basicamente: acompanhar e monitorar as gestantes que estão realizando o pré-natal odontológico, evitando deslocamentos para UBS; utilizar essa ferramenta para o agendamento da consulta nos momentos oportunos e reforçar as orientações sobre higiene bucal e alimentação saudável.
Segundo o relato, a experiência está sendo importante pois tem disponibilizado uma nova ferramenta de trabalho para aperfeiçoar e aprimorar a atenção em saúde bucal da gestante na atenção primária e secundária e é inovadora pois traz elementos tecnológicos até então nunca aplicados no contexto da odontologia no SUS. “A nossa ferramenta tem resultado interessante na sistematização, na conversa e no acesso da unidade com as gestantes do território. A ferramenta está à disposição para qualquer outro município que queira utilizá-la dentro da sua realidade”, concluiu Diego Diniz.
“Teleodontologia em Florianópolis/SC: Uma realidade PÓS COVID”
A cirurgiã-dentista Valeska Pivatto apresentou a experiência “Teleodontologia em Florianópolis/SC: Uma realidade Pós-Covid”. A iniciativa tem foco na ampliação e na qualificação da utilização de ferramentas de comunicação remota entre profissionais e pacientes, ou entre os profissionais nos diferentes níveis de atenção à saúde, que mostrou-se fundamental durante os períodos críticos da pandemia de Covid-19 e permitiu que tais ações fossem mantidas e adequadas ao momento presente.
“A pandemia nos empurrou para o uso das ferramentas tecnológicas. Alguns desafios ficam, por exemplo, a sensibilização das equipes, que precisam estar conscientes dos benefícios da tecnologia remota, saber usar, ter capacitação para isso, o teleatendimento não pode ser barreira de acesso, tem que ser uma forma a mais de acesso, critérios e protocolos, plataforma virtual apropriada, diretrizes mais orientativas. Florianópolis tem trazido oportunidade de experiências e inclusão no dia a dia das equipes, o que fortaleceu durante a pandemia, permaneceu”, comentou Valeska Pivatto.
Segundo o relato, tendo em vista os atributos da atenção primária à saúde, a utilização do teleatendimento visa, primordialmente, manter o primeiro contato do paciente com sua equipe de referência. Além do primeiro contato, outros atributos da APS são fortalecidos com o teleatendimento: a coordenação do cuidado, integralidade e longitudinalidade são consolidados no momento que o profissional está disponível para seguir o acompanhamento, tratamento e resolução de dúvida dos usuários, mesmo à distância.
“A utilização de contato remoto entre equipes de saúde bucal e usuários já era uma realidade em Florianópolis mesmo antes da pandemia de Covid-19 para orientações sobre o serviço odontológico oferecido e planejamento da agenda. Diversas equipes já tinham celulares e faziam contato com os usuários pontualmente”, comentou a cirurgiã-dentista. Com o apoio da Diretoria de Atenção à Saúde, foram adquiridos smartphones com número próprio para cada um das equipes de saúde bucal e disponibilizada conexão Wi-fi em todos os 49 Centros de Saúde do município de Florianópolis.
“Com a melhora dos quadros da pandemia, tínhamos uma realidade que não tinha mais como voltar atrás, o atendimento remoto também facilita para os usuários, traz melhoria no acesso ao sistema de saúde bucal, é um facilitador, uma ferramenta a mais, que deixa a equipe à disposição do usuário, não tinha porquê deixar de usar. Além de gerar equidade e atendimento com qualidade, sair da lógica de ordem de chegada, e sim, ter uma classificação mais criteriosa dos riscos, e organização das agendas, ficou mais na mão das equipes, podendo gerir melhor os agendamentos e atendimentos dos usuários”, explicou Valeska Pivatto.
No âmbito da saúde bucal, a utilização de aplicativos de mensagem, formulários on-line, ligação por telefone ou vídeo chamadas possibilitam uma escuta qualificada da queixa do paciente, assim como, uma pré-avaliação, à distância, das demandas da população, além de ser importante mecanismo de educação em saúde. Em sua fala, Valeska Pivatto destacou: “Todas essas ações são um ganho para saúde da população, permitindo a vigência dos tributos da atenção primária, seja em períodos críticos ou em situações pontuais. Manter o acesso, a integralidade, e a coordenação da saúde bucal com equidade”.
Segundo o relato, a experiência pode ser replicada em praticamente qualquer cenário, é de rápida aprendizagem e expansão, necessitando apenas os recursos tecnológicos para tal. O uso da tecnologia difundido entre a população em geral, os resultados satisfatórios no dia-a-dia de trabalho e os baixos custos empregados, garantem a viabilidade técnica e financeira para a manutenção da iniciativa proposta.
A utilização de ferramentas de comunicação remota entre profissionais e pacientes já é uma realidade consolidada entre diversas categorias profissionais como a medicina, enfermagem e psicologia. A carência de orientações e resoluções mais específicas para a atuação da odontologia tem sido um obstáculo a ser superado. Os autores consideram ainda que seria apropriada a disponibilização de uma plataforma própria adaptada aos serviços e às condições locais de atendimento, bem como a implantação de ferramentas de monitoramento das ações realizadas.
As duas experiências vencedoras são inovadoras na temática de teleodontologia, e ambas, se preocupam com a segurança dos registros dos pacientes. Questionados pela professora Fernanda Carrer, sobre como tem sido lançar os procedimentos no sistema, Valeska Pivatto respondeu: “Orientamos os nossos profissionais com diferenciação do contato que for feito com o paciente. Criamos uma forma de registrar as teleconsultas no prontuário eletrônico para conseguirmos mensurar o número, criamos um procedimento para registrar, diferenciamos os registros para as teleconsultas, separamos das consultas presenciais. O WhatsApp é o primeiro acesso, é rápido e fácil, então usamos muito, depois entramos com o envio do formulário, ou ligação e videochamada. Os recursos são um pouco mais escassos, não tem webcam em todos os computadores, poucos celulares na equipe que precisam ser divididos, mas conseguimos mais aparelhos com a pandemia. O dado não fica circulando”. Diego Diniz explicou que a implantação do site SISOS dialoga com o e-SUS e o sistema é todo criptografado, sendo um ambiente seguro.
Wellington Mendes de Carvalho ressaltou: “Estamos com duas experiências e o objetivo é divulgar essas iniciativas, nós estamos inseridos em um sistema burocrático, por isso a preocupação em como registrar essa informação e como o Ministério da Saúde pode facilitar o processo para os municípios”.
Todas as experiências habilitadas no LIS de Saúde Bucal estão disponíveis na página https://apsredes.org/saudebucal/ para o público em geral. As próximas lives acontecerão nos dias 9 e 29 de novembro, às 15h, nas temáticas de Odontologia Hospitalar e CEO, respectivamente, e transmitidas ao vivo pelos canais do DataSUS e Portal da Inovação.