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Rede de Adolescentes e Jovens Promotores de Saúde – RAP da Saúde

O RAP da Saúde – Rede de Adolescentes e Jovens Promotores da Saúde – é um projeto da Superintendência de Promoção da Saúde (SPS) da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ) que tem como objetivo fortalecer as ações de promoção da saúde tendo os jovens como protagonistas e agentes de participação social e comunicação.

Uma vez que o protagonismo juvenil traz em si a ideia dos jovens como sujeitos de intervenções e de ações transformadoras de seus contextos sociais e comunitários, no RAP eles são protagonistas em todas as etapas: no planejamento e na realização das ações de promoção da saúde, no acesso e acolhimento de jovens nas unidades de saúde com propósito de fortalecer a educação entre pares e na avaliação do desenvolvimento do curso.

O projeto, que existe desde 2007, foi reformulado em 2015 com a sua institucionalização. A partir de então, passou a ser gerido integralmente pela SMS-RJ e ganhou formato de Curso para Adolescentes e Jovens Promotores de Saúde.

Com o auxílio dos relatos de experiência dos jovens, vamos contar a trajetória do Rap da Saúde nos últimos três anos: os desafios encontrados até aqui e o que aprendemos no percurso.

 

“Vejo o RAP como uma escola da vida, tive minhas recuperações e minhas “notonas”, porém, o que essa “escola” me ensinou pro futuro, foi que pessoas não são objetos, devemos cuidar de quem está precisando, devemos dar informação para quem padece sem o conhecimento da situação que o aflige, até por que somos jovens promotores de saúde, é o que fazemos, é o que somos!” R.C. – Jovem Promotor da Saúde

 

O Rio de Janeiro possui 6,3 milhões de habitantes, dos quais estima-se que um quarto dessa população tenha entre 15 e 29 anos de idade (IBGE). Dentre essas juventudes, que são sempre múltiplas em suas formas de manifestação, percebemos aumento na incidência de infecção por HIV, alta taxa de gravidez não intencional, aumento das notificações das diferentes formas de violência e do uso abusivo de álcool e outras drogas. Diante dessa realidade, o Rap da Saúde desenvolve um trabalho para aproximar os jovens das Unidades Básicas de Saúde, considerando que a juventude é uma etapa plena em si mesma e não uma preparação para vida adulta.

A partir da institucionalização do Rap da Saúde, os jovens promotores de saúde foram inseridos nas Unidades Básicas de Saúde e contribuíram para que especificidades deste grupo saíssem da invisibilidade. Atualmente, o Rap está presente em 40 equipamentos de saúde distribuídos entre as 10 áreas programáticas de saúde do município do Rio de Janeiro, com capacidade para até 250 jovens por turma/ano.

A cada ano é realizada uma chamada pública através de edital para selecionar jovens entre 14 e 24 anos que se interessem por temas relacionados à saúde, direitos humanos, cidadania, cultura e etc. No último edital tivemos mais de 10.000 inscritos, o que aponta para um grande interesse dos jovens no projeto, mas, ao mesmo tempo indica a falta de oportunidades voltadas a esse público na cidade do Rio de Janeiro.

O processo seletivo ocorre em duas etapas, uma primeira etapa eliminatória através da ficha de inscrição e carta de intenção e uma etapa classificatória com entrevistas individuais. Os entrevistadores são os técnicos das Áreas de Planejamento em Saúde e da Superintendência de Promoção de Saúde, que, com seus saberes e vivências, se propõem a escutar os jovens.

Os alunos selecionados recebem um auxílio financeiro (bolsa) para assumir as funções de multiplicadores – adolescentes ou jovens que realizam ações de promoção da saúde, sem experiência, com capacidade para disseminar informações; e dinamizadores – jovens com alguma experiência em atividades pautadas pelo protagonismo juvenil, com habilidades de liderança.

 

“Poder participar como dinamizadora me concedeu uma maior noção de responsabilidades e agitação de grupo. Sendo dinamizadora, consegui exercitar um maior senso de liderança e de multiplicação de ideias, uma vez que eu passava aos multiplicadores o que eu havia percebido quanto aos temas tratados nas oficinas e reuniões onde eu os representei.” L.P. – jovem promotora da saúde

 

“A minha maior dificuldade durante esse período foi a minha falta de confiança em falar com o público. Mesmo assim, sempre tentei melhorar. Outra grande dificuldade de um multiplicador é trazer o público jovem para a unidade.” D.S. – jovem promotora da saúde

 

Uma vez alocados nas unidades de saúde, os jovens são estimulados a debater assuntos que os interessem aliando aos eventos que fazem parte do calendário da saúde, tais como: Direitos sexuais e direitos reprodutivos, IST’s, Alimentação Saudável, Gênero, Racismo e diversidade, SUS, etc. A forma de trabalhar os temas também fica a critério dos jovens, a partir da ideia da metodologia participativa vivenciada por eles nas suas capacitações: esquetes, exposições na sala de espera, atividades em escolas do território, rodas de conversa, sessão de cinema, entre outros.

 

“Os temais mais legais para mim, foram sobre Gravidez na Adolescência. Pois as meninas não pensavam em planejar seu futuro. Com um filho cedo demais e sem recursos financeiros a vida fica muito mais difícil e quando multiplicamos sobre isso, abrimos à mente delas e isso é muito bom. “M.C. jovem promotor da saúde

 

Em cada unidade há aproximadamente dois profissionais apoiadores do RAP – técnicos de diversas categorias que integram as equipes das unidades de saúde e auxiliam no desenvolvimento do trabalho dos jovens. Os apoiadores são fundamentais para a integração dos jovens na rotina das unidades de saúde, para o planejamento coletivo das atividades e fortalecimento dos grupos nas ações locais, assim como para instrumentalizar e dar assistência aos alunos.

Entender o jovem em suas especificidades, considerar o cuidado na relação familiar, com quem mora, se já tem sua própria família, se tem companheiro, se tem contato com os pais, se tem filhos, se frequenta a escola, se é religioso, se pertence a uma minoria racial, etc. Nesse sentido, adequar a linguagem talvez seja um dos maiores desafios para os profissionais de saúde e para a organização das unidades de saúde.

 

“…o apoio e direcionamento do profissional apoiador foram fundamentais para que nós pudéssemos realizar as atividades e nos sentíssemos mais a vontade na unidade e também para projetar nossas ações no território.”  Y.O.S. jovem promotora da saúde

 

Propor uma reflexão sobre a atuação do profissional de saúde frente ao público jovem é uma tarefa fundamental quando se trabalha com promoção de saúde e protagonismo juvenil. Desta forma, são realizados encontros periódicos nas 10 áreas de planejamento para discutir a recepção e acolhimento dos jovens do RAP da Saúde nas unidades e sobre o desenvolvimento do curso. Esses encontros nas áreas são fundamentais para perceber as especificidades de cada território e compartilhar soluções para aprimorar os processos de trabalho com os jovens.

A equipe central do RAP da Saúde também realiza capacitações, oferecendo ferramentas para desenvolver atividades com temas mais subjetivos: Cultura da Paz, Prevenção ao Suicídio, Uso do Celular, Alimentação Saudável, dentre outros. O Psicodrama é uma das capacitações oferecida para a formação dos jovens. Nela são trabalhadas vivências grupais que propiciam o autoconhecimento, o empoderamento, a relação com o grupo e a força de cada um, facilitando a atuação dos jovens como multiplicadores.

Além disso, a cada mês são enviados aos dinamizadores e apoiadores sugestões de temas a serem trabalhados com conteúdos relacionados às datas que a área da saúde prioriza, tais como: Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, Dia Mundial da Não Violência, Campanha de Amamentação, Mês da Valorização da Paternidade, Dia Nacional do Combate ao Fumo.

 

“O dia do Abraço Grátis, as palestras nas escolas sobre o mosquito Aedes Aegypti, as campanhas do agasalho, as paródias, o curta metragem sobre relacionamentos abusivos, e as palestras sobre saúde bucal. Gostei delas porque tivemos muita comunicação com pessoas tanto dentro da unidade como fora e atingimos um público de todas as idades. Além disso, falamos sobre o tema de uma maneira bem legal sem se tornar maçante para as pessoas.” D.S. jovem promotora da saúde

 

A parceria com outras instituições também é fundamental na formação dos jovens enquanto cidadãos políticos. Já tivemos a oportunidade de trabalhar em parceria com instituições como UNICEF, CEPIA (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação), Ministério Público do Rio de Janeiro, Ministério da Saúde, Canal Futura e Grupo Pela Vida/RJ – que muito contribuíram com suas expertises.

 

“…fui convidada pra participar da Plataforma dos Centros Urbanos com a UNICEF, foi uma experiência ótima junto com isso veio um convite para estar fazendo uma pesquisa dentro de 3 presídios, esse momento foi muito maravilhoso pra mim   porque tive a oportunidade rever meus conceitos de tentar mudar um pouco o mundo de entender que o mundo não é  cor de rosa e que  se  cada um  fizesse um pouquinho pelo próximo  o mundo seria melhor”. J.N.  jovem promotora da saúde

 

No RAP, o trabalho em grupo é valorizado a todo momento, pois acreditamos que este processo gera respeito às diferenças e sentimento de pertencimento. De toda maneira, formar e manter uma equipe coesa com integrantes interessados e atuantes é um dos desafios do RAP. A convicção do pertencimento à equipe não é algo que acontece da noite para o dia, é o resultado de construção permanente. A participação em grupo prevê união, convivência agradável, solidariedade. No entanto, pode acontecer, e é comum, o desinteresse, a falta de assiduidade, enfim, o desejo de desistir. Antes de alguém “abandonar o barco”, no entanto, procura-se levá-lo à reflexão, entender os seus motivos e tentar reverter com novas estratégias e criatividade.

Na medida em que cada integrante do grupo se sente ator/atriz do coletivo (protagonista), o que for sendo construído de forma participativa, coletiva, desenvolverá também a corresponsabilidade. Os resultados alcançados pelo grupo conterão um pouco de cada integrante, do seu jeito peculiar, da sua identidade, das suas ideias, dos seus saberes. É uma soma que potencializa o objetivo do projeto: promover a saúde.

 

“O meu grupo foi um grande um desafio, ele foi composto por pessoas com algumas vulnerabilidades sociais, alguns saíram de outros grupos do Rap porque não eram aceitos, e eu busquei sempre proporcionar uma relação de afeto e confiança com o grupo, todos nós nos tornamos amigos, sabíamos a dificuldades e as qualidades de cada um, respeitávamos o espaço e buscávamos sempre ajudar, pode parecer clichê, mas é preciso paciência e amor pra fazer dar certo. É preciso força de vontade pra enxergar os jovens além dos problemas, e enxergar as possibilidades.” M.O.S. jovem promotor da saúde

 

Além do monitoramento realizado através das reuniões nas Áreas Programáticas pela equipe do RAP da Saúde da SP Superintendência de Promoção da Saúde, os profissionais apoiadores e jovens apresentam avaliações e relatórios. Os relatórios dos profissionais apoiadores contêm dados referentes aos temas abordados nas capacitações com os jovens, as atividades realizadas, as parcerias estabelecidas, os pontos fortes e frágeis em ter jovens atuando na unidade/território e uma breve avaliação da sua atuação como apoiador do RAP da Saúde.

Os relatórios dos jovens são estruturados contendo aspectos qualitativos e quantitativos das atividades realizadas e uma autoavaliação. Dentre esses quesitos são abordados: os temas e metodologias utilizados nas atividades, a quantidade de ações realizadas, público atingido, temas que desejam trabalhar, autoavaliação do comprometimento, dificuldades encontradas etc.

Ao final dos 12 meses, os jovens apresentam um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Nele o aluno é incentivado a registrar as experiências vivenciadas no curso, realizar uma autoavaliação de sua trajetória no RAP da Saúde e contar as mudanças percebidas na sua vida enquanto promotor de saúde.

Através desses relatos é possível perceber que o RAP cumpre um papel importante na melhoria da autoestima dos jovens, no sentimento de pertencimento à cidade, no autocuidado, na formação social e cidadã e no empoderamento das juventudes.

Como maiores desafios nesses três anos, identificamos a alta rotatividade de profissionais nas Unidades de Saúde (o que impede a continuidade do trabalho); a dificuldade na construção de espaços de escuta para jovens dentro das Unidades e a dificuldade na criação de parcerias com instituições que possam encaminhar uma porta de saída para os jovens que terminam o curso.

O RAP da Saúde aposta na habilidade dos jovens em perceber a realidade ao seu redor e de multiplicar informações aos amigos, familiares, parceiros desses jovens. Acreditamos na importância de políticas públicas de saúde voltadas às juventudes como forma de promoção da saúde e combate às iniquidades.

 

“O RAP da Saúde me fez enxergar que mesmo morando na favela, sem diversos privilégios, eu poderia ocupar lugares adotando uma postura política, com um pensamento crítico que comecei a desenvolver graças ao RAP. Sem meritocracias, a vida me deu oportunidades de ter acesso a várias experiências que muitos não puderam ter, o RAP foi uma delas e várias outras vieram a partir da minha participação no curso. E, se tem uma coisa que eu faço quanto a isso, como forma de agradecimento e gratidão, é continuar sendo uma multiplicadora de saúde, em seu sentido mais amplo, aonde quer que eu vá e no que quer que eu faça.” L.P. jovem promotora da saúde

 

Lições aprendidas

Após três anos da institucionalização do RAP da Saúde, aprendemos que:

O que aprendemos Como fizemos O que eles relatam
– O protagonismo juvenil se faz quando o jovem passa a ser visto como sujeito do território, participando como promotor da saúde e conscientizando outros jovens quanto aos seus direitos.

 

– A importância da equipe da Unidade de Saúde compreender o papel dos jovens atuando no seu território.

Oferta de capacitações e atividades práticas relacionadas a temas da Promoção da Saúde e Prevenção: princípios do SUS, Participação Política, dentre outros. Utilização da educação entre pares, colocando o jovem como protagonista nas suas ações.  

“O RAP me ajudou a olhar para a sociedade com mais atenção… me trouxe conhecimento do mundo e me trouxe pensamento crítico”.  P. CAP 4.0

 

“Quando existe apoio dos Apoiadores desde o início das atividades, isto faz uma grande diferença para a inserção dos jovens na Unidade e no grupo. Pode significar que os apoiadores estão mais atentos a esse momento, que compreenderam a importância de criar vínculo? …seu apoio e direcionamento foram fundamentais para que nos pudéssemos realizar as atividades e nos sentíssemos mais a vontade na unidade e também para projetar nossas ações”.  Y. CAP  4.0

A intersetorialidade possibilita uma compreensão mais ampla da saúde aonde atores, dentro e fora da SMS, são importantes para a formação destes jovens. Nossas capacitações são realizadas por uma diversidade de profissionais (de OG e ONGs parceiras) que acreditam na educação entre pares e auxiliam na formação dos jovens enquanto promotores de saúde.

 

 

 

Descobri que saúde não é só doenças e corpo humano, vai muito além, é questão cultural, de bem estar social, de saber e reconhecer o lugar de cada um… P.F. CAP 5.2

 

“…aprendi muita coisa no RAP, a viver em sociedade com opiniões, pensamentos, ideias e princípios diferentes, mas que se forem expressados de uma forma calma e singela podemos entender e talvez conseguir entrar em um consenso. O respeito ao próximo é muito visado pelo RAP e isso é essencial. Sem respeito não chegaremos a lugar algum. As atividades sobre preconceito com o negro, a diferença de sexualidade, e atividades com as doenças me fizeram crescer bastante”.  M. N. CAP 5.3

 

 

Autoria do texto:

Patrícia Dias Mondarto, Marcus Vinícius da Silva Santos, Marcio Alexandre Baptista, Cristina Alvim C. Branco (Kiki) e Bianca Gonçalves Tasca

 

Mídias Sociais:

Facebook (@rapdasaudeoficial)

Plataforma Elos da Saúde (www.elosdasaude.com.br).

Nesses espaços registramos, compartilhamos e divulgamos iniciativas e atividades realizadas pelo Rap da Saúde, além de serem disponibilizados diversos materiais educativos e especificações técnicas, para serem reproduzidos pela rede.

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