Assista à integra do debate
Equipes de saúde reorganizam suas atribuições, e profissionais que, usualmente, não estariam na linha de frente do enfrentamento à pandemia, reposicionam a forma de atuar na Atenção Primária à Saúde (APS) para reforçar as estratégias perante à Covid-19. Os profissionais de Maceió – AL encontraram uma maneira de levar o cuidado até os moradores de rua. Em Goiás Velho – GO, psicólogos desenvolveram planos de ação para trabalhar junto aos profissionais de saúde. Em Araçatuba – SP, foram os dentistas que destacaram no apoio às equipes que agem diretamente na reação à pandemia.
As três experiências, apresentadas nesta quinta-feira (30/07), durante a live Reorganização da rede de Atenção Primária para enfrentamento da Covid-19, são exemplos da versatilidade da APS na resposta à situação de emergência sanitária enfrentada no país. Os cases estão entre mais de 1,6 mil iniciativas que concorrem à seleção APS Forte no Combate à Pandemia, promovida pela Organização Pan-Americana da Saúde e pelo Ministério da Saúde.
O debatedor, Alexandre Trino, assessor técnico da Superintendência de Atenção Psicossocial e Populações Vulneráveis da Secretaria de Estado da Saúde do Rio de Janeiro, identificou a tônica do debate, ressaltando a importância das iniciativas dos profissionais. “Neste momento complexo e doloroso, no qual todos nós, na ponta do sistema de saúde brasileiro, enfrentamos diversos desafios, este debate foi eminentemente pautado pelo trabalho em saúde, em que foram destacados pontos nevrálgicos relacionados ao trabalho e à promoção do cuidado em saúde”.
Para a coordenadora de Capacidades Humanas e Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS/OMS Brasil, Mónica Padilla, as respostas apresentadas pelas equipes da APS reforçam a segurança do sistema. “Temos muitos problemas, mas também muitas acumulações. Eu sou equatoriana e, quando olho para a região das Américas, percebo que o sistema brasileiro nos oferece muitos insumos. Estamos aprendendo com vocês”, disse a moderadora aos autores das experiências apresentadas durante o debate.
Acolhimento a quem vive nas ruas
Para as equipes dos Consultórios na Rua de Maceió – AL, não foi apenas a forma de se vestir que mudou com a pandemia. Além de utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para atender os usuários, os profissionais reorganizaram a estratégia de atuação. A enfermeira Jorgina Sales Jorge, apoiadora técnica das equipes de Consultório na Rua da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, contou como é (sobre)viver em situação de rua em tempos de pandemia.
Segundo Jorgina, somando-se a todas as dificuldades que os moradores de rua já enfrentavam, a falta de acesso a condições adequadas de higiene e alimentação se agravou com a pandemia, assim como a ausência de local adequado para isolamento social. Para enfrentar estes desafios, as equipes precisaram lançar mão de novas estratégias de prevenção, cuidado, promoção de cidadania, direitos humanos e sociais.
O plano de ação, focado no enfrentamento à pandemia, envolveu desde o uso de garrafas pets com água no carro, para lavar as mãos dos usuários, até a busca de doações de material de higiene para as pessoas em condições de vulnerabilidade social.
As equipes passaram a atender nos abrigos temporários criados para acolher os moradores de rua. Com o apoio de parceiros, foram doadas quentinhas para esses usuários, garantindo ao menos uma refeição diária.
Como resultados positivos, a enfermeira destacou a visibilidade aos problemas e necessidades das pessoas em situação de rua, o florescimento de movimentos solidários da sociedade civil, o fortalecimento de vínculos e o respeito à autonomia e escolhas dos usuários, que puderam acessar os serviços como sujeitos de direitos.
Acolhimento a quem vive nas ruas
Consultórios na Rua em Maceió no combate à #Covid19
Apoio psicológico aos profissionais da Saúde
No município de Goiás Velho, a antiga capital goiana, os psicólogos vinculados ao SUS se organizaram para pensar em um conjunto de ofertas de serviços para os trabalhadores da saúde, que representavam um público potencial de 350 pessoas.
Apoiados pelo Núcleo de Estudos sobre Saúde Mental na APS e Populações Vulneráveis (NuPop) da Fiocruz Brasília, os psicólogos desenvolveram o plano ação para colocar em prática as medidas de apoio aos profissionais. Conforme relato do psicólogo sanitarista e pesquisador Marcelo Pedra Martins Machado, da Fiocruz Brasília, o primeiro movimento consistiu na oferta de apoio psicológico para gestores dos serviços, mas a procura foi baixa.
O segundo passo foi a realização de uma busca ativa, com telefonemas para trabalhadores-chave, que resultou em uma adesão maior que a da tentativa anterior. A partir de então, foram construídas estratégias de comunicação para a população em geral.
As estratégias de apoio psicológico foram organizadas conforme fases, divididas entre durante e depois da pandemia, com base em referências teóricas e técnicas, como Primeiros Cuidados Psicológicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Comitê Permanente Interagências da Organização das Nações Unidas (IASC ONU).
Um dos cuidados dos psicólogos foi evitar diagnósticos precoces, encarando os medos provocados pela pandemia como uma situação natural para o contexto. Pwdra destacou, entre os efeitos da ação, a utilização de novas ferramentas de cuidado para o campo da atenção psicossocial, com diferentes intensidades de cuidado, a ampliação do acesso aos cuidados e a promoção da saúde mental na APS, bem como o fortalecimento do autocuidado e a integração entre os serviços da rede.
Goiás Velho inova na promoção da Saúde Mental na APS
O potencial da odontologia na resposta à pandemia
Com a chegada da pandemia de Covid-19, a APS de Araçatuba, no noroeste paulista, promoveu a reorganização do processo de trabalho em saúde bucal no SUS, para enfrentar desafios como escassez de recursos financeiros, diminuição de força de trabalho, pensamento tecnicista e cuidado fragmentado.
O coordenador de Saúde Bucal do município, João Gabriel Paulino Mazzon, explicou que a reorganização foi possível graças à existência de fatores como a disponibilidade de tempo de trabalho, em função da suspensão dos procedimentos eletivos, o respaldo nas normativas do Ministério da Saúde e outros órgãos, a instalação do Comitê Operacional de Emergência Covid-19 em Araçatuba e a experiência da gestão em saúde pública.
As equipes mantiveram a assistência às urgências odontológicas e redobraram o foco no cuidado integral dos pacientes, unificando o fluxo dos pacientes na Unidade de Saúde para identificar possíveis agravos e lesões malignas. Seguindo a recomendação do Ministério da Saúde, os dentistas passaram a utilizar técnicas de mínima intervenção, com o uso prioritário de instrumentos manuais, evitando a geração de aerossol pelos equipamentos de alta rotação.
Os profissionais da saúde bucal das Unidades Básicas de Saúde (UBS) passaram a integrar a Comissão Covid-19, realizando atividades de telemonitoramento e educação permanente. O potencial da odontologia também foi aproveitado diretamente na linha de frente do enfrentamento à pandemia, na realização de testes rápidos junto à população, no apoio às campanhas de vacinação e no acolhimento de usuários.