Porto Alegre, Distrito Federal e Teresina são os primeiros entes da federação a integrar o Laboratório de Inovação em Atenção Primária à Saúde (APS Forte) da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que fará o acompanhamento e a sistematização das transformações que estão ocorrendo na saúde destas localidades. Em fevereiro, consultores da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS conheceram o sistema sanitário de Porto Alegre e do Distrito Federal e, nesta semana (4 a 6/4), o grupo de trabalho está em Teresina.
“O objetivo do Laboratório de Inovação é dar visibilidade para práticas que respondam de forma inovadora para problemas comuns da saúde do país, como a questão do acesso ao cuidado clínico-sanitário nos serviços da APS. Acreditamos que a sustentabilidade do SUS passa por uma APS forte, que prioriza o cuidado centrado no paciente com mudança do modelo assistencial”, explica Renato Tasca, coordenador da Unidade Técnica da OPAS e do Laboratório de Inovação. “Vamos investigar, acompanhar as boas práticas em diferentes lugares e, a partir disto, entender o caminho que a atenção primária se fortalece”, explica Tasca.
Cada experiência será abordada de acordo com a especificidade do território, a partir do levantamento de informações sobre a organização da APS, a situação de saúde da população e as metas da gestão voltadas para a melhoria da APS. “Não vamos comparar resultados entre as experiências, mas compartilhar práticas adotadas por elas que favoreçam o fortalecimento da APS, a troca de conhecimento e que agregue valor para ao usuário final, com a melhoria do cuidado”, explica Tasca. As temáticas abordadas pela iniciativa tratarão, além da questão do acesso, sobre regulação em saúde, uso de tecnologias para fortalecimento da APS e recursos humanos, variando de acordo com cada experiência.
Visitas da OPAS
Em Porto Alegre, o grupo da OPAS visitou a unidade de saúde Modelo no turno estendido, a sede do TelessaúdeRS-Ufrgs e as estruturas da primeira Clínica da Família de Porto Alegre, inaugurada no dia 19 de março. As Clínicas da Família são unidades básicas de grande porte, que acomodam de seis a quinze equipes completas de Saúde da Família – sempre com médico e enfermeiro. Oferecem uma carteira de serviços que inclui saúde bucal, exames de laboratório, raio-X e exames de telemedicina (espirometria e eletrocardiograma).(Leia mais).
Para secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, Erno Harzheim, é um orgulho fazer parte da iniciativa pelo reconhecimento do esforço empreendido para qualificar o SUS em Porto Alegre. “Trabalhamos com muita dedicação e agora que a Opas está nos observando, temos certeza que isso irá nos ajudar a nos comprometermos ainda mais com os nossos desafios e entregar mais para a população”, afirmou.
Nó crítico da APS: acesso ao cuidado
Segundo estudo elaborado por pesquisador Charles Tesser (UFSC) para a Rede de Pesquisa em APS da Abrasco, o conhecimento científico aponta que o acesso ao cuidado clínico-sanitário nos serviços da APS ainda permanece como o nó crítico da APS no Brasil. “As pesquisas qualitativas mostram acesso precário, com tempo de espera para atendimento demorado, mais de uma ou várias semanas para a maioria dos serviços”, destaca. Segundo Tesser, estudos pontuais que aplicaram o instrumento PCATool, que mensura os atributos da APS, em várias localidades do país, também indicam que o acesso é o atributo da APS com pior avaliação. “Sem o acesso nenhum dos outros atributos propostos por Starfield (integralidade, longitudinalidade, coordenação do cuidade, etc) pode se concretizar com qualidade e efetividade”, explica o coordenador da Rede de Pesquisa em APS, Luiz Facchini.
As experiências que participam do Laboratório de Inovação tem como meta principal ampliar e/ou qualificar o acesso dos usuários aos serviços da Atenção Primária à Saúde. Em Porto Alegre, a secretaria de saúde está reorganizando as agendas de consultas das UBS. “Estamos aumentando a proporção de consultas marcadas no mesmo dia, sem marcação prévia, e também estamos estudando fazer essa marcação de maneira mais fácil e centralizada por uma central de consultas na APS”, diz Erno Harzheim. Em Brasília, após o primeiro ano de Projeto Brasília Saudável a cobertura populacional da APS passou de 30% para 69%. Em Teresina, a aposta está na informatização da APS para coordenar o cuidado do usuário.
O que é o Laboratório de Inovação
Os Laboratórios de Inovação é uma estratégia adotada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), desde 2008, que visa à produção de evidência sobre boa gestão, a partir de práticas inovadoras desenvolvidas pelos gestores do SUS, da saúde suplementar e de outros países. Todos esses conhecimentos, captados via experiências, são organizados de forma a fornecer elementos concretos aos gestores na sua tarefa cotidiana de construir suas próprias soluções e instrumentos gerenciais.
A metodologia já sistematizou cerca de 110 experiências inovadoras e boas práticas realizadas no SUS. Até o momento, foram concluídos 11 Laboratório de Inovação sobre várias temáticas: Atenção à Doenças Crônicas, Atenção Domiciliar, Gestão do Trabalho no SUS, Atenção Integral à Saúde de Adolescente e Jovem, Manejo da Obesidade na Redes de Atenção, Participação Social no SUS e Inovações na Saúde Suplementar. Está em fase de desenvolvimento, três Laboratórios de Inovação sobre Educação na Saúde, nova edição da Saúde do Adolescente e Jovem e o de Atenção Primária Forte.
Mais informações em apsredes.org