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Odontologia Hospitalar: Alfenas/MG e Dourados/MS apresentam experiências exitosas em Saúde Bucal

As iniciativas dos municípios de Alfenas/MG e Dourados/MS proporcionaram um amplo debate e o intercâmbio de conhecimentos sobre Odontologia Hospitalar. Realizada nesta quarta-feira, 9 de novembro, a segunda e penúltima live do LIS Saúde Bucal está disponível nos canais do DataSUS e do Portal da Inovação. A última live da iniciativa será no dia 29 de novembro, às 15h, com o tema do Eixo 3, Centros de Especialidades Odontológicas.

Élem Cristina Cruz Sampaio, analista de políticas sociais e coordenadora geral substituta de Saúde Bucal da Coordenação Geral de Saúde Bucal, da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, foi a moderadora da live. “A adequação dos ambientes hospitalares para atendimento odontológico é um eixo que o Ministério da Saúde precisa avançar. Já foi disponibilizados equipamentos odontológicos para serem alocados em ambientes hospitalares, para atender as pessoas com necessidades especiais, como parte de um programa da rede de cuidados da pessoa com deficiência, mas essa discussão precisa avançar”.

A debatedora Fabiana Motta, do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), elogiou as experiências apresentadas. “É um prazer compartilhar e ver essas experiências exitosas de Odontologia Hospitalar do Brasil. Ter um único dentista em um hospital de 187 leitos e ver um exitoso trabalho com os pacientes oncológicos nos anima e nos desafia”, ressaltou.

 

“Assistência aos pacientes com lesões bucais decorrentes do tratamento oncológico no serviço de oncologia do Hospital da Santa Casa de Alfenas, MG”

Autora: Lívia Dias – Docente da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL/MG)

 

A autora apresentou o projeto realizado no Serviço de Oncologia do Hospital da Santa Casa que atende além da população de Alfenas/MG, várias cidades da microrregião do sul de Minas Gerais. Participam os pacientes acometidos por complicações orais decorrentes do tratamento oncológico, de qualquer idade, sob tratamento oncológico. Os docentes envolvidos no projeto atendem os pacientes tanto no ambulatório de oncologia, quanto no leito no Hospital da Santa Casa de Alfenas/MG. Também contam com o suporte da Clínica de Estomatologia da Faculdade de Odontologia da UNIFAL-MG para o tratamento e acompanhamento dos casos mais graves ou aqueles que necessitam de intervenções odontológicas mais especializadas, como exames imaginológicos, cirurgias, entre outros.

“O nosso projeto iniciou em 1º de junho de 2016, pois não existia ainda um serviço especializado com suporte odontológico para os pacientes oncológicos da região”, explicou Lívia Dias, docente da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL/MG). Além disso, foi incorporado, recentemente, o suporte da teleconsultoria odontológica conduzida por ela, realizado com discentes (cirurgiões-dentistas) matriculados no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas e/ou Ciências Odontológicas, ambos da UNIFAL.

A teleconsultoria se realiza de forma remota utilizando um aplicativo de smartphone que faz uma vídeo chamada entre o docente responsável e os discentes que estão juntos com o paciente. Os procedimentos realizados têm caráter simples como orientação do caso, aplicação de laserterapia, prescrição de medicamentos, entre outros, porém, sempre com a condução do caso pelo docente responsável. Todos os pacientes atendidos recebem acolhimento e apoio, orientação de higiene bucal e prevenção de lesões decorrentes do tratamento antineoplásico.

Segundo a literatura, vários efeitos adversos podem surgir quando a cavidade oral e glândulas salivares são expostas à radiação ionizante e/ou aos agentes quimioterápicos. Esses efeitos podem impactar negativamente no curso do tratamento e na qualidade de vida do paciente oncológico. O principal objetivo da experiência em andamento é identificar e tratar as complicações orais oriundas do tratamento antineoplásico de pacientes admitidos no serviço de oncologia do Hospital da Santa Casa de Alfenas, sul de Minas Gerais, a fim de minimizar a morbidade e as interrupções do tratamento proposto.

Para a autora, é preciso desenvolver medidas que visem à melhoria da condição oral e da qualidade de vida desses pacientes, a fim de prevenir e minimizar os efeitos negativos e/ou complicações decorrentes da terapia antineoplásica e do curso da própria doença. É necessário que o cirurgião-dentista esteja inserido na equipe multidisciplinar da equipe oncológica e hospitalar para reconhecer e tratar as complicações orais oriundas do tratamento antineoplásico no Serviço de Oncologia do Hospital da Santa Casa de Alfenas, a fim de diminuir as interrupções do tratamento proposto, melhorar a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes em tratamento antineoplásico.

O projeto identifica e trata as complicações orais (mucosite oral, xerostomia, hipossalivação, disgeusia/ageusia, etc); identifica o grau de agressividade dessas complicações; associa as complicações orais com o perfil epidemiológico e com as comorbidades identificadas; avalia a presença e a gravidade das complicações orais correlacionando com o número de ciclos de quimioterapia e/ou número de sessões de radioterapia, entre outros.

Este projeto é único na nossa região e através dele muitos pacientes melhoraram sua qualidade de vida e expandiram o prognóstico já que conseguiram finalizar o tratamento inicial proposto e reduziram comorbidades associadas. Dessa forma, o Hospital da Santa Casa conseguiu disponibilizar mais uma estratégia de tratamento, até então indisponível em Alfenas e região, o que beneficia todos os pacientes afetados por esses efeitos colaterais agudos e crônicos do tratamento antineoplásico”, pontuou a docente.

Sobre os desafios, Lívia Dias ressaltou: “Um dos desafios enfrentados pela equipe foi de sensibilizar toda a equipe médica e de outros profissionais de saúde envolvidos na equipe multidisciplinar que trata o paciente com câncer, entender a importância da atuação do cirurgião-dentista dentro da equipe já que muitos deles não tinham conhecimento e experiência com a incorporação desta atividade odontológica. No entanto, esta dificuldade foi sendo sanada à medida que o serviço se desenvolvia e a melhora do estado geral dos pacientes atendidos por este projeto. Um dos próximos desafios será melhorar a infra-estrutura do consultório odontológico para melhor atender os pacientes e para isso, aplicaremos a proposta a editais disponíveis nas agências de fomento nacionais”.

“Até o momento, mais de 400 atendimentos foram realizados, muitos pacientes melhoraram a sua qualidade de vida e garantiram o prognóstico já que conseguiram finalizar o tratamento inicial proposto e reduziram comorbidades associadas”, finalizou Lívia Dias.

 

 

“Ampliação dos atendimentos odontológicos a partir do estabelecimento de um processo de trabalho otimizado e multifacetado com ênfase na educação em saúde para equipe multiprofissional, em Dourados/MS”

Autor: Maurício Hidemi Shimada – Cirurgião-dentista Ebserh

 

O autor da experiência, Maurício Shimada, do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados, filial Ebserh (HU-UFGD/Ebserh) localizado no interior do Mato Grosso do Sul (MS), explicou como o município vem se consolidando como polo estratégico na formação de recursos humanos e na produção e na disseminação de ciência e tecnologia na área da saúde bucal. Ao mesmo tempo, constitui-se como referência na assistência pública à saúde da população, distribuída em 33 municípios da região da Grande Dourados, incluindo a população indígena e de fronteira (Paraguai), com 187 leitos credenciados.

O HU possui, em seu quadro funcional, um cirurgião-dentista desde julho de 2014. Inicialmente, lotado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto, pretendia-se atuar ativamente na prevenção de pneumonias associadas à ventilação mecânica. Contudo, com o passar do tempo, como o quadro de odontologistas manteve-se inalterado, optou-se pela ampliação dos atendimentos por meio da condução de um trabalho tanto operacional quanto educacional, pautado em orientações da equipe multiprofissional.

Segundo o relato, a experiência apresenta a evolução do serviço de odontologia e ampliação dos atendimentos odontológicos na instituição, identificando as ações desenvolvidas, desafios, enfrentamentos, resultados alcançados e ações que ainda estão em fase de implementação.

Maurício Shimada explicou que durante a pandemia da Covid-19, para diminuir o trânsito desnecessário e reduzir o contato e exposição entre as unidades de internação, e manter a cobertura de serviços odontológicos a todas as unidades, o modelo de solicitação de interconsulta com as especialidades médicas foi adaptado ao contexto odontológico, com orientações (Protocolo) publicadas em Boletim de Serviço (BS) institucional. De acordo com a vivência do profissional de odontologia com a equipe multiprofissional percebeu-se a dificuldade de avaliação da saúde bucal e de entendimento das práticas odontológicas por toda equipe, ressaltando a necessidade de ações de orientação/ educação em saúde de maneira contínua, com profissionais de saúde, acadêmicos e residentes.

“A experiência de implementação está em andamento, um processo de trabalho otimizado e multifacetado visando a ampliação dos atendimentos odontológicos na instituição com ênfase na educação em saúde/orientações para equipe multiprofissional”, ressalta o cirurgião-dentista.

A experiência implementou várias ações, entre elas, a ampliação dos atendimentos odontológicos. Atualmente, o serviço odontológico presta suporte à todas as unidades de internação através de interconsulta por solicitação médica e multiprofissional tanto para auxílio diagnóstico e terapêutico quanto para atendimento às urgências em saúde bucal, além de orientação das demandas por meio de contrarreferência para as Unidades Básicas de Saúde do município de Dourados e macrorregião. Também foi criado um ambulatório de odontologia para pacientes com necessidades especiais que necessitam de anestesia geral para tratamento dentário, escalas de visitas e atividades operacionais realizadas, como, por exemplo, higiene bucal do paciente acamado, cirurgias odontológicas, anquiloglossia e frenectomia, além da produção de ebook que está em andamento, para superar a barreira da linguagem e dinamizar a multiplicação do conhecimento, aumentando a cobertura de serviços aos pacientes internados, com texto informativo, fluxogramas e imagens ilustrando as situações comuns para solicitação de interconsulta odontológica em formato físico e digital.

Segundo o autor, o entendimento da transversalidade das ações da PNSB, entre a atenção básica, o Centro de Especialidades Odontológicas e atenção terciária, pela comunidade hospitalar torna mais assertiva as solicitações de interconsultas para casos que necessitem da atenção sob resguardo hospitalar.

O amadurecimento dos serviços de odontologia hospitalar possibilita uma abordagem integral nos cuidados em todos os níveis de complexidade, foi observada uma quantidade importante de pacientes com demandas em saúde bucal acumuladas e que puderam ser sanadas/melhoradas durante a internação. A integração com as equipes ilustra para a comunidade médica as experiências exitosas de saúde bucal e sua relação com a saúde sistêmica, diminuindo o tempo de internação, resolvendo casos em que a etiologia do comprometimento sistêmico se originaram de focos odontogênicos.

“As ações que já foram e que ainda estão sendo implementadas no serviço de odontologia hospitalar do HU são inovadoras por utilizar conceitos simples que já existem de uma maneira diferente do que vinha sendo realizado no modelo assistencial vigente, ampliando as atividades do profissional de odontologia na formação de profissionais na promoção da saúde bucal e identificação da necessidade de interconsulta odontológica com consequente melhora na performance institucional e mudança gradativa da cultura organizacional em relação ao serviço de odontologia”, explicou Maurício Shimada, ressaltando que a otimização do processo de trabalho multifacetado implementado no HU pode ser replicada em outras instituições da rede onde há um profissional de odontologia.

 

Sobre as dificuldades, o autor pontuou:

  • Uma cultura institucional incipiente em relação à inclusão da odontologia no cuidado integral ao paciente;
  • Falta de conhecimentos da equipe multiprofissional da PNSB e que lesões ou sinais necessitam atenção de saúde bucal;
  • Divergência de termos técnicos inerentes a cada profissão que dificultou a comunicação clara e interpretações das informações;
  • Quadro funcional institucional reduzido, o que gerou morosidade na implementação das ações e alcance de metas e mudança de realidade além da descontinuidade do serviço em situações de ausências trabalhistas;
  • Sensibilização da equipe multiprofissional da importância da saúde bucal, justamente devido a cultura organizacional instituída em relação à odontologia.

 

 

 

Esta foi a penúltima live do LIS Saúde Bucal. Em dezembro, para finalizar, acontecerá o seminário no formato presencial, com transmissão on-line, para que o Ministério da Saúde e a OPAS no Brasil compartilhem juntamente com todos os participantes os aprendizados propiciados pela iniciativa.

O Laboratório surgiu diante do cenário advindo com pandemia de Covid-19, que trouxe novos desafios para os sistemas de saúde, para os profissionais de saúde e para os usuários, o Ministério da Saúde e a OPAS Brasil pactuaram uma série de atividades de cooperação técnica para mapear e sistematizar experiências inovadoras em saúde bucal no SUS e, ao mesmo tempo, produzir uma reflexão coletiva sobre a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB). Para saber mais, acesse: https://apsredes.org/saudebucal/, e conheça todas as noventa experiências que foram habilitadas para avaliação da comissão de especialistas e as sete vencedoras.

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