TELEODONTOLOGIA EM FLORIANÓPOLIS-SC: UMA REALIDADE PÓS COVID

Identificação do autor responsável
Nome Município
Valeska Maddalozzo Pivatto Florianópolis - SC
Autores do relato
Nome Município
Valeska Maddalozzo Pivatto florianópolis - SC
Viviane Paula Panisson florianópolis - SC
Carol Silva Coelho Florianópolis -SC
Contextualização/introdução

Experiência da oferta de teleatendimento odontológico no Sistema Único de Saúde na atenção primária à saúde (APS) do município de Florianópolis-SC em um cenário pós pandemia de Covid-19, frente ao comportamento atual dos usuários que demandam a manutenção da comunicação com as equipes de saúde por meios remotos.

A Prefeitura Municipal de Florianópolis, por meio da secretaria municipal de saúde e coordenação de saúde bucal, atenta às potencialidades e ao impacto que representa o uso das tecnologias no comportamento das pessoas e nas relações interprofissionais e entre profissionais e pacientes, vem realizando diversos esforços para potencializar o processo de trabalho, os modelos de acesso e agendamento às consultas das equipes de saúde bucal e do contato dos usuários com suas equipes de referência do município ao longo dos últimos anos.
A utilização de contato remoto entre equipes de saúde bucal e usuários já era uma realidade em Florianópolis mesmo antes da pandemia de Covid-19 para orientações sobre o serviço odontológico oferecido e planejamento da agenda. Com o apoio da Diretoria de Atenção à Saúde, foram adquiridos smartphones com número próprio para cada um das equipes de saúde bucal e disponibilizada conexão Wi-fi em todos os 49 Centros de Saúde do município de Florianópolis.
Com a resolução 226 e 228/2020 do CFO, ampliando o escopo das ações remotas durante a pandemia de Covid-19, período no qual as instituições buscaram soluções para responder às questões de como as pessoas poderiam ter acesso ao serviço ou como manter seu acompanhamento e contato com sua equipe sem precisarem sair de casa, a implantação da teleodontologia foi um importante marco na busca por soluções inovadoras frente a tamanho desafio.
As experiências exitosas em diversos pontos da rede de atenção à saúde em Florianópolis reiteram o teleatendimento como importante e permanente ferramenta de apoio clínico a ser utilizada pelos serviços de saúde pois, para além do contato remoto com os usuários, o uso de comunicação à distância aproxima profissionais da atenção primária, secundária e terciária através de matriciamentos e teleconsultoria.
A presente iniciativa aponta algumas das soluções adotadas para ampliar o atendimento remoto em saúde bucal prestado durante o período da pandemia, adaptadas para o período pós-covid, de forma a agregar qualidade de atendimento e agilidade aos usuários do SUS.

Justificativa

A estratégia adotada durante a pandemia com o uso das ferramentas de atendimento remoto na comunicação com os usuários do SUS em Florianópolis levou à melhoria do acesso às equipes de saúde bucal, de forma a garantir maior equidade e qualidade de atendimento. Considera-se primordial garantir a manutenção desse serviço ofertado, com padronização e criação de guias e protocolos que visem à integralidade do cuidado e qualificação da oferta de saúde bucal.

Objetivo(s):

A oferta de teleatendimento odontológico visa manter os cuidados em saúde e o acesso de primeiro contato com as equipes de saúde bucal, especialmente diante de situações de restrição de deslocamento, como a ocorrida durante a pandemia de Covid-19. Possibilita o rastreamento de sintomas de Covid-19 antes de agendar o atendimento presencial, organizando e controlando o fluxo de pacientes nas unidades de saúde ao avaliar se o paciente necessita de atendimento presencial, evitando idas desnecessárias ao serviço de saúde.

O uso das ferramentas remotas, por si só, não representa uma inovação. A inovação se dá principalmente na forma como os dados são coletados, interpretados e utilizados. É a partir do momento em que outras ações são tomadas, como a implementação da triagem por meio de formulários e planilhas usadas como avaliação pré-clínica, realização de teleconsultas e telemonitoramento, bem como a comunicação interprofissional nas situações de matriciamento, que todas as ações voltadas à teleodontologia resultam em estratégias importantes visando a saúde da população, capazes de alcançar a equidade, a longitudinalidade e a coordenação da atenção em saúde bucal como um todo.

A teleodontologia visa fornecer orientações sobre o funcionamento dos serviços odontológicos e encaminhar o paciente para o serviço mais adequado, bem como agendar consulta presencial ou remota em tempo oportuno de acordo com a necessidade clínica, através da avaliação e manejo das queixas odontológicas de forma inicialmente remota. Possibilita aumentar a oferta de atenção profissional para orientações sobre os cuidados em saúde bucal, prescrição de medicações e orientações quanto ao uso, bem como prestar orientações e resposta a dúvidas no pós-operatório, ou telemonitoramento dos pacientes nos casos necessários.

Através do uso de formulários e planilhas, e da comunicação interprofissional por meio remoto entre os diferentes níveis de atenção, gera-se uma rede de atendimentos essencial para a melhoria da qualidade de vida das pessoas pois, adequando-se aos critérios de sigilo e confiabilidade dos dados, as diferentes demandas circulam na rede e passam a ter o apoio de especialistas de forma muito mais ágil.

Metodologia e atividades desenvolvidas

Tendo em vista os atributos da atenção primária à saúde, a utilização do teleatendimento visa, primordialmente, manter o primeiro contato do paciente com sua equipe de referência. Florianópolis manteve o atendimento de saúde descentralizado durante a pandemia (atendimento acontecendo em todas as unidades de saúde) reforçando a presença capilarizada da APS no acompanhamento de seus pacientes. A atenção primária em Florianópolis já contava com telefones celulares e uso de aplicativo de mensagem há vários anos, já que são tecnologias amplamente difundidas entre a população.

Percebe-se que além do primeiro contato, outros atributos da APS são fortalecidos com o teleatendimento: a coordenação do cuidado, integralidade e longitudinalidade são consolidados no momento que o profissional está disponível para seguir o acompanhamento, tratamento e resolução de dúvida dos usuários, mesmo à distância.

No âmbito da saúde bucal, a utilização de aplicativos de mensagem, formulários online, ligação por telefone ou vídeo chamadas possibilitam uma escuta qualificada da queixa do paciente, bem como uma pré-avaliação, à distância, das demandas da população, além de ser importante mecanismo de educação em saúde.

Primordialmente, em casos de necessidade do paciente, como situações de urgência e/ou emergência odontológica, esse contato remoto possibilita uma análise rápida da gravidade do quadro do paciente com encaminhamento responsável para atendimento na unidade de saúde ou atendimento hospitalar.

Outros pontos surgem como fortalezas, entre eles o repasse de orientações sobre o serviço odontológico oferecido, planejamento da agenda com marcação de horário mais adequado ao usuário, a possibilidade de antecipação de orientações gerais sobre cuidados com saúde bucal para todos os pacientes que buscarem o serviço, acompanhamento e monitoramento de casos (por exemplo: melhora ou agravamento de pulpites e abscessos, recuperação de pós operatório, avaliação prévia de exames de imagem, entre outros), acompanhamento de pacientes como gestantes e recém nascidos os quais recebem esclarecimentos importantes sobre sua condição atual e as repercussões na saúde bucal sem a necessidade de se expor à circulação, agendamento facilitado aos usuários sem precisarem se dirigirem à unidade de saúde presencialmente, contato com usuários moradores de locais distantes ou mesmo rurais, além da manutenção do vínculo com as pessoas e a comunidade.

As ações ofertadas exigem a sensibilização das equipes de saúde bucal e o treinamento através de criação de guias adaptados para as realidades locais. A população deve ser comunicada de forma ágil e eficaz a fim de que essa ação seja usada como mais uma forma de acesso ao atendimento. Deve-se sempre tomar o cuidado para que não seja criada uma barreira de acesso, ou seja, que o contato remoto não seja obrigatório ou indicado como exclusiva porta de entrada ao serviço, visto que a característica mais importante é que seja mantida a equidade e universalidade da atenção em saúde bucal. A oferta de orientações sobre como usar as ferramentas para a população deve ser constante, com soluções adaptadas para situações em que o usuário não se sinta confortável ou apto a acessar tais serviços.

Florianópolis criou um guia rápido de utilização do aplicativo de mensagem para as queixas odontológicas. Tal guia foi amplamente divulgado no âmbito da SMS, especialmente entre os membros das equipes de saúde bucal, com objetivo de auxiliar o uso dessa ferramenta, orientar a condução das queixas e ressaltar os cuidados nos encaminhamentos e registro em prontuário do paciente.
O guia rápido teve seu papel ampliado a partir do momento que toda a equipe de saúde, para além da ESB, fez uso dele. Outros profissionais estão utilizando o guia, principalmente nos momentos em que não há o profissional odontólogo no serviço para responder às demandas urgentes, e assim poderem encaminhar com responsabilidade o caso com mais critérios e mais dados a outro serviço, ou ainda fazer uma interconsulta presencial ou à distância.

A intervenção mostra-se viável do ponto de vista econômico pois não exige recursos vultosos, não onera o poder público sob o ponto de vista de que já existem recursos humanos, os recursos tecnológicos são de fácil aquisição e a população está acostumada com o uso dessas ferramentas.

Quais os resultados alcançados

* Manutenção do serviço em situações de crise (nenhuma das unidades de saúde deixou de realizar atendimentos odontológicos durante o período da pandemia);
* Realização da escuta qualificada da queixa do paciente;
* Contato facilitado com usuários moradores de locais longínquos;
* Avaliação odontológica para organização dos atendimentos em tempo oportuno e priorização da agenda, otimizando o tempo das consultas presenciais (fim das filas presenciais nas unidades de saúde que ofereciam as vagas de maneira aleatória, em determinados períodos ou dias da semana);
* Consultas de orientação para pacientes prioritários como gestantes, recém nascidos, idosos e outros que possam encontrar-se em situação de restrição de locomoção;
* Criação de grupos para atendimentos coletivos de forma remota (durante a pandemia os grupos prioritários puderam ser atendidos de forma coletiva em grupos formados através de salas virtuais);
* Consultas de monitoramento de pacientes atendidos nos serviços para acompanhar a evolução dos quadros;
* Rastrear sintomas de Covid-19 antes de agendar o atendimento presencial (Florianópolis teve baixo índice de contaminação entre os profissionais das equipes de saúde bucal devido em parte à segurança de atender após rastreamento adequado de sintomas);
* Prescrever medicações e orientar quanto ao seu uso;
* Atributos da APS fortalecidos: primeiro contato, longitudinalidade, coordenação do cuidado, integralidade;
* Fortalecimento do vínculo do usuário com a equipe;
* Promoção de saúde e ampliação de acesso durante a pandemia (inúmeros relatos de pacientes que sentem-se gratos e elogiam a atuação das equipes com relação ao uso das tecnologias remotas);
* Prevenção de agravos;
* Conforto para familiares responsáveis pelos cuidados de outros;
* Qualificação da atenção em saúde bucal por meio de matriciamentos e teleconsultoria entre APS e especialistas;
* Discussão de casos entre APS e especialistas;
* Utilização de imagens associadas às descrições de agravos aprimorando os encaminhamentos e a priorização dos usuários pelo serviço de regulação.
Em pesquisa realizada pelo serviço, ainda em 2021, sobre a utilização dos meios remotos no atendimento odontológico, mais de 70% dos participantes responderam “sim” à pergunta: “o atendimento remoto resolveu ou ajudou a resolver o seu problema?” demonstrando a boa aceitação de tal recurso entre a população.

Considerações finais

A ampliação e qualificação da utilização de ferramentas de comunicação remota entre profissionais e pacientes ou entre os profissionais nos diferentes níveis de atenção à saúde mostrou-se fundamental durante os períodos críticos da pandemia de Covid-19. A experiência positiva permitiu que tais ações fossem mantidas e adequadas ao momento presente.

Garantir ao usuário do sistema uma forma simplificada e facilitada de acesso às informações sobre os serviços de saúde, bem como ter contato com sua equipe de referência são vantagens que a comunicação à distância permite.

Ressalta-se que essa não deve ser a única forma de acesso do usuário às unidades de saúde, pois deve-se sempre considerar as dificuldades que alguns usuários apresentam quanto ao uso das ferramentas remotas, bem como as limitações de acesso aos recursos tecnológicos e à internet. Entende-se que o pleno sucesso da iniciativa depende da habilidade de comunicação por meio remoto e pode ser uma barreira para pacientes estrangeiros, devido à restrição quanto ao idioma, ou pacientes analfabetos.

Trata-se de uma iniciativa dependente da estrutura física do serviço (computadores, aparelhos celulares e internet) bem como da ação humana do profissional (a equipe precisa estar consciente dos resultados favoráveis e estar intencionalmente apta e disponível para a realização da mudança). Essa última dificuldade parece ter menor impacto ao realizar ações de conscientização associadas à publicação de guias de apoio direcionados à equipe e a capacitação dos técnicos e auxiliares de saúde bucal com vistas ao acolhimento e resposta apropriada das demandas odontológicas que surgirão.

Dentre outras potencialidades, a teleodontologia tem a perspectiva de tornar-se um espaço de educação permanente e de ensino para residentes e graduandos e possibilita a obtenção de um histórico de dados que podem ser úteis para a formulação de políticas públicas baseadas nas diferentes realidades locais.

A presente experiência pode ser replicada em praticamente qualquer cenário, é de rápida aprendizagem e expansão, necessitando apenas os recursos tecnológicos para tal. O uso da tecnologia difundido entre a população em geral, os resultados satisfatórios no dia-a-dia de trabalho e os baixos custos empregados, garantem a viabilidade técnica e financeira para a manutenção da iniciativa proposta.

A utilização de ferramentas de comunicação remota entre profissionais e pacientes já é uma realidade consolidada entre diversas categorias profissionais como a medicina, enfermagem e psicologia. A carência de orientações e resoluções mais específicas para a atuação da odontologia tem sido um obstáculo a ser superado. Os autores consideram ainda que seria apropriada a disponibilização de uma plataforma própria adaptada aos serviços e às condições locais de atendimento, bem como a implantação de ferramentas de monitoramento das ações realizadas.

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