Odontologia Hospitalar e Prevenção de PAV em UTI COVID

Identificação do autor responsável
Nome Município
MOHAMAD HUSSEIN AZEVEDO SALEM MARINGÁ
Autores do relato
Nome Município
MOHAMAD HUSSEIN AZEVEDO SALEM MARINGÁ-PR
MARIA PAULA JACOBUCCI BOTELHO MARINGÁ-PR
DEBORAH ESPIRIDIAO FIORONI MARINGÁ-PR
MAICON ROBERTO PEREIRA SALGUEIRO MARINGÁ-PR
FÁBIO JOSÉ BIANCHI MARINGÁ-PR
ANA CAROLINA DA SILVA AGUIAR MARINGÁ-PR
GIOVANA MAZE DE OLIVEIRA BLIND SEMICEK MARINGÁ-PR
LUDMILA PRISCILLA MANETTI MARINGÁ-PR
Contextualização/introdução

Durante a pandemia de covid-19, a equipe de odontologia da SMS se disponibilizou para apoiar a equipe hospitalar no enfrentamento da doença. De início a equipe odontológica ficou responsável pela coleta de testes swab nasal, o que acabou permitindo um primeiro contato com os pacientes internados, inclusive em UTI. Poder vivenciar e presenciar a condição bucal dos pacientes, despertou na equipe o desejo de suprir a necessidade de cuidados nestes pacientes. dessa forma buscamos na literatura o que poderia ser feito e como seria a melhor maneira de realizar. foi elaborado um projeto de odontologia hospitalar, para atenção e cuidados aos pacientes internados em UTI covid, que contou com o total apoio da Secretaria Municipal Saúde e do Hospital Municipal.

Justificativa

Apesar de bastante conhecida e estudada a relação entre a condição de saúde bucal e diversos distúrbios sistêmicos como as doenças cardiovasculares, pneumonias e outros, a Odontologia Hospitalar ainda caminha a passos curtos. Em pacientes críticos internados em UTI têm-se estudado a relação da saúde bucal com os distúrbios respiratórios que pode agravar muito a saúde desse paciente podendo até levá-lo a óbito.
Por isso, hoje, a higiene bucal é uma das funções determinadas e exercidas pela equipe de enfermagem da UTI. No entanto, a manutenção da saúde bucal não é muito valorizada. Quando existem protocolos relacionados à higienização bucal dos pacientes internados em uma UTI, esses são inconsistentes. Sabe-se que uma equipe odontológica deve ser integrada à equipe multidisciplinar da UTI visando melhorar e profissionalizar os cuidados ligados à saúde bucal desses pacientes já tão comprometidos sistemicamente.
Dessa forma, como podemos ver, a presença do Cirurgião Dentista na equipe multidisciplinar hospitalar não somente se mostra necessária, como de fundamental importância, seja na melhoria do quadro de saúde geral do paciente, bem como na diminuição do tempo de internamento e prevenção de infecções secundárias e oportunistas, e na diminuição da incidência de complicações como endocardites e pneumonias como a PAVM, que podem deixar sequelas graves e até mesmo levar o paciente a óbito. Então entendemos que inserir um protocolo de Odontologia Hospitalar, principalmente em UTIs, em uma época de pandemia, de um vírus que causa uma doença respiratória grave, significa demonstrar cuidado com os pacientes e preocupação com a vida.

Objetivo(s):

_ Realizar um levantamento bibliográfico justificando a necessidade de cuidados relacionados à saúde bucal em UTI.
_ Alertar e requerer sobre a necessidade de inclusão do Cirurgião-Dentista, TSB e ASB na equipe multidisciplinar de uma UTI.
_ Colaborar para a elaboração e implementação de Lei Municipal incluindo uma equipe de saúde bucal à equipe multidisciplinar de atendimento em UTIs.
_ Desenvolver um protocolo odontológico direcionado ao atendimento de pacientes em UTI.

Metodologia e atividades desenvolvidas

Seguimos o protocolo elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde do Município de Maringá-PR para atendimento odontológico na UTI, o qual deve manter essa ordem:
1. Lavar as mãos;
2. Paramentar com todos os equipamentos de proteção individual – EPI (gorro, máscara, óculos de proteção, face shield, avental de manga longa, luva de procedimento). Não entrar na UTI com jaleco do ambulatório;
3. Realizar a desinfecção com álcool 70% das bancadas que serão utilizadas antes e depois do procedimento, em cada leito;
4. Separar o equivalente a 10 ml de solução de clorexidina a 0,12% não alcóolica;
5. Ligar o aspirador e adaptar a sonda de aspiração nº12 no látex, ligar o aspirador;
6. Comunicar, verbalmente, ao paciente e/ou ao acompanhante, o procedimento que será realizado;
7. Posicionar o paciente mantendo cabeceira elevada (de 30⁰ a 45⁰), a menos que esteja contra indicado pela equipe multidisciplinar, abaixar o siderail do lado de trabalho.
8. Calçar as luvas de procedimento;
9. Hidratar a mucosa labial antes de iniciar a limpeza bucal com soro fisiológico, produtos enzimáticos, lanolina ou Dexapantenol;
10. Proceder à aspiração da cavidade bucal e orofaringe, no início, meio e fim do
atendimento ou quantas vezes achar necessário;
11. Assegurar a correta fixação do tubo orotraqueal antes de realizar a higiene bucal,
identificar o correto posicionamento e a pressão do balonete (Cuff);
12. Realizar a inspeção da cavidade bucal, observando alterações salivares (hipo e hipersalivação), mobilidade dental, sangramento, lesões traumáticas e infecciosas de mucosas, edemas de lábios ou peribucais.
– Detectar cuidadosamente a presença de órteses/próteses dentárias
provisórias ou obturadoras, procedendo a suas remoções antes de iniciar a higienização bucal, em seguida, realizar a limpeza destas próteses com clorexidina
0,12% e entregá-las à família ou à chefia de enfermagem e registrar no prontuário o
nome de quem recebeu as próteses.
– Se houver a presença de próteses sobre implantes, mesmo que unitárias,
solicitar avaliação do Cirurgião-Dentista antes de manejá-las;
13. Realizar o procedimento de higienização bucal;
14. Embeber a gaze em clorexidina não alcóolica para remoção de debris;
15. Realizar a limpeza dos dentes com gaze embebida em solução aquosa de digluconato de clorexidina 0,12%;
16. Utilizar seringas de 20 ml com êmbolo como abridor de boca de borracha (deverá ser preso ao fio dental para evitar deglutição acidental) ou um conjunto de espátulas de madeira estéreis envolvidas em gaze, fita crepe e luva, caso necessário;
17. Envolver a gaze nos dedos umedecida com a solução de clorexidina a 0,12%, deslizar raspando a língua, nos vestíbulos, nas bochechas, no palato, nas gengivas de ambos os arcos dentais, nas superfícies vestibulares, linguais, palatinas e oclusais dos dentes no sentido póstero-anterior;
18. Realizar então movimento de varredura no sentido da gengiva para o dente, de forma suave e repetida, prosseguindo sistematicamente com o movimento por todos os dentes pelo lado de fora (face vestibular) e pelo lado interno dos dentes (face lingual) e com movimentos de vaivém, higienize também as superfícies mastigatórias dos dentes. Para os pacientes edêntulos, higienizar o rebordo gengival;
19. Higienizar a língua com gaze umedecida em clorexidina a 0,12%;
20. Limpar o tubo orotraqueal com gaze embebida na solução de clorexidina a 0,12%;
21. Aspirar a cavidade bucal e orofaringe novamente;
22. Hidratar, novamente a mucosa labial com Dexapantenol ou lanolina anidra;
23. Dispensar o material contaminado no local apropriado;
24. Desligar o vácuo e levantar o siderail.
25. Lavar as mãos;
26. Evoluir o paciente no prontuário clínico.
Os materiais de consumo necessários para serem utilizados durante o atendimento, vão depender da condição clínica do paciente.
a)Paciente consciente, orientado e contactante:
• Peróxido de Hidrogênio a 1% (15 ml) – deverá ser feita a diluição do Peróxido de Hidrogênio 3%, 1/1 em água, antes do momento do atendimento;
• Clorexidina 0,12%, sem álcool, por 1 minuto;
• Aplicar hidratante labial, tipo Bepantol derma labial e/ou saliva artificial;
• Gaze;
• Hipoclorito;
• Água;
• Copo/recipiente descartável; e
• Hipoclorito de Sódio a 1%.
b)Pacientes internados em uti, em ventilação mecânica, dependentes, disfágicos, déficit cognitivo com diagnóstico de covid-19:
• 15 ml Peróxido de Hidrogênio a 1%;
• Espátula abaixadora de língua (levar bonecas de gaze já montadas na espátula);
• Gaze estéril (pacote);
• Água destilada estéril (pacientes em ventilação mecânica) ou filtrada;
• Sugador odontológico;
• Sonda de aspiração (nº 10, 12 ou 14); • 10 ml de solução aquosa de clorexidina a 0,12%;
• Lubrificante bucal, se necessário (Bepantol derma, ou AGE para lábios e/ou saliva artificial);
• Bandeja metálica; e
• Babador descartável.

Quais os resultados alcançados

Além de aprovação de uma lei municipal que determina a inclusão da equipe de saúde bucal na equipe multidisciplinar em UTI ( lei ordinária 11.326, de 20 de agosto de 2021), conseguimos implantar um protocolo de atendimento e melhorar consideravelmente a condição de saúde bucal dos pacientes, conseguindo uma diminuição nos dias de internamento, redução nos casos de pneumonias associadas à ventilação mecânica, e consequentemente redução no número de óbitos. os dados ainda estão em fase de finalização de levantamento, porém a melhora no quadro de saúde dos pacientes é evidente.

Considerações finais

A experiência permitiu a inclusão de profissionais da área odontológica na equipe multidisciplinar hospitalar, ampliando o cuidado aos pacientes, em uma área onde nunca antes tinha havido. O fato de ter havido a elaboração de um protocolo de atendimento, permitiu a introdução do serviço de uma maneira mais amena, mesmo em um ambiente diferente do de costume, sendo esta a maior dificuldade, o pioneirismo do serviço.

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