Problema abordado: A pandemia da COVID – 19 trouxe um desafio adicional para a atenção à saúde bucal. Como manter os atendimentos de uma forma que não prejudicassem ainda mais o ambiente local, aumentando a contaminação, haja a vista as características como geração de aerossol e contato íntimo com as mucosas orais e respiratórias? As alternativas foram surgindo com os documentos técnicos apresentados tanto pelas Secretarias Estaduais de Saúde como pelo Ministério da Saúde (Minas Gerais, 2020; Brasil, 2021), onde destacavam-se as tecnologias de comunicação para, ao menos, selecionar o melhor momento para o usuário ir até a unidade ser consultado. Nesse mesmo período o Conselho Federal de Odontologia (CFO) por meio das resoluções 226 e 228 (CFO, 2020) autorizou a odontologia à distância, mediada por tecnologias, com a ressalva de ser feito o telemonitoramento e a teleorientação enquanto durar o estado de calamidade pública. Além disso, a portaria nº 526 de 24 de junho de 2020, oficializa a Teleconsulta (com teleorientação e telemonitoramento) como procedimento da Tabela de Procedimentos do Sistema Únicos de Saúde (Brasil, 2020). Dessa forma, mesmo com os atendimentos prejudicados, a atenção, principalmente aos grupos prioritários, poderia ser mantida por meio do monitoramento e orientação através das tecnologias de comunicação. Dentro dessa rotina, as gestantes se inserem como um grupo extremamente importante que, historicamente, possuem crenças que as afastam do atendimento odontológico, deixando de comparecer ao Pré Natal Odontológico (PNO). O município de Varginha (Minas Gerais) possui cerca de 45% de cobertura de Equipe de Saúde da Família (eSF), 79% de cobertura de Atenção Básica (AB), cerca de 22% de cobertura de Equipes de Saúde Bucal (eSB) e 47% de cobertura de Saúde Bucal na Atenção Básica (SBAB). Em muitas unidades não havia coincidência entre profissionais da Saúde Bucal e das eSF para que o PNO pudesse ser feito com a agenda compartilhada. Assim o absenteísmo das gestantes estava comprometendo tanto seu acompanhamento, aumentando as situações de urgências, quanto o indicador do Previne Brasil municipal.
Atividade Realizada: foi feito um protocolo para monitoramento e orientação dos usuários de grupos prioritários a saber: pacientes com deficiência, usuários de próteses e gestantes. Todos os cirurgiões – dentistas (CD) foram treinados e orientados na utilização dessas ferramentas, além das estratégias presenciais. Entretanto, ainda havia perda, com o indicador muito abaixo da média. Foi feita uma outra intervenção: com um celular sem chip, com apenas conexão à rede da Secretaria de Saúde, foi instalado um aplicativo de nome Whatsapp Business®, o qual permite utilizar o número fixo de telefone para utilizar o aplicativo. Dessa forma, uma CD ficou responsável em buscar com as enfermeiras as listas de gestantes de todas as unidades. Utilizando os roteiros que já haviam sido confeccionados, a CD entra em contato via whatsapp, se apresentando e perguntando se gostaria de participar dessa iniciativa. Após a autorização, ela faz os questionamentos, distribui informações por meio de textos, imagens, guias e faz o agendamento na unidade de origem. Se houver condições mais graves, identificadas, esse agendamento é feito no menor tempo possível, com prioridade máxima.
Resultados alcançados: os meses iniciais da atividade ainda foram de aprendizagem, mas a partir do segundo e terceiros meses, o impacto foi importante, sendo que o indicador da gestante com atendimento odontológico, saltou de 10% no primeiro quadrimestre de 2020 para 72%% no primeiro quadrimestre de 2022, sendo o indicador que mais contribuiu para o Indicador Sintético Final (ISF) municipal.
Aprendizados e Desafios: a utilização de uma tecnologia que já é muito disseminada para a população, mas não com o objetivo que se propôs aqui, provocou resistência inicial, mesmo por parte dos profissionais das equipes que deveriam fornecer as informações de cada unidade. Entretanto, com os resultados obtidos, essa resistência se transformou em uma parceria, onde há feedback de ambas as partes, com a CD indicando quando alguma gestante não está cadastrada corretamente, quando não foi dada baixa, se teve aborto espontâneo, entre outras situações que a equipe não tem conhecimento. Como aprendizado, percebeu-se que as respostas via aplicativo são mais fáceis de se conseguir do que via telefone. O apoio da profissional ajuda a regular tanto o fluxo para a unidade correta, quanto quando é necessária uma intervenção especializada, evitando deslocamentos desnecessários. É importante destacar que a iniciativa não exclui a necessidade da consulta presencial que é a que propicia um maior vínculo, a identificação de lesões e hábitos prejudiciais e possibilita ao profissional um exame minucioso.