A partir de 2019, com o crescente aumento no percentual de cobertura da população por equipes de saúde bucal, Indicador 19 do Pacto Interfederativo, constatou-se a subutilização dos serviços estaduais de urgência odontológica no interior do estado, com o remanejamento dos cirurgiões(ãs)-dentistas aprovados no concurso público para 03(três) hospitais da região metropolitana no sentido de implantar a odontologia hospitalar.
Em 2020 com o advento da emergência sanitária do COVID 19 a odontologia foi seriamente afetada frente aos riscos de transmissão associados a cavidade oral, e a dificuldade dos Equipamentos de Proteção individual (EPI).
Pelas características na evolução da infecção com elevado percentual de pacientes intubados e dos grupos de risco mais prevalentes apresentando comorbidades como diabetes e hipertensão, as quais frequentemente apresentam prejuízo na integridade do periodonto, entendíamos ser indispensável a intensificação nos cuidados com a cavidade oral dos pacientes testados positivo.
A nível de Atenção Primária haviam sido intensificadas as orientações de higiene oral, evidenciado no e-Gestor, publicações de Notas Técnicas e realizadas diversas vídeo conferência com a participação do Conselho Regional de Odontologia e Coordenação Geral de Saúde Bucal, no sentido de conferir segurança e apoio aos profissionais para a realização do Fast Track, atendimento as urgências e olhar diferenciado para as condições crônicas.
Mas era imperativo levar esse cuidado para o interior das unidades estaduais de referência para o COVID 19, qualificando os técnicos de enfermagem para a adequada higiene oral dos pacientes e sensibilização dos profissionais de odontologia lotados nos hospitais, alheios ao processo pela restrição de equipamentos individuais e desconhecimento da equipe multiprofissional quanto a capacidade de contribuição da odontologia.
Ainda em 2020, sem ter iniciado a vacinação foi realizada a primeira abordagem em uma unidade COVID – Hospital Brites de Albuquerque, sob gestão da Organização Social Tri Centenário disponibilizando kits de higiene oral para os pacientes internados em condições de manter uma higiene oral adequada. No início de 2021, a convite da Diretoria Administrativa, Dra. Roseli Nascimento, cirurgiã-dentista de formação, foi iniciado o treinamento teórico e prático dos técnicos de enfermagem, acompanhados por médicos e enfermeiros material educativo da COLGATE
Diante dos resultados verificados e repercussão, obtivemos apoio interno das demais Diretorias dos Hospitais e Gestores das Organizações Sociais, no início de 2021, expandiu-se a proposta o serviço para 06 (seis) outras unidades hospitalares de referência estadual para COVID 19 na região metropolitana, zona da mata e sertão, das quais 03(três) implantaram odontologia hospitalar e nas 05 (cinco) Unidades de Pronto Atendimento da região metropolitana com equipes de odontologia.
Buscando consolidar o aprendizado para os técnicos de enfermagem, em cooperação com a Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE) e Programa de Residência de Odontologia em Saúde Coletiva (PROSC) da Cidade do Recife, foi elaborado e disponibilizado curso auto instrucional pela plataforma da ESPPE.
Com a evolução na vacinação e diminuição do número de casos, nas unidades com profissionais de odontologia, esses permanecem dando cobertura nas UTI e leitos assistenciais continuando o processo de qualificação dos técnicos de enfermagem, conquistando uma nova inserção no serviço e um novo protagonismo.
A COVID-19 será um marco para as atuais gerações de profissionais da saúde, podendo ser um avanço para utilização de tecnologias a distância e integralização de novas técnicas de biossegurança, e sobretudo qual o discurso do lugar de fala que esperamos, ou porque não dizer nos permitimos ocupar. Certamente que provocou muitas mudanças na prática odontológica por se tratar de uma doença respiratória que se propaga por gotículas.
Assim, como as evidências da maioria dos estudos apontava o cirurgião-dentista como profissional da saúde com maior risco de contaminação pelo contato direto com a cavidade bucal, a tendência natural era que todos corressem para se acastelar no topo da pirâmide de risco. Naquele momento de distanciamento social, sugeria-se que houvesse uma breve triagem do paciente por telefone, mensagem de texto ou videochamada, a fim de evitar visitas desnecessárias à clínica ou detectar casos suspeitos. A ADA (American Dental Association) recomendava realizar perguntas capazes de rastrear possíveis pacientes com COVID-19, perguntando sobre sua condição sistêmica, temperatura corporal, sintomas e possível contato com pacientes infectados. Além disso, impunha-se que se adotassem protocolos de biossegurança e rotinas nos serviços, prevenindo aglomerações.
Assistíamos aos confrontos diários baseados a partir da Nota Técnica nº 9 da Coordenação Geral de Saúde Bucal quanto ao papel das equipes de saúde bucal na Atenção Primária à Saúde, emitindo as Notas Técnicas Estaduais associadas as recomendações e treinamentos locais. Mas enquanto nos apropriávamos das evidências, sabíamos que a Saúde Bucal também tinha a somar no cenário da Atenção Terciária por meio da Odontologia Hospitalar
Atualmente a Odontologia Hospitalar se faz presente nos hospitais Agamenon Magalhães, Otávio de Freitas, Getúlio Vargas, Geral de Areias, Correia Picanço, Alpha, Silvio Magalhães, Mestre Vitalino, Emília Câmara, Inácio de Sá e 05 (cinco) UPA metropolitana antecipando os cuidados antes da transferência para hospitais.
Considerando que alguns profissionais ainda não possuem o Curso de Habilitação em Odontologia Hospitalar, encontra-se tramitando acontratação do referido curso no sentido de qualificar o desempenho, com a complementação do quadro mediante concurso público para atender a todas as UTI da rede estadual.
Diante dos resultados verificados no Hospital Brites de Albuquerque, sob gestão da Organização Social Tri Centenário onde por não haver a presença de um profissional de odontologia, foi garantido a continuidade do treinamento teórico e prático aos técnicos de enfermagem, utilizando-se o material da COLGATE para letramento em Saúde Bucal dos Agentes Comunitários de Saúde, ressignificando a auto percepção em saúde bucal, incluindo a distribuição de material impresso e kits de higiene oral para cada um deles e de seus familiares, implicando em expressivo compromisso na higienização da cavidade oral dos pacientes.
Com o amadurecimento conquistado no ano de 2020 quanto as possibilidades do Telessaúde e formação por meio de Ensino à Distância, com a permanente presença da Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE) e apoio dos residentes do Programa de Residência de Odontologia em Saúde Coletiva (PROSC) da Cidade do Recife, foi elaborado e disponibilizado curso auto instrucional pela plataforma da ESPPE. https://ead.saude.pe.gov.br/enrol/index.php?id=430
Frente a esse cenário, foi aprovado no POAS de 2022 o Curso de Habilitação em Odontologia Hospitalar para o(a)s cirurgiões(ãs)-dentistas efetivos, lotados nos hospitais e em desenvolvimento de cuidados odontológicos a beira leito. E a partir da solicitação do maior hospital do estado por esse treinamento com a Comissão de Controle da Infecção Hospitalar (CCIH), Núcleos de Educação Permanente (NEPS) e profissionais de enfermagem em suas UTI, foi proposto que o a formação fosse estendida para os seis grandes hospitais do estado e aprovada a solicitação da Coordenação Estadual de Saúde Bucal, para a efetiva implantação da odontologia hospitalar mediante concurso público.
Em articulação com as Diretorias da Secretaria Executiva de Atenção à Saúde, encontra-se em fase de expansão para os seis grandes hospitais estaduais, dois deles ainda sem dentistas mas que apresentam a reconhecida demanda, dentro do processo de certificação pelo PROADI, com vista sobretudo a diminuição dos elevados números de pneumonias nosocomiais associadas a ventilação mecânica.
Consolidação das ações nos hospitais Agamenom Magalhães, Getúlio Vargas, Otávio de Freitas, Correia Picanço e Mestre Vitalino
Implantação de cirurgiões(as)-dentistas nas UTI dos Hospitais Regionais Rui de Barros Correia e Emília Câmara, Silvio Magalhâes, Hospital COVID Alpha;
Implantação de Odontologia hospitalar nas salas vermelhas e amarelas das UPA da região metropolitana com urgência odontológica;
Ampliação do treinamento em cuidados orais da CCIH, enfermeiros e técnicos de enfermagem nas UTI dos 06(seis) grandes hospitais da região metropolitana e Regional do Agreste;
Parecer favorável da Secretária Executiva de Atenção à Saúde para contratação de cirurgiões(as)-dentistas mediante concurso público para fortalecimento e ampliação da odontologia hospitalar no estado.
Observamos a transformação na percepção dos profissionais das UTI, quanto a importância dos cuidados a beira leito em saúde bucal para os pacientes das UTI e capacidade de contribuição dos(as) cirurgiões(as)-dentistas;
Aprimoramento na higienização da cavidade oral do paciente, com aumento na identificação das alterações por médicos e técnicos de enfermagem;
Motivação dos(as) cirurgiões(as)-dentistas lotados nos hospitais estaduais para atendimentos eventuais de urgências clínicas de odontologia atuando nas UTI e leitos assistenciais
A partir do momento em que o Gabinete da Secretaria Executiva entende e reforça a importância de que a CCIH, Núcleos de Educação Permanente e Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco apoiem a Coordenação Estadual de Saúde Bucal para qualificar 100% dos enfermeiros e técnicos de enfermagem das UTI e aprove concurso público no sentido de prover profissionais habilitados em odontologia hospitalar nas UTI da Rede Estadual de Atenção Hospitalar, entendemos estar trilhando o caminho acertado, mas os objetivos só estarão cumpridos quando efetivamente identificarmos esse profissionais no CNES das UTI, com o devido registro das suas atividades nos sistemas de informação e o devido custeio federal, com efetivo impacto na redução da morbimortalidade, aumento na rotatividade dos leitos, redução dos custos e bem estar dos pacientes
A experiência pernambucana de imprimir dinamismo na odontologia hospitalar no final do 2º semestre de 2020 e início de 2021em plena pandemia do COVID 19, enquanto ainda não havia vacina, concorreu para uma maior visibilidade e credibilidade junto a gestão estadual. Momento em que a visibilidade da odontologia encontrava-se impactada e não se cogitava a dispensa de EPI, então escassos, para os cirurgiões(as)-dentistas.
Considerando que a grande maioria dos pacientes eram SUS dependentes, com necessidades de tratamento odontológico não atendidos anteriormente a pandemia, e os riscos associados a pacientes com comorbidades a exemplo de diabetes e hipertensão, ambas com envolvimento periodontal, e evolução para intubação, era urgente a instituição de cuidados orais realizados pelos técnicos de enfermagem, onde não houvesse profissional de odontologia.
Como produto da experiência, contamos com o recurso do Curso de qualificação auto instrucional para técnicos de enfermagem e o material produzido para as aulas práticas, que deverá ser conduzida por cirurgiões(as)-dentistas, preferencialmente habilitados em Odontologia Hospitalar. Associados a implantação de rotinas e protocolos.
Na fase inicial havia o temor pelo desconhecido que estava sendo enfrentado por tantas categorias. Por que não a odontologia? A capacidade de diálogo em equipe multiprofissional foi decisiva aliado ao apoio da Gestão na Secretaria Estadual de Saúde.
A convicção quanto ao que precisa ser feito e a construção de modelos baseado em evidências faz acontecer.