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Atenção à saúde bucal do bebê em tempos de pandemia COVID-19: um relato de experiência

Identificação do autor responsável
Nome Município
Egidio Antonio Demarco Porto Alegre
Autores do relato
Nome Município
Isabel Verdum Porto Alegre
Egidio Antonio Demarco Porto Alegre
Roberta Garcia Porto Alegre
Contextualização/introdução
O Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição possui 12 Unidades de Saúde que integram a rede municipal de Atenção Primária em Saúde de Porto Alegre-RS. Dentre as prioridades em relação à saúde bucal infantil está a meta que todas as crianças nascidas nos territórios das Unidades de Saúde recebam pelo menos uma consulta odontológica ao ano durante os seus 3 primeiros anos de vida. Estas ações desenvolvidas pelas Equipes de Saúde Bucal (ESB) tem por objetivo atender crianças nos primeiros anos de vida que é considerado momento ideal para promoção e proteção da saúde bucal através do desenvolvimento de hábitos saudáveis. A situação proporcionada pela pandemia do COVID-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), exigiu profundas mudanças nos serviços de saúde. Na odontologia foram suspensos os atendimentos eletivos, sendo realizados apenas os atendimentos de urgências. A 1ª consulta odontológica de crianças de até 1 ano de idade foi incluída entre os atendimentos suspensos. Diante deste quadro, a Teleodontologia na Atenção Primária à Saúde se apresentou como uma possibilidade de prestar assistência às crianças nesta faixa etária.
Justificativa
A suspensão dos atendimentos eletivos na odontologia associadas as medidas de distanciamento social, ocasionaram que as crianças menores de 1 ano ficassem sem o devido acompanhamento durante o seu primeiro ano de vida. Diante deste cenário, utilizar a Teleodontologia na Atenção Primária à Saúde passou a ser uma forma alternativa de prestar assistência à saúde bucal destes bebês, em meio a pandemia de COVID-19. Esta forma de assistência ainda possibilitou, num período de distanciamento social, o resgate do vínculo entre as famílias das crianças com os profissionais de saúde.
Objetivo(s):
Objetivo geral Relatar a experiência de teleatendimento odontológico na APS, em meio a pandemia COVID19, para crianças menores de 1 ano de idade através de contato com pais, familiares ou responsáveis. Objetivos específicos – Registrar as percepções dos pesquisadores envolvidos na prática assistencial de teleatendimento odontológico acerca de sua implementação; – Registrar as percepções dos pesquisadores em relação ao entendimento dos usuários que receberam a prática assistencial de teleatendimento odontológico; -Identificar possibilidades e limitações do uso do teleatendimento odontológico por telefonia fixa como prática assistencial de APS como substitutivo a encontros presenciais na faixa etária relatada. -Produzir conhecimento sobre incorporação de tecnologias a distância como coadjuvantes às práticas clínico-odontológicas presenciais.
Metodologia e atividades desenvolvidas
A experiência aconteceu em uma Unidade de Saúde, no bairro Sarandi, em Porto Alegre, tendo seu início em junho de 2020 e finalizada em abril de 2021. Sendo conduzida por cirurgiã-dentista residente em Saúde da Família e Comunidade e pelo cirurgião-dentista contratado da Unidade de Saúde. No estudo foram incluídas 50 crianças menores de um ano, sendo que foi possível realizar o contato telefônico com 36 delas, através de seus pais ou responsáveis através do uso do telefone fixo da própria Unidade de Saúde. Para orientar a entrevista telefônica foi construído um questionário. Para registro das informações obtidas na entrevista foram realizadas em documento no Google Drive, na forma de Diário de Campo. A análise das informações se deu pela técnica de Análise de Conteúdo.
Quais os resultados alcançados
Através da teleassistência odontológica foi possível montar um perfil da população dos bebês. A população de crianças foi constituída por 58,3% de meninos e 41,7%, de meninas. A maioria, 77,7% das 36 mães, relataram que tiveram gestações normais e tranquilas. Todas as mães realizaram a assistência pré-natal durante a gestação, sendo a maioria 63,6% na própria Unidade de Saúde. 65,3% delas informaram ter recebido ao menos uma avaliação odontológica durante a gestação. As gestações levadas a termo foram 86,20 % e 46,6% dos bebês nascidos eram primogênitos. A maioria dos partos foram normais e sem intercorrências, totalizando 70,96%, enquanto 29,03% ocorreram através de cesariana por indicação prévia ou por intercorrências no momento do trabalho de parto. A maioria dos bebês (75%) receberam aleitamento materno com exclusividade durante os 6 primeiros meses e todas essas crianças permaneciam em aleitamento materno quando foi realizada a entrevista. 65, 6% dessas crianças não têm o hábito de usar chupeta ou dedo, o que leva a relação de que o tempo de aleitamento exclusivo pode ser fator que ajuda a prevenir hábitos deletérios orais. Com relação a toda a amostra, 61,1% dos bebês não fazem uso da chupeta ou dedo, enquanto 38,8% têm esse hábito deletério, entretanto, relatam ter consciência da necessidade e importância da remoção deste hábito. Todos relataram oferecer alimentos sólidos, frutas, com nenhum ou pouco sal. 63,8% dos bebês recebiam alimentos sem adição de açúcares ou processados, mas 36,1% dos pais ou responsáveis adicionavam um pouco de açúcar ou ofereciam biscoitos e chocolates aos bebês. Na entrevista 51,4% dos responsáveis referiram estar realizando higiene bucal da criança com gaze, escova macia ou dedeira. Também relataram dificuldade para realizar esta tarefa nos bebês. Outros 48,5% relataram que não faziam a higiene oral do bebê, pois não sabiam quando e nem como iniciar. Esta informação corrobora mostrar a relevância desta ação, que permite transmitir informações sobre manutenção de higiene oral, entre outros cuidados. Ainda, através da teleassistência puderam ser compartilhados momentos lindos e delicados da gestação e do parto e se percebeu também que persiste a resistência à atenção odontológica por parte das gestantes nas US, mesmo em locais que oferecem facilidades de acesso. Uma dificuldade foi encontrada no momento de se fazer contato com usuários imigrantes, venezuelanos e haitianos, que não sabiam falar português ou sabiam muito pouco e que se comunicavam com suas línguas de origem, sendo essas o espanhol e o creole. Então mesmo que se tivesse sucesso na ligação telefônica, não houve sucesso na comunicação, a troca de informações com estas pessoas não se realizou como seria o esperado. Quanto a opinião dos entrevistados, a maioria considerou uma iniciativa importante, muitos se surpreenderam e agradeceram a disposição, gostaram de poder ter um momento de conversa sobre o assunto. Foi possível perceber que os usuários se sentiram lembrados, incluídos e assistidos mesmo durante este período difícil de pandemia, principalmente os pais de primeiro filho, que referiram sentir bastante ansiedade e insegurança. Conhecer parte do perfil da comunidade em meio a esse contexto foi importante também para a residente. Os momentos de conversa por via telefônica foram de trocas, compartilhamentos e gratidão, o que tornou a pesquisa ainda mais potente pela boa aceitação da prática oferecida. Quando foi necessário realizar a consulta presencial houve otimização do tempo disponibilizado, o foco foi a avaliação clínica, reduzindo o tempo de permanência na Unidade de Saúde reduzindo assim as chances de exposição ao Coronavírus. O sucesso da realização da Teleassistência, mesmo que de forma específica com relação à saúde bucal aos bebês, pode estar associado ao bom vínculo que a comunidade tem com os profissionais de sua US de referência, bem como, nesta fase da vida das crianças, se trabalhar prioritariamente com promoção e prevenção da saúde.
Considerações finais
A teleodontologia é uma ferramenta que permite o distanciamento social de maneira física, mas possibilita a comunicação a partir de recursos remotos, como telefones, mantendo com isso a relação de vínculo estabelecido, bem como se mostra apropriada para realizar ações de orientação e educação em saúde. A assistência odontológica através da Teleorientação é uma forma de oferecer assistência a população em momentos distanciamento social como na Pandemia, também podendo ser utilizada como uma ferramenta auxiliar para o acompanhamento de situação de saúde da população do território, onde o profissional se adapta a novos contextos, desenvolvendo novas habilidades e protocolos. Como limitações dessa forma de assistência estão a desatualização de dados cadastrais pelas mudanças frequentes de número de telefone ou atendimento de pessoas que não possuem domínio do idioma, como os estrangeiros, que podem impedir a comunicação por este meio. Na percepção dos pesquisadores o teleatendimento não substitui o atendimento presencial que continua sendo a principal forma de prestar assistência, mas pode se constituir como uma ferramenta para sanar preocupações, dúvidas, medos, inseguranças e outras situações que os pais ou responsáveis tiverem em circunstâncias que os impeçam de comparecer à Unidade de Saúde (US). O que se conclui é que a Teleodontologia representa possibilidades de oferecer assistência odontológica, a qual o cirurgião-dentista pode se adaptar dependendo da necessidade do seu local de trabalho, particularidades sanitárias do momento, como a atual ou outras situações específicas, podendo servir como via de orientação, educação e monitoramento.
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