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Assistência aos pacientes com lesões bucais decorrentes do tratamento oncológico no serviço de oncologia do Hospital da Santa Casa de Alfenas, MG.

Identificação do autor responsável
Nome Município
Lívia Máris Ribeiro Paranaiba Dias Alfenas
Autores do relato
Nome Município
Lívia Máris Ribeiro Paranaiba Dias Alfenas
Carine Ervolino de Oliveira Alfenas
João Adolfo Costa Hanemann Alfenas
Leonardo Amaral dos Reis Alfenas
Contextualização/introdução

As neoplasias malignas são consideradas uma doença crônico-degenerativa multifatorial, cuja incidência cresce em todo o mundo e representa um expressivo problema de saúde pública mundial. No Brasil, o câncer representava a segunda principal causa de morte ficando atrás apenas das doenças do aparelho circulatório. As principais modalidades de tratamento são a cirurgia, radioterapia (RxT), a quimioterapia (QT) e o Transplante de Medula óssea (TMO) com o suporte clínico de outras áreas da saúde como a enfermagem, farmácia, odontologia, nutrição, entre outras. A avaliação e acompanhamento estomatológico dos pacientes que deverão se submeter às terapias antineoplásicas são de grande importância visto que vários efeitos adversos podem surgir quando a cavidade oral e glândulas salivares são expostas à radiação ionizante e/ou aos agentes quimioterápicos. Esses efeitos podem impactar negativamente no curso do tratamento e na qualidade de vida do paciente oncológico. Considerando a importância da atuação do cirurgião-dentista na equipe multidisciplinar que trata o paciente com câncer, este projeto em andamento tem por finalidade identificar e tratar as complicações orais oriundas do tratamento antineoplásico de pacientes admitidos no serviço de oncologia do Hospital da Santa Casa de Alfenas, sul de Minas Gerais, a fim de minimizar a morbidade e as interrupções do tratamento proposto. A equipe técnica que atua neste projeto envolve professores pesquisadores (listados acima como autores) da Universidade Federal de Alfenas, além de discentes de iniciação científica e pós-graduação.

Justificativa

Considerando que as complicações orais representam importantes efeitos colaterais oriundos do tratamento antineoplásico, podendo acarretar, em decorrência de sua morbidade, interrupção parcial ou completa do tratamento, o que compromete negativamente na qualidade de vida do paciente, no prognóstico da doença, além de alterar a taxa de sobrevida do paciente, há grande necessidade do cirurgião dentista em reconhecer e tratar tais condições orais patológicas identificadas em pacientes sob tratamento oncológico. É preciso desenvolver medidas que visem à melhoria da condição oral e da qualidade de vida desses pacientes, a fim de prevenir e minimizar os efeitos negativos e/ou complicações decorrentes da terapia antineoplásica e do curso da própria doença.
Para tanto é necessário que o cirurgião-dentista esteja inserido na equipe multidisciplinar da equipe oncológica e hospitalar para reconhecer e tratar as complicações orais oriundas do tratamento antineoplásico no Serviço de Oncologia do Hospital da Santa Casa de Alfenas, sul de Minas Gerais, a fim de minimizar a morbidade e as interrupções do tratamento proposto, melhorar a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes em tratamento antineoplásico.

Objetivo(s):

O objetivo principal desta proposta foi integrar o cirurgião-dentista na equipe multidisciplinar da equipe hospitalar e oncológica no Serviço de Oncologia do Hospital da Santa Casa de Alfenas, sul de Minas Gerais, e identificar e tratar as complicações orais oriundas do tratamento antineoplásico. Detalhadamente, o projeto (1) identifica e trata as complicações orais (mucosite oral, xerostomia, hipossalivação, disgeusia/ageusia, disfagia/odinofagia, neurotoxicidade, trismo, infecções oportunistas, doença cárie por radiação e a osteorradionecrose) oriundas do tratamento antineoplásico no Serviço de Oncologia da Santa Casa de Alfenas; (2) identifica o grau de agressividade dessas complicações; (3) associa as complicações orais com o perfil epidemiológico e com as comorbidades identificadas; (4) avalia a presença e a gravidade das complicações orais correlacionando com o número de ciclos de quimioterapia e/ou número de sessões de radioterapia, (5) avalia a prevalência das complicações orais em pacientes afetados com diferentes tipos de neoplasia maligna; (6) orienta os pacientes quanto à higienização oral; (7) acompanha o paciente durante e após o tratamento antineoplásico; (8) realiza avaliação odontológica para adequação da saúde bucal anteriormente ao início do tratamento radioterápico ou quimioterápico na região de cabeça e pescoço; (9) realiza a aplicação de laserterapia para tratamento de mucosite oral associada ao tratamento radio e/ou quimioterápico; (10) averigua a efetividade dos tratamentos realizados.

Metodologia e atividades desenvolvidas

Este projeto é realizado no Serviço de Oncologia do Hospital da Santa Casa que atende além da população de Alfenas, várias cidades da microrregião do sul de Minas Gerais. Participam deste projeto pacientes acometidos por complicações orais decorrentes do tratamento oncológico, de qualquer idade, raça e ambos os sexos, sob tratamento oncológico.
Os docentes envolvidos no projeto atendem os pacientes tanto no ambulatório da oncologia quanto em leito no Hospital da Santa Casa de Alfenas. Contamos também com o suporte da Clínica de Estomatologia da Faculdade de Odontologia da UNIFAL-MG, sob a responsabilidade do Prof Dr João Adolfo Costa Hanemann, para o tratamento e acompanhamento dos casos mais graves ou aqueles que necessitam de intervenções odontológicas mais especializadas, como exames imaginológicos, cirurgias, entre outros. Além disso, incorporamos recentemente o suporte da teleconsultoria odontológica conduzida pela Profa Dra Livia Maris Ribeiro Paranaiba Dias realizada com discentes (cirurgiões-dentistas) matriculados no Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas e/ou Ciências Odontológicas, ambos da UNIFAL. A teleconsultoria se realiza de forma remota utilizando um aplicativo de smartphone que faz uma videochamada entre o docente responsável e os discentes que estão junto com o paciente. Os procedimentos realizados têm caráter simples como orientação do caso, aplicação de laserterapia, prescrição de medicamentos, entre outros, porém sempre com a condução do caso pelo docente responsável. O fluxo dos pacientes se dá da seguinte forma:
-Os pacientes com queixas orais no Serviço de Oncologia são encaminhados por um membro da equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, entre outros) para serem examinados, avaliados e tratados pela nossa equipe.
-A avaliação estomatológica é realizada no leito do paciente, caso o mesmo esteja internado, ou em um consultório médico ou em local adequado no hospital.
-Os dados obtidos no exame clínico são devidamente anotados no prontuário eletrônico do hospital.
-Os pacientes são agendados pelo secretariado do Hospital e são atendidos com hora marcada. Após avaliação e diagnóstico os mesmos são tratados e acompanhados pelos membros deste projeto.
-Todos os pacientes atendidos recebem acolhimento e apoio, orientação de higiene bucal e prevenção de lesões decorrentes do tratamento antineoplásico.

Quais os resultados alcançados

Até o momento mais de 400 atendimentos já foram realizados e a principal manifestação oral diagnosticada foi a mucosite oral radio/quimio induzida. Todas foram tratadas com laserterapia de baixa potência e evoluíram progressivamente para cura e analgesia. Outras lesões diagnosticadas foram candidíase, herpes simples, cárie por radiação, xerostomia, osteonecrose e osteorradionecrose dos maxilares. De acordo com a complexidade de cada diagnóstico, os pacientes são tratados tanto no ambulatório/leito do hospital quanto na clínica de Estomatologia da UNIFAL-MG. Este projeto é único na nossa região e através dele muitos pacientes melhoraram sua qualidade de vida e expandiram o prognóstico já que conseguiram finalizar o tratamento inicial proposto e reduziram comorbidades associadas. Dessa forma, o Hospital da Santa Casa conseguiu disponibilizar mais uma estratégia de tratamento, até então indisponível em Alfenas e região, o que beneficia todos os pacientes afetados por esses efeitos colaterais agudos e crônicos do tratamento antineoplásico.

Considerações finais

Esta experiência é importante porque os pacientes que apresentavam as complicações orais oriundas do tratamento antineoplásico anteriormente ao início deste projeto, não eram diagnosticados e tratados, já que não existia este serviço na região de Alfenas. Com isso a qualidade de vida e o prognóstico da doença ficavam comprometidos porque muitos dos pacientes não concluíam a proposta inicial do tratamento devido às intercorrências das complicações orais oriundas do tratamento antineoplásico. A replicabilidade deste serviço é facilmente atingida desde que tenha profissionais capacitados e que a administração do Hospital tenha a intenção de incorporar esta prestação de serviço para os seus pacientes oncológicos. Um dos desafios enfrentados pela equipe foi de sensibilizar toda a equipe médica e de outros profissionais de saúde envolvidos na equipe multidisciplinar que trata o paciente com câncer, entender a importância da atuação do cirurgião-dentista dentro da equipe já que muitos deles não tinham conhecimento e experiência com a incorporação esta atividade odontológica. No entanto, este dificuldade foi sendo sanada a medida que o serviço se desenvolvia e a melhora do estado geral dos pacientes atendidos por este projeto.
Um dos próximos desafios será melhorar a infra-estrutura do consultório odontológico para melhor atender os pacientes e para isso, aplicaremos a proposta a editais disponíveis nas agências de fomento nacionais.

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