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Ações dos Centros de Especialidades Odontológicas do Município de São Bernardo do Campo durante a Pandemia COVID-19

Identificação do autor responsável
Nome Município
VINICIUS PIOLI ZANETIN São Bernardo do Campo
Autores do relato
Nome Município
Mario Ronaldo Chekin São Bernardo do Campo
VINICIUS PIOLI ZANETIN São Bernardo do Campo
Erika Fleming Silva São Bernardo do Campo
Karen Cristina Pompermayer Ayres São Bernardo do Campo
Caren Cristina Castillo Lopes de Oliveira São Bernardo do Campo
Contextualização/introdução

A Divisão de Saúde Bucal do Município de São Bernardo do Campo administra 3 Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs), tipo III, e 33 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) com 169 Equipes de Saúde da Família e 115 Equipes de Saúde Bucal, com 60 equipes de modalidade I e 55 equipes de modalidade II, com a última numeração da população estimada, pelo IBGE (2016) em 822.242 habitantes sendo que, desta população, 48% são atendidos pela saúde bucal desta gestão pública.

Justificativa

Devido à pandemia e a diminuição dos atendimentos odontológicos devido as normativas de biossegurança impostas pelo Ministério da Saúde, ocorreu o represamento dos procedimentos eletivos, no caso deste trabalho refletiu nas endodontias e cirurgias; assim, conforme as normativas foram sendo atualizadas no decorrer da pandemia, a coordenação de saúde bucal consciente das dificuldades e prevendo as consequências do impacto da pandemia do vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19 na gestão pública, para a assistência e o atendimento especializado em Cirurgia Oral Menor, Endodontia e na ação preventiva da Estomatologia no rastreamento e prevenção do Câncer Bucal, realizamos uma análise referente à quantidade de pacientes que aguardavam vaga nos CEOs: 4.800 pacientes até ao mês de maio de 2021 para Endodontia e 3.600 pacientes até ao mês de julho de 2021 para Cirurgia Oral Menor. Com esses dados observamos a necessidade de um planejamento estratégico para minimizar os possíveis quadros de infecção e dor, além do sofrimento, angústia relacionados a necessidade de tratamento para estas 3 especialidades odontológicas.

Objetivo(s):

•Possibilitar a população usuária do SUS, que está no aguardo dos tratamentos citados, um atendimento com qualidade, resolutivo e que permita aliviar seus anseios; visando diminuir o tempo de espera, ampliar o acesso e consequentemente diminuindo o absenteísmo.
•Examinar os pacientes com vistas a qualquer tipo de alteração bucal, com ênfase no diagnóstico precoce de lesões com potencial de malignização, além de informar à população sobre a existência da doença, fatores de risco e suas possíveis consequências.
•Ampliar na Equipe de Saúde Bucal o conhecimento sobre câncer bucal para que esta possa fazer vigilância da população adstrita, principalmente, para o grupo de risco.

Metodologia e atividades desenvolvidas

A Divisão de Saúde Bucal convocou os Cirurgiões Dentistas (CDs) Responsáveis Técnicos das suas UBSs e CEOs no dia 26/04/2021 para planejamento das políticas públicas que viriam a ser realizadas nos meses de julho, agosto, setembro e outubro de 2021. Foi estabelecido que a primeira ação seria um Mutirão de Cirurgia Oral Menor, seguido do Mutirão de Endodontia (2 fases) e finalizando com uma campanha de rastreamento e prevenção do Câncer Bucal – com o nome de “Abra a Boca para a Saúde”
Após planejamento estratégico, foi estabelecido cronograma em conjunto com o Departamento de Atenção Básica e Gestão do Cuidado (DABGC), fixando o Mutirão de Cirurgia Oral Menor para o mês de julho; o Mutirão de Endodontia foi divido em 2 fases para finalização adequada dos tratamentos, sendo a primeira fase em agosto e a segunda em setembro e, finalizando em outubro com a Campanha “Abra a Boca para a Saúde”.
No planejamento estratégico citado anteriormente, pela primeira vez resolvemos levar os especialistas à rede básica de saúde para podermos minimizar os deslocamentos dos pacientes da periferia da cidade, com o objetivo de diminuir o absenteísmo e trazer mais segurança aos pacientes, diante dos riscos da COVID-19.
Os meios de divulgação foram: o Whatzapp utilizado pela UBS, convites entregues pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS), ou acolhimento e painéis que foram colocados nos quadros de aviso das Unidades Básicas de Saúde; além da publicidade feita pela Equipe de Saúde Bucal e pelas lideranças comunitárias.
Em aspecto geral foram criadas 5 macros equipes de cirurgiões buco maxilo faciais, com o apoio de mais dois profissionais por equipe, totalizando 15 CDs, com 15 Auxiliares de Saúde Bucal fixas durante a jornada, para o atendimento de: 30 pacientes/dia por equipe; 150 pacientes dia/por jornada de segunda a sexta das 07h às 16h, do dia 05 a 30 de julho. Contamos também com auxílio dos profissionais da UBS bem como da Enfermagem, para anamnese do quadro sistêmico dos pacientes, além de preparo do processo de biossegurança necessário para os procedimentos cirúrgicos.
Foram utilizadas 16 unidades sedes para os atendimentos não só de suas próprias demandas como também de demandas das unidades próximas, sendo que em cada semana foram agendadas uma média de 750 pacientes, com exceção da última semana com 150 pacientes e, além da designação de espaço para retornos ou intercorrências cirúrgicas do mutirão. Totalização de agendamento: 2.400 pacientes.
É importante citar que para trazer realidade cirúrgica a estes 3.600 usuários que permaneciam na fila de acesso, realizamos uma triagem prévia nas próprias unidades onde confirmamos que 2.400 usuários necessitariam de procedimento cirúrgico. Os pacientes assinaram documento com a confirmação da ciência do dia e horário do mutirão.
A escolha das UBSs para serem a sede dos eventos deveu-se à quantidade de cadeiras e equipos odontológicos presentes. Levou-se em consideração a necessidade de 03 cadeiras à disposição para os cirurgiões e ao menos uma cadeira odontológica para atendimentos de urgência/emergência odontológica que pudessem surgir na UBS e, ainda, o retorno e a reavaliação do pós-operatório, assim como a remoção de sutura.
Foram disponibilizados para a UBS: uma ficha de anamnese e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para o CD preencher com o paciente e entregar no CEO de referência, 3 dias antes do início, juntamente com a radiografia do elemento indicado e guia de referência.
Devido à pandemia do COVID-19 foram criadas estações sanitárias para os pacientes, com orientações/informações adequadas que foram entregues desde a ACS que foi convocar o paciente, passando pela entrada da UBS, antes, durante e após a cirurgia e até o retorno para controle. Essas informações foram alinhadas dentro de todos os serviços da UBS e CEOs, segundo as determinações sanitárias do Ministério da Saúde e referendadas pelo Conselho Regional de Odontologia, dentro das suas normas de biossegurança.
Em agosto e setembro utilizamos os mesmos processos administrativos organizacionais, com a diferença de que desta vez focamos nos atendimentos a serem realizados nos CEOs, com prioridade para a Endodontia. Aumentamos o número de especialistas utilizando a capacidade máxima operacional de cada CEO.
Todos os CEOs sediaram o mutirão, levando-se em conta a quantidade de cadeiras e equipos odontológicos presentes, a necessidade de ao menos 1 cadeira à disposição para os atendimentos de urgência/emergência odontológica que pudessem surgir durante o mutirão, ou com indicação de exodontia para resolução imediata pelo Cirurgião Buco Maxilo. Foi estabelecido o atendimento de 14 pacientes agendados por profissional, por dia, sendo 8 especialistas em endodontia com 8 ASB fixas por CEO, atingindo 112 pacientes por dia.
A triagem desses pacientes foi feita nas UBSs que priorizaram a convocação de pacientes que possuíam indicação de tratamento. Dos 4.800, após triagem adequada, este número diminui para 2.393. Após o término de todas as fases do mutirão foi totalizado 1.537 pacientes agendados.
Seguindo com o planejamento, em outubro, realizamos o “Abra a Boca para a Saúde”, com os 6 estomatologistas dos CEOs, que realizaram um Matriciamento, no mês de junho para todos os cirurgiões dentistas das UBSs, em Lesões com potencial de malignização mais comuns em cavidade oral. Os especialistas coordenaram atividades juntamente com as Equipes de Saúde Bucal de cada UBSs. Considerou-se a necessidade de ao menos 1 cadeira odontológica à disposição para avaliações referentes à campanha, com as demais sendo utilizadas para continuidade em atendimentos rotineiros, inclusive os de urgência/emergência odontológica que pudessem surgir durante a campanha. Os estomatologistas ficaram à disposição para solucionar dúvidas ou dificuldades e realizar a avaliação dos pacientes.
Os pacientes avaliados, que apresentaram alguma necessidade de qualquer procedimento estomatológico para melhor diagnóstico, foram encaminhados para o CEO de referência do seu território. As agendas dos especialistas ficaram disponíveis para o atendimento desses pacientes na semana seguinte à campanha.
Aos Responsáveis Técnicos do setor de odontologia de cada UBS/CEO foi solicitado o levantamento – e posterior solicitação ao almoxarifado central – da quantidade de instrumentais e materiais próprios de cada especialidade, além dos materiais descartáveis, ou de uso cirúrgico.

Quais os resultados alcançados

•Mutirão de Cirurgia Oral Menor – 3.600 pacientes, no aguardo da fila de acesso, após triagem atingimos 2.400 pacientes agendados sendo que foram realizadas 1.924 cirurgias, com absenteísmo de 12%. Um dos êxitos desta empreitada: não tivemos intercorrências severas no quadro cirúrgico – mesmo se tratando de um número elevado de procedimentos – graças às medidas de biossegurança seguidas regiamente por todos os envolvidos e à habilidade cirúrgica dos profissionais.
•Mutirão de Endodontia – 4.200 pacientes. Conseguimos diminuir, devido à triagem adequada, para 2.393. Após o término de todas as fases do mutirão foram totalizados 1.537 pacientes agendados, sendo 1.278 atendidos. Ressaltamos que o número citado acima de pacientes atendidos significa tratamento concluído, pois se o cálculo fosse computado por conduto fechado, chegaríamos ao número de 2.516 condutos; com absenteísmo de 11%.
•Campanha “Abra a Boca para a Saúde” – obtivemos o expressivo número de 5.298 avaliações realizadas nas 25 unidades sedes, com 246 lesões intraorais observadas (6% do total de avaliações), sendo elas tanto com características clínicas benignas e/ou malignas. As anamneses, TCLE e cópias das guias de encaminhamento foram entregues nos CEOs de referência e os pacientes agendados para o respectivo CEO, para pesquisa, refinamento de oroscopia e solicitação de exames (quando necessário), inclusive biópsia incisionais/excisionais para diagnóstico. Com o diagnóstico fechado, os pacientes com lesões benignas seguiram com os tratamentos necessários dentro dos próprios centros e aqueles que tiveram o resultado do anatomopatológico para lesões malignas foram encaminhados para o Hospital de Clínicas de São Bernardo do Campo, para que o tratamento desse seguimento com o Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e/ou Oncologia.

Considerações finais

Considerando a desaceleração dos atendimentos odontológicos nos CEOs em decorrência da pandemia iniciada em fevereiro de 2020 que se arrasta até o atual momento, tivemos a coragem ao final do primeiro semestre de 2021 de olhar com carinho os desassistidos na área odontológica. Detectou-se que 1% da população total de SBC, necessitava, de alguma forma, dos préstimos dos profissionais de odontologia. Restou-nos prepararmo-nos com todos os equipamentos de biossegurança necessários para não propagação viral e tornarmos esta missão possível, realizando 1.924 intervenções cirúrgicas na área de oral menor, 1.278 atendimentos endodônticos e 5.298 avaliações de rastreamento e detecção de lesões com potencial de malignização.
Cabe ressaltar que esta iniciativa nunca havia acontecido na região com números tão expressivos, o que elevou a qualificação do profissional da saúde bucal junto à população de São Bernardo do Campo. Espera-se que esta iniciativa possa servir como modelo em outras cidades para minimizarmos as dores e afecções orofaciais.
Consideramos esses mutirões não somente como uma experiência bem-sucedida, mas também como um trabalho árduo, com dedicação e envolvimento de todos os profissionais da saúde bucal e demais profissionais integrantes da área de enfermagem, as ACSs, oficiais administrativos, Coordenadores de UBS e todos os membros da Diretoria do Departamento de atenção Básica.
Os referidos mutirões demonstram a presença dos CEOs junto à atenção primária da saúde como porta de entrada dos problemas que cercam a população.

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