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A odontologia hospitalar no contexto da pandemia Covid-19: reorganização do processo de trabalho para a assistência aos pacientes internados e ambulatoriais do Hospital de Clínicas de Porto Alegre-RS

Identificação do autor responsável
Nome Município
Juliana Romanini Porto Alegre
Autores do relato
Nome Município
Juliana Romanini Porto Alegre
Luiz Felipe Beltrame Porto Alegre
Isabel Nemoto Vergara Sasada isasada Porto Alegre
Priscila Stona Porto Alegre
Contextualização/introdução
A Odontologia está representada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre por três equipes, que se complementam nas especialidades: Cirurgia Bucomaxilofacial, Estomatologia e Odontologia Clínica e Hospitalar, presentes há cerca de 40 anos na instituição que acaba de completar 51 anos. Unidade de Odontologia Clínica e Hospitalar recebe pacientes internados e ambulatoriais, vinculados às especialidades médicas, com vistas à adequação da saúde bucal tanto prévia ao início de tratamentos a doenças sistêmicas quanto durante o tratamento a ser realizado, reduzindo as complicações que podem estar relacionadas tanto à doença como ao próprio tratamento. O atendimento odontológico tem como objetivo a remoção de focos infecciosos, através de procedimentos odontológicos cirúrgicos ou não, caracterizando a especialidade pelo atendimento presencial e, na maior parte das vezes, intervencionista. O planejamento deve considerar o risco-benefício entre procedimento eletivo e de urgência/emergência. Tendo essas características como rotina, da mesma forma como em outras áreas da saúde, a Unidade de Odontologia precisou se reorganizar para o enfrentamento das demandas durante a Pandemia, sob orientação das normas de biossegurança estabelecidas pelos órgãos competentes. Os atendimentos aos pacientes internados foram mantidos, considerando-se as orientações determinadas pelos protocolos de atendimento, priorizando situações de urgência e emergência. No caso dos pacientes de UTI, foram seguidas as normas estabelecidas pelo protocolo implementado em 2019, como rotina de higiene oral e conforto, prevenção de afecções na cavidade oral e de pneumonia associada à ventilação mecânica. Para os pacientes vinculados às especialidades médicas que necessitavam de atendimento ambulatorial, foi estabelecido o atendimento de teleambulatório, com o objetivo de organizar a consulta presencial e otimizar o deslocamento do paciente ao hospital, com consultas mais longas e resolutivas. Dessa forma, apesar da redução do número de atendimentos, de forma global no Hospital, os pacientes com necessidade de tratamento odontológico urgente tiveram suas demandas priorizadas durante a pandemia com a reorganização dos processos de trabalho.
Justificativa
Manter a qualidade de saúde dos pacientes vinculados ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, durante a pandemia, para que a saúde geral não fosse comprometida por condições relacionadas à saúde bucal ou decorrentes das complicações, provocadas pelos tratamentos sistêmicos, na cavidade bucal.
Objetivo(s):
Geral Organizar o atendimento odontológico dos pacientes internados ou ambulatoriais dos pacientes vinculados às especialidades médicas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Específicos – atender às demandas odontológicas dos pacientes internados em UTI; – atender às demandas odontológicas aos pacientes internados em leito/enfermarias ou em emergência; – manter o atendimento odontológico ambulatorial para adequação bucal aos pacientes oncológicos, previamente aos tratamentos de quimioterapia e radioterapia; – manter o atendimento odontológico ambulatorial para adequação bucal aos pacientes pré-transplante de medula ou órgãos sólidos. – realizar consultas de teleambulatório para organizar as consultas presenciais dos pacientes ambulatoriais.
Metodologia e atividades desenvolvidas
A Unidade de Odontologia Clínica e Hospitalar recebe pacientes encaminhados por qualquer especialidade, serviço médico ou unidade do Hospital. Os encaminhamentos são realizados por consultorias que, se dentro dos critérios previamente estabelecidos, geram interconsultas. O profissional consultor avalia a solicitação e organiza o agendamento do paciente. As consultorias são divididas em consultorias de internação e ambulatoriais. Para os atendimentos dos pacientes internados foram mantidas as rotinas de atendimento presencial, considerando os protocolos de biossegurança, com atendimentos beira leito ou com deslocamento ao ambulatório para resolução das demandas, conforme a situação clínica apresentada. Para os atendimentos dos pacientes ambulatoriais, foi estabelecida a rotina do teleambulatório, prática regulamentada e adotada por todas as especialidades do Hospital de Clínicas, por contato telefônico ou meio eletrônico. Os pacientes que já estavam em atendimento ambulatorial foram contatados, realizada a triagem relacionada aos sintomas da Covid-19, conforme protocolos estabelecidos e os agendamentos mantidos conforme necessidade da demanda: se urgente ou eletiva. As consultas passaram a ser mais longas, com o objetivo de maior resolutividade em menor número de consultas presenciais. Para as consultorias ambulatórias, com novas solicitações de avaliação oriundas das especialidades médicas para iniciar tratamento odontológico, a consulta pelo teleambulatorio consistiu, e segue consistindo, em avaliar a situação da saúde geral do paciente e sua necessidade imediata ou não de início do tratamento odontológico, a partir da revisão do prontuário e informações fornecidas pelo paciente. Nesta consulta, conforme necessidade, o paciente recebe, por meio eletrônico a solicitação de exames complementares (laboratoriais ou de imagem), prescrição de medicamentos necessários, que possam otimizar a consulta presencial, então agendada.
Quais os resultados alcançados
Com a implementação efetiva do teleambulatório, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) passou a ter como meta institucional, 20% das consultas ambulatoriais realizadas nesse formato. Esta meta, para as consultas em Odontologia, foi fixada em 8%, uma vez que, diferentemente de outras áreas, temos a característica de intervenção/realização de procedimentos na maior parte das situações, se fazendo necessário o atendimento presencial. A partir da reorganização do processo de trabalho, os atendimentos odontológicos ocorreram durante todo o período da pandemia, com o teleambulatório otimizando a consulta presencial, mantendo o atendimento presencial, de acordo com os protocolos de biossegurança vigentes. As consultorias são divididas em consultorias de internação e ambulatoriais, conforme a situação de vínculo do paciente no momento da avaliação pela equipe médica assistente. Para as consultorias de pacientes internados, foram respondidas, em média, dez consultorias semanais, com avaliação do paciente em leito ou deslocados até o ambulatório durante a internação. Em relação às consultorias ambulatoriais, observou-se uma tendência de aumento no número de solicitações anuais, comparando-se os períodos pré e trans-pandemia: 2019- 171 solicitações, 2020 – 172 solicitações e 2021 – 184 solicitações. Parte destas solicitações foram previamente atendidas por teleambulatório, seguidas do agendamento presencial. Outra parte, a partir da avaliação da descrição, agendadas imediatamente para consulta presencial. As especialidades que mais solicitam estão relacionadas às áreas de oncologia, transplantes de órgãos e condições de anticoagulação. As demandas pelo atendimento em Odontologia Hospitalar vêm gradativamente aumentando, uma vez que há maior engajamento da Unidade junto às equipes multiprofissionais. A consulta por teleambulatório ampliou a possibilidade de comunicação entre as equipes (odontológicas e médicas) e pacientes. Possibilita a antecipação de informações sobre a condição geral atualizada e organiza a consulta presencial do paciente, tanto no que diz respeito a planejamento do tratamento odontológico em si como avaliação da situação sistêmica, buscando o melhor momento para a execução dos procedimentos.
Considerações finais
A experiência de teleambulatório na odontologia hospitalar qualifica o acesso pela possibilidade de priorização dos pacientes com maior necessidade. Permite organizar os deslocamentos dos pacientes, facilitando as rotinas e o planejamento dos casos. Dentro das metas estratégicas do HCPA, a Unidade de Odontologia ainda se encontra aquém das metas institucionais inicialmente estabelecidas. Esta forma de atendimento foi incorporada às rotinas da Unidade de Odontologia, como forma de melhor acolher as demandas. Entretanto há o desafio inerente de preservar os indicadores assistenciais presenciais, como tempo de espera pelos agendamentos, por exemplo, principalmente em especialidades como a oncologia, onde os pacientes necessitam que o tempo entre a solicitação e o agendamento presencial seja o mais breve possível. São desafios a serem vencidos à medida em que se qualifica o conhecimento da equipe e da tecnologia e estrutura disponível. Permanece também o desafio de consolidar os critérios de encaminhamento, uma vez que muitos pacientes que poderiam ter suas demandas atendidas na atenção primária de saúde (APS) e acabam sendo direcionados à atenção hospitalar, por diferentes motivos. Essa situação acaba por comprometer o atendimento do que é, de fato demanda da Odontologia Hospitalar. Após a consulta presencial, há necessidade de organizar o atendimento para que os pacientes sejam encaminhados para as Unidades de Saúde da APS, sempre que sua condição de saúde permitir. Com os novos processos de trabalho foi possível reduzir a circulação dos pacientes, que por suas comorbidades foram considerados de maior risco de exposição ao coronavírus, durante a pandemia, limitando os seus deslocamentos estritamente aos momentos necessários. A incorporação da consulta por teleambulatório iniciou em função da pandemia, mas tornou-se parte da rotina, como forma de ampliar, qualificar e otimizar o acesso ao paciente com necessidade de atendimento odontológico em nível hospitalar. Fica a certeza de que que a prática é possível e viável de ser implementada e realizada em diferentes serviços de Odontologia na rede pública hospitalar.
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