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A implementação da teleorientação odontológica na prevenção em saúde bucal de crianças

Identificação do autor responsável
Nome Município
Marcia Elaine Zeugner Bertotti Costa Botucatu
Autores do relato
Nome Município
Marcia Elaine Zeugner Bertotti Costa Botucatu
Renata Bastos Del Hoyo Fernandes Botucatu
Lucele Vieira Marins Botucatu
Heloisa Paulette Bassetto Botucaru
Letícia Bruder de Oliveira Magalhães Botucatu
Contextualização/introdução

Atuando há mais de 15 anos na Atenção Básica de Saúde, percebe-se a baixa procura da consulta odontológica pelos pais de crianças pequenas, que geralmente buscam o serviço com problemas bucais já instalados, sendo a maioria em consultas de urgência com queixas de dor, o que dificulta o condicionamento da criança para a realização do procedimento curativo. De acordo com Pesquisa Nacional de Saúde Bucal – SB Brasil 2010, a experiência de cárie em crianças aos 5 anos, em média, foi de 2,43 dentes. Apesar do índice de cárie estar diminuindo, ainda é visível no dia a dia do consultório odontológico, o número de crianças pequenas com cárie e presença de biofilme bacteriano.
Com a pandemia em 2020, as consultas de rotina em puericultura tornaram-se um grande desafio na Atenção Básica. O distanciamento social recomendado no combate a transmissibilidade do COVID 19, levou à suspensão temporária das consultas odontológicas de rotina na rede pública de saúde, priorizando as urgências e emergências de acordo com a orientação do Ministério da Saúde. A suspensão da consulta de rotina e o medo de contaminação tornou-se um agravante para o acompanhamento no consultório odontológico, principalmente para as crianças menores de 2 anos. Em concomitância, houve a mudança de rotina e de relações familiares, que implicaram em mudanças comportamentais, de hábitos alimentares e higiene bucal.
Diante deste cenário, em uma Unidade Básica de Saúde, do Município de Botucatu – SP, a Equipe de Saúde Bucal (ESB), juntamente com a Equipe de Saúde, e com o apoio da Coordenação em Saúde Bucal, propõe a teleconsulta odontológica, para mães e responsáveis de crianças pequenas buscando coletar informações e orientar sobre situações da saúde bucal.

Justificativa

Com as consultas odontológicas eletivas canceladas e os atendimentos de urgências com maiores intervalos entre as consultas, a Equipe em Saúde Bucal dispôs de um tempo maior para elaborar nova estratégias focadas em promoção e prevenção em saúde bucal, seguindo as orientações do Ministério da Saúde.
Diante da situação de incertezas em relação a volta das consultas eletivas, bem como o caminho que a pandemia tomaria, o cirurgião dentista insere a teleconsulta na nova rotina do consultório. Propondo-se iniciar como uma teleorientação para responsáveis de crianças de 1 a 2 anos, onde a maioria já apresentam alguns dentes e os cuidados bucais devem ser implementados.

Objetivo(s):

– Coletar informações sobre alimentação e higiene bucal de crianças de 1 a 2 anos em uma Unidade Básica de Saúde
– Identificar fragilidades na rotina de cuidados em saúde bucal das crianças
– Verificar o acompanhamento com o pediatra e situação vacinal da criança
– Orientar mães e responsáveis sobre a prevenção em saúde bucal

Metodologia e atividades desenvolvidas

Selecionou-se através do sistema de cadastro de usuários do Município as crianças de 1 a 2 anos de idade até a data de 19/11/2020, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), contactando os responsáveis através de ligação telefônica. Realizaram-se as ligações via telefone celular da UBS, utilizando-se a sala de reunião em horários onde a mesma se encontrava disponível para a Equipe de Saúde Bucal, enquanto a sala odontológica estava sendo desinfectada de acordo com o Protocolo Odontológico do Município.
Utilizou-se um pequeno questionário como guia para a conversa, que além dos dados pessoais, abordaram-se as seguintes perguntas norteadoras: está amamentado? Usa mamadeira? Se sim, a mamadeira é adoçada (açúcar, mel, achocolatado etc). Como é a alimentação da criança (alimentos cozidos, crus, frutas, verduras, doces)? Já nasceu algum dente? Quantos? Faz higienização bucal? Se sim, usa escova, dedeira, gaze? Usa dentifrício fluoretado? Fio dental? Passou com o pediatra recentemente? A vacinação está em dia? Alguma dúvida?
Os dados das consultas foram anotadas nos respectivos prontuários e fornecidas as orientações de acordo com a demanda levantada de cada usuário.
As crianças cujos responsáveis relataram alguma alteração nos dentes ou cavidade bucal, foram agendados os atendimentos assim que as consultas eletivas retornaram, seguindo o Protocolo de atendimento do Município.
Após as teleorientação, em reunião com as enfermeiras da UBS, decidiu-se a possibilidade de agendamento de consultas com o pediatra para os casos sem acompanhamento, onde os responsáveis foram contactados novamente para serem informados sobre a data da consulta.
Crianças que estavam com vacinas atrasadas ou os responsáveis apresentaram dúvidas, foram orientados sobre o melhor horário para se deslocarem até a UBS visando atualizar a carteirinha.

Quais os resultados alcançados

Diante das conversas, percebeu-se o pouco conhecimento do responsável sobre alimentação saudável e hábitos de higiene bucal das crianças.
Sobre a alimentação, observou-se que a maioria das crianças consumiam alimentos cozidos e seguiam a rotina alimentar da própria família. Em relação aos hábitos deletérios, como o uso de chupeta e mamadeira, a maioria dos responsáveis adoçavam as mamadeiras das crianças, chamando a atenção um caso em que a avó não sabia que o achocolatado continha açúcar em sua composição.
Pouco menos da metade das crianças que já possuíam dentes nunca havia realizado escovação dos elementos dentários. Os responsáveis não tinham consciência da importância de se iniciar os cuidados desde pequenos e a maioria não tinham intenção de procurar orientação profissional.
A insegurança devido o risco de contaminação pelo covid 19, levou aos pais evitarem a UBS para as consultas de puericultura, inclusive para a atualização da carteirinha de vacinação.
Reforçaram-se para os responsáveis a importância de alimentos de consistências diferentes, principalmente fibrosos para o desenvolvimento dos maxilares e da mastigação; sobre o uso da chupeta e mamadeira e seus malefícios para o desenvolvimento facial, deglutição e respiração.
Os responsáveis foram orientados sobre importância da escovação dentária, técnica correta e quantidade de dentifrício fluoretado.
Para as crianças que estavam sem acompanhamento com pediatra há mais tempo, foi possível agendar a consulta e orientar sobre importância de manter a carteirinha de vacinação em dia.
Foi notória a preocupação e interesse de algumas mães após o contato telefônico, sobre como realizar a higienização bucal das crianças e como poderia ser o processo de acompanhamento na UBS.

Considerações finais

A vivência do uso da teleorientação odontológica tornou-se uma ferramenta única e eficaz para auxiliar na orientação de mães e responsáveis por crianças pequenas sobre saúde bucal, reduzindo exposições desnecessárias ao serviço de saúde, diminuindo riscos de contágios da covid 19 e buscando a prevenção principalmente da cárie.
O uso da Teleodontologia principalmente para prevenção da instalação de doenças bucais na primeira infância é inovadora, pois poder orientar mães e responsáveis que geralmente não procurariam os serviços odontológicos antes que algum sintoma da doença bucal se instale, ou por falta de tempo ou por desconhecimento da importância na prevenção, é gratificante e recompensador. Alguns usuários que acompanham em pediatras particulares ou de convênios médicos, demostraram-se satisfeitos por poder tirar dúvidas sobre cuidados bucais e sentirem-se acolhidos pela equipe de saúde bucal.
Para implementação da teleorientação de crianças pequenas em outras Unidades de Saúdes, necessita-se da infraestrutura básica geralmente existente na Atenção Primária de Saúde, como linha telefônica e arquivos de prontuários de usuários atualizados.
Apontou-se como dificuldade o cadastro desatualizado do usuário, principalmente o número telefônico, não sendo possível a teleorientação com algumas famílias. Alguns responsáveis, não se mostraram tão interessados no início, por não entenderem a importância dos cuidados bucais em crianças pequenas. Vivenciou-se dificuldade em orientar como realizar a escovação dentária sem a visualização da técnica de escovação, e no diagnóstico das queixas odontológicas levantadas pelos responsáveis. Posteriormente as dificuldades foram superadas em consulta presencial.
A principal lição da experiência remete-se a abertura para novos conceitos, novas técnicas e ferramentas para abordagem em educação, orientação e cuidado em saúde.
Conclui-se que a teleodontologia torna-se uma ferramenta importante de apoio a prevenção e promoção a saúde pública, trazendo efeitos positivos nos cuidados com saúde bucal, sendo uma ferramenta alternativa de baixo custo e com efetividade.
Recomenda-se que para que seja aplicado em todo sistema de saúde as Unidades devem ter no mínimo como infraestrutura um telefone, um instrumento norteador, cadastro atualizado dos pacientes, período disponível para profissional, e posterior organização da agenda para absorver a demanda gerada. Ressalta-se a importância de uma webcam que facilitaria a orientação da técnica escovação.

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