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Rede Colaborativa PICS: apoio a distância, cuidado de perto

Tema do relato:
Ações da Enfermagem para o enfrentamento da pandemia da COVID-19

Sua experiência está relacionada a que área:
Atenção em saúde

Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição)
Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio grande do Sul (UFRGS) (parcerias: Rede de Educação em Saúde Coletiva do Rio Grande do Sul (RESC), projeto de extensão Tramar Saúde Coletiva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do SUL (IFRS), área técnica de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul; área técnica de PICS da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Projeto de Extensão Educação popular, equidade e saúde da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Laboratório de Saúde integrativa da Unisinos)

Autor(es) Principal
Daniela Dallegrave
Autor(es)
Daniela Dallegrave
Alpheu Ferreira do Amaral Júnior
Rose Teresinha da Rocha Mayer
Patrícia Genro Robinson
Laura Anelise Faccio Wottrich
Juliano Andre Kreutz
Carolina Eidelwein
Rosália Figueiró Borges
Tamisa Fleck Ell Pereira
Michèle Rohde Duarte
Vanderléia Laodete Pulga
Márcia da Silva Jacobsen
Bruna Vargas Cunda
Ana Cláudia Dick
Ana Marcela Sarria
Alessandra Porto d'Ávila
Daiana Alberti Guarnieri
Bruna Luisa Ribeiro de Almeida

Situação atual da experiência
Em estágio avançado de execução

Data de início da experiência
2020-03-20

Contextualização/introdução
A Rede Colaborativa PICS é uma experiência de atenção e de educação em saúde, de expansão do acesso às Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, no Sistema Único de Saúde. É uma rede descentralizada de compartilhamento solidário de saberes e práticas de diferentes racionalidades em saúde, que se defronta com a sindemia de Covid-19 (sindemia e não pandemia, dada a sinergia de determinantes sociais e condições de saúde). Participam enfermeiras/os e outras/os, nesta rede de encontros entre profissões, de modos de cuidar plurais, na perspectiva da alteridade, da influência e da transformação mútua, da ampliação das existências possíveis do Cuidado, que envolve as práticas de Enfermagem, inscritas em arranjos interdisciplinares. É uma experimentação de diferentes maneiras de pensar e de agir em saúde. Tentativa de expansão do que acontece na Enfermagem, do que este campo de saberes e práticas pode fazer, pensar e imaginar, na interrelação com outras profissões. Ainda, prospectam-se as Enfermagens por vir, abertas às múltiplas racionalidades em saúde, aos cuidados complexos. Trata-se de experiência proposta pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por meio de programa de extensão universitária, em parceria com a Rede de Educação em Saúde Coletiva do Rio Grande do Sul (RESC), o projeto de extensão Tramar Saúde Coletiva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do SUL (IFRS), área técnica de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul; área técnica de PICS da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Projeto de Extensão Educação popular, equidade e saúde da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e Laboratório de Saúde integrativa da Unisinos. Integra a campanha “Proteger o trabalhador e a trabalhadora é proteger o Brasil”, promovida pelo Conselho Nacional de Saúde. A Rede Colaborativa PICS iniciou em março de 2020, no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, como uma estratégia de enfrentamento da Covid-19, com suporte às/aos trabalhadoras/es e às/aos estudantes da área da Saúde da “linha de frente” das redes de atenção públicas e privadas envolvidas no combate à sindemia de Covid-19, por meio de teleatendimentos gratuitos com Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Em maio de 2020, ao integrar a campanha do Conselho Nacional de Saúde supracitada, a experiência ganhou abrangência nacional. Em 2021, com o agravamento da sindemia, os teleatendimentos passaram a englobar as/os trabalhadoras/es e estudantes da área da Educação. Compreende-se também como público de abrangência da Rede as/os profissionais que trabalham nos setores da Saúde e da Educação, nas áreas administrativas, de higienização e segurança. A resolução Cofen nº 634/2020, que autoriza a teleconsulta em enfermagem, é uma das bases legais que amparam a organização da experiência. Embora nem todas/os as/os profissionais terapeutas cadastradas/os na Rede Colaborativa PICS tenham formação em enfermagem, a participação de enfermeiras/os na gestão da proposta tende a trazer elementos de organização do processo, a partir de ferramentas consolidadas no mundo do trabalho. Antes, os teleatendimentos eram incipientes no cuidado em saúde e diversos pontos precisaram ser adaptados, partindo da presencialidade em direção ao cuidado mediado por tecnologias informáticas como, por exemplo, a anamnese e o exame físico. Neste sentido, foram criados formulários de coletas de dados e elaborados instrumentos de sistematização do atendimento, com divulgação por meio de estratégias de educação permanente para as/os terapeutas vinculadas/os, no formato de reuniões mensais por teleconferência. Para cadastro das/os terapeutas, utiliza-se a plataforma on-line revirasaude.org, da Rede Virtual de Aprendizagem em Saúde (ReviraSaúde), que formulou e utiliza o mote “apoio a distância, cuidado de perto”. Trata-se de uma proposta interinstitucional, que conecta pessoas em práticas de apoio mútuo, auto-organização e autoanálise, vinculada ao Sistema Único de Saúde. Na sua interface estatal, essa é regulamentada pelas resoluções da Comissão Intergestores Bipartite do Rio Grande do Sul 590/2013 e 320/2017. O cadastro das/os profissionais é realizado por meio de um formulário virtual, inicialmente hospedado no Formsus/Datasus e atualmente no Google Forms, em que se preenchem os dados pessoais e profissionais e se anexam os comprovantes da formação que habilitam para o cuidado em saúde. Este cadastro, com a documentação, é analisado criteriosamente pela equipe de coordenação da Rede Colaborativa PICS, autorizando ou não a validação da atividade do profissional na Rede. Em seguida, a coordenação da ReviraSaúde faz o georreferencimento da localização aproximada do terapeuta, a qual é disponibilizada no mapa de teleconsultoras/es, que é meio de busca dos atendimentos (http://mapa.revirasaude.org/). Destacam-se, na experiência, o caráter interdisciplinar e interinstitucional, a sua proposição em tempo oportuno ao enfrentamento da sindemia de Covid-19, logo que se identificaram os primeiros casos no Brasil, o duplo eixo de ação, com ações de educação e de cuidado em saúde, e a relevância do desafio em questão, isto é, do cuidado e da proteção de trabalhadoras/es em saúde. Ainda, sublinha-se sua concepção ampliada de clínica e de cuidado em saúde, com ênfase em múltiplas racionalidades e em cuidados complexos (não restritos à biomedicina), bem como a inovação e a originalidade da proposta, que é a única iniciativa pública do país, de teleconsultoria e teleatendimento de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde.
A principal motivação para o desenvolvimento desta experiência parte de um desejo, da análise estratégica e da compreensão pessoal de uma das coordenadoras, enfermeira, reconhecendo a sua inserção no campo da Enfermagem em Saúde Coletiva, por quase 20 anos, e a urgência ética de fazer algo, de agir estrategicamente, de mobilizar recursos, práticas e saberes atentos à complexidade da emergência em saúde pública associada à Covid-19. Na composição das parcerias institucionais, foram realizadas observações sistemáticas do desenvolvimento da epidemia de Covid-19 na China, leituras de artigos que evidenciaram a exaustão das/os profissionais de saúde, aprofundamento em questões relacionadas à saúde mental da população em situações de catástrofes, entre outros métodos de estudo para tomada de decisão relacionada à organização da experiência. No Brasil, alguns agravantes justificaram a escolha de implementação da experiência: profissionais de saúde precisaram se afastar de seus familiares, para evitar contaminações; foram também isoladas/os e hostilizadas/os pela população revoltada com a crise sanitária; a carga mental relacionada ao trabalho foi maximizada com o adoecimento e morte de colegas; o Brasil foi o país que mais registrou mortes por coronavírus em profissionais da saúde e, principalmente, da Enfermagem (COFEN, 2020; 2021; EL PAÍS, 2021). Ainda, no início da sindemia de Covid-19, diversas/os atoras/es sociais organizaram-se para apoiar os grupos mais vulneráveis. Algumas destas ações estão catalogadas e divulgadas nesta página: https://www.revirasaude.org/outras-iniciativas-de-apoio. Criaram-se serviços de apoio psicológico, canais de ajuda emocional a profissionais de enfermagem (iniciativa do Cofen), redes solidárias de distribuição de alimentos, de equipamentos de proteção individual (como respiradores faciais e faceshield), entre outros. Dentre as iniciativas identificadas, poucas centravam-se no cuidado de trabalhadoras/es em saúde e nenhuma dirigia-se a todas/os as/os trabalhadoras/es em saúde, a qualquer profissão. Além disso, não contemplavam as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Até a proposição da ReviraSaúde, que, além da Rede Colaborativa PICS inclui outras propostas de cuidado em saúde, os serviços públicos de teleconsultoria existentes eram específicos para a rede estatal de atenção básica em saúde. Na experiência aqui descrita, complementam-se e ampliam-se as possibilidades de apoio descentralizado às redes públicas e privadas de saúde. Adicionalmente, nas mídias sociais, manifestavam-se profissionais de saúde em quarentena ou dos grupos de riscos, impedidas/os de atender presencialmente, que desejavam participar do enfrentamento da sindemia de Covid-19. Havia, portanto, necessidade de cuidado às/aos trabalhadoras/es em saúde e sinalizações de uma emergente disposição à solidariedade. Nesse contexto, foi vislumbrada a necessidade de acesso a cuidados complexos, considerados aqui como proposição de modelos de cuidado que integram diferentes racionalidades médicas ou composições terapêuticas, para que as/os trabalhadoras/es pudessem enfrentar os desafios que ainda acompanham a sindemia, para além dos acometimentos clínicos da Covid-19, especialmente aqueles relacionados à saúde mental: ansiedade, medo, pânico, distúrbios do sono, entre outros. Reconhece-se também, nesse sentido, como razão para o desenvolvimento desta iniciativa, o entendimento de que a atual emergência em saúde pública, associada a uma doença infecciosa, causada por um vírus, o SARS-Cov-2, é melhor compreendida como uma sindemia (e não como uma pandemia). Caracterizam essa sindemia as desigualdades na distribuição da morbidade e da mortalidade, determinadas por questões raciais, econômicas, de acesso a serviços de saúde, insegurança alimentar, saneamento básico, dentre outras. Seu enfrentamento exige múltiplas estratégias, complementadas com a ampliação do acesso a cuidados complexos, por meio das PICS.
Objetivo principal: Articular saberes e práticas interprofissionais, interdisciplinares e interinstitucionais de cuidados complexos e de educação em saúde, por meio de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, a fim de cuidar de trabalhadoras/es das áreas da Saúde e da Educação, durante a sindemia de Covid-19. Objetivos específicos: Realizar teleatendimentos gratuitos com PICS para profissionais e estudantes de saúde da “linha de frente” da Covid-19; Realizar teleatendimentos gratuitos com PICS para profissionais e estudantes que se profissionalizaram na área da Educação; Elaborar materiais educativos para o autocuidado com Práticas Integrativas e Complementares em Saúde; Proporcionar espaços de educação permanente em saúde, relacionados aos temas emergentes da sindemia e para a escuta e o apoio às/aos participantes da Rede; Sistematizar ferramentas de registro de atendimentos em saúde realizados a distância.
A “Rede Colaborativa PICS” articula saberes e práticas interprofissionais e interdisciplinares de cuidados complexos e de educação em saúde, por meio de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, durante a sindemia de Covid-19, e traduz-se em diferentes modos de pensar, de agir e de imaginar no campo de saberes e práticas de cuidados complexos em saúde, experimentados em caminhos e com recursos plurais. É uma rede descentralizada, organizada como “círculos em redes” (Ceccim, 2013), em que diferentes instituições, equipes e trabalhadores/as em saúde compõem suas diferenças e criam possibilidades de fazer algo juntas/os. Pensar, agir e imaginar são dimensões inseparáveis da atividade humana. Entretanto, de modo esquemático, considerado a que se dedica cada dispositivo, nó ou força instituinte da Rede, pode-se classificá-los assim: Organizações e Processos Descrição Modos de pensar e imaginar a Rede Gestão colegiada Educação Permanente Ouvidoria Avaliação Modos de fazer acontecer Divulgação Mapa de Profissionais Atendimentos a distância Registro dos atendimentos Estes espaços, dispositivos, modos de organização e de funcionamento da Rede serão detalhados abaixo. Antes, descreve-se os participantes da rede, como gestoras/es e coordenadoras/es de processos, terapeutas e usuários. Participantes e público A Rede Colaborativa PICS, proposta a partir da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), instaura-se com a colaboração interinstitucional e interprofissional. As instituições participam de diferentes maneiras da experiência. A Rede de Educação em Saúde Coletiva do Rio Grande do Sul (RESC), apoiada pelo projeto de extensão Tramar Saúde Coletiva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do SUL (IFRS), disponibiliza a plataforma on-line e cria as condições para a criação de um terreno comum, de aproximação e conexão de pessoas envolvidas nas práticas de cuidado em saúde, na modalidade a distância. Por sua vez, as seguintes instituições participam diretamente da gestão da Rede: área técnica de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul; área técnica de PICS da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre; Projeto de Extensão Educação popular, equidade e saúde da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS); Laboratório de Saúde Integrativa da Unisinos. Ainda, ao integrar a campanha “Proteger o trabalhador e a trabalhadora é proteger o Brasil”, promovida pelo Conselho Nacional de Saúde, amplia-se a divulgação e a difusão da Rede em diferentes regiões do Brasil. As/os profissionais que realizam os teleatendimentos distribuem-se em diferentes áreas profissionais, cumprido, como requisito mínimo, a qualificação e habilitação profissional para a realização de Práticas Integrativas e Complementares em saúde. As inscrições e a realização dos teleatendimentos são voluntárias, sem remuneração. Atualmente há, aproximadamente, 165 profissionais em atividade. Há profissionais cadastradas/os na Região Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. As áreas de cuidado são: Medicina Tradicional Chinesa Homeopatia Terapia Floral Aromaterapia Arteterapia Ayurveda Práticas corporais Dançaterapia Fitoterapia Meditação Reiki Relaxamento Expressão criativa Os atendimentos destinam-se às/aos profissionais e estudantes de saúde da “linha de frente” da Covid-19, bem como às/aos profissionais e estudantes da área da Educação. Cada usuária/o da Rede pode escolher mais de um/uma profissional ou tipo de atendimento (por exemplo, pode realizar consultas de Terapia Floral e homeopatia). Os contatos são realizados diretamente pelos usuários da Rede, por meio dos canais (telefone, mensagens instantâneas, e-mail etc.) informados pelas/os terapeutas cadastradas/os. Modos de pensar e de imaginar a Rede As organizações e os processos de planejamento, gestão, avaliação, educação permanente de teleconsultoras/es configuram-se em dois eixos: o primeiro, de responsabilidade direta da Rede Colaborativa PICS; o outro, na intersecção com a Rede de Educação em Saúde Coletiva e a Rede Virtual de Aprendizagem em Saúde Coletiva (ReviraSaúde). A Rede Colaborativa PICS é um “círculo”, com autonomia e independência, associado à Rede de teleatendimentos ReviraSaúde, que inclui outros “círculos”, dedicados à atenção a mulheres em situação de violência de gênero (Projeto Gradiva, de atendimento psicanalítico), à atenção em Saúde Mental (Comitê Intersetorial de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio), e com trabalhadoras/es em saúde de diferentes áreas. As ações específicas para pensar a Rede PICS incluem: Gestão colegiada: realizada pelas 5 (cinco) instituições coordenadoras, de forma compartilhada, com o objetivo de planejar e implementar todas as ações do projeto, bem como articulações com outras instâncias e áreas de interface com a temática. Participam da gestão colegiada as estudantes da graduação em Enfermagem (cinco) e de Saúde Coletiva (um). Já integraram o grupo estudantes de outros cursos de graduação (Agronomia e Educação Física). A gestão colegiada reunia-se, de forma virtual e semanal durante 2020; e quinzenal em 2021, com reuniões extraordinárias, quando necessário. Educação Permanente em Saúde: objetiva atualizar e qualificar conhecimentos necessários para a realização do trabalho na Rede Colaborativa PICS. São atividades virtuais mensais (2020) ou bimestrais (2021) organizadas pela coordenação da Rede, com participação das/os terapeutas, estudantes e convidadas/os. Os temas são definidos conforme aparecem situações relacionadas aos teleatendimentos ou à própria sindemia, requerendo novas aprendizagens e encaminhamentos. Ao final dos encontros, são realizados momentos coletivos de cuidado, enfatizando a importância da saúde das/os terapeutas. Associa-se, ainda, como estratégia de educação permanente, a elaboração de educativos para o autocuidado com Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, publicados e divulgados nas mídias sociais da Rede (https://www.instagram.com/ redecolaborativapics/) e em outros portais na internet. Um exemplo é este Guia de meditação, disponível em: https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202007/22135155-guia-meditacao-rede-colaborativa-rs.pdf. Avaliação: atividade realizada constantemente, a partir de todas as situações que envolvem o trabalho na Rede, promovendo a reconfiguração do processo de trabalho para atender questões emergentes. Inclui a análise dos registros de atendimentos e a análise de manifestações recebidas por e-mail e no formulário eletrônico de avaliação dos teleatendimentos (disponível em http://avalia.revirasaude.org/). Atualmente, o canal de avaliação e de ouvidoria coincidem. Destaca-se que, para fins de monitoramento e avaliação, sistematizou-se o registro de atendimentos em saúde realizados a distância, nas modalidades individuais e em grupo (acesso em: https://www.revirasaude.org/registros-de-atendimentos). Por sua vez, a ReviraSaúde, além de disponibilizar a plataforma on-line para cadastro de profissionais, realizar a gestão do banco de dados, hospedar os Registros de Atendimentos, mantém um canal de ouvidoria e de comunicação (http://ouvidoria.revirasaude.org) com a população atendida e realiza ações de Educação em Saúde abertas a qualquer interessada/o. Sublinha-se que a ReviraSaúde é uma rede pública de apoio mútuo, vinculada ao Sistema Único de Saúde, que propõe a criação de interfaces, de zonas de aproximação e de contatos entre diferentes organizações e coletivos dispostos à composição. Suas composições e interações são variadas e instituem-se em uma rede de assembleias, de espaços abertos, de participação direta de qualquer atora/ator social interessada/o, como: o Colegiado estadual (que se reúne mensalmente), os Núcleos Interfederativos de Facilitadoras/es de Educação em Saúde Coletiva (organizações regionais) e os Núcleos Municipais de Educação em Saúde Coletiva. Nesta “rede de assembleias”, aqueles que participam, numa perspectiva de democracia radical, somente são obrigados por regras quando estas são codeterminadas e se baseiam na coparticipação. Assim, a organização específica da Rede Colaborativa PICS é independente e compõe como uma alteridade, em relações de mútua influência e colaboração. Adicionalmente, a ReviraSaúde propõe ações de Educação Permanente em Saúde, abertas a qualquer interessada/o: Revira Leituras: é um encontro semanal para leitura em voz alta e partilha de impressões, ideias e outras associações. Os textos são escolhidos pelas/os participantes. O grupo é aberto, gratuito e não precisa de inscrição. A página de divulgação e acesso está disponível em: https://www.revirasaude.org/leituras. Até o momento, leu-se: Necropolítica – Achille Mbembe; Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Introdução de Heloísa Buarque de Hollanda; Carta de uma ex-mulata a Judith Butler (Angela Figueiredo) e Outras línguas: três artistas brasileiras (capítulos do livro Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais); E se amanhã o medo, de Ondjaki; Olhos d’água, de Conceição Evaristo; Sobrevivência dos vaga-Iumes, de Georges Didi-Huberman; M, O Filho do século, de Antonio Scurati; Entrevista – Antonio Scurati: “Ridicularizamos Trump por seu físico e Salvini por ser vulgar, e assim ganham eleitores que pensam que os imbecis somos nós”; Torto Arado, de Itamar Vieira Junior. Perspectiva-se, assim, a ampliação das maneiras de ver e de pensar o mundo, por meio da exposição a múltiplas vozes e culturas. Além deste efeito de alteridade, o exercício de close reading (leitura atenta, concentrada nos detalhes da construção das narrativas) pode repercutir no cuidado em saúde usuário-centrado, no desenvolvimento da escuta sensível e atenta (“close listening”), como apontam os estudos no campo das Narrativas em Saúde. Cinema e conversinhas: realizam-se exibições públicas on-line de filmes, seguidas de conversas entre as/os participantes, para compartilhamento de impressões, ideias, associações e análises. Inclui-se filmes como: A última estrada da praia, de Fabiano de Souza; Mãe só há uma, de Anna Muylaert; Sobre sete ondas verdes espumantes, de Cacá Nazario e Bruno Polidoro; Eduardo Galeano Vagamundo, de Felipe Nepumoceno. A página de divulgação e acesso está disponível em: https://www.revirasaude.org/cinema-e- conversinhas. Aposta-se, também por meio das narrativas audiovisuais, nos efeitos de alteridade, de formação ética e política, de complexificação das análises dos modos de andar a vida, aspectos fundamentais para a realização da clínica ampliada em saúde. Estas ações são interinstitucionais, com preparações, realização e avaliações partilhadas por equipes interessadas, em processos autogestionários. Sublinha-se, por fim, a Integralidade como um conceito e ideia-força transversal, que inspira a participação plural, a descentralização e a democratização da gestão da rede, a aposta em cuidados usuário-centrados, na perspectiva da clínica ampliada, que não reduz sua atenção aos adoecimentos, mas considera as fragilidades subjetivas, a invenção de múltiplas maneiras de viver e implica um repertório diversificado de ações de cuidado, em processos coletivos e em rede. Em cada gesto de cuidado, entrevê-se, imagina-se e prospecta-se sua expansão e complexificação, isto é, outras maneiras de pensar e de agir em saúde. Modos de fazer acontecer As principais ações da Rede Colaborativa PICS, as ações-fim, são as de realização de cuidados complexos e de educação em saúde, por meio de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, a fim de cuidar de trabalhadoras/es das áreas da Saúde e da Educação, durante a sindemia de Covid-19. A seguir, explicita-se como funcionam os atendimentos, desde a divulgação, a inscrição e seleção dos terapeutas, até a realização do cuidado a distância: a) Como os profissionais se inscrevem para realizar teleatendimentos? Profissionais de saúde interessados em colaborar com a rede inscrevem-se em um formulário eletrônico na página de internet https://www.revirasaude.org/cadastro-de-profissionais. Solicita-se informações de contato, sobre a formação, registros profissionais e disponibilidades para os teleatendimentos. Antes da publicação no Mapa de Profissionais, os cadastros são analisados, avaliados e validados somente se documentam a habilitação para o exercício do cuidado em saúde. b) Como estudantes e trabalhadores de Saúde e da Educação acessam os atendimentos a distância? Ao identificar um motivo para solicitar o teleatendimento, a/o profissional ou a/o estudante das áreas de Saúde ou de Educação acessa o site revirasaude.org; clica em “quero consultar uma/um profissional de saúde”; conta com a explicação de algumas dicas para encontrar uma/um profissional para seu cuidado; clica em “atendimentos on-line gratuitos com profissionais de saúde” e vai ser direcionado para o mapa de teleconsultoras/es (diretamente acessível também neste endereço http://mapa.revirasaude.org). A busca livre permite que sejam selecionadas/os profissionais com diferentes contornos e possibilidades de trabalho, identificadas/os no mapa por meio de balões coloridos. Os balões das/os enfermeiras/os são de cor bordô e os das/os terapeutas de PICS são de cor azul, esses integrando a maioria das/os profissionais da rede de teleconsultoras/es, com mais de 160 terapeutas localizadas/os em diferentes unidades federativas. Após a análise da lista de teleconsultoras/es disponíveis a partir da busca realizada, a/o própria/o usuária/o realiza o contato e solicita o teleatendimento. c) Quais as Práticas Integrativas e Complementares em saúde disponíveis? As Práticas ofertadas são: orientação de acupressão em pontos de tensão, aromaterapia, arteterapia, ayurveda, fitoterapia, hipnose clínica, homeopatia, relaxamento, terapia floral, entre outras. d) Como são os atendimentos? Os atendimentos são gratuitos e realizados a distância, síncronos ou assíncronos, nas modalidades individual, coletivo ou de equipes. A participação de gestores estadual e municipal proporcionou indução de medidas inseridas no processo de trabalho e que garantissem a realização dos teleatendimentos, como por exemplo, o incentivo à seleção de espaços reservados nos próprios locais de trabalho, preferencialmente equipados com computador e sinal de internet, para que as/os profissionais de saúde pudessem solicitar seus atendimentos. Ao mesmo tempo, a coordenação da Rede realizou discussões com as/os terapeutas sobre modos de organização do processo de cuidado com PICS, que fossem sistematizados para atender ao tempo disponível, algumas vezes bem reduzido. A proposta seria disponibilizar um primeiro cuidado, priorizando a demanda e o vínculo. Após cada atendimento, a/o teleconsultora/teleconsultor registra seu cuidado em documentos próprios e no formulário da Revira Saúde: https://www.revirasaude.org/registros-de-atendimentos. Os dados registrados são monitorados pela coordenação da Rede, sistematizados periodicamente com emissão de relatórios parciais. e) Como é a divulgação para os grupos de interesse da Rede? A divulgação dos teleatendimentos inclui diversas estratégias como a publicação nas redes sociais (https://www.instagram.com/ redecolaborativapics/, https://www.facebook.com/revirasaudecoletiva); grupos em aplicativos de mensagem instantânea (como o Whatsapp); disponibilização de materiais de divulgação no site (https://www.revirasaude.org/divulgação), contato e produção de materiais de apoio para Rádios Comunitárias (áudios, release), bem como publicações em portais de instituições diversas, como as seguintes: Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul. Portal da Atenção Básica: https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/rede- colaborativa-pics. Laboratório de Ensino Virtual em Enfermagem (Ufrgs): https://www.ufrgs.br/levi/rede-colaborativa-pics/#page-content ObservaPICS, Fiocruz: http://observapics.fiocruz.br/teleatendimento- em-pics-para-profisssionais-e-estudantes-de-saude-e-de-educacao/ Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul: https://www.portalcoren-rs.gov.br/index.php?categoria=publicacoes&pagina=noticia-ler&id=7557. Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul: http://www.escoladesaudepublica.rs.gov.br/conteudo/3656/escola-de-sa%C3%BAde-p%C3%BAblica-(esp-rs)-divulga-as-atividades-da-semana-do-servidor-realizadas-pela-rede-colaborativa-pics-
Cuidar de trabalhadoras/es como proposta de apoio ao enfrentamento da sindemia de Covid-19 no Brasil foi um grande desafio para todas/os as/os envolvidas/os. A estruturação de um trabalho como este que estamos realizando foi (e se atualiza como) um grande desafio: são muitas pessoas na coordenação (profissionais das instituições parceiras mais estudantes das universidades envolvidas), são muitas/os terapeutas, muitas pessoas atendidas, grande logística para manter o funcionamento, exigência de pesquisa científica constante e planejamento em acordo com questões emergentes. Apesar de toda essa complexidade, as experiências prévias com o trabalho gerencial na enfermagem de saúde pública, contribuíram com ferramentas para a organização do processo de trabalho, aliadas à intensa participação das instituições parceiras, compondo um modo singular de gestão. Os objetivos foram cumpridos e ampliados. Em 2020, foram realizadas aproximadamente 200 horas de atendimento, perfazendo o total de 64% dos atendimentos realizados na ReviraSaúde. Os principais motivos de procura foram: sobrecarga, tristeza, medo, luto, problemas relacionados à qualidade do sono, insegurança e ansiedade. Além disso, foram realizadas 13 lives pelo Instagram, com proposta de discussão de práticas de autocuidado. Mais de 900 pessoas foram impactadas pelas ações da Rede Colaborativa PICS por meio das redes sociais no Facebook e no Instagram. Algumas publicações, com orientações de autocuidado, alcançaram mais de duas mil pessoas. Em termos científicos, a experiência já foi sistematizada com diferentes enfoques e apresentada em eventos científicos, a convite ou por meio de submissão e avaliação por pares.
A experiência apresentada é relevante porque se origina como proposta articulada ao Sistema Único de Saúde, maior sistema nacional de saúde de caráter universal. Tem diferentes instituições na coordenação, atende demanda do controle social (demonstrada pela participação na campanha do Conselho Nacional de Saúde) e se organiza na perspectiva de enfrentamento de uma situação sanitária de excepcionalidade, configurando-se, portanto, como inovadora. Outras experiências de teleatendimento surgiram na sindemia, mas nenhuma com o caráter desta: teleatendimentos gratuitos em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde voltados para profissionais de saúde e da educação, os quais integram grupos prioritários de enfrentamento da sindemia. Ao investigar outras experiências, observamos diferenças em relação a esta, que não tem financiamento e se mantém ativa após mais de 500 dias. Como principais dificuldades, podemos elencar: a inexistência de financiamento, que permitira a expansão e a qualificação do acesso; a imprevisibilidade da evolução da sindemia, dada a excepcionalidade da situação, os conhecimentos incipientes, constantemente revisados e atualizados, o que exige permanente pesquisa, sistematização e tomada de decisão. Destaca-se que todas/os as/os envolvidas/os dedicam significativa carga horária de trabalho, negociadas institucionalmente, ou decorrentes de esforços de autogestão, para manter a Rede em funcionamento, como estratégia à falta de financiamento. Ainda, entendemos que outras ações poderiam ser implementadas caso houvesse profissionais com saberes especializados envolvidas/os na equipe como, por exemplo: jornalista e profissional de tecnologia da informação. Também compreendemos que o trabalho de terapeutas de PICS deveria ser remunerado, visando ampliar as possibilidades da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Dentre as lições aprendidas, podemos destacar a importância da solidariedade em uma situação de excepcionalidade sanitária e também os princípios das redes colaborativas, do trabalho interprofissional. Para a enfermagem de saúde pública, considera-se como principais lições: 1) tudo o que se sabe sobre adoecimento pode modificar com uma nova situação clínica; 2) o enfrentamento da sindemia, ainda sem medicamentos eficazes no combate ao vírus, demonstrou que a enfermagem é importante em diversas frentes, tais como: implementação de medidas de conforto e cuidados complexos, logística e coordenação de ações preventivas, sejam elas de vacinação ou de suporte a problemas adjacentes ao vírus como são os acometimentos de saúde mental enfrentados por estratégias como a que apresentamos aqui; 3) é necessário o constante monitoramento e reinvenção da profissão, especialmente aos novos desafios emergentes de situações sanitárias de excepcionalidade. Neste caso, podemos destacar principalmente o desafio da teleconsulta que apresentou questões que exigiram das/os profissionais de saúde novas aprendizagens relacionadas a exame físico, anamnese e intervenção à distância. As recomendações sistematizadas até o momento envolvem especialmente as instituições formadoras, de profissionais da saúde e da enfermagem, reiterando a necessidade de estratégias de incentivo ao autocuidado (porque percebemos muito dificuldade em profissionais de saúde procurar atendimento, mesmo em situações de extremo estresse como é o caso da sindemia), também salientamos a necessidade de pesquisas sobre a formação e atuação profissional em PICS, inserção desta temática na graduação e, especialmente, que os cursos estejam preparados para inserirem rapidamente nos seus currículos mudanças necessárias ao mundo do trabalho e os serviços voltarem-se a essas mudanças emergentes nos processos de educação permanente em saúde. Ainda, o monitoramento e a avaliação de novos projetos, como o aqui apresentado, deve ser constante no sentido de qualificar o cuidado em saúde. REFERÊNCIAS CECCIM, R. B.; MÜLLER, G. S.; et al. A proposta de pesquisa-formação em saúde: construção do método de Círculos em Redes. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, 2013, 7(4). Disponível em: https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/489/1139. Acesso em 04.10.2021 CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Brasil é o país com mais mortes de enfermeiros por Covid-19 no mundo. 2020. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/brasil-e-o-pais-com-mais-mortes-de-enfermeiros-por-covid-19-no-mundo-dizem-entidades_80181.html . Acesso em 20.10.2021 CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Brasil representa um terço das mortes de profissionais de Enfermagem por covid-19. 2021. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/brasil-e-o-pais-com-mais-mortes-de-enfermeiros-por-covid-19-no-mundo-dizem-entidades_80181.html . Acesso em 20.10.2021 EL PAÍS. Brasil responde por um terço das mortes globais entre profissionais de enfermagem por covid-19. 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-01-08/brasil-responde-por-um-terco-das-mortes-globais-entre-profissionais-de-enfermagem-por-covid-19.html . Acesso em: 20.10.2021

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