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O protagonismo da enfermagem no controle da COVID-19 em idosos institucionalizados

Tema do relato:
Ações da Enfermagem para o enfrentamento da pandemia da COVID-19

Sua experiência está relacionada a que área:
Atenção em saúde

Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição)
Hospital das Clínicas- UFMG/EBSERH

Autor(es) Principal
Viviane Rodrigues jardim
Autor(es)
Alcimar Marcelo Couto
Juliana Santos Neves
Raquel Souza Azevedo
Thiara Joanna Peçanha da Cruz
Edgar Nunes de Moraes
Jader de Freitas Maciel Garcia de Carvalho

Situação atual da experiência
Em estágio avançado de execução

Data de início da experiência
2020-05-07

Contextualização/introdução
A experiência ora relatada se deu por meio de um programa de atendimento e acompanhamento dos idosos institucionalizados no município de Belo Horizonte frente à pandemia da COVID-19 através da parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMS-PBH) e o Serviço de Geriatria/Gerontologia do Hospital das Clínicas da UFMG (HC-UFMG). O Programa consistiu no acompanhamento de cerca de 1794 idosos residentes nas 99 ILPI acompanhadas, sendo que 27 delas são filantrópicas (sendo 23 parceirizadas com a Secretaria de Assistência Social) e 72 privadas não-filantrópicas, com o objetivo de reconhecer a condição de saúde dos idosos residentes e realizar o monitoramento de sintomas gripais, assistência no reconhecimento e manejo dos surtos de COVID-19, matriciamento e atendimentos presenciais para demandas diversas da saúde desses idosos que se fizerem necessárias ao longo do acompanhamento. Para tanto, foi necessário o envolvimento dos seguintes setores: Centros de Saúde, Gerências de Assistência e Epidemiologia e Regulação, Coordenação da Saúde do Idoso-SMS-PBH, Secretaria de Assistência Social, Unidade de Acolhimento Provisório ao Idoso e Serviço de geriatria/gerontologia do HC-UFMG. Para implantação do Programa, a Secretaria Municipal de Saúde – BH realizou o cadastramento das ILPI, com nome, localização, contato, referência técnica (categoria profissional), profissionais de saúde disponíveis e número de idosos. O Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas dividiu os seus profissionais médico e enfermeiro em 5 equipes (A, B, C D e E) intituladas “equipes matriciadoras” e, cada equipe, ficou responsável por 15-18 ILPI. Essa distribuição considerava o número de idosos de cada ILPI e a sua localização dentro da divisão de território adotada pela SMSA-PBH. Nesse contexto, o enfermeiro assumiu o papel de gestor de cada equipe protagonizando todas as atividades descritas no escopo do programa: – Contato com os profissionais responsáveis de cada ILPI apresentando o programa enviando material educativo e documentos necessários para o cadastramento dos idosos; – Elaboração, junto aos médicos, de relatórios personalizados de cada idoso a partir dos dados enviados contendo informações sobre as Condições Crônica de Saúde dos Idosos Residentes nas ILPI. – Monitoramento telefônico periódico dos idosos utilizando ferramentas institucionais, realizando as interfaces com a Rede de Atenção à Saúde para o seguimento adequado de cada caso sintomáticos para COVID-19. – Registro diário das ocorrências gerando banco de dados que contribuíram para as tomadas de decisão pelas gerências quanto ao manejo da doença em cada situação epidemiológica da pandemia, além de servir como histórico de dados para pesquisa científica e tomadas de decisão. Para que o serviço acontecesse atendendo aos direitos da pessoa idosa e resguardando toda a situação sanitária, o programa foi apoiado pela Promotoria do idosos e pela Vigilância sanitária do Município de Belo Horizonte.
Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia. A estimativa mostrou que a partir da confirmação da primeira morte pela doença no Brasil, em meados de março, até 20 de junho/2020, pelo menos 74 mil óbitos a mais do que o esperado foram registrados nos cartórios brasileiros (CONASS, 2020). Observou-se que a concentração maior dos óbitos foram em pessoas maiores de 60 anos evidenciando uma maior vulnerabilidade dessa população à pandemia (França, 2020). A instituições de longa permanência para idosos (ILPI) representam o principal fator de risco para morbimortalidade da infecção pelo SARS-CoV-2, pois reúnem todas as condições necessárias para a “tempestade perfeita”. Na Europa, EUA, Canadá e Reino Unido mais de 50% de todos os óbitos pela COVID-19 ocorreram nas ILPI e afins (Nursing Homes, Assisted Living, CHSLD: Les Cendres d´Hébergement et de Soins de Longue Durée, Care Homes, etc) (Comas-Herrera, 2020). A taxa de transmissibilidade nas ILPI é superior a 60%, após a introdução do vírus, com uma taxa de mortalidade de 26% (Arons, 2020; Gandhi, 2020). Diante do exposto fazia-se necessário um programa de monitoramento diário para esses idosos que fosse capaz de detectar de forma precoce os casos sintomáticos de dentro das ILPI, promover o isolamento imediato (preferencialmente fora da ILPI, na Unidade de Acolhimento Provisório), impedindo a propagação do vírus na instituição.
Monitorar e prestar assistência aos 1794 idosos das 99 ILPI cadastradas no Programa de Monitoramento da SMS e Serviço de Geriatria-HC para o enfrentamento da COVID-19.
O monitoramento dos idosos residentes nas ILPI se deu da seguinte forma: a.O enfermeiro de cada equipe enviou e-mail para cada ILPI com as informações sobre o programa e os documentos necessários para o cadastro de cada idoso. b.Posteriormente, fez contato telefônico com cada ILPI, checando o recebimento dos documentos e esclarecendo as dúvidas. c.Ao receber as planilhas de cadastro, o enfermeiro direcionava para a equipe médica, para juntos, elaborarem o relatório individual de cada idoso com os dados das condições crônicas de saúde recebidos. d.O nome dos idosos foi cadastrado no CHAT BOT (uma ferramenta de inteligência artificial desenvolvida pelo setor de Telessáude do HC-UFMG) e por esse instrumento eletrônico, os profissionais das ILPI registravam diariamente dados da condição de saúde do idoso relacionado à sintomatologia da COVID-19; temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória e sintomas agudos (tosse, espirro, coriza). Em caso de resposta positiva, uma mensagem era disparada para o e-mail do Programa e o enfermeiro responsável fazia contato com a ILPI residência do idoso sintomático para verificação. e.Outra forma de monitoramento realizada pelo enfermeiro, eram as ligações semanais para as ILPI buscando algum caso sintomático que porventura não fora antes notificado. f.Detectado idoso sintomático, o enfermeiro fazia contato com a SMS-PBH e Centro de Saúde de referência para viabilizar de maneira mais rápida possível o isolamento desse idoso na Unidade de Acolhimento destinada no município para este fim. g.Detectado caso positivo, o enfermeiro sinalizava por meio eletrônico o serviço de epidemiologia do município solicitando a testagem universal da casa em surto e, junto com a equipe matriciadora e a equipe da rede básica, articulava as condutas de combate ao surto até a finalização do mesmo. Uma das condutas era a transferência de todo idoso positivo para COVID-19, a fim de se minimizar o risco de contaminação dos outros idosos e funcionários. h.Participação de reuniões semanais entre os envolvidos no programa para apresentação dos casos sintomáticos e surtos de cada ILPI (banco de dados), contribuindo para a análise da situação epidemiológica e tomada de decisões.
A definição de surto de COVID-19 em ILPI no município de Belo Horizonte foi: presença de um ou mais casos com RT-PCR positivo para o Sars-CoV-2 em idosos ou funcionários. De maio de 2020 a outubro de 2021 foram identificados 120 surtos de COVID-19, sendo que: -Em 33 surtos houve contaminação apenas de funcionários, sem que nenhum idoso adoecesse. – Em 92 surtos (76,6%) não houve nenhum óbito por COVID-19 e em 13 surtos houveram apenas 1 óbito por COVID-19. – A taxa de incidência da COVID-19 do programa (de maio de 2020 a outubro de 2021) foi de 23,58% (423 idosos tiveram COVID-19 confirmada por RT-PCR). A taxa é bastante confiável, já que houve testagem universal RT-PCR em todos os surtos. – A taxa de mortalidade por COVID-19 do programa (de maio de 2020 a outubro de 2021) foi de apenas 3,3% (60 óbitos, da coorte de 1794 idosos acompanhados). – Dos 60 óbitos, 44 ocorreram em idosos com dependência para todas as AVD instrumentais e pelo menos uma AVD básica (idosos muito frágeis). – Da coorte inicial de 1794 idosos, 496 eram cobertos por algum plano de saúde privado, sendo que 96 desses tiveram COVID-19 e 17 faleceram da doença. Já entre os 1298 idosos dependentes do sistema público (SUS), 328 tiveram COVID-19 e 43 faleceram da doença. – 62 surtos foram comunicados à enfermagem (HC-UFMG) com mais de 48 horas de atraso e não puderam ser acompanhados desde o início pelas equipes matriciadoras (ILPI não comunicaram o surgimento dos casos suspeitos ou confirmados) e 58 surtos foram comunicados e acompanhados prontamente. – A soma total de óbitos nos 58 surtos que foram comunicados e acompanhados desde o início foi de 8. Já no grupo de surtos que não foram prontamente comunicados ocorreram 52 óbitos. – Dos 60 óbitos, 55 ocorreram entre maio de 2020 e maio de 2021. Como os idosos e funcionários receberam a segunda dose da vacina contra a COVID-19 em maio de 2021, nota-se que houveram somente 5 óbitos por COVID-19 após a vacinação. – 30 ILPI usaram o CHAT BOT diariamente ou quase diariamente. Apenas 7 delas tiveram óbitos por COVID-19 e a soma do total de óbitos foi 14. No grupo das 60 ILPI que não usaram o CHAT BOT com tanta frequência, 16 delas tiveram óbitos por COVID-19 e a soma do total de óbitos foi 46. – Apenas 29 idosos, do total acompanhado, receberam a vacina Coronavac, o restante dos idosos foram vacinados com a vacina da Astrazeneca.
O protagonismo do enfermeiro, presente em todas as redes de atenção à saúde, somado à participação de todos os demais atores da assistência ao idoso mostrou-se efetivo no combate à COVID-19 diminuindo, consideravelmente, o risco de morte nas ILPI acompanhadas, sobretudo quando os casos suspeitos foram confirmados imediatamente. A taxa de mortalidade do programa é bastante baixa em comparação com a mortalidade por COVID-19 em ILPI no restante do mundo.

Apresentação