O ENFERMEIRO NO PROCESSO PARIR/NASCER: ESTRATÉGIA DE CUIDADO E HUMANIZAÇÃO DO PARTO NO HOSPITAL REGIONAL DE PROPRIÁ-SE

Tema do relato:
Assistência à Saúde na Linha de Cuidado Materno Infantil

Sua experiência está relacionada a que área:
Atenção em saúde

Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição)
Hospital Vicente de Paula/ Hospital Regional de Propriá

Autor(es) Principal
Maria Luiza Bezerra Oliveira
Maria Luiza Bezerra Oliveira
Autor(es)
Ellen Kryshna Amorim Dias
Maria Antonia Martins
Laise Vasco Dantas Melo

Situação atual da experiência
Concluída/finalizada

Data de início da experiência
2021-01-01

Contextualização/introdução
Desde novembro de 2014 a Maternidade do Hospital está habilitada pelo Ministério da saúde na Rede cegonha, atendendo os critérios impostos, dispõe de 16 leitos de alojamento conjunto, 04 leitos de pré-parto e 04 leitos de UCINco, contamos com uma equipe médica de 06 obstetras, 05 neonatologistas e 07 anestesistas, 04 enfermeiros obstetras contratados via PSS, 18 enfermeiros assistenciais que possuem especialização em obstetrícia e/ou neonatologia, atendemos 16 municípios da região do Baixo São Francisco e assistimos em média 100 partos ao mês. O parto é um evento singular. Assim, o respeito e valorização das vivências de cada mulher-mãe são fundamentais à humanização do processo parir/nascer – período que compreende o início do trabalho de parto, parto e nascimento – ganhando centralidade o entendimento de que os modos como os sujeitos elegem determinadas opções de viver, organizam suas escolhas e criam possibilidades para satisfazer suas necessidades, desejos e interesses é um processo que se dá no contexto da própria vida, consubstanciado pelos princípios que sustentam o processo gestar, parir/nascer com responsabilidade ( CABRAL, 2007). A perspectiva de humanização dentro das maternidades está inserida dentro dos processos de produção da saúde, como: qualidade técnica e ética do cuidado, mediante a postura acolhedora dos profissionais de saúde e da interação com as mulheres- gestantes e parturientes e suas famílias dentro de cada contexto cultural. A Maternidade do Hospital Regional de Propriá tem procurado estabelecer dentro da política de Humanização do Parto e Nascimento com á adoção de medidas e procedimentos sabiamente benéficos na atenção ao parto, evitando- se práticas intervencionistas e desnecessárias que não beneficiam nem a mulher nem ao recém-nascido. A equipe de Enfermagem comandado pelo enfermeiro Obstétrico tem valorizado dentro do contexto do parto a produção de vínculo, apoio, confiança e tranquilidade, atenção acolhedora com privacidade, mais autonomia, privilegiando condutas que rompam com a infantilização e despersonalização, muitas das vezes, impostas às mulheres, especialmente, no processo parir/ nascer. Destaca-se neste processo de humanização do parto o papel do enfermeiro obstétrico no acolhimento e apoio deste empoderamento feminino das parturientes e também no poder de decisão dentro da equipe multidisciplinar diante das condutas intervencionistas que descaracteriza o parto natural, mudando o cenário de parto da Maternidade Regional de Propriá.
Nesse espaços observamos a necessidade de intervenção no processo de parir- nascer do binômio mãe /feto, umas vez que as boas práticas de parto e nascimento estavam desfiguradas e violadas. Os indicadores de parto cesárea cada vez aumentando, com o aumento de nascimentos de bebês necessitando de cuidados intermediários, aumento da infecção de ferida operatória, ausência do aleitamento materno nas 1 horas de nascimentos e algumas práticas de violência obstétrica pelos obstetras . No contexto parto e nascimento a enfermagem obstétrica executa seu papel sempre visando o poder da mulher e do modo que ela deseja parir, respeitando a individualidade e as culturas de cada uma. .
O objetivo desta experiência é mudar o cenário de parto de uma maternidade de Sergipe com o enfermeiro Obstétrico no processo Parir/Nascer.
A experiência teve início em Janeiro de 2021 com a inserção do enfermeiro obstétrico nos setores desde o acolhimento dessa parturiente até o puerpério com o papel ativo desse profissional nos partos e assistência ao binômio mãe/filho, construção de protocolos e fluxos na assistência materno infantil dessa maternidade, reuniões com a equipe de enfermagem e com os médicos acerca do novo modelo adotado na maternidade. As mulheres parturientes começaram a ser acolhidas desde a classificação de risco pelo enfermeiro obstétrico explicando todos os procedimentos que serão realizados e sua finalidade, enfatizando a importância de uma participação mais ativa no processo parir/ nascer da família com a presença do acompanhante, seja do sexo feminino ou masculino, no trabalho de parto, parto e pós parto; instituídos ações para minimizar a ansiedade e a dor no trabalho de parto com a adoção de métodos não farmacológicos/ psicoprofiláticos de alívio á dor que compreende medidas de conforto e apoio as mulheres-parturientes, tais como: massagens relaxantes, banhos mornos, exercícios com bola suíça, incentivo à manutenção de posições verticalizadas, ou seja, a deambulação e permanência na posição de cócoras por períodos suportáveis pelas mulheres-parturientes no pré parto, ofertado a todas as mulheres de acordo com seu desejo. Essas ações executadas são importantes estratégias na humanização da atenção ao parto e ao parto natural sem a presença de intervenções ou condutas medicalizadas que em algumas das vezes trazem malefícios para a saúde da mãe e do feto. Nessa lógica de ação, o parto normal foi incentivado dentro da maternidade com o maior número realizados por enfermeiros obstétricos em um ambiente acolhedor com a participação do acompanhante dentro das boas práticas de parto e nascimento dentre elas: Verticalização nas posições de parir com o uso de banquetas de parto, posição de quatro apoios, entre outras de escolha da mulher; uso da penumbra na sala de parto; temperatura ideal para o nascimento na hora do parto; contato pele a pele Mãe/ RN; clampeamento tardio do cordão e realizado pelo acompanhante e aleitamento materno na primeira hora de vida do RN.
Com este novo cenário dentro desta maternidade observou-se na linha do tempo de março a Julho de 2021 tivemos uma média de 470 partos sendo 72% assistidos por enfermeiros e 28 % por médicos obstetras, observamos também o aumento de assistências com a contratação dos enfermeiros obstetras. Apresentamos 59% de parto normal e 41% de parto cesariano, mesmo ainda estando acima do recomendado pela OMS, notamos uma diminuição no quantitativo de partos cesarianos Das práticas recomendadas pela rede cegonha e pelo MS que devem ser incentivadas notamos que 100% dos partos tiveram clampeamento oportuno do cordão umbilical, 94% de contato pele a pele, 36% de partos em posições verticais e 3,66% de episiotomia no total de partos normais assistidos nessa maternidade. A maternidade de Propriá tornou-se referência em parto humanizado na região do baixo São Francisco e reconhecida pela Secretária de Estado de Sergipe, reconhecendo o trabalho da equipe de enfermagem em conjunto e ofertando melhorias de equipamentos e insumos para esta instituição.
Os resultados alcançados ultrapassaram as expectativas iniciais: o fortalecimento da enfermagem obstétrica no âmbito regional, dando mais visibilidade à categoria, por parte dos usuários do serviço e outros profissionais, possibilitando conhecer suas atribuições; o reconhecimento da enfermeira obstetra como agente significativo na mudança da atenção obstétrica; a valorização dessa profissional na instituição e no cenário local, bem como o fortalecimento de sua autonomia; a sensibilização da equipe de saúde da maternidade quanto à promoção e implementação das boas práticas recomendadas pela OMS e pelo MS na atenção ao parto e nascimento; o empoderamento dos usuários atendidos na instituição; a educação em saúde e formação para novos profissionais que estão em processo de aprendizado. Dificuldades tiveram neste percurso com a diminuição da medicalização no processo parir- nascer e foram vencidas mostrando o fortalecimento do processo de trabalho da equipe multidisciplinar no cuidados ás mulheres. As vivências desta prática assistencial demarcam a potencialidade do enfermeiro e concorrem para que a humanização do processo parir/nascer ultrapasse o campo do direito, quebrando resistências dos profissionais de saúde para sua efetiva implantação nos serviços de saúde e, mais especialmente, no âmbito do Sistema Único de Saúde, aumentando os indicadores parto normal, satisfação dos usuários e diminuição da morbi-mortalidade materno-infantil.

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