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Melhoria do Acesso à Pessoa com Estomia de Eliminação no Município de Florianópolis a Partir da Implantação de Dois Fluxogramas de Atendimento

Tema do relato:
Enfermagem no contexto das Redes de Atenção à Saúde/do SUS

Sua experiência está relacionada a que área:
Gestão em saúde

Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição)
Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis

Autor(es) Principal
Guilherme Mortari Belaver
Autor(es)
Cilene Fernandes Soares
Elizimara Ferreira Siqueira
Priscilla Cibele Tramontina

Situação atual da experiência
Em estágio avançado de execução

Data de início da experiência
2021-05-26

Contextualização/introdução
Confeccionar uma estomia representa um marco na vida da pessoa que se submete a tal procedimento, despertando modos singulares de enfrentamento desta nova condição. Adaptar-se a ser ou estar com estomia constitui um processo complexo. Cuidar dessas pessoas também se constitui como algo complexo, sendo necessário que o profissional desenvolva habilidades e competências adequadas para atuar na adaptação e reabilitação (PAULA; TAKAHASHI, 2014). Na Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis (SMS Florianópolis), o atendimento e acompanhamento da pessoa com estomia de eliminação é realizado no Serviço de Referência à Pessoa com Estomia (SRPE), vinculado à média complexidade, onde é realizado o cadastro para recebimento dos materiais de estomia, gerenciamento destes materiais, consultas de enfermagem para educação em saúde com foco no autocuidado, identificação de dificuldades com uso dos dispositivos ou complicações. O SRPE atua como suporte às equipes de saúde da família, em especial aos enfermeiros de equipe, no que tange a dúvidas ou necessidades relativas às pessoas com estomia. Atualmente, 278 pessoas com estomias estão vinculadas ao SRPE. Os materiais de estomias são fornecidos mensalmente ao município pela Secretaria Estadual de Saúde de Santa Catarina (SES/SC). Aos enfermeiros da Atenção Primária à Saúde (APS) é reservado o cuidado básico à pessoa com estomia, incentivo ao autocuidado, à promoção da saúde e à prevenção de complicações. O SRPE conta atualmente com um enfermeiro, que realiza os atendimentos à pessoa com estomia e familiares, atua na prevenção e tratamento de intercorrências e adaptação aos equipamentos, além do suporte assistencial aos enfermeiros da APS. Tem suporte da gerência de enfermagem do município.
O SRPE tinha modelo de atendimento em demanda espontânea, no qual as pessoas procuravam sem agendamento prévio. Entretanto, nem sempre o enfermeiro tinha horário disponível para atender no mesmo dia ou se encontrava em atendimento externo, fazendo com que a pessoa precisasse retornar em outro momento. Alem disso, a demanda de atendimentos no SRPE tem aumentado, sendo necessário organização do serviço. Os canais de comunicação até então instituídos (e-mail e telefone convencional), eram pouco acessados pelos enfermeiros da SMS Florianópolis e pessoas com estomias, fazendo com que o acesso ao SRPE pelos enfermeiros ocorresse de maneira informal, através de telefone pessoal. Devido ao crescente número de pessoas que tem realizado confecção de estomia, necessidade de organização dos fluxos para atendimento, melhor controle dos materiais e melhora do acesso e agilidade no atendimento às demandas, foram criados dois fluxogramas que contemplam as maiores necessidades do SRPE, enfermeiros da APS e das pessoas com estomias e seus familiares. Os fluxogramas estão disponíveis no site da Enfermagem da SMS Florianópolis: http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/saude/index.php?cms=protocolos+de+enfermagem&menu=12&submenuid=1478. São divulgados para enfermeiros, demais profissionais da APS e pessoas com estomia e seus familiares.
Descrever os resultados da implantação de dois fluxogramas de atendimento à pessoa com estomia no município de Florianópolis
A necessidade de organizar os fluxos de atendimentos partiu da vivência do enfermeiro do SRPE. Não existiam fluxogramas oficiais para o atendimento à pessoa com estomia e houve entrada de novos servidores na rede, que precisavam ser orientados quanto aos fluxos de atendimento. Os fluxogramas surgiram como produto de atividade de uma disciplina do Mestrado Profissional em Enfermagem, realizado pelo enfermeiro do SRPE, na qual era necessário desenvolver um projeto assistencial para melhorar alguma situação da prática diária. Foi utilizada a metodologia do ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act), que significa Planejar, Fazer, Checar e Agir. Visa identificar as situações que precisam ser melhoradas, testar alterações nas rotinas, monitorar as ações instituídas e sua repercussão na qualidade da assistência e segurança do paciente (ALPENDRE et al, 2017). Primeiramente foi realizada roda de conversa com gerente de enfermagem e enfermeiros da Comissão Permanente de Sistematização de Enfermagem (CSAE) do município de Florianópolis, a fim de levantar as principais necessidades e possíveis melhorias referentes ao cuidado à pessoa com estomia na SMS Florianópolis. A partir disso, o enfermeiro do SRPE criou os fluxogramas, que foram validados primeiramente por enfermeiros da CSAE e, posteriormente, por enfermeiros da APS, média complexidade e gestão através de escala likert, obtendo índice de validação de conteúdo de 0,96 para o fluxograma “Inserção da Pessoa com Estomia de Eliminação na Rede Municipal de Saúde de Florianópolis”, e 0,95 para o fluxograma “Fluxo de Materiais de Estomias de Eliminação na Rede Municipal de Saúde de Florianópolis”. A partir disso, os fluxogramas foram divulgados aos enfermeiros da SMS Florianópolis através de transmissão ao vivo no dia 26 de maio de 2021, quando foram então instituídos oficialmente na SMS Florianópolis. Como partes dos fluxogramas estão colocados os canais oficiais de comunicação com o SRPE. Além do e-mail e telefone convencional já existentes, também foi criado contato de WhatsApp®, além de tabela compartilhada com os Centros de Saúde (CS), na qual cada CS tem conhecimento sobre as pessoas com estomias vinculadas à área de abrangência, materiais em uso e data de último envio dos materiais ao CS. Foi incluído no fluxograma “Inserção da Pessoa com Estomia de Eliminação na Rede Municipal de Saúde de Florianópolis”, os serviços hospitalares em que são realizadas as confecções de estomias, para que o enfermeiro do serviço faça contato direto com o SRPE, a fim de facilitar o fluxo da pessoa com estomia e seu familiar. O fluxograma foi enviado a todos os hospitais da região em que são confeccionadas estomias.
A partir da experiência desenvolvida, foi possível perceber melhorias no processo de trabalho do SRPE e maior conhecimento dos fluxos de atendimento por enfermeiros da SMS Florianópolis. Em relação ao fluxograma “Inserção da Pessoa com Estomia de Eliminação na Rede Municipal de Saúde de Florianópolis”, houve maior participação dos enfermeiros da APS no gerenciamento do cuidado, seja para questões organizacionais, seja para questões de manejo de adaptação ao material de estomias ou complicações. Através das falas dos profissionais é possível perceber o ganho de conhecimento a partir desse processo de troca de saberes, influenciando nos cuidados e orientações fornecidas. Desde a implantação do fluxograma, 30 enfermeiros da APS já realizaram contato através de WhatsApp® e 15 através de e-mail, além dos realizados por telefone convencional. Às pessoas com estomias e seus familiares, o WhatsApp® do SRPE estar incluído no fluxograma facilitou o acesso pela troca de mensagens síncronas e assíncronas e realização de teleconsultas. Desde a implantação do fluxograma foram atendidas 65 pessoas com estomias ou familiares pelos canais de comunicação, sendo o WhatsApp® a de uso mais freqüente. 31 novas pessoas foram inseridas no SRPE desde a implantação do fluxograma e suas falas são de que ter horário marcado para atendimento e um canal de comunicação facilitado ajudam no processo de adaptação aos equipamentos de estomias e esclarecimento de dúvidas. A descrição dos documentos necessários para cadastro no corpo do fluxograma tornou mais fácil para o enfermeiro do SRPE a gestão desse processo, visto que anteriormente, era comum a falta de alguns documentos, por não estarem descritos oficialmente em algum local e, portanto, não serem de conhecimento da maioria dos profissionais. Não ter todos os documentos necessários ao cadastro implica em não ser possível realizá-lo, o que pode atrasar o recebimento dos materiais pelas pessoas com estomia. Anteriormente ao fluxograma, os processos ficavam aguardando em média de um a dois meses para serem realizados, devido falta de documentos. A partir da instituição do fluxograma, as pessoas chegam com todos os documentos necessários, na maioria das vezes, sendo possível realizar o cadastro no mesmo dia. Nos casos em que algum documento falta, é possível encaminhá-lo ao SRPE através do WhatsApp®, agilizando o cadastro. A falta de algum documento não implica deixar a pessoa sem material, visto que o SRPE mantém um estoque mínimo para atendimento às demandas. Em relação ao fluxograma “Fluxo de Materiais de Estomias de Eliminação na Rede Municipal de Saúde de Florianópolis”, houve maior conhecimento pelos enfermeiros da rede sobre o fluxo de envio de materiais, desde a saída da SRPE até chegar ao CS. Também ficou claro para os enfermeiros da APS o fluxo de envio ao SRPE dos materiais devolvidos pelas pessoas com estomias ao CS, visto que anteriormente, os materiais chegavam no SRPE sem identificação, não deixando claro o que tinha acontecido com a pessoa que o utilizava e o motivo da devolução. Com o formulário de devolução, é possível identificar de qual CS o material foi enviado, quantidade, pessoa que utilizava, motivo da devolução e enfermeiro que encaminhou. Isso facilita o controle dos materiais devolvidos e o contato com enfermeiro que realizou a devolução, em caso de dúvidas. Desde a criação do formulário, 75 registros de devolução foram realizados. As tabelas compartilhadas entre SRPE e CS informam quais pessoas estão sendo acompanhadas e recebendo materiais, quais são eles, data do último envio e data de recebimento, esta última preenchida pelo CS. Facilita o informe de alterações e melhor controle sobre envio e recebimento de materiais, tornando mais seguro o processo de envio e recebimento. Atualmente são 46 tabelas compartilhadas, uma para cada CS, sendo que existem 49 CS no município. O fluxograma também deixa claros os caminhos para devolução de material e solicitação de reavaliação em caso de necessidade.
A experiência se mostrou importante, pois tornou oficial para os enfermeiros da APS da SMS Florianópolis os percursos que a pessoa com estomia realizam na rede, facilitando o acesso ao SRPE e aos materiais necessários para o cuidado, além do atendimento às intercorrências que porventura aconteçam. O uso do WhatsApp® facilitou muito o acesso dos profissionais, usuários e familiares ao SRPE, visto não ser necessário deslocamento até o serviço para solucionar demandas. Os fluxogramas se mostram como qualificador para monitoramento da rede, o que é possível perceber a partir da qualidade das informações repassadas pelos enfermeiros da APS que, anteriormente, não tinham conhecimento claro de como acontecia o atendimento à pessoa com estomia na rede. Essa experiência pode ser considera inovadora, pois melhora a gestão de recursos, aproxima o serviço de média complexidade aos enfermeiros da APS, reforça o papel do enfermeiro como gestor do cuidado à pessoa com estomia e fornece acesso facilitado a um serviço de referência. O uso dos fluxogramas pode ser facilmente utilizado em outras instituições, sendo necessários ajustes conforme realidades e recursos locais. Como dificuldades na implantação estão a pouca participação de enfermeiros do nível hospitalar. Foi reforçada com as instituições a existência dos fluxogramas e canais de acesso ao SRPE. Foi observado que uma rede integrada e com fluxos estabelecidos promove a melhoria do acesso às pessoas, ao mesmo tempo em que dá suporte aos enfermeiros da APS. Essa padronização e integração são fundamentais para o bom funcionamento do SRPE, servindo como retaguarda assistencial aos enfermeiros da APS e como ferramenta de acesso às pessoas com estomias e seus familiares.

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