MAMANALGESIA: ESTÍMULO À AMAMENTAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO DA VACINA BCG EM ALOJAMENTO CONJUNTO

Tema do relato:
Assistência à Saúde na Linha de Cuidado Materno Infantil

Sua experiência está relacionada a que área:
Atenção em saúde

Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição)
Hospital de Clínicas de Porto Alegre

Autor(es) Principal
Ana Paula Orlandi Ghizzoni
Autor(es)
Helga Geremias Gouveia
Silvania Edinara Lima Witt
Letícia Becker Vieira
Marcia Simone de Araujo Machado Siebert
Valéria Lindner Silva
Rosane Foesten da Silveira
Bianca Darella Bueno de Quevedo
Elisangela Davide Prata Pedroso

Situação atual da experiência
Em estágio avançado de execução

Data de início da experiência
2021-04-01

Contextualização/introdução
No ano de 2019 foi implantado o processo de aplicação da vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin) na Unidade de Internação Obstétrica (UIO), localizada no 11 Sul no Hospital de Clínicas de Porto Alegre/RS (HCPA), no qual todos os recém-nascidos deveriam ser vacinados até o dia da alta. A administração do imunobiológico BCG na UIO está em consonância às orientações Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde e tem o objetivo de ampliar a cobertura vacinal e prevenir as formas graves de tuberculose (miliar e meníngea). Na atual política de saúde brasileira, a vacinação é considerada uma atividade executada, preferencialmente, pela Atenção Primária à Saúde (APS) e em nosso município tem-se a instrução normativa em que expande para as maternidades de hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a administração da BCG. Percebeu-se que com aplicações da vacina com recém-nascido ao seio materno, seu choro diminuía e a ansiedade da mãe também. Observando esse processo e com conversas entre equipe de Enfermagem e Consultora do Aleitamento Materno (No HCPA a consultora em lactação surgiu em 1996, como parte da Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Essa profissional é membro da equipe de saúde tendo como funções promover, proteger e apoiar o aleitamento materno) identificou-se que a incorporação da técnica de mamanalgesia traria ganho significativo no que diz respeito a humanização da assistência na Unidade em tela. Ganhos esses de conforto para o recém nascido, durante um procedimento considerado tão doloroso, centrar a mãe no recém nascido e manter o contato físico entre o binômio. Segundo Galvão, et al (2015) deve-se centrar a mãe a atenção do bebê, para que a preocupação do enfermeiro seja a ação terapêutica e a responsabilidade da mãe será de acalmar e tranquilizar o recém nascido. É notório a dificuldade de eliminação total da dor em recém nascido durante procedimentos invasivos, mas podemos diminuir sua intensidade e quantidade. Baseado nessas circunstâncias, podemos utilizar medidas não farmacológicas para aliviar a dor durante a vacinação em RN, sendo a principal a amamentação, pois ela promove diversos vantagens ao recém nascido e a mãe, alimenta a criança e fortalece vínculo entre o binômio devido ao conforto, proximidade e aconchego do colo, diminuindo suas emoções em momentos de dor e desconforto. (MOURA et al, 2021) A dor é caracterizada como um evento que pode ser de origem sensorial ou emocional que afeta os tecidos do corpo. Sendo classificada como o 5 º sinal vital e todos os usuários têm direito de ter a sua dor avaliada e tratada (CALASANS; MAIA; SILVA, 2016). No recém-nascido (RN) não é diferente, estudos apontam que a partir da 7º semana de gestação através de receptores sensitivos a dor já é desenvolvida e na 22º semana de vida intra-uterina o feto já é capaz de sentir a dor (CALASANS; MAIA; SILVA, 2016). O uso de instrumentos como as escalas para avaliação da dor e as intervenções não farmacológicas são essenciais para a prevenção e controle álgico. Como é o caso do Aleitamento Materno (AM) usado como medida não farmacológica para alívio da dor no recém-nascido durante a vacinação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as vacinas injetáveis são uma fonte de dor para a criança. Estudos mostram que 40% dos pais se preocupam com a dor durante a vacinação e 95% desejam formas de reduzir a dor durante esse momento. Destacando a amamentação como uma forma eficaz de reduzir a dor nos procedimentos (BRASIL, 2021). O tratamento da dor durante a imunização reduz o desconforto durante o procedimento e melhora significativamente a satisfação tanto das crianças como das famílias face à experiência da vacinação (GALVÃO et al, 2015). O leite contém agentes que têm propriedades analgésicas ou que pode ser convertido endogenamente em substâncias analgésicas, além de conter maior concentração de triptofano, precursor da melatonina, que serve para aumentar a concentração de beta endorfinas, que é um dos mecanismos para os efeitos nociceptivos do leite (MACIEL et al, 2021) Recentemente, a amamentação também tem sido estudada como uma alternativa para procedimentos dolorosos, com resultados positivos. Para a OMS há uma redução da dor em recém nascidos durante a vacinação e imediatamente após, enquanto amamentados, pois o leite materno contém substâncias que ajudam a minimizar a dor e a sucção é analgésica para o recém nascido (MOURA et al, 2021). A IBFAN Brasil (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar – International Baby Food Action Network) também reforça tal recomendação da OMS. Tal técnica para redução da dor na vacinação de bebês tem sido incorporada em salas de vacinação na Atenção Primária em Saúde do município e no âmbito hospitalar destacamos que a prática da mamanalgesia teve início na UIO do HCPA teve início no mês de abril de 2021. O estímulo e realização da mamanalgesia como técnica não farmacológica no alívio da dor durante a vacinação da BCG na UIO conta com o envolvimento da Equipe de Enfermagem apoiada pela Consultora de Aleitamento Materno. Buscou-se para a implementação desta técnica o embasamento em evidências científicas e também a ampliou-se a discussão junto à equipe multiprofissional atuantes na área materno infantil (médicos, nutricionista, psicóloga e assistente social).
A implementação da técnica não farmacológica no alívio da dor durante a vacinação da BCG denominada mamanalgesia foi vislumbrada pela Equipe de Enfermagem como um cuidado que humaniza as práticas assistenciais oferecidas ao recém nascido, mulher e família na Unidade de Internação Obstétrica. Nesse sentido houve investimento para incorporação deste cuidado inovador na rotina da administração do imunizante. A justificativa da implementação da técnica também perpassa pelas evidências científicas sobre o tema em que entende-se que a amamentação promove diversos benefícios para a mãe e o recém nascido, alimenta a criança e fortalecendo o vínculo entre o binômio devido à proximidade, conforto e aconchego do colo, diminui as suas emoções em momentos de dor, incômodo e exposição ambiental (MOURA, et al. 2021). Com respaldo da Organização Mundial de Saúde (OMS) acerca da recomendação da amamentação ao recém nascido no momento e imediatamente após a vacinação, pois contribui para a redução da dor nos recém-nascidos, sendo a sucção um analgésica para os bebês. O leite materno contém substâncias que ajudam a minimizar a dor. Além disso, a amamentação aumenta a segurança da mãe e diminui a ansiedade. Frente a isso buscamos capacitar a equipe de Enfermagem para implementar a técnica da mamanalgesia com a finalidade de diminuir a dor dos recém nascidos, transmitir maior segurança para a mãe e lançando mão também da estratégia de educação em saúde em que orientamos a mãe e família sobre esse cuidado que alivia o sofrimento do bebê e sobre os seus direitos como usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) respaldadas na Portaria do Ministério da Saúde que garante que a criança que ainda está mamando no seio materno tenha sua dor aliviada (BRASIL, 2021). Contudo é uma técnica nova que precisa ser incentivada pelos profissionais da saúde e colocada em prática, pois as evidências já demonstraram muitos benefícios, mas para isso é necessário que profissionais da área da saúde possuam treinamentos sobre como monitorar e reduzir a ansiedade e a dor, a fim de ter adesão positiva, através de um tratamento humanizado. A abordagem adequada pode inclusive reverter experiências insatisfatórias anteriores (MACIEL et al, 2021)
Descrever a experiência do estímulo e realização da mamanalgesia como técnica não farmacológica para alívio da dor durante a administração da vacina BCG na Unidade de Internação Obstétrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Trata-se de um relato de experiência, na perspectiva da Equipe de Enfermagem, a partir da realização da técnica não farmacológica para alívio da dor durante o procedimento da administração da vacina BCG em recém-nascidos em uma Unidade de Internação Obstétrica no Hospital de Clínicas de Porto Alegre/RS. Com início das atividades em abril de 2021 até o presente momento. Para o desenvolvimento deste cuidado anterior a administração do imunobiológico realizamos orientações à mãe sobre aspectos da vacina e sobre os benefícios da mamanalgesia para o seu bebê e certificamos que esta mãe compreendeu e está disposta a colocar em prática esse cuidado. Em um segundo momento colocamos o recém-nascido para sugar o seio materno, observar se ele está bem posicionado, se a pega está correta e se está sugando corretamente. Vale destacar que embora seja uma técnica não farmacológica com baixo grau de complexidade no que tange o cuidado de Enfermagem exigiu-nos o desenvolvimento de habilidade e cuidados por parte da equipe. Uma vez que vacinar o recém nascido no seio materno requer atenção no que diz respeito à posição para a vacinação considerando as especificidades da administração do imunizante BCG (via intradérmica) em detrimento a posição anteriormente adotada em que o recém nascido ficava no berço. Além disso, no processo de aplicação da vacina com recém- nascido ao seio materno envolve além da técnica também as orientações que precisam ser transmitidas para a mãe em uma linguagem de fácil compreensão e nos certificando de que ela compreendeu e dessa forma possa colaborar com o cuidado. Mesmo em um cenário atual de pandemia, foi possível desenvolver a técnica não farmacológica na UIO e incluindo também as mães com diagnóstico de COVID positivos ou suspeitas, conforme a Nota Técnica do Ministério da Saúde de 2020, em que reforça a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a manutenção da amamentação, inclusive e especialmente na primeira hora de vida, tendo em vista que os benefícios do aleitamento materno superam os potenciais riscos de transmissão da doença. (MS, 2020)
O oferecimento do seio materno ao recém nascido para sucção do seio materno durante a vacinação permitiu-nos observar os benefícios tanto para o bebê como para a mãe. O recém nascido fica mais tranquilo no colo da mãe, sentindo-se acolhido, seguro e na grande maioria não chora. A mãe se sente mais segura, empoderada, tranquila, diminuindo assim sua ansiedade. Nas situações em que há a participação do acompanhante no momento da execução da técnica também percebe-se a satisfação do familiar – acompanhante em que o recém nascido usufrua deste cuidado. A Equipe de Enfermagem também expressa satisfação no desenvolvimento deste cuidado pois sentem-se satisfeitas em oferecer um cuidado humanizado em um momento em que gera dor e desconforto ao recém nascido e que com o incremento deste cuidado é possível minimizá-lo. Também investimos nas orientações antes e pós vacinação acerca da importância da completude do calendário vacinal oferecido pelo PNI – SUS para proteção da criança frente às doenças imunopreveníveis, possíveis reações da vacina BCG e também reforçando que a prática da mamanalgesia possa ser feita quando o bebê estiver exposto a algum procedimento doloroso. Identificamos como um resultado positivo da implementação desta técnica ao rol de cuidados de Enfermagem na Instituição a contribuição para o não atraso no calendário vacinal, uma vez que um dos maiores motivos da má adesão à vacinação é a insegurança que a mãe e familiar sente na exposição da criança ao procedimento doloroso da vacinação. Conhecendo essa técnica, a mãe sente-se segura e vislumbra uma alternativa para superar o medo e ansiedade ao expor o filho às demais vacinas do calendário. No que diz respeito ao processo de vacinação da BCG na UIO destacamos que produziu-se um material educativo sobre as vacinas do calendário vacinal para ampliar as informações disponibilizadas à puérpera. Tal estratégia aliada às orientações verbais realizadas constitui-se em uma forma de colaborar com a adesão à imunização. Valorizamos o componente da educação em saúde investindo na orientação das doenças imunopreveníveis e na vacinação, uma vez que processo de aprendizado considerando as experiências prévias das mulheres estimula a construção de reflexões, atitudes e possibilidades na recriação da própria maneira de ser e de se cuidar. Investimos na capacitação de toda a Equipe de Enfermagem de modo que para estarem aptas a realizar todo o processo de vacinação que engloba a administração do imunobiológicos, orientações pré e pós aplicação, registros ( Caderneta da Criança, Checagem na prescrição médica, evolução em prontuário eletrônico e Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização- SI-PNI) e estímulo e realização da técnica da mamanalgesia ( quando não há contra indicação à amamentação) são realizadas etapas teórica e prática e também atualização conforme necessidade de melhorias no processo. Isso permite a Equipe de Enfermagem atuar com segurança e qualificação. Vislumbra-se a importância de elaboração de um documento Operacional Padrão (POP) sobre a execução desta técnica, o mesmo encontra-se em construção e da importância de educação permanente sobre o tema.
A atenção qualificada e humanizada que favoreça o cuidado ao recém-nascido e à sua família é uma das premissas da Instituição e o investimento em esta estratégia de cuidado inovador na vacinação – a técnica da mamanalgesia – foi uma meta da Equipe de Enfermagem liderada pelas enfermeiras assistenciais, Chefias e Consultora em Aleitamento Materno. Assim, o cuidado em tela, considerado um ato de humanização, possibilita a construção de vínculos de afeto entre a equipe de enfermagem, RN e a puérpera . Cabe a cada profissional de saúde adquirir conhecimento e ser um agente multiplicador dessa informação, reforçando que o leite materno é um analgésico natural que em sua composição existem substâncias que produzem endorfinas que é um neurotransmissor químico que auxilia no alívio da dor, que além disso traz um reforço na eficácia da própria vacina. Entendemos que o estímulo e orientação de que a mamanalgesia possa ser feita durante as próximas vacinas da criança e também em outros procedimentos médicos que porventura ocasione dor seja disseminado às mulheres e famílias pois é compromisso da Enfermagem o cuidado humanizado e qualificado. Espera-se que outras instituições hospitalares adotem esse cuidado no processo de vacinação e estamos nos instrumentalizando para adoção da técnica da mamanalgesia em outros procedimentos dolorosos em que por ventura o recém nascido necessita ser submetido na Unidade como por exemplo o exame de glicemia capilar uma vez que a humanização é a palavra motivadora das ações de cuidado da Equipe de Enfermagem.

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