No ano de 2019 foi implantado o processo de aplicação da vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin) na Unidade de Internação Obstétrica (UIO), localizada no 11 Sul no Hospital de Clínicas de Porto Alegre/RS (HCPA), no qual todos os recém-nascidos deveriam ser vacinados até o dia da alta. A administração do imunobiológico BCG na UIO está em consonância às orientações Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde e tem o objetivo de ampliar a cobertura vacinal e prevenir as formas graves de tuberculose (miliar e meníngea). Na atual política de saúde brasileira, a vacinação é considerada uma atividade executada, preferencialmente, pela Atenção Primária à Saúde (APS) e em nosso município tem-se a instrução normativa em que expande para as maternidades de hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a administração da BCG.
Percebeu-se que com aplicações da vacina com recém-nascido ao seio materno, seu choro diminuía e a ansiedade da mãe também. Observando esse processo e com conversas entre equipe de Enfermagem e Consultora do Aleitamento Materno (No HCPA a consultora em lactação surgiu em 1996, como parte da Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Essa profissional é membro da equipe de saúde tendo como funções promover, proteger e apoiar o aleitamento materno) identificou-se que a incorporação da técnica de mamanalgesia traria ganho significativo no que diz respeito a humanização da assistência na Unidade em tela. Ganhos esses de conforto para o recém nascido, durante um procedimento considerado tão doloroso, centrar a mãe no recém nascido e manter o contato físico entre o binômio. Segundo Galvão, et al (2015) deve-se centrar a mãe a atenção do bebê, para que a preocupação do enfermeiro seja a ação terapêutica e a responsabilidade da mãe será de acalmar e tranquilizar o recém nascido.
É notório a dificuldade de eliminação total da dor em recém nascido durante procedimentos invasivos, mas podemos diminuir sua intensidade e quantidade. Baseado nessas circunstâncias, podemos utilizar medidas não farmacológicas para aliviar a dor durante a vacinação em RN, sendo a principal a amamentação, pois ela promove diversos vantagens ao recém nascido e a mãe, alimenta a criança e fortalece vínculo entre o binômio devido ao conforto, proximidade e aconchego do colo, diminuindo suas emoções em momentos de dor e desconforto. (MOURA et al, 2021)
A dor é caracterizada como um evento que pode ser de origem sensorial ou emocional que afeta os tecidos do corpo. Sendo classificada como o 5 º sinal vital e todos os usuários têm direito de ter a sua dor avaliada e tratada (CALASANS; MAIA; SILVA, 2016).
No recém-nascido (RN) não é diferente, estudos apontam que a partir da 7º semana de gestação através de receptores sensitivos a dor já é desenvolvida e na 22º semana de vida intra-uterina o feto já é capaz de sentir a dor (CALASANS; MAIA; SILVA, 2016).
O uso de instrumentos como as escalas para avaliação da dor e as intervenções não farmacológicas são essenciais para a prevenção e controle álgico. Como é o caso do Aleitamento Materno (AM) usado como medida não farmacológica para alívio da dor no recém-nascido durante a vacinação.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as vacinas injetáveis são uma fonte de dor para a criança. Estudos mostram que 40% dos pais se preocupam com a dor durante a vacinação e 95% desejam formas de reduzir a dor durante esse momento. Destacando a amamentação como uma forma eficaz de reduzir a dor nos procedimentos (BRASIL, 2021). O tratamento da dor durante a imunização reduz o desconforto durante o procedimento e melhora significativamente a satisfação tanto das crianças como das famílias face à experiência da vacinação (GALVÃO et al, 2015).
O leite contém agentes que têm propriedades analgésicas ou que pode ser convertido endogenamente em substâncias analgésicas, além de conter maior concentração de triptofano, precursor da melatonina, que serve para aumentar a concentração de beta endorfinas, que é um dos mecanismos para os efeitos nociceptivos do leite (MACIEL et al, 2021)
Recentemente, a amamentação também tem sido estudada como uma alternativa para procedimentos dolorosos, com resultados positivos. Para a OMS há uma redução da dor em recém nascidos durante a vacinação e imediatamente após, enquanto amamentados, pois o leite materno contém substâncias que ajudam a minimizar a dor e a sucção é analgésica para o recém nascido (MOURA et al, 2021). A IBFAN Brasil (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar – International Baby Food Action Network) também reforça tal recomendação da OMS.
Tal técnica para redução da dor na vacinação de bebês tem sido incorporada em salas de vacinação na Atenção Primária em Saúde do município e no âmbito hospitalar destacamos que a prática da mamanalgesia teve início na UIO do HCPA teve início no mês de abril de 2021. O estímulo e realização da mamanalgesia como técnica não farmacológica no alívio da dor durante a vacinação da BCG na UIO conta com o envolvimento da Equipe de Enfermagem apoiada pela Consultora de Aleitamento Materno. Buscou-se para a implementação desta técnica o embasamento em evidências científicas e também a ampliou-se a discussão junto à equipe multiprofissional atuantes na área materno infantil (médicos, nutricionista, psicóloga e assistente social).