IMPLANTAÇÃO DE AMBULATÓRIO PARA TRATAMENTO DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM MULHERES

Tema do relato:
Enfermagem no contexto das Redes de Atenção à Saúde/do SUS

Sua experiência está relacionada a que área:
Atenção em saúde

Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - COORDENADORIA DE DESENVOLVIMENTO FAMILIAR

Autor(es) Principal
MANUELA DE MENDONÇA FIGUEIRÊDO COELHO
Autor(es)
MANUELA DE MENDONÇA FIGUEIRÊDO COELHO
VIVIANE MAMEDE VASCONCELOS CAVALCANTE
TIFANNY HORTA CASTRO
JÉSSICA KELLEN MORENO DE FREITAS
BEATRIZ ALVES DE OLIVEIRA
THALIA ALVES CHAGAS MENEZES

Situação atual da experiência
Em estágio avançado de execução

Data de início da experiência
2021-07-20

Contextualização/introdução
A Sociedade Internacional de Incontinência define Incontinência Urinária (IU) como qualquer perda involuntária de urina e pode ser classificada em: de esforço, urgência, mista, transbordamento e funcional (D`ANCORA, 2015). Alguns estudos investigaram a prevalência de incontinência urinária em populações femininas, apontando alta prevalência dessa condição (23,3%). As mulheres referem prejuízo importante em sua qualidade de vida no tocante a área da sexualidade, autoimagem e impacto emocional (SILVA et al., 2013). Diversos tratamentos são indicados para a incontinência, como cinesioterapia (exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico), tratamento farmacológico e terapêutica cirúrgica. Segundo a Sociedade Internacional de Continência (ICS) o tratamento conservador (cinesioterapia) deve ser a primeira linha terapêutica de escolha (MOORE et al, apud CASTRO, ARRUDA, SOUZA, 2017) O tratamento conservador e não farmacológico, de baixo risco e sem custos é a realização dos exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico, trabalhados por meio da contração da musculatura assoalho pélvico (MAP). Essa prática atua na hipertrofia de fibras musculares e recruta os neurônios motores da região de forma a potencializar a força, contração e sustentação dessa musculatura (CÂNDIDO, 2017). A incontinência urinária é uma condição que ainda é permeada de muita desinformação, onde em diversas situações considera-se “normal” a perda de urina a depender da idade, histórico obstétrico entre outros. A enfermagem pode levar orientações imprescindíveis para o reconhecimento desta condição, elucidando as pessoas sobre definição, sinais e sintomas, em especial para os grupos com mais risco de desenvolvê-la. Para além da educação em saúde, a enfermagem pode implementar a terapêutica considerada de primeira escolha: indicação e orientação dos exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico, ensino do treinamento vesical e mudanças comportamentais. Observa-se então a importância da enfermagem no trabalho com incontinência urinária, que além de levar conhecimento, romper estigmas e estreitar os laços das pessoas incontinentes com os serviços de saúde, pode prevenir o aparecimento dessa patologia e ofertar o tratamento da IU, quando já manifesta (OLIVEIRA, 2018). No tocante ao tratamento de IU o enfermeiro estomaterapeuta é um profissional especializado e capacitado para intervir nos casos de IU, facilitando a reabilitação pélvica que poderá eliminar os escapes de urina dessas mulheres, minimizando diversas complicações como prolapsos de órgãos pélvicos, dermatites associadas a incontinência, baixa autoestima entre outros. Atenta-se que não é necessário ser estomaterapeuta para atuar no tratamento de incontinência, mas este profissional precisa possuir conhecimento adequado sobre incontinência e seu tratamento. Enquanto enfermeiras especialistas, professoras universitárias e orientadoras da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (LAEE) da Universidade Federal do Ceará (UFC), despertou-nos o interesse em realizar como atividade de extensão a implantação de Ambulatório de Incontinência Urinária em Mulheres para atender mulheres com queixas de perda urinária. Assim, buscou-se parceria com a Coordenadoria de Desenvolvimento Familiar e equipes da Estratégia de Saúde da Família do município de Fortaleza para implantação do ambulatório para atendimento de mulheres com incontinência urinária. Os autores envolvidos são as enfermeiras estomaterapeutas que coordenam a LAEE, acadêmicas do curso de graduação em enfermagem da UFC, pós graduandos dos cursos de Especialização em Estomaterapia existentes em Fortaleza, os profissionais da equipe e saúde da família da unidade e sua equipe gestora.
Mediante realidade da IU feminina no cenário brasileiro observa-se o fato desta condição ser tão prevalente, impactante na saúde da mulher e ainda tão pouco discutida e trabalhada no âmbito da atenção primária e secundária, justificando assim o interesse e a necessidade de implantação de serviços para atender mulheres com Incontinência Urinária. Em Fortaleza no Ceará, esse trabalho de reabilitação pélvica não é ofertado de forma sistemática e acessível pelo Sistema Único de Saúde, fazendo com que mulheres com incontinência vivam anos com esse problema sem receber tratamento. Essa lacuna na assistência motivou-nos a implantação desse serviço.
Implantar ambulatório para tratamento de incontinência urinária em mulheres.
Relato de experiência, de natureza descritiva, sobre a implantação do ambulatório para tratamento de incontinência urinária em mulheres nas etapas a seguir: 1-Após identificação da necessidade, as enfermeiras docentes sensibilizaram as acadêmicas de enfermagem participantes da Liga Acadêmica sobre a necessidade de desenvolvimento de tal atividade como extensão acadêmica (um dos tripés da universidade) e o impacto positivo sobre a saúde das mulheres. Ademais, estes estudantes teriam benefício em sua formação ao entender melhor sobre a IU e intensificar suas práticas de cuidado. 2-Identificar equipamento de saúde com espaço físico apropriado para a instituição do serviço. Foi necessária uma sala com banheiro que possuísse duas cadeiras, mesa e maca. Identificou-se a Coordenadoria de Desenvolvimento Familiar (CDFAM) como equipamento profícuo para acolher tal experiência. O CDFAM é um equipamento existente no interior do campus do Pici da UFC onde são integradas ações de ensino, pesquisa e extensão em atenção primária à saúde realizadas por estudantes e professores dos cursos da UFC, e que por meio de termo de cooperação com a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, criou em setembro de 2020 a Unidade de Atenção Primária à Saúde Prof. Gilmário Mourão. Esta unidade de saúde atende aproximadamente 14.208 habitantes do entorno. Realizou-se o primeiro contato com a gestão da instituição para identificar o interesse de parceria e a disponibilidade do espaço físico com os equipamentos supracitados. 3-Criação do plano de trabalho com os fluxos e processos a serem instituídos bem como a submissão da proposta a Pró Reitoria de Extensão (PREX), com detalhamento da atividade de implantação, local, atividades a serem desenvolvidas, frequência, alunos e colaboradores envolvidos. 4-Após aprovação do projeto pela PREX tivemos que aguardar que a segunda onda da pandemia de COVID-19 que ocorreu em 2021 cessasse para que pudemos iniciar nossas atividades, tendo em vistas que todo o espaço da unidade de saúde e força de trabalho estava envolvida no atendimento e prevenção da COVID-19. Nesse período, enquanto estávamos em isolamento social, realizamos cursos de atualização sobre a temática, construímos e reunimos os instrumentos necessários para atendimento (ficha de anamnese, protocolos de fortalecimento do assoalho pélvico existentes, ficha de retorno) e capacitávamos os alunos ligantes para atendimento e tratamento da IU. 5-Logo que liberado pela coordenação do serviço, realizou-se reunião com as equipes de saúde da família (enfermeiras, médico e Agente Comunitário de Saúde – ACS) para apresentação do projeto, da implantação dos fluxos e realizar parceria para identificar mulheres com incontinência, encaminhá-las pra atendimento, bem como apoio para possíveis prescrições, solicitações de exames e referências dentro da Rede de Atenção a Saúde se necessário. 6-Foram definidos dois turnos de atendimento fixos para atendimento, com escala dos estudantes de graduação e pós graduação, bem como o quantitativo de mulheres a serem atendidas por turno: dois atendimentos iniciais e quatro de retorno. 7-Na consulta inicial é realizada a anamnese e exame físico de forma a conhecer e entender as queixas urinárias e a situação de cada mulher. Após essa coleta e dados, diagnósticos de enfermagem prioritários são elencados e realizado o planejamento da assistência de acordo com os principais fenômenos identificados. Logo após, segue-se com a implementação do cuidado, onde normalmente é prescrito mudanças comportamentais e exercícios da MAP de acordo com a necessidade/realidade da mulher. Finaliza-se com agendamento do retorno para avaliação do processo e possíveis reajustes no protocolo implementado. 8-Além do atendimento para tratamento das incontinências, a equipe de profissionais e alunos também realizam de forma sistemática atividades de educação em saúde sobre incontinência urinária nas dependências da unidade de saúde de forma a trazer a tona discussão sobre o assunto e propiciar reflexão e conhecimento às mulheres sobre IU.
Desde a implantação do serviço no dia 20 de Julho de 2021, 25 mulheres que apresentaram incontinência urinária já foram atendidas, e todas relatavam prejuízo em suas atividades laborais e sociais mediante a perda e/ou urgência urinária. Em pouco mais de 2 meses, quatro mulheres já receberam alta do programa por total cura dos sintomas, e todas as que continuam em acompanhamento já demonstraram melhora significativa dos sintomas. Das que receberam alta, duas estavam na fila para correção de prolapso graus 1 e 2 que a incomodavam devido a perda urinária, e logo após a correção da sintomatologia e o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, as mesmas, em conjunto com seus médicos optaram pela suspensão do procedimento cirúrgico tendo em vista o custo-benefício para a paciente no momento pós TMAP. Infere-se ainda que 100% das mulheres aderiram a terapêutica implementada, bem como frequência total nas consultas de acompanhamento, demonstrando assim a confiança destas pacientes no tratamento.
Considera-se tal experiência como inovadora tendo em vistas que foi a implantação de um serviço secundário como atividade de extensão universitária para atender mulheres com incontinência urinária, além de ser uma tecnologia leve-dura de baixo custo e de primeira escolha pela ICS para tratamento da IU. Tal Experiência pode ser replicada em diversos cenários, sendo necessário apenas o consultório para os atendimentos , interlocução com os profissionais da atenção básica e o conhecimento do enfermeiro sobre o exame físico, protocolos de fortalecimento da MAP amplamente utilizados por enfermeiros no mundo inteiro, além de treinamento vesical e mudanças comportamentais. A cada retorno, os relatos e pequenas conquistas como dormir uma noite inteira sem ir diversas vezes ao banheiro, deixar de usar forros protetores, não perder urina durante a relação sexual ou mesmo conseguir assistir um culto religioso sem retornar para casa toda molhada, pode-se perceber a emoção dessas mulheres e melhoria da autoestima, com agradecimentos sinceros e emocionantes. Poder contribuir para a saúde e melhoria na qualidade de vida dessas mulheres é a maior lição levamos dessa experiência, demonstrando que quando a academia e os serviços de saúde juntam forças podem fortalecer nosso Sistema Único de Saúde e contribuir para o atendimento integral do ser humano.

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