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FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS OBSTÉTRICOS PARA A CONSULTA DE ENFERMAGEM COM A UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA ULTRASSONOGRÁFICA EM UMA MATERNIDADE FILANTRÓPICA REFERÊNCIA INTERNACIONAL NA SAÚDE MATERNO E NEONATAL

Tema do relato:
Enfermagem no contexto das Redes de Atenção à Saúde/do SUS

Sua experiência está relacionada a que área:
Educação em saúde

Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição)
Hospital Sofia Feldman

Autor(es) Principal
Joyce Maíra Bernardes Ângelo Ventura
Autor(es)
Joyce Maíra Bernardes Ângelo Ventura
Lélia Maria Madeira
Síntia Nascimento dos Reis
Danúbia Mariane Barbosa Jardim
Ludmilla Taborda
Beatriz de Oliveira Machado
Carolina Bahia Giordani
Helen Martins Gandra
Íbera Chaves Neves
Jordânia da Conceição Félix França
Laís Roney Miranda Mairynck
Reginaldo Lemos Ferreira
Raquel Rabelo de Sá Lopes
Solange Clessêncio Ferreira Diniz
Tácila Fagundes L. B. Rodrigues
Vera Cristina Augusta Marques Bonazzi
Valdecyr Herdy Alves
Juliana Maria Almeida do Carmo
Mateus Oliveira Marcelino
Kleyde Ventura de Souza

Situação atual da experiência
Em estágio avançado de execução

Data de início da experiência
2019-03-03

Contextualização/introdução
A consulta de Enfermagem é um ato privativa do enfermeiro a partir de 1986, sendo desenvolvida para uma melhor assistência à saúde, em nível ambulatorial que utiliza componentes do método científico para identificar situações de saúde-doença, prescrever e implementar medidas de Enfermagem que contribuam para a proteção, promoção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo (BRASIL, 1986; BRASIL, 1987). A consulta de enfermagem apresenta-se, pois, como espaço legítimo e autônomo de atuação profissional com o livre exercício dos saberes que competem ao profissional na assistência e cuidado dos indivíduos em suas diferentes necessidades. Além de pontos importantes previstos na lei, como a prescrição de medicamentos, previamente estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde; a prestação de assistência de enfermagem à gestante, parturiente, puérpera e ao recém-nascido e a participação nos programas e nas atividades de assistência integral à saúde individual e de grupos específicos, particularmente daqueles prioritários e de alto risco (BRASIL, 1986). A introdução de novas abordagens tecnológicas como a utilização da USG para conduzir procedimentos de intervenção, pode proporcionar um aumento do sucesso na assistência obstétrica, em gestantes que apresentam condições agudas, crônicas e com risco de morte, através do planejamento de estratégias de triagem, fazendo uso apropriado da tecnologia. Dentre as ações de qualificação da assistência obstétrica, está preconizado o acesso da gestante à US. Deve-se considerar que a complexidade da assistência à gestação, a exemplo dos casos de alto risco, aumenta a indicação clínica para a realização do US, constituindo-se uma importante ferramenta para o estabelecimento do plano de cuidados e na tomada de decisões por parte dos profissionais da assistência obstétrica (NUTTER et al., 2014). O Hospital Sofia Feldman (HSF) é uma instituição filantrópica de direito privado, pertencente à Fundação de Assistência Integral à Saúde (FAIS), localizado na periferia de Belo Horizonte, no Distrito Sanitário Norte em Minas Gerais (MG). Presta atendimento de excelência sendo referência para a comunidade na saúde materno fetal e neonatal, garantindo o atendimento à clientela, seguindo os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Desde a sua criação, a instituição mantém uma gestão compartilhada, e a comunidade é participativa e atua de forma eficaz no controle social. Em 1986, o HSF foi incluído nas Ações Integradas de Saúde (AIS), organizando-se e buscando parcerias e recursos para seu funcionamento, ampliando significativamente o número de atendimento à população usuária do SUS, o que garantiu seu reconhecimento por diversos prêmios (HSF, 2021). O HSF é referência no país e no exterior, na assistência materno fetal e neonatal e possui diversas parcerias nacionais e internacionais. Recebe profissionais e encaminha trabalhadores de diversos seguimentos para outros países (Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, França e Japão). Em uma dessas visitas, realizadas por médicos e enfermeiras foi possível identificar a atuação de enfermeiras (Midwives) na prática do US. Essas instituições são responsáveis pelo ensino e pela regulação profissional de enfermeiros com habilidade de realização do ultrassom (US) obstétrico. A Association of Women’s Health Obstetric and Neonatal Nurses (AWHN), o American College of Nurse Midwives (ACNM), o American Congress of Obstetrics and Gynecologists (ACOG) e o Royal College of Midwives possuem diretrizes (guidelines) para direcionamento e sustentabilidade da prática. Segundo o American College of Nurse-Midwives a incorporação da USG no escopo da prática clínica deve ser realizada a partir de treinamento e educação, que possibilitem ao profissional adquirir habilidades e competências específicas para realização do exame (ACNM, 2010). Em 2013, American Registry of Diagnostic Medical Sonographers (ARDMS) e o Colégio Americano de Enfermeiras Parteiras (ACNM) se uniram para criar uma força-tarefa, bem como um exame de certificação para opcional para Enfermeiros Obstetras (NUTTER et al., 2014). Tendo em perspectiva esse escopo em março do corrente ano 2019, põe-se em ação o projeto pioneiro em Belo Horizonte de ampliar o acesso a população na capacitação de enfermeiros na consulta de enfermagem obstétrica utilizando a ferramenta ultrassonográfica ofertados pelo SUS para a população, A prática da Consulta de Enfermagem com a utilização da USG realizada pela enfermagem obstétrica (EO) no HSF é uma experiência inovadora, que busca atender aos preceitos do SUS, com qualidade, resolutividade, acolhimento e vínculo, de forma universal, visando impactar nos indicadores de saúde destes grupos. Porém, identifica-se que já é uma experiência consolidada em outros países e recomendada pela OMS e ICM (INTERNATIONAL CONFEDERATION OF MIDWIVES, 2019). O Cofen reconhece esta prática, através do Parecer de Relator Cofen nº 206/2015, que dispõem sobre a realização de USG obstétrica pelo EO e por meio da Resolução Cofen nº 627/2020 que “Normatiza a realização de USG Obstétrica por Enfermeiro Obstétrico” em locais onde ocorram assistência obstétrica no âmbito do Sistema Único de Saúde (COFEN, 2020).
A temática da formação de enfermeiros obstétrico em pauta justifica-se por se tratar de uma prática pouco conhecida nos serviços de saúde brasileiros, além de que as discussões sobre a realização da USG por enfermeiros obstétricos encontram em fase inicial e tem gerado polêmicas junto à outras categorias profissionais. Tais desafios deixa clara a necessidade de melhor compreensão desta prática, aguçando o olhar não somente para as questões tecnológicas, mas especialmente, considerando sua relevância no contexto da assistência prestada à população de mulheres usuárias do SUS. Tal ferramenta do cuidado deve ser considerada em sua complexidade na qualificação da assistência oferecida mais do que uma simples dependência da absorção tecnológica pela instituição. A formação de enfermeiros obstétrico para a realização da consulta de enfermagem com a utilização da ferramenta ultrassonográfica permite a ampliação da prática no território nacional contribuindo significativamente para a ampliação do acesso de mulheres ao exame no contexto da saúde materno infantil, da saúde sexual e reprodutiva e dos cuidados ampliados as diferentes condições da saúde das mulheres. Além disso, a utilização da ferramenta no cotidiano dos serviços de saúde pode contribuir para a qualificação do cuidado assistencial com possibilidades de diagnósticos e condutas clínicas mais efetivas no cuidado em saúde das mulheres. O aprimoramento do serviço oferecido para a população e a formação dos profissionais da enfermagem obstétrica capacitados para a prática da Consulta de Enfermagem com a utilização da USG está em consonância com as recomendações evidenciadas nas políticas públicas brasileiras de assistência as mulheres repercutindo na melhoria de indicadores assistenciais de morbimortalidade materna e neonatal, na prática baseada em evidências científicas e no cuidado humano, singular e resolutivo.
Os objetivos descritos para a formação de enfermeiros obstétricos para a consulta de enfermagem com a utilização da ferramenta ultrassonografia firma-se em: 1)Melhorar e ampliar o acesso das mulheres aos serviços de saúde com o acréscimo de profissionais capacitados na realização do exame ultrassonográfico proporcionando redução do tempo de espera; 2)Qualificar o cuidado assistencial as mulheres em diferentes contextos do ciclo reprodutivo; 3)Melhorar a efetividade clínica na atenção aos usuários/pacientes com a realização do exame e possibilidades diagnósticas; 4)Reduzir gastos em saúde através da redução de tempo de internação, diagnósticos mais efetivos e cuidados direcionados as necessidades de saúde individuais; 5)Fortalecer os cuidados de Enfermagem no cotidiano de assistência à saúde das mulheres; 6)Ampliar a satisfação do usuário unidos a uma atenção mais personalizada e singular.
Trata- se de um relato de experiência de um curso de capacitação de enfermeiros obstétrico para a consulta de enfermagem utilizando a ferramenta a ferramenta ultrassonográfica que utilizou como referencial metodológico a formação intervenção e a Política de Educação Permanente em Saúde (EPS). No Brasil, essas iniciativas de educação dos trabalhadores na área da saúde ganharam ênfase a partir do Sistema Único de Saúde e as Diretrizes Curriculares Nacionais, já no ano de 1990. Em 2004, foi estabelecida uma Política de Educação Permanente em Saúde, através da Portaria GM/MS nº 198/04, como estratégia de consolidação do SUS para capacitá-los por meio de um processo permanente de capacitação (BRASIL, 2004). Na implementação da política de educação em saúde, a articulação entre as Instituições e os serviços de saúde potencializa respostas às necessidades concretas da população brasileira, mediante a formação de recursos humanos, a produção do conhecimento e a prestação dos serviços com vistas ao fortalecimento do SUS. Uma das finalidades da Educação Permanente é impulsionar a integralidade, favorecendo a articulação entre a Educação e os trabalhadores, ampliando a capacidade resolutiva dos serviços. Quando se fala em articulação entre a educação e os trabalhadores, uma das premissas é a da interdisciplinaridade que se pretende alcançar com esta proposta (MARIN, 2017). A EPS tem como foco, promover mudanças no processo de trabalho da equipe de saúde, voltada à melhoria da assistência prestada ao usuário (BRASIL, 2004; MACÊDO; ALBUQUERQUE; MEDEIROS, 2014). Neste aspecto, seu potencial para modificar a realidade se justifica no fato de que, essa estratégia detecta lacunas na formação e no conhecimento dos trabalhadores da saúde. O Curso foi ofertado para 04 enfermeiros obstétricos com duração de 8 meses, com uma carga horaria teórica e prática totalizando 384 horas. Como critério de avaliação foi utilizado a avaliação formativa durante todo o processo do curso com atividade baseadas nas metodologias ativas de ensino-aprendizagem e a prática em serviço com supervisão continuada. Após a primeira experiência, em 03 de agosto de 2020 iniciamos a segunda turma de capacitação interna com o ingresso de 04 enfermeiras obstétricas que ainda estão em processo de formação. Em dezembro de 2020 a primeira turma de capacitação externa com ingresso de 03 enfermeiros obstétricos do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), Xavantes localizada no Mato Grosso. O projeto foi idealizado pelo Hospital Sofia Feldman, sendo o curso de capacitação da primeira turma financiando pelo próprio hospital em parceria com Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e apoiado pela Conselho Regional de Enfermagem seccional Minas Gerais (Coren-MG) e Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (Abenfo) seccional Minas Gerais.
Com a formação da primeira turma de enfermeiro obstétrico para a prática da USG obtivemos uma ampliação expressiva na realização dos exames no HSF. Os números revelam que em 2020 das 6.138 ecografias realizadas no HSF, 4.473 foram executadas por enfermeiros obstétricos. Em 2021 das 6.452 ecografias realizadas no HSF, 5.130 foram executadas por enfermeiros obstétricos. Frente a tais números, observa-se que tem havido um aumento no acesso à ecografia obstétrica pela população atendida pelo HSF; aumento da oferta do exame ultrassonográfico obstétrico para as gestantes atendidas na instituição para definição das condutas de seguimento dos casos e elaboração do plano cuidados; diminuição nas taxas de internação de mulheres que dependiam do ultrassom obstétrico para descartar ou não alguma condição mais severa na evolução física e funcional do concepto e/ou relacionada aos anexos – placenta, cordão umbilical e líquido amniótico. A avaliação por meio do USG possibilita um cuidado assistencial singular a usuária na identificação de agravos em saúde que, se não identificados, podem repercutir com potenciais danos a saúde materna e fetal. Assim, com os achados ultrassonográficos os profissionais podem planejar condutas assistenciais qualificadas e diferenciadas as usuárias exercitando os princípios da equidade e integralidade do cuidado em saúde.
O compartilhamento da vivência do Hospital Sofia Feldman na formação de enfermeiros obstétricos para a consulta de enfermagem com a utilização da ferramenta ultrassonográfica revela-se como uma experiência exitosa para o fortalecimento, valorização e visibilidade do cuidado em enfermagem apontando a necessidade de inovação permanente, fortalecimento das práticas avançadas de cuidado e restruturação de saberes em saúde. A socialização do conhecimento e da experiência acumulada pode ser inspiradora e contribuir para o surgimento de outras iniciativas em serviços de saúde no Brasil, potencializando novas estratégias de cuidado na saúde das mulheres, otimizando recursos públicos em saúde e efetivando políticas públicas de qualificação assistencial que têm como centralidade o fazer de enfermeiros obstétricos em suas diferentes áreas de atuação.

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