Este relato de experiência se refere ao projeto de extensão “Promoção da
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) com as juventudes” integrado ao projeto-
matriz “Papel social da universidade no fortalecimento das políticas públicas de SAN”,
que compõe a Rede de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e o Núcleo de
Educação em Saúde, ambos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO). Vale ressaltar, que o projeto-matriz foi aprovado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações/MCTIC, por meio da Chamada CNPQ (MCTIC)
no 016/2016, no âmbito da Rede Latino-Americana de Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional (RedeSSAN). Este projeto foi desenvolvido nos anos de 2018
e 2019. A equipe foi composta por de doze integrantes da UNIRIO (cinco docentes,
uma técnica administrativa com mestrado em Sustentabilidade Ambiental e seis
estudantes da Escola de Nutrição) e três integrantes externos (uma bolsista CNPQ e
uma docente da UFRJ e uma docente da UNESA – ambas da equipe de coordenação
do movimento Comer pra quê? (CPQ).
O projeto teve como objetivos: 1) delinear e experimentar metodologias de EAN
junto aos estudantes universitários no contexto da SAN; 2) promover e incentivar
práticas alimentares adequadas, saudáveis e sustentáveis nos diferentes contextos de
vida deste grupo social.
Para o delineamento das ações de EAN foram considerados três elementos: 1)
Propostas advindas da “Oficina de Criação de estratégias de educação e comunicação”,
que reuniu estudantes de nutrição vinculados ao projeto CPQ (bolsistas e voluntários),
professores da Escola de Nutrição, a equipe do CPQ e profissionais da área de educação
e de comunicação com ampla experiência em desenvolvimento de ações educativas
voltadas ao público jovem. A oficina ocorreu em novembro de 2018 no Núcleo de
Educação em Saúde da Escola de Nutrição da UNIRIO; 2) Os resultados de uma pesquisa
diagnóstica (inicial) para levantamento de informações objetivas e subjetivas sobre o
universo da alimentação (associadas aos temas mobilizadores do CPQ) e as práticas
alimentares dos estudantes frequentadores do Restaurante Universitário (RU),
alcançando 713 estudantes na primeira quinzena de março de 2019;
3) Os dez Temas Mobilizadores desenvolvidos pelo CPQ, que são conectados às
temáticas de SAN.
As ações foram desenvolvidas em diversos espaços e momentos. Seguem
alguns exemplos de ações: a) Painéis Interativos: eram afixados murais na parede
lateral externa do RU da UNIRIO, próximo a fila de entrada. A principal característica
dessa metodologia foi a exposição de uma pergunta provocativa, com espaço e
canetas disponíveis para resposta e interação do público. As perguntas eram
construídas de modo a fazer conexões com o cotidiano de vida dos jovens ou sobre a
interface da alimentação com a sociedade e o planeta; b) Prismas de Mesa: eram
dispostos em cima das mesas do RU com textos escritos em uma linguagem informal
e dialógica (cinco textos diferentes por semana), como em uma conversa de jovem
para jovem, com uso de expressões utilizadas por eles nos diálogos presenciais e em
redes sociais. Sempre continham alguma pergunta para provocar a reflexão sobre o
tema da semana; c) Rodas de Conversa: oportunizaram um diálogo mais direto com
os estudantes sobre os dez temas mobilizadores do CPQ, dos quais foram escolhidos
a partir de uma enquete realizada com os jovens frequentadores do RU. Os diálogos
eram precedidos pela exibição da animação e do vídeo do tema mobilizador; d)
“Valorizando a Cozinha”: exposição de histórias de vida dos trabalhadores da cozinha
do RU para socialização com os estudantes frequentadores. Foram realizadas
entrevistas com os trabalhadores e selecionados trechos das falas com relatos
significativos sobre histórias, curiosidades e afetos de sua relação com a comida e o
trabalho na cozinha; e) Ocupação das Pilastras: essa estratégia trazia no corredor de
acesso ao RU informações sobre uso não sustentável da água em diferentes situações
cotidianas e processos produtivos de alimentos, o consumo de água para beber, bem
como espaços de interação e um QR para mais informações.
Durante todo o processo foram realizadas reuniões para avaliar as estratégias
adotadas e realizar ajustes necessários nos conteúdos, metodologias e cronograma
das ações planejadas. Neste processo foram valorizadas as percepções, reações e
comentários dos estudantes frequentadores do RU sobre as ações realizadas.
As ações desenvolvidas neste projeto possibilitaram uma nova experiência aos
estudantes e docentes da UNIRIO, uma vez que viabilizaram ações de EAN e reflexões
acerca do universo da alimentação e da SAN junto aos próprios estudantes da
Universidade. Nesse sentido, foi possível acessar e mobilizar um público com práticas
alimentares e de vida que tendem a não ser adequados devido à urgência de
praticidade e ao contexto/condições de vida, além de auxiliar na construção de
pensamentos críticos a respeito das temáticas abordadas. Pode-se observar a
receptividade dos jovens universitários as ações propostas, tanto durante a sua
realização das atividades quanto pelo aumento do acesso e interação com as redes
sociais do movimento CPQ. Por fim, pode-se constatar que esta experiência foi
frutífera tanto para os jovens universitários – público de interesse do projeto, quanto
para a equipe de professores e estudantes de Nutrição, que são constantemente
desafiados a criar e adaptar as estratégias educativas e os conteúdos da SAN às
diferentes realidades das juventudes que circulam no ambiente universitário,
contextualizados com o contexto sociopolítico atual.