A Vivência em Agricultura Participativa promovido pelo Coletivo Arte & Escola na Floresta acontece no Centro de Treinamento Agroflorestal do MUSA (Museu da Amazônia), que está instalado no nordeste de Manaus, na floresta que se encontra entre os limites da Reserva Adolphe Ducke e o lago do Puraquequara, no assentamento Água Branca do Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária). Os participantes do Coletivo coordenam as atividades e se responsabilizam pelos grupos de trabalho, a fim de que todos participem e tenham um melhor aproveitamento da vivência.
Duas a três vezes por mês a comunidade local é convidada a passar um final de semana em formação no campo, de forma a aproximarem-se a terra e do processo de produção de alimentos produzidos localmente. Acompanham todas as etapas, desde preparar o solo, plantar, colher, manejar, até processar e cozinhar o alimento com o que a terra tiver disponível pro momento. Técnicos em agroecologia são tutores do trabalho em campo e orientam todas as atividades realizadas em grupo de forma fácil e prática para quem possam ser posteriormente reproduzidas em outros locais, como hortas urbanas, escolas, espaços comunitários.
Durante os dias de Vivência, os participantes entram em contato com a prática da agroecologia e aprendem sobre o manejo de sistemas agroflorestais, sobre fertilizantes preparados com recursos encontrados no local, bem como sobre o valor nutritivo de sementes, brotos, frutas, fermentados e outros alimentos regionais, orientados por nutricionista e pela população local, detentores e saberes e práticas ancestrais da floresta.
As plantas alimentícias não convencionais (PANC) são apresentadas diretamente na horta e por onde se espalham espontaneamente pelo terreno pra facilitar a identificação e passar conhecimentos botânicos. As PANC são difundidas como grande alternativa para a soberania alimentar, considerando o potencial pra promover a sustentabilidade social, ambiental e econômica, uma vez que agricultores familiares locais as produzem facilmente sem a necessidade de agrotóxicos e assim podem levar saúde pra quem consome os alimentos frescos e saudáveis que traçam um caminho limpo e justo até o prato.
Durante as atividades, conhecimentos teóricos são passados e posteriormente discutidos em rodas de conversa, a fim de possibilitar o diálogo e facilitar o aprendizado. Partilhas faladas, troca de livros, filmes e manifestações artísticas são esperadas nesse momento. O objetivo maior é que a comunidade local entenda os problemas da alimentação na região amazônica e se coloquem como sujeito de ação pra mudanças individuais e coletivas. Ao despertar de como fomos ensinados a comer de uma forma muito distante do ideal pra saúde de todos e de como as políticas públicas podem melhorar essa situação, as vivências acabam se tornando uma formação de multiplicadores, capazes de partilhar com a sociedade a importância da saúde do solo, o respeito aos alimentos que não se dão bem com o clima quente e úmido e, assim, não mais pedir por batata portuguesa, tomate e alface, mas sim ariá, cariru, jurubeba e tantos outros encontradas abundantemente em nossa terra. Na mesma linha, essa comunidade desperta para o direito de todos à alimentação adequada.
A Agricultura Participativa fornece conhecimentos teóricos e também práticos. A ideia é que a comunidade local passe por uma formação do campo de forma que sempre haja troca do trabalho manual por produtos agrícolas, por isso cada participante leva pra casa um buquê com PANC e outros produtos de baixo processamento produzidos pelo coletivo. Assim os participantes podem dar continuidade ao que foi vivenciado cozinhando em casa com as PANC da forma que aprenderam em comunidade.
Entre as atividades já realizadas durante as vivências em agricultura participativa, estão a colheita do milho agroflorestal e processamento de pamonha, mutirão para plantar mudas frutíferas, colheita de urucum e processamento do colorau, o beneficiamento do côco seco pra obtenção de óleo de côco artesanal, fermentação de bebidas e até mesmo a construção rústica de uma cozinha e um forno segundo bases da bioconstrução. Em todas as vivências há a elaboração de menu PANC executado por muitas mãos, considerando o que a terra tem disponível pra ser colhido e o que a criatividade dos participantes pode oferecer. Após o encontro, documentos como artigos, receitas e vídeos de registro do encontro, são distribuídos pra divulgar essa nova forma de cultura alimentar e estimular a continuidade das ações.