A psicóloga sanitarista Camilla Franco, subsecretária de saúde em Niterói, destacou que a resposta à Covid-19 adotada por Niterói evitou que a cidade virasse epicentro da pandemia no estado do Rio de Janeiro, especialmente, por possuir um alto número de idosos, cerca de 17% da população de 513 mil habitantes. “Niterói conseguiu achatar a curva de transmissão da Covid-19 e apresentou a menor taxa de letalidade da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro”, apontou Franco.
O comitê de crise instituído pela prefeitura de Niterói adotou 47 medidas para proteger a população e manter as pequenas e médias empresas. “Os desafios agora são avançar na reorganização dos serviços de saúde, manter a população engajada no enfrentamento à doença, retomar as atividades e amparar às famílias carentes”, elenca Camilla Franco.
A subsecretária de saúde destacou ainda outras ações de enfrentamento à Covid-19, como a testagem massiva dos sintomáticos, com a realização de 70 mil testes coordenados pela APS; a sanitarização das ruas, comunidades e unidades de saúde; a abertura do primeiro hospital Covid do país com 140 leitos; a distribuição de máscaras na cidade e; a entrega de kits de higiene para as famílias carentes pelos agentes comunitários de saúde que faziam ao mesmo tempo atividades de orientação.
“Apesar de oferecermos o centro de quarentena para favorecer o isolamento domiciliar, o equipamento teve pouca adesão mostrando que a população, de fato, confiou no acompanhamento dado pela APS e pelo médico de família no território para fazer o isolamento doméstico”, diz Camilla Franco.
Em Niterói, a população de rua identificada pelos Consultórios de Rua foi conduzida para hotéis para garantir o cuidado. Outra ação do município, foi a realização de busca ativa pela equipe de Saúde da Família na comunidade após detectada a circulação do vírus no esgoto sanitário. “A presença da Universidade Federal Fluminense e da Fiocruz no município permitiu análises do comportamento da epidemia e auxiliou na tomada de decisão do comitê de crise. Vivenciamos a relação íntima entre a ciência e o serviço”, afirmou a sanitarista.
Camilla Franco apontou que o desafio atual da gestão municipal é aumentar a socialização sem aumentar a transmissão da Covid-19. “O plano de transição gradual para o novo normal passa pela educação em saúde e comunicação com a população. A gente precisa trazer os conceitos básicos da APS, dos agentes multiplicadores no território, da conversa clara com as pessoas. As associações de moradores são fundamentais nesta etapa, assim como as rádios locais. Tem um novo normal na forma como as equipes de saúde estão conseguindo promover prevenção e promoção da saúde com a comunidade, em uma lógica onde não é mais possível fazer as rondas e encontros presenciais”, explica Camilla Franco.
Para Camilla Franco, o futuro da APS passa pelo aperfeiçoamento de ferramentas de comunicação potencializadas na resposta à Covid-19, como o telemonitoramento que será incorporado em outras linhas de cuidado à saúde pelo município. “A Covid-19 tem que trazer ganhos, não só perdas e dificuldades. Ela precisa trazer uma capacidade de reorganização da gestão e da APS, de toda a rede de cuidado, com um novo olhar”, finaliza Franco.
Outra prática a ser desenvolvida por Niterói será a integração da vigilância em saúde com a rede escolar. “Essa integração vai gerar informação diferenciada na comunidade, com olhar diferenciado”, conta a subsecretária de saúde. Como desafio, Camilla Franco destacou os cuidados pós-Covid-19 para as pessoas com sequelas da doença e, principalmente, priorizar o papel da APS na rede de atenção. “A APS precisa estar presente na fala do gestor em todos os momentos, desde quando ele vai discutir o orçamento, nas ações com a rede hospitalar, na fala com todos os pontos da rede”, finaliza Franco.