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DESAFIOS DO CONTROLE SOCIAL DO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA DO CEARÁ EM TEMPOS DE PANDEMIA COVID-19

Estado: Ceará
Município:Saúde Indígena Dsei Ceara
Data de Início: julho 31, 2021
Situação atual: Estágio inicial de execução.
Vinculação da experiência: Conselho Estadual de Saúde
Parceria com outra instituição: Sim
instituição: Universidade
Autor: cleomarbrdias@gmail.com
Eixo 2 – Atuação direta dos Conselhos de Saúde em ações de comunicação para a população, mobilização, articulação e proteção social para o enfrentamento da pandemia

Nome: GIZELE SOARES MARTINS PORTO E-mail: gizele_porto@hotmail.com


Local

Conselho Estadual de Saúde

Contextualização

A Constituição de 1988 determinou, no artigo 198, que a sociedade participasse da gestão do sistema de saúde. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada, hierarquizada e constituem um sistema único organizado com diretrizes de participação da comunidade. Dois anos depois da referida Constituição, duas leis trouxeram conteúdos importantes sobre essa participação ao abordarem aspectos relacionados ao Conselho Nacional de Saúde. Foram elas: a Lei n. 8.080, de 1990, conhecida como Lei Orgânica da Saúde e a Lei no 8.142 do mesmo ano que garante a participação da comunidade no SUS. Dessa forma, o Controle Social na saúde surge como um marco de muita luta dos movimentos sociais e do movimento de reforma sanitarista, com base na democracia participativa e na cidadania assegurando o Controle Social que defende e fortalece o Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com Carvalho (1995), o “Controle social é expressão de uso recente e corresponde a uma moderna compreensão da relação Estado-sociedade, onde a esta cabe estabelecer práticas de vigilância e controle sobre aquele. A ideia de controle social inspira os Conselhos de saúde para que, com a presença de segmentos sociais tradicionalmente excluídos, possam controlar o Estado, assegurando políticas de saúde pautadas pelas necessidades do conjunto social, e não somente pelos desígnios de seus setores mais privilegiados” (CARVALHO, 1995, p.28). Ao longo dos últimos 20 anos, o fortalecimento das ações de Saúde Indígena tem merecido especial atenção do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a maior instância de controle social do SUS. A participação social indígena, por meio dos conselhos de saúde, ocorreu a partir da aprovação da Lei nº 9.836/99 – mais conhecida como “Lei Arouca”, que criou o Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (SasiSUS), que foi incorporado ao SUS. (BRASIL, 2015) Subsistema de Atenção à Saúde Indígena tem, como uma de suas principais diretrizes, o controle social exercido pelos usuários indígenas a fim de assegurar o planejamento ascendente das ações, considerando as especificidades culturais, históricas, geográficas e epidemiológicas dos povos indígenas no Brasil. A necessidade da criação do SasiSUS é fruto de um longo período de reivindicações dos movimentos sociais indígenas e sanitaristas, organizados a partir dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) e sob responsabilidade federativa. (BRASIL, 2015) Em articulação com o Sistema Único de Saúde (SUS), as instâncias de controle social, no âmbito da saúde indígena, são compostas por Conselhos Locais de Saúde Indígena (CLSI); Conselhos Distritais de Saúde Indígena (CONDISI); e pelo Fórum Permanente dos Presidentes dos CONDISI. (BRASIL, 2015) A participação indígena nas políticas públicas está respaldada por diferentes marcos legais. Em termos internacionais, a Convenção 169 da OIT, preconiza a obrigação dos Estados em consultar os povos indígenas sobre quaisquer medidas que impactem suas vidas e territórios. Assim, também no contexto da pandemia, os povos indígenas reivindicam sua participação em todas as etapas, desde o planejamento até a execução e avaliação, das políticas e ações para enfrentamento da COVID-19. (BRASIL, 2015) O território alvo de estudo é o Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará (DSEI/CE) que está inserido somente neste estado, é composto por 09 POLOS Base, 01 (Um) Núcleo de Apoio à Saúde Indígena (NASI) e 01(Uma) Casa de Saúde Indígena (CASAI). Contempla o total de 18 municípios cearenses onde localizam-se 106 aldeias , 14 etnias; (Anacé, Gavião, Jenipapo-Kanindé, Kalabaça, Kanindé, Kariri, Pitaguary, Potyguara, Tabajara, Tapeba, Tremembé, Tupinambá, Tapuia-Kariri e Tubiba-Tapuia) todos falantes do português, correspondendo a uma população de aproximadamente 27128 (ATT) indígenas, número que é constantemente atualizado. O DSEI/CE tem 13 Conselhos Locais de Saúde Indígena – CONLOSIs e 01 Conselho Distrital de Saúde Indígena – CONDISI. Dessa forma, o presente estudo propõe analisar quais são os desafios do Controle Social do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará em tempos de pandemia da COVID-19. Com proposta dos objetivos específicos: compreender o contexto histórico do Controle social e lei Arouca (9.836/99) que criou o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena; descrever o perfil do controle social do DSEI/CE dentro do contexto da pandemia Covid-19 nos dias atuais; e identificar os desafios do Controle Social no DSEI/CE em tempos de pandemia Covid-19. Será utilizada revisão bibliográfica para fundamentar conceitos e proporcionar uma contextualização adequada para cumprir com os objetivos deste trabalho descritivo, extraindo-se informações de publicações e legislação disponível sobre o tema. Trata-se de um estudo qualitativo e quantitativo, que utilizará informações obtidas em fontes públicas. Será realizada análise de documentos, relatórios técnicos produzidos pelo DSEI, SESAI, bem como relatórios gerenciais da secretaria. Como dados secundários, a base de informação será extraída da Lei de Acesso à Informação, Lei n. 12.527/2011. 1.1. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA O controle social configura um dos mecanismos mais utilizados nas últimas décadas pelo governo brasileiro, visto que possibilita a chamada ‘‘democracia direta’’, permitindo aos envolvidos a participação direta, ou parcial, nas tomadas de decisão e aumentando a eficiência do fluxo de informações e demandas dos grupos envolvidos. Este modelo de gestão se estrutura na forma de conselhos, em diversas instâncias (Municipal, Estadual ou Distrital e Nacional), suas composições são definidas democraticamente e com caráter participativo (TEIXEIRA. ref). A partir desta ambientação é possível compreender que, para a formação destes conselhos é necessário a participação considerável de representantes, e para que as demandas cheguem ao setor Executivo responsável, é necessário que tramitem por todas as instâncias até que sejam avaliadas. Imaginando um fluxograma destas relações pode-se estipular a seguinte ordem: os CONSOLI se reúnem em seus dias predefinidos, acolhem as demandas da população geral, preparam os encaminhamentos e então seus representantes repassam ao CONDISI, que por sua vez tem o papel de encaminhá-las ao DSEI para deliberações. Percebe-se que este é o caso ideal, no qual as reuniões são realizadas presencialmente e tudo transcorre relativamente bem, até chegar ao Executivo. Portanto, eis as questões que norteiam esta pesquisa, quais os desafios que o Controle Social encontra para se manter relevante e ativo em tempos de pandemia da COVID-19? Quais as medidas tomadas pelos membros do Controle Social no DSEI/CE para manter suas atividades, considerando o cenário caótico e incerto que se apresentou desde o início do ano de 2020 até os dias atuais e quais as possíveis implicações, positivas e negativas a respeito das novas metodologias de engajamento utilizadas pelo Controle Social neste período? O território escolhido para a pesquisa pertence ao Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará (DSEI/CE), tendo como motivações a vivência de trabalho, por ser conselheira distrital como segmento de gestão e a militância no SUS e SasiSUS. Dessa forma, a proposta de problematização para o presente estudo é buscar respostas para a seguinte questão: Como o Controle Social no âmbito do DSEI/CE consegue se reorganizar para atender aos desafios impostos pela pandemia de COVID-19?

Justificativa

Considerando as medidas preventivas de enfrentamento da COVID-19, as reuniões de CONDISI e com comunidades foram suspensas. Porém, é fundamental garantir a participação indígena no planejamento, execução e avaliação das ações. Dessa forma, a disponibilização e ampliação do acesso a meios de comunicação é fundamental, assim como criar estratégias alternativas para o envolvimento dos indígenas e suas comunidades. A retomada do Fórum de Presidentes de CONDISI e das discussões do CONDISI são fundamentais para discutir os planos de enfrentamento da COVID-19 e seu monitoramento. No contexto da pandemia, a ausência da execução do Controle Social tem sido um agravante à política pública de saúde da população indígena. Dessa forma, o movimento indígena recorre às ações referentes ao Controle Social com a finalidade de que o SASI-SUS fortaleça a gestão compartilhada e demais demandas da população, especialmente no enfrentamento da pandemia do novo Coronavírus (COVID-19). As ações de atenção primária à saúde são executadas no âmbito dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), mas voltadas para a população indígena residente nas áreas rurais, em aldeias e Terras Indígenas oficializadas pelo governo brasileiro. Dessa forma, ficam fora do cadastro de população assistida pelo SASI-SUS a população indígena que vive em áreas urbanas (por diferentes motivos, tendo ou não uma identidade étnica específica declarada) e boa parcela daquelas que estão em fase de retomada de seus territórios tradicionais. Essa população não coberta pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena acessa o SUS de forma similar aos demais segmentos não indígenas da população brasileira. Pelo contexto exposto, anteriormente, encontra-se a motivação para a realização da presente pesquisa que é por identificar o Controle Social na Saúde Indígena um espaço cuja participação cidadã na luta por direitos é bastante intensa. Assim, surgiu a curiosidade de analisar quais desafios serão enfrentados no contexto da pandemia da Covid-19.

Objetivo

Objetivo Geral Analisar como o Controle Social no âmbito do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará consegue se reorganizar para atender aos desafios impostos pela pandemia de COVID-19. Objetivos Específicos *Descrever o processo histórico da implementação da Saúde Indígena e do Controle Social no DSEI/CE. • Esboçar o cenário da pandemia de COVID-19, desde sua gênese até a situação atual, abordando o que houver de dados atualizados. • Contextualizar os mecanismos de participação social instituídos pela Política Nacional de Saúde Indígena do DSEI-CE no âmbito do Controle Social. • Problematizar as diversas vulnerabilidades dos povos indígenas no contexto da pandemia de COVID-19 e como o Controle Social atua na prática para atender a esta população.

Metodologia

O estudo será caracterizado por uma análise de ordem qualitativa, relacionada às medidas que o Controle Social tem tomado para manter suas atividades no contexto da pandemia de COVID-19. Para a coleta destas informações, realizar-se-á a análise de documentos bibliográficos, elucidando a gênese da política pública e do Controle Social e posteriormente serão realizadas uma série de entrevistas semiestruturadas em profundidade com membros do Controle Social (Conselheiros) no âmbito do DSEI-CE. Ademais, será realizado observação participante nas reuniões e não participativas nas tomadas de decisões, para concretização nestas participações, acontecerá a análise das atas. Será utilizada revisão bibliográfica para fundamentar conceitos e proporcionar uma contextualização adequada para cumprir com os objetivos deste trabalho descritivo, extraindo-se informações de publicações e legislação disponível sobre o tema. Trata-se de um estudo qualitativo e quantitativo, que utilizará informações obtidas em fontes públicas. Será realizada análise de documentos, relatórios técnicos produzidos pelo DSEI, SESAI, bem como relatórios gerenciais da secretaria. Como dados secundários, a base de informação será solicitada ao DSEI por meio de ofício, amparado na Lei de Acesso à Informação, n. 12.527/2011. Os dados serão coletados utilizando a metodologia de entrevistas semiestruturadas em profundidade, que permite ao entrevistado uma certa liberdade nas respostas (por se assemelhar a um diálogo) e ainda auxilia o entrevistador na manutenção do foco do que se quer obter. (GIL, 2010 p.137). Reforçando, de acordo com DUARTE (2005), a entrevista em profundidade se baseia em: As entrevistas serão realizadas virtualmente (considerando o cenário atual), utilizando instrumentos como Google Meet, Zoom e demais aplicativos de videoconferência e serão executadas a partir de dois instrumentos de pesquisa, divididos em questionário semiestruturado e formulário de perguntas fechadas. O público alvo escolhido serão membros estratégicos do Controle Social no âmbito do DSEI Ceará. As observações serão realizadas nas reuniões e serão analisadas nos moldes da pesquisa participante, ilustrada em GIL (2010), considerando que haverá a interação direta entre pesquisador e membros dos conselhos e do Controle Social. Haverá ainda análise das atas redigidas após cada reunião, será realizada a fim de traçar um apanhado a respeito da evolução dos mecanismos utilizados, demandas pautadas e encaminhamentos a serem realizados.

Estratégias

será realizado observação participante nas reuniões presenciais ou por plataformas digitais como Google Meet, Zoom e demais aplicativos de videoconferência,

Resultados Alcançados

Toda pesquisa possui de riscos e benefícios, assim como toda atividade humana, para isto é necessário analisar estes fatores pelo ponto de vista do entrevistado. Para esta pesquisa é possível enumerar alguns pontos que configuram riscos aos entrevistados, são eles: RISCOS: 1. Cansaço ou aborrecimento ao responder questionários; 2. Constrangimento ao se expor durante entrevistas; 3. Constrangimento ou alterações de comportamento durante gravações de áudio e vídeo; 4. Dificuldade no acesso às metodologias de coleta de informação. Estes pontos configuram-se riscos por se tratar de uma população que potencialmente não tenha acesso ou facilidade no manejo às tecnologias atuais de comunicação. Por este motivo é importante considerar esses tipos de riscos. Em relação aos benefícios esperados ao fim do estudo para os participantes e para o próprio Controle Social, é importante mencionar que para os participantes não haverão benefícios imediatos. É possível que, no ato da entrevista, se realize a troca de experiências e a elucidação da natureza da pesquisa, possibilitando ao entrevistado uma imersão maior no estudo. A longo prazo, espera-se como benefícios, para os participantes e para o Controle Social: 1. Acesso a documentação que sirva como contextualização histórica do Controle Social do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará (DSEI-CE). 2. Difusão de informação relevante a respeito da atuação do Controle Social no estado do Ceará; 3. Acesso a um documento educativo, produto que esta pesquisa tem intenção de produzir de forma digital e física em forma de cartilha. 4. Empoderamento sociocultural do papel do Controle Social nas relações entre população e gestão do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará (DSEI-CE), com o intuito final de fortalecer a Política Nacional de Saúde Indígena (PNASPI) no âmbito de seus usuários.

Considerações Finais

Concluo que o intuito da pesquisa é trazer como o controle social da Saúde Indígena se reorganiza em tempos de pandemia Covid-19. Mesmo diante das dificuldades impostas, a instância social continua operante de forma ativa e atuante.