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CAPACITAÇÃO DE CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE SAÚDE VISANDO O CONTROLE SOCIAL E TRANSPARÊNCIA NOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE SAÚDE

Estado: Bahia
Município:Barreiras
Data de Início: fevereiro 26, 2021
Situação atual: Estágio inicial de execução.
Vinculação da experiência: Conselho Municipal de Saúde
Parceria com outra instituição: Sim
instituição: Universidade
Autor: cleomarbrdias@gmail.com
Eixo 1 – Fortalecimento e qualificação da participação social dos Conselhos de Saúde visando exercer o controle social na proposição, fiscalização e controle das ações governamentais..

Nome: Estéfanne Vitória Matos Aragão E-mail: estefannevitoria@gmail.com



Nome: Natacha Soares da Silva E-mail: naatachaasoares@gmail.com


Local

Conselho Municipal de Saúde

Contextualização

No dia 26 de fevereiro de 2020, o Brasil registrava seu primeiro caso de COVID-19, marco que trouxe consigo inúmeros desdobramentos atrelados ao âmbito da saúde. Pouco se sabia, até então, sobre a doença, o que culminou em uma corrida científica em busca das particularidades do vírus, a fim de encontrar um tratamento eficaz e, até mesmo, um imunizante. Governos das esferas federais, estaduais e municipais empregaram esforços objetivando implantar ações de contenção do avanço da contaminação, por meio da instituição de medidas restritivas e de educação da população quanto ao distanciamento social e uso de máscaras, além da antissepsia com o álcool. Nesse dramático contexto, com a falta de leitos hospitalares e a exaustão dos profissionais envolvidos na linha de frente, estabeleceram-se diversos debates acerca da importância da consolidação dos serviços vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS), dada a catástrofe sanitária representada pela doença e seus severos desfechos, como a morte de milhares de brasileiros. A realidade como antes era conhecida foi transfigurada pela pandemia, o que fez surgir a necessidade de reconsiderar também o formato de realização das mais diversas atividades, incluindo as ações do Conselho de Saúde, cuja atuação na manutenção do controle social, importante premissa do SUS, é imprescindível e, mesmo nessa trágica conjuntura, deve manter seu exercício. Nesse cenário, emergem desafios importantes relacionados à participação social na saúde, a destacar a ainda precária formação dos conselheiros dessa área, principalmente no interior. As novas políticas instituídas pelos gestores devem ter suas execuções acompanhadas por esses atores em saúde, e a compreensão do funcionamento, tanto do sistema único de saúde, quanto das unidades de controle social representadas pelos conselhos, faz-se substancial. O presente projeto abarca os municípios da mesorregião do oeste da Bahia, que compreende todo o território do oeste baiano e parte dos pertencentes ao Vale do São Francisco, todas as unidades populacionais envolvidas na experiência são listadas a seguir: Morpará, Santana, Santa Rita de Cássia, Oliveira dos Brejinhos, São Félix do Coribe, Ibotirama, Muquém de São Francisco, Serra do Ramalho, Barreiras, Barra, Macaúbas, Canápolis, Cristópolis, Catolândia, Luís Eduardo Magalhães, Brejolândia, São Desidério, Bom Jesus da Lapa, Baianópolis, Buritirama, Mourão (município de Ibotirama), Paratinga, Serra Dourada, Cotegipe, Tabocas do Brejo Velho, Jaborandi, Correntina, Boquira, Angical. Essa região é fortemente caracterizada pela presença do agronegócio, base da sua economia, além da agricultura familiar que se configura como forma de sustento de uma boa parte dessa população. Além disso, esse recorte do estado conta com uma intensa pluralidade econômica e social, e o acesso à educação e saúde ainda é problemático em uma grande parcela dos agrupamentos populacionais. Dados do IBGE revelam uma renda per capita inferior à renda nacional, acompanhada de uma baixa densidade demográfica e acentuado analfabetismo nessa porção da Bahia. Toda essa conjuntura socioeconômica reflete diretamente em uma dificuldade na compreensão, por parte dos conselheiros de saúde, dos aspectos do funcionamento do próprio SUS e exercício das suas atividades, o que se agrava ainda mais nas calamitosas circunstâncias atuais.

Justificativa

A Constituição de 1988, no artigo 198, determinou a participação social na gestão do sistema único de saúde do país, pontuando que o setor da saúde integra uma rede regionalizada e hierarquizada, pautada na descentralização, no atendimento integral, com prioridade na atenção primária em saúde e na participação da sociedade. Como consequência desse marco histórico, foram instituídas as leis 8.080/90 e 8.142/90 para regulamentar o funcionamento do SUS, as políticas sociais e a promoção, proteção e reestabelecimento da saúde, além do controle social. Um outro princípio importante é a descentralização da participação social, traduzida por meio da municipalização dos serviços. Esse processo ocorre em razão da lei 8.142, que instituiu os instrumentos de controle social em cada instância do governo, determinante para a constituição das Conferências e Conselhos de Saúde, sendo a existência desses últimos condição para o recebimento de recursos financeiros de saúde. Os Conselhos são órgãos colegiados, de caráter permanente e deliberativo, que devem ser compostos de forma paritária e que interferem em políticas públicas de forma a supervisionar, propor e regular os gastos públicos em saúde. O projeto a seguir discutido foi idealizado a partir da compreensão dos obstáculos faceados pelos conselheiros de saúde no exercício de suas funções e da importância da capacitação como meio de atenuar esses empecilhos, visando à atuação das díspares classes populacionais da região para que as ações em saúde possam contemplar também as parcelas mais vulneráveis. São inúmeras as barreiras enfrentadas pelos Conselhos de Saúde na execução das suas ações, e tal realidade tem sido pontuada e discutida pelos próprios membros dessas entidades, pelas universidades e organizações governamentais e até mesmo pela sociedade em geral. Isso abre espaço para que políticas de capacitação sejam implantadas com o intuito de fortalecer o papel dessas entidades na participação social e no exercício da democracia, dispondo sobre as ações adotadas pelo gestor municipal, tão críticas no contexto da COVID-19. Para cumprir esse objetivo e garantir um hábil exercício do controle social, fez-se necessária a qualificação dos conselheiros de saúde da região. Ambicionando essa capacitação, a partir da coadjuvação da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) com o Conselho Municipal de Saúde de Barreiras, deu-se o projeto. Intitulado a partir de seu plano de trabalho como “Capacitação de conselheiros municipais de saúde visando o controle social e transparência nos Conselhos Municipais de Saúde”. No contexto atual, em face de uma pandemia, é imperioso que se determinem ações de enfrentamento por parte dos gestores e, no cenário municipal, é também de competência dos Conselhos Municipais de Saúde a avaliação, controle e proposição dessas intervenções. Por exemplo, no que diz respeito à ampliação de leitos de unidades de terapia intensiva, condições de trabalho de funcionários da área da saúde, quanto à vacinação, uso de equipamentos de proteção individual e demais necessidades resultantes do avanço da contaminação pelo vírus. Além disso, devido à multiplicidade concedida aos conselhos em decorrência do seu caráter paritário, é importante que exista uma atuação em prol das parcelas vulneráveis da população, que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde e que, sem o suporte desse e acometidas pela doença, podem ser levadas à morte. Para tanto, é premente que se discuta acerca da relevância do SUS como alicerce no combate ao vírus, na prevenção da contaminação, na promoção da saúde e na recuperação dos adoecidos com a COVID-19. Em adição, é imprescindível que se compreenda também acerca dos determinantes sociais da saúde, para que os grupos mais suscetíveis tenham a saúde assegurada, mesmo num contexto de pandemia como o que vivemos atualmente. Observa-se, no mundo, um colapso sanitário decorrente da contaminação em massa pelo Coronavírus e da necessidade de internação hospitalar, por esse motivo é essencial ratificar o papel de proposição de ações em saúde por parte dos conselhos e controle das condutas e políticas de saúde nos seus municípios, enfatizando o compromisso desse órgão como ator direto no fortalecimento do SUS. Portanto, urge que os conselheiros se encontrem aptos a deliberar sobre questões orçamentárias, compreendendo o fluxo financeiro, instrumentos de gestão, sobre aspectos do próprio SUS e sua singularidades, além de assimilar amplamente o conceito de controle social, base dos Conselhos de Saúde e outros temas considerados relevantes e que igualmente entremeiam de forma direta o combate à pandemia.

Objetivo

Promover dinâmicas divididas em módulos com fins de capacitação dos conselheiros municipais de saúde, evidenciando a importância do controle social e qualificando as discussões realizadas nos conselhos municipais da região oeste da Bahia, ainda que em uma crise sanitária. Garantir a atuação baseada nos princípios do SUS e no seu fortalecimento, por parte dos conselheiros de saúde.

Metodologia

A fundamentação da experiência ocorreu tendo como base a parceria entre a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) e o Conselho Municipal de Saúde de Barreiras, compreendendo docentes, discentes e componentes atuantes do conselho municipal dessa cidade. Inicialmente, foram enumerados pelos membros do Conselho Municipal de Saúde de Barreiras envolvidos no projeto temas de relevância para capacitação, que usualmente eram alvo de dúvidas e empecilhos nas deliberações. Em seguida, foram especificados os módulos de qualificação listados a seguir, embasados em materiais do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Saúde: Processo Histórico de Construção do SUS, Conhecendo o SUS, Conselhos de Saúde e Controle Social do SUS, Instrumentos de Planejamento e gestão do SUS, Financiamento do SUS, Introdução ao Acompanhamento do Orçamento Público na Saúde, Encontro de Conselhos Municipais e Troca de Experiências, Planejamento e Monitoramento do Conselho Municipal de Saúde, Comunicação para o Controle Social do SUS e Conselhos Locais de Saúde. A partir disso, no mês de janeiro de 2021, foram abertas as inscrições por meio de um formulário, feito na plataforma Google Formulários e divulgado nas redes sociais do Conselho Municipal de Saúde de Barreiras, no qual conselheiros de saúde de toda a região preencheram seus dados pessoais. A primeira oficina, de tema “Processo Histórico de Construção do SUS” foi realizada no mês de fevereiro. Ocorreram, até o momento, quatro módulos de Oficinas de Qualificação, contemplando os temas: Processo Histórico de Construção do SUS, Conhecendo o SUS, Conselhos de Saúde e Controle Social do SUS e Instrumentos de Planejamento e Gestão do SUS. O formulário foi criado com o intuito de representar um controle dos conselheiros que receberão certificação ao final do curso, sendo um registro inicial daqueles que manifestaram interesse em presenciar (virtualmente) os encontros do projeto. A ministração dos conteúdos foi determinada a partir da realização de oficinas, através de ferramentas virtuais como o Google Meet e Youtube, promovendo encontros on-line de trocas de experiências e discussões proporcionadas por facilitadores convidados. Essas reuniões ficaram estabelecidas, inicialmente, nas últimas sextas-feiras de cada mês, às 18:30 na plataforma Google Meet. Através do e-mail registrado no ato da inscrição, todos os conselheiros recebem mensagens virtuais contendo informações sobre as reuniões, materiais, lembretes e links de acesso às plataformas on-line Google Meet e canal do Youtube do Conselho Municipal de Saúde de Barreiras, no qual as oficinas foram também transmitidas para os demais interessados e para aqueles que tivessem dificuldades em acessar pelo Google Meet. Os debates promovidos nesses encontros atuam como dispositivos para capacitação de conselheiros na atuação diante do enfrentamento de situações típicas e atípicas da gestão em saúde. Com o acúmulo de conhecimento advindo dessas oficinas, espera-se que os conselheiros estejam hábeis para articular ações direcionadas às demandas municipais, principalmente na conjuntura pandêmica atual.

Estratégias

A familiarização com os instrumentos virtuais de comunicação se tornou basilar em tempos de pandemia e da necessidade de distanciamento social, já que reuniões físicas são impraticáveis devido ao alto risco de contaminação que proporcionam. Devido a isso, foi efetuada a promoção de encontros virtuais com os conselheiros de saúde da região por meio da plataforma Google Meet, na qual um facilitador convidado ministra uma aula com o auxílio de recursos gráficos como apresentações e vídeos. Esse recurso permite uma interação entre o convidado e o público, que pode tanto se comunicar em tempo real através do uso do microfone, quanto digitar no chat de texto. Divulgação, por meio das redes sociais do Conselho Municipal de Saúde de Barreiras, dos encontros virtuais dos conselheiros de saúde. Utilização do aplicativo de mensagens instantâneas Whatsapp, no qual foi criado um grupo com a finalidade de comunicar lembretes, enviar materiais e esclarecer as dúvidas dos participantes. Distribuição de materiais didáticos para os conselheiros, através do e-mail fornecido por esses, de acordo com os módulos ministrados e com as solicitações e demandas externalizadas pelos membros dos conselhos. Incentivo à troca de experiências por meio de roda de conversa virtual, também pelo Google Meet, entre os conselheiros da região oeste, destacando os avanços, dificuldades e devolutivas associadas ao exercício da função no conselho municipal.

Resultados Alcançados

Inicialmente, com a divulgação das Oficinas e do formulário de inscrição, obteve-se o número de 165 inscritos, alocados em 29 unidades populacionais (incluindo pequenos povoamentos pertencentes a municípios) do oeste baiano. Ao contrastar esse dado com o número de 24 cidades componentes da mesorregião do oeste da Bahia, nota-se que o projeto obteve uma grande adesão, alcançando o objetivo de fornecer capacitação e educação em saúde para os conselheiros de toda essa localidade. Foram realizadas quatro reuniões até o momento, no primeiro encontro, a frequência foi de 95% dos inscritos, acompanhando tanto através da plataforma Google Meet, quanto pelo canal do Conselho Municipal de Saúde de Barreiras, no Youtube. Já ao segundo encontro, 81 participantes das oficinas compareceram, com um número de 78 no terceiro e 56 no quarto. Os atores do projeto notaram essa decrescente nos números de conselheiros presentes nas oficinas, uma estreita queda no número de participantes já seria prevista após o primeiro encontro, já que, em atividades consecutivas, esse é um fenômeno bastante comum. Mesmo que isso seja considerado, os membros da experiência manifestaram uma relativa preocupação com esse quadro, buscando alternativas para contorná-lo e incentivando a comunicação entre os próprios conselheiros a fim de estimular uma maior adesão nesse grupo. Apesar disso, os encontros são permeados por uma intensa participação por parte dos membros dos conselhos, que sempre manifestam suas dúvidas por meio do chat de voz e de texto, proporcionados pela plataforma. Esse ambiente virtual, ao final da discussão de cunho expositivo, efetuada pelo convidado ministrador do módulo, atua como um campo de troca de experiências no qual esses conselheiros, por meio das ferramentas já citadas, compartilham suas vivências e desafios no exercício de suas atividades, enriquecendo o debate inicial. Atualmente, o grupo da ferramenta de comunicação Whatsapp conta com 98 membros participantes das oficinas, que concordaram em fazer parte desse meio comunicativo conjunto, e que atua como base para debates e devolutivas acerca das reuniões.

Considerações Finais

Com o passar dos anos e o avanço da chamada era pós-moderna, as redes sociais e dispositivos tecnológicos com acesso à internet nunca foram tão utilizados quanto nos dias de hoje, processo que foi ainda mais intensificado no panorama sanitário atual. Sendo assim, o projeto descrito é inovador ao passo que abarca numerosas cidades do extremo oeste da Bahia, região distante dos polos mais populosos do estado, em um processo de educação em saúde contínuo baseado no uso de ferramentas digitais e na democratização do conhecimento. Por meio da incorporação de diversos aparatos virtuais, correlacionando a capacitação e a participação social com o uso das redes, o projeto articula e amplia a qualificação dos conselheiros de saúde em todo o oeste baiano. Além de conferir um vínculo entre esses integrantes e capacitá-los para a tomada de decisões orientada nos princípios e diretrizes do SUS, nos mais diversos cenários e, principalmente, na situação pandêmica atual. Para além disso, a realização dessas oficinas pode ser reproduzida por outras instituições, já que, com a facilitação constituída pelos ascendentes meios virtuais, é possível integralizar diferentes regiões. Para os participantes idealizadores da experiência, foi possível conhecer de forma contígua, a realidade vivida pelos conselheiros de saúde no exercício das suas funções e as dificuldades a serem superadas, além de observar o anseio por conhecimento manifestado por esses integrantes. Assim, a herança desse projeto é, certamente, a capacitação perene desses agentes em saúde, que a partir da finalização dos módulos, estarão aptos para lidar com os mais diversos contextos apresentados, inclusive o da pandemia.