APSREDES

Receitas de Família no Ano Internacional de Frutas, Legumes e Verduras

Autores do relato:

Juliana Amorim Ubarana juliana.ubarana@fiocruz.br


Denise Oliveira e Silva denise.silva@fiocruz.br


Erica Ell erica.ell@fiocruz.br


Danielle Cabrini danielle.cabrini@fiocruz.br


Carolina Rebelo Gama gesnut.sais@saude.df.gov.br


Karla Lisboa Ramos karla.ramos@sedes.df.gov.br


Contextualização

O Distrito Federal tem uma população em expansão que aumentou, nos últimos sete anos, cerca de 18,2% de habitantes na região e hoje corresponde mais de 3 milhões de habitantes. As regiões administrativas do Distrito Federal trazem histórias e tradições dos primeiros habitantes da capital e acolhe pessoas de diferentes partes do país. É uma mistura de lugares, idades, de muitas gerações, sotaques e culturas. No DF está localizada a capital do país, Brasília. Cidade planejada e caracterizada por seu perímetro delimitado de área tombada, definido graças a seu valor histórico. Seus setores “centrais”, situados geograficamente no Plano Piloto, conformam a área de maior poder funcional atrator da cidade, constituindo o chamado “avião” que é o cruzamento do Eixo Monumental (Leste-Oeste) com o Eixo Rodoviário (Norte-Sul), onde a densidade de empregos e empresas conformam uma área com grande poder atrator funcional. Por conta de seu rápido crescimento, já é a quarta cidade mais populosa do país. A maioria dos moradores (52%) é mulher e tem em média 30 anos. A expectativa de vida por aqui está cada vez maior – hoje já é de 77,6 anos, a segunda maior do país. A densidade demográfica atual é de 444,66 hab/km². Brasília expressa um território onde, segundo Schvarsberg (2017), estão os ocupantes do avião que usufrui de todas as condições para uma qualidade de vida superior. Por outro lado, o território do DF expressa o processo de urbanização brasileiro, sendo reflexo das características mais marcantes: a extrema desigualdade e a concentração da população em grandes aglomerados urbanos. Em 2015, Brasília foi considerada a cidade com a mais alta renda per capita do Brasil, ostentando, no Plano Piloto, o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, enquanto as cidades do entorno sinalizam dificuldades sociais. A desigualdade de vida no DF reflete a situação similar à da maioria das regiões metropolitanas do país no que se refere à aceleração do processo de urbanização. Não bastasse a situação vulnerável precedente, a Pandemia por COVID 19 agravou ainda mais as desigualdades sociais e intensificou a situação permanente de vulnerabilidade, relacionadas a: disponibilidade de recursos sociais (renda, poder aquisitivo, etc.); diversidade de modo de vida; desigualdades em situação de saúde; acesso diferenciado e atuação segregada do sistema de cuidado à saúde. Embora não tenha dados de insegurança alimentar e nutricional desagregados durante a pandemia, o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia por COVID-19 revela que mais de 70% da população da região Centro-Oeste, onde se localiza o DF, vive com até 1 salário mínimo; quase metade dos entrevistados (49,1%) solicitou e recebeu auxílio emergencial; e mais de um milhão e cem mil pessoas passam fome. Os impactos da insegurança alimentar e nutricional podem ser sentidos na situação nutricional da população. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no cenário atual cerca de metade das crianças com obesidade se tornam adultos obesos. É importante atuar no sentido de prevenir os fatores evitáveis, tais como a alimentação inadequada e sedentarismo. (OMS, 2018; CONSEA, 2018). Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), provenientes dos usuários que tiveram o estado nutricional monitorado, em 2019, no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS), demonstram que, das crianças menores de dez anos, 47,36% apresentaram excesso de peso, sendo que 14,09% foram diagnosticadas com obesidade. Em 2019, segundo o VIGITEL, 55,0% dos adultos do DF (≥ 18 anos) estão com excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) sendo a prevalência maior nos homens, 55,8% do que em mulheres, 54,3%. Em 2019, a prevalência de obesidade no DF foi de 19,6% sendo 18,6% nos homens e 20,4% em mulheres, chegando a um aumento de quase 100% entre 2010 e 2018 (VIGITEL, 2019). Desse modo, a obesidade já acomete 1 a cada 5 adultos no DF. O DF tende a acompanhar os dados nacionais que demonstram uma maior prevalência de obesidade na faixa etária de 45 a 64 anos; e uma redução da prevalência com o aumento escolaridade o que destaca uma importante prevalência na população de menor renda, reforçando a face perversa das iniquidades sociais.

Justificativa

Apesar de Frutas, Legumes e Verduras terem efeitos importantes na saúde com redução de Doenças Crônicas Não Transmissíveis; de movimentarem a economia local se produzidos por pequenos produtores; e ainda serem sustentáveis ao planeta quando há respeito ao ciclo sazonal e produção livre de defensivos agrícolas – estudos mostram que o consumo mundial desses alimentos é inferior a 400g diárias/pessoa, abaixo do que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, apenas 37,3% de maiores de 18 anos consomem adequadamente FLV (PNS, 2013) e 27,8% dos idosos de 65 anos ou mais têm a adequação do consumo desse grupo de alimento (VIGITEL, 2019). No Distrito Federal não é diferente, quando o assunto é o baixo consumo de FLV. Segundo o VIGITEL 2018, o consumo regular de frutas ou hortaliças é de 29,8% da população do DF, considerando o consumo de cinco porções diárias. Deve-se salientar que a pandemia por COVID -19 atinge os indivíduos de forma distinta, afetando-os em diferentes graus de insegurança alimentar e nutricional, seja por maior consumo de ultraprocessados e menor consumo de FLV em função da dificuldade de acesso a alimentos, por falta de habilidades culinárias ou pela desigual divisão de trabalho doméstico que sobrecarrega as mulheres nesse novo cenário de atribuições (Alpino, et al 2020), seja pela fome que acomete atualmente 19 milhões de brasileiros (Maluf & Santos, 2021). Neste contexto, em que a insegurança alimentar e nutricional se faz presente no país e considerando que incentivo ao consumo de FLV foi designado pela organização das Nações Unidas (FAO) como importante tema a ser trabalhado por seus benefícios a saúde e ao planeta, o Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA) acolheu a essa temática e sua relação com a garantia do DHAA como eixo condutor de sua atuação em 2021. Situado fisicamente e institucionalmente na Fiocruz Brasília, o OBHA é um canal que promover a ciência cidadã a partir da mediação da informação científica e popular sobre concepções e percepções de hábitos alimentares, comensalidade e segurança alimentar e nutricional, bem como subsidiar a formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Para a aproximação entre a ciência e o cidadão, a Fiocruz Brasília tem priorizado o apoio ao desenvolvimento de ações nos territórios, sendo uma delas o Protocolo de Intenções com o Governo do Distrito Federal para execução de projetos voltados aos Territórios Saudáveis e Sustentáveis e ao acompanhamento da implementação dos ODS na região, incluindo iniciativas para afirmação da Segurança Alimentar e Nutricional. Como parte da Fiocruz Brasília, o OBHA busca a aproximação territorial para a realização de ações de comunicação, divulgação e estudos, sendo o ano internacional de FLV uma ocasião oportuna para fortalecer laços com os territórios e, com isso, ampliar condições para que a ciência contribua com a implementação de políticas públicas de SAN que reconheçam as diversidades e as diferenças sociais, econômicas e culturais locais. Diante disso, nasceu a parceria entre o Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA) com a Secretaria de Saúde (SESDF) e a Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal (SEDES-DF), como uma das linhas de ação para celebrarmos o Ano Internacional de Frutas, Legumes e Verduras. O projeto que nos une, neste momento, é o Projeto Receita de Famílias. Essa foi a forma que reconhecemos a oportunidade de promover a alimentação adequada e saudável alicerçada pelo resgate de tradições alimentares com repercussão positiva na saúde da população e, ainda, preservação da cultura alimentar de forma saudável e afetiva, afastando-se de modelos prescritivos e nos aproximando dos saberes populares que só a comunidade tem a capacidade de emergir. A receita culinária nos conta sobre a história e a cultura da sociedade, ou de parte dela como grupos familiares, trazendo códigos de representação das emoções, lembranças e tradições. Ao mesmo tempo, as receitas estão relacionadas à produção e consumo de alimentos, mudança do gosto, as relações de classe e gênero envolvidas no preparo e na criação dos pratos nos tempos mais antigos e como estes são produzidos na atualidade. O projeto está alinhado à Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), à Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), Política Distrital de Alimentação e Nutrição (PDAN), ao Guia Alimentar para a População Brasileira e ao Guia Alimentar para Crianças Brasileiras menores de 2 anos, na medida em que promove uma alimentação saudável com base de alimentos in natura ou minimamente processados; respeita a identidade e a pluralidade de culturas; valoriza os saberes da comunidade a partir de base territorial; tem forte componente intersetorial e reconhece as dimensões multifatorais determinantes da nossa nutrição e saúde e, finalmente, tece e fortalece articulações institucionais para benefício da sociedade. No que diz respeito especificamente ao Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), o projeto é transversal perpassando por muitos objetivos, mas se destaca fundamentalmente ao ODS 2 – Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável; e o ODS 3 – Saúde e Bem- Estar. Essa ação ainda está em consonância com os princípios de ciência aberta e cidadã, da popularização da ciência, que implica no envolvimento de cidadãos não profissionais da ciência desde a participação na coleta de dados ao engajamento público com a ciência, quer seja diretamente, em alguma etapa da produção do conhecimento científico, ou no processo de democratização do acesso a esse conhecimento e não apenas a aproximação entre a ciência e o cidadão.

Objetivo

Promover conhecimento, valorização e incentivo ao consumo de Frutas, Legumes e Verduras, por meio do compartilhamento de Receitas de Família obtidas por indivíduos atendidos nos serviços de saúde e na assistência social do território do DF, visando a promoção e proteção de ambientes alimentares saudáveis. Público-Chave da Experiência Usuários do SUS DF; Frequentadores dos restaurantes comunitários do DF; e demais perfis da população que acompanham o Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares.

Metodologia

As etapas do Projeto Receitas de Família foram discutidas e pactuadas entre as equipes do OBHA, SES-DF e SEDES-DF durante reunião virtual. Foi acordado que o projeto seria iniciado pela coleta de informações no serviço de saúde. Para garantir e preservar princípios éticos e autorais de imagem e conteúdo, todas as entrevistas foram precedidas de leitura e assinatura de um termo de cessão de imagem e informação. O desenvolvimento do projeto Receitas de Família vem ocorrendo a partir da definição de população, local, forma e período de coleta; da sistematização e envio das receitas para elaboração de conteúdo; da elaboração de vídeo e outros materiais e da disseminação deles, conforme descrição a seguir. 1. Definição de população e do local de coleta (Situação da etapa: finalizada). As pessoas entrevistadas estão sendo selecionadas pela equipe de nutricionistas da SESDF, lotadas em Unidades Básicas de Saúde – UBS – e nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF. Estão envolvidas as sete regiões de saúde distribuídas da seguinte forma: Norte, Leste, Central, Centro-Sul, Oeste, Sudoeste e Sul. Cada responsável pela regional organizou a coleta de informações, adequando as entrevistas à rotina e disponibilidade local. A princípio, serão entrevistados cinco usuários (as) por região de saúde. No total, estão previstas coletas de trinta e cinco (35) receitas de família, das quais aproximadamente cinco comporão o cardápio dos restaurantes comunitários, geridos pela SEDES, para serem ofertadas durante a Semana Mundial de Alimentação. Para seleção das receitas que irão compor o cardápio dos restaurantes foi levado em conta aquelas receitas com ingredientes que se aproximam do que já está no escopo previsto nos contratos institucionais da SEDES e é lógico aproximação com a aceitação do público atendido. As demais receitas serão sistematizadas e apresentadas em uma publicação do tipo e-book ou outro tipo de material a definir. 2. Coleta das receitas (Situação da etapa: em andamento. Até o momento, há 19 receitas coletadas). A coleta das informações relativas a receitas de família está sendo realizada no território de atuação da SESDF a partir de um questionário aberto. Além de itens da receita como ingredientes e modo de preparo, o questionário possibilita a coleta de narrativas sobre as lembranças que aquela receita traz; e quem a preparava. As entrevistas vêm sendo realizadas sempre a partir da leitura e assinatura do termo de cessão de imagem e direitos dos conteúdos. Além da coleta de informações escritas nos questionários, as questões que tratem de narrativas sobre o significado das receitas na vida de cada entrevistado podem ser realizadas por filmagem. A perspectiva é trazer narrativas que humanizem o contar de histórias relacionadas ao entorno dessas receitas. 3. Sistematização e envio das receitas (Situação da Etapa: em andamento). A SESDF está sistematizando o material coletado em campo, tanto no formato escrito quanto nos vídeos com as gravações das narrativas, e repassa o material juntamente com cópias dos termos de cessão assinados para a equipe do OBHA. Ao OBHA, cabe analisar o material e contribuir com a preparação do conteúdo a ser apresentado no vídeo de preparo das refeições. Posteriormente, o OBHA repassa à SEDES esse conteúdo para a preparação dos cardápios e produção do vídeo com a preparação das refeições que serão ofertadas à população atendida nos restaurantes comunitários, na semana comemorativa do Dia Mundial da Alimentação (meados de outubro). Os restaurantes que, ainda, não estão equipados com televisores no salão de refeições também participarão da iniciativa, sendo as informações das receitas disseminadas nos murais de cada estabelecimento. 4. Elaboração de vídeos (Situação da Etapa: a ser realizada na semana comemorativa do Dia Mundial da Alimentação) Conforme mencionado, a SEDES-DF fará a produção do vídeo no momento que estiverem sendo preparadas as receitas em suas cozinhas institucionais. Esta atividade já é realizada de forma rotineira nos serviços dos restaurantes comunitários como forma de divulgar e compartilhar o trabalho desenvolvido pela secretaria, sob a direção da Assessoria de Comunicação da SEDES-DF. Para dar dinamicidade ao conteúdo produzido e, ainda, dar voz às pessoas que compartilharam as receitas que estão sendo preparadas nas cozinhas dos restaurantes comunitários, o vídeo intercalará a filmagem das preparações das refeições com os vídeos de narrativas das pessoas que compartilharam as suas receitas, como tentativa de resgatar memórias e significados. 5. Oferta das refeições (Situação da Etapa: a ser realizada na semana comemorativa do Dia Mundial da Alimentação) Considerando o prazo de planejamento do cardápio dos restaurantes comunitários, a SEDES-DF já fez a seleção das receitas de família com FLV a serem ofertadas nos restaurantes comunitários do DF na semana comemorativa do Dia Mundial da Alimentação. No total, serão cinco receitas, uma para cada dia da semana. A SEDES-DF já se reuniu com a empresa que prepara as refeições e já incluiu essas receitas na programação dos cardápios. É preciso dizer que a seleção aqui teve apenas caráter de adequação ao contrato com a empresa e à aceitabilidade e respeito as preferências da população atendidas pelos restaurantes. 6. Veiculação do vídeo (Situação da Etapa: a ser realizada após a semana comemorativa do Dia Mundial da Alimentação) As equipes do OBHA/SEDES-DF/SES-DF divulgarão o vídeo em suas mídias sociais e, ainda, o veiculará em serviço, tanto nos restaurantes comunitários quanto nas antessalas de espera de atendimento das Unidades Básicas de Saúde. 7. Produção de Outros Materiais com as Receitas (Situação da Etapa: a ser realizada) As demais receitas que não compuseram a produção do vídeo e cardápios de preparação de refeições dos restaurantes comunitários serão divulgadas nos canais do OBHA, SESDF e SEDESDF. Deve-se observar que o compartilhamento das receitas vem para resgatar as memórias afetivas com os alimentos numa aproximação com a cultura alimentar, evitando-se a prescrição do consumo de FLV. Assim, uma ideia da divulgação das receitas é trazer como um compartilhamento dessas memórias, devendo ser enfatizado a importância de que as pessoas leiam as receitas e as executem tal qual está descrito, mas que também sejam convidadas a prepará-las e adaptá-las segundo as suas preferências e tradições. Ou seja, o material deve instigar a construção criativa e colaborativa dessas receitas.

Atores envolvidos (institucionais e/ou coletivos)

Equipe do Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA) da Fiocruz Brasília; Equipe da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, desde alta gestão de alimentação e nutrição, até equipes das Unidades Básicas de Saúde e Núcleo de Apoio à Saúde da Família; Equipe da Secretaria de Desenvolvimento Social, desde a alta gestão até empresa de fornecimento das refeições e profissionais dos restaurantes comunitários; Assessoria de Comunicação de todas as instituições envolvidas no projeto.

Estratégias

A proposta foi delineada com base da aproximação entre OBHA/Fiocruz Brasília com instituições governamentais do DF que trabalham a promoção da alimentação saudável como o setor saúde e a assistência social. A mobilização aconteceu primeiramente de forma virtual, considerando a necessidade de distanciamento imposta pela pandemia por COVID-19. Os acordos e desenvolvimento do trabalho se deram por documento colaborativo e as demais etapas estão sendo realizadas por mobilização interna de cada secretaria. Na Saúde, a Gerência de Nutrição (GESNUT) contatou com o apoio das nutricionistas da rede, responsáveis por cada região, para compartilhar o projeto e capacita-las para a seleção e coleta dos usuários. Da mesma forma, a Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional (SUBSAN) da SEDESDF mobilizou a equipe no sentido de organização para seleção das receitas e, posteriormente, contará com os profissionais dos restaurantes para a preparação e oferta das refeições. As assessorias de comunicação das instituições envolvidas, também, estão mobilizadas. A Ascom da SEDESDF irá preparar o vídeo com receitas que serão servidas na semana do Dia Mundial de Alimentação. As demais receitas que serão divulgados em outros formatos comunicacionais nos canais do OBHA, da Secretarias de Saúde e da Secretaria de Desenvolvimento social, onde está situada a SUBSAN.

Resultados alcançados

O projeto ainda está em fase de execução e, no momento, não há como detalhar o alcance de resultados. No entanto, já é possível demonstrar evidência que comprove o relato da experiência, considerando o compartilhamento de um dos vídeos coletados durante as entrevistas, que está anexado a essa plataforma. Conforme mencionado na metodologia, a oferta das receitas nos restaurantes comunitários acontecerá na semana de comemoração do Dia Mundial de Alimentação, havendo em cada dia da semana uma receita de família ofertada ao público dos restaurantes. Na ocasião, será feito um vídeo com preparação de receitas e conteúdo de divulgação do trabalho. As demais receitas coletadas, que não entrarem no cardápio da semana do Dia Mundial, serão compartilhadas posteriormente nos canais do Observatório e canais das secretarias envolvidas. A principal dificuldade encontrada diz respeito ao momento da pandemia, que torna a execução mais difícil. Os serviços de saúde estão fortemente voltados à vacinação da população local. Para enfrentar essa dificuldade, há sempre conversa para adequar os trabalhos no tempo em que for possível de ser executado, sem que haja prejuízo do serviço. Já os restaurantes estão adaptados para a entrega de marmitas nesse momento em que o distanciamento social ainda é estratégia de coibir a disseminação do vírus, reduzindo o tempo de contato para a realização de atividades educativas, sem, no entanto, impedi-las de serem realizadas. Outra dificuldade é a falta de recursos financeiros para executar o projeto. No entanto, a falta de aporte financeiro vem sendo superada pelo apoio mutuo entre parceiros. Cada um avança e realiza a sua parte dentro dos limites que a estrutura possa oferecer e cada um vai assim contribuindo dentro das condições institucionais, seja com participação de pessoal capacitado para a coleta das informações, seja adequando as refeições que já estão previstas no serviço de assistência para atender os propósitos do projeto ou, até mesmo, utilizando-se do serviço de assessoria de comunicação já disponível pelas instituições. Esse é um exemplo de que ações intersetoriais podem existir mesmo em condições adversas, requerendo vontade política e comprometimento entre as partes para que elas aconteçam de fato.

Considerações finais

O projeto Receitas de Família é inovador na medida em que trabalha a promoção da alimentação saudável, reunindo elementos como a intersetorialidade; olhar individual, familiar e coletivo; acesso físico de FLV a populações mais vulneráveis; e incentivo ao consumo de FLV a partir da valorização da cultura alimentar, numa perspectiva inclusiva e afetiva. Há o reconhecimento de que o território é espaço onde os indivíduos realizam as suas práticas e as vivenciam cotidianamente. Ao mesmo tempo, reconhece-se que o indivíduo que habita o território é o mesmo que é atendido em diversos setores e, portanto, realizar a atividade de forma intersetorial é inevitável. Para potencializar os papéis de cada setor, a saúde e a assistência social têm participado ativamente do projeto, sendo nos serviços de saúde feitas as entrevistas para a coleta das receitas e a assistência social o setor responsável por prepará-las para serem ofertadas ao público dos restaurantes comunitários. É importante dizer que a coleta da informação passa por resgatar memórias e permite a educação alimentar a partir de algo que já faz parte da vida do entrevistado. A partir dessas receitas com FLV, os indivíduos resgatam de tradições familiares e que podem ser levadas ao coletivo, seja por compartilhamento em mídias e publicações seja pela oferta coletiva nos restaurantes comunitários, conforme mencionado. Sobre esse último ponto, o projeto amplia a acessibilidade ao consumo de FLV a população vulnerável do ponto de vista socioeconômico atendida por esse equipamento público que são os restaurantes comunitários. Sabe-se que os restaurantes comunitários são estratégias adotadas para fornecimento de refeições, nutricionalmente, adequadas e saudáveis a preços acessíveis, alcançando qualquer pessoa, preferencialmente grupos sociais que estejam em situação de insegurança alimentar e nutricional e/ou vulnerabilidade social. Atualmente, o DF conta com treze unidades. Além de fazer parte do universo coletivo na medida em que oferta preparações para comunidades que frequentam os restaurantes comunitários, o projeto pode incentivar que outras coletividades possam prepará-las em suas casas a partir do acesso aos materiais com as receitas que serão construídos pelos autores do projeto ou levá-los a resgatar em suas memórias outras receitas que tenham esse potencial de promover o aumento ao consumo desse grupo de alimentos. O projeto ainda inova quando trabalha a valorização cultural do alimento a partir de coletas de receitas que o entrevistado compartilha conosco, mas que representa uma memória afetiva oriunda da família e da região onde nasceu ou teve a sua origem. Era a receita que o pai, a mãe, os avós ou outro ente da cadeia ancestral preparava para a família. Assim, essa iniciativa incentiva o consumo de FLV; valoriza a cultura alimentar pelo resgate afetivo e de forma inclusiva; e promove o debate sobre a alimentação saudável e sustentável na perspectiva do Direito Humano à Alimentação Adequada. Dessa forma, o projeto congrega requisitos importantes mencionados nesse edital de seleção de experiências de incentivo ao consumo de FLV, sendo: iniciativa coletiva, no âmbito da Atenção Primária à Saúde do SUS, para incentivo ao consumo de FLV a partir de uma construção no território; é uma ação de educação alimentar e nutricional gerada por metodologia participativa, que valoriza a cultura alimentar e promove a autonomia decisória dos sujeitos, tanto individualmente quanto coletivamente; além de incentivar o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades culinárias; estimular o olhar para a tradição e aspectos regionais de consumo alimentar; promover ambientes saudáveis para consumo de FLV em equipamentos sociais como os restaurantes comunitários. Essa é uma proposta que pode acontecer em qualquer lugar do país e, ainda, pode ser ampliada para integração de outros setores, além da saúde e assistência social. Pode ter integração com setores não governamentais locais a depender de cada realidade, sendo importante definir e pactuar o que cada setor deveria desenvolver para a implementação do projeto.