APSREDES

“PANC na veia”: estratégias de divulgação das Plantas Alimentícias Não Convencionais como ferramentas de promoção do consumo de frutas, legumes e verduras e de ambientes alimentares saudáveis e sustentáveis

Autores do relato:

Ana Maria Bertolini ana.bertolini@usp.br


Nadine Marques Nunes Galbes nadine.marques@usp.br


Larissa Melina de Lázari lrslazari@gmail.com


Gabriela Rigote gabriela.rigote@usp.br


Larissa Harumi Ishigai harumilarissa@gmail.com


Dirce Maria Lobo Marchioni marchioni@usp.br


Aline Martins de Carvalho alinenutri@usp.br


Contextualização

O Sustentarea é um Núcleo de Extensão Universitária da Universidade de São Paulo que tem como objetivo informar e discutir alimentação saudável e sustentável baseada em evidências científicas, no intuito final de promover mudanças positivas nos hábitos alimentares e de vida das pessoas e instituições visando melhorar a saúde da população e do planeta. As diversas atividades do Sustentarea são desenvolvidas sem limitação de área de abrangência, com vistas à toda população brasileira e, a partir dos projetos e produções disponibilizados on-line, com a possibilidade de alcançar populações lusófonas ao redor de todo o mundo. O Brasil passa por um momento de marcada insegurança alimentar e financeira. Pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, realizada ao final de 2020, demonstrou que apenas 45% da população brasileira encontra-se em condição de Segurança Alimentar, enquanto 9% convivem com a fome. Isso se dá dentro de um contexto global marcado por ações humanas sobre os ecossistemas terrestres cujos efeitos se mostram cada vez mais sérios, profundos e irreversíveis. Este cenário tem sido apontado como um dos – senão o – grandes responsáveis pelo surgimento e avanço da pandemia de COVID-19, e os sistemas alimentares predominantes na atualidade constituem um dos pontos críticos nesse cenário. A urbanização e as mudanças climáticas já em curso implicam em características ambientais que apresentam potencial de se tornarem cada vez mais hostis a uma série de espécies vegetais, aí incluídos os eventos ambientais extremos (chuvas intensas, secas prolongadas, temperaturas extremas, entre outros) o que demonstra que os efeitos do modelo atual de sistemas alimentares são negativos para a própria produção de alimentos e o consequente acesso pelas diferentes populações.

Justificativa

O Guia Alimentar para a População Brasileira tem como principal proposição a promoção de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável, representado por uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa e culturalmente apropriada. Para tanto, recomenda que os alimentos in natura e minimamente processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, sejam a base ideal dos padrões alimentares. Aprofundando a recomendação de ingestão destas categorias de alimentos, o Guia incentiva que seja dada prioridade aos tipos e variedades de frutas, verduras e legumes produzidos localmente e no período de safra, quando a produção é máxima, apresentam menor preço, além de maior qualidade e mais sabor. E, pensando nas etapas de produção e aquisição, é de grande valia comprar esses alimentos em locais onde há menos intermediários entre o agricultor e o consumidor final, priorizando a compra direto dos produtores. Já numa esfera ampliada, o Guia dá destaque à necessidade de proteger o patrimônio cultural representado pelas tradições culinárias locais, além de sacramentar seu compromisso com a ampliação da autonomia das pessoas nas escolhas alimentares. As PANC – acrônimo que denomina as Plantas Alimentícias Não Convencionais – são espécies de elevadíssima biodiversidade, dentre as quais encontram-se frutas, hortaliças, castanhas, amêndoas, hortaliças tuberosas, entre outras, que nascem de forma espontânea e podem ser parcialmente ou integralmente comestíveis. Plantas ditas convencionais, ou seja, que apresentam produção e consumo amplos e bastante reconhecidos pela população em geral, em fases de seu ciclo ou cujas partes como caroços, folhas e flores não são consumidas de forma habitual também são reconhecidas como PANC, como é o caso do mamão verde, dos caroços de jaca, e das folhas de beterraba, por exemplo. Apesar de extremamente numerosas e biodiversas, o que tem despertado interesse crescente entre pesquisadores e entusiastas do tema, as PANC não são amplamente conhecidas nem reconhecidas no modelo de sistema alimentar predominante na atualidade. Isso se deve ao fato de tal sistema ser marcado pela padronização alimentar, segundo a qual populações de todo o planeta se alimentam de algumas poucas espécies de frutas, verduras e legumes, as quais podem ser encontradas praticamente em qualquer lugar do mundo, por seu elevado volume de produção e comercialização. Em contraste com os vegetais cultivados para comercialização, muitas espécies de PANC são encontradas em ambientes como quintais, comunidades camponesas, hortas urbanas e feiras agroecológicas, e tendem a ser incorporadas à sabedoria de uma sociedade. Por meio do convívio, a humanidade estabeleceu redes de informação não apenas para a identificação e técnica de cultivo dessas espécies, mas também a aplicabilidade e transformação. Ainda, as PANC se mostram bastante resilientes em cenários extremos, crescendo mesmo em solo pobre e condições climáticas hostis, o que aponta para a marcante capacidade dessa categoria de plantas em atender às demandas humanas por alimentos de elevada densidade nutricional, ao mesmo tempo em que os ciclos naturais são respeitados e preservados. Via de regra, as PANC não são híbridas ou são híbridas naturais, mas não transgênicas, produzem suas próprias sementes e mudas, o que favorece uma lógica de produção de alimentos bastante diversa daquela predominante nos sistemas alimentares atuais. Sendo assim, a promoção das PANC entre a população geral tem o potencial de promover aprendizado sobre a cultura e diversidade alimentar, ampliar o acesso geográfico e financeiro a alimentos altamente nutritivos e sustentáveis, alcançando a autonomia e a soberania alimentar tão desejáveis no contexto brasileiro e global na atualidade.

Objetivo

A experiência tem como objetivo geral contribuir para o fortalecimento e manutenção de um sistema alimentar mais sustentável, nutritivo e biodiverso, por meio da promoção da descoberta, aprofundamento do conhecimento e ampliação das possibilidades de utilização das PANC no cotidiano alimentar de uma ampla gama de indivíduos e populações, desde entusiastas do tema, até pessoas que não detêm nenhum conhecimento prévio sobre o mesmo.

Metodologia

Para desenvolver a experiência nos apoiamos nos princípios do Marco de Educação Alimentar e Nutricional (EAN), como por exemplo o princípio que fala sobre “A comida e o alimento como referências; Valorização da culinária enquanto prática emancipatória” e o de “Valorização da cultura alimentar local e respeito à diversidade de opiniões e perspectivas, considerando a legitimidade dos saberes de diferentes naturezas”. A metodologia que utilizamos foi o desenvolvimento e divulgação de materiais educativos a respeito da temática da experiência, os quais foram divulgados por meio da comunicação digital. Visando ter uma comunicação efetiva, assim como também recomenda o Marco de EAN, pautamos nossa comunicação visando o reconhecimento das diferentes formas de saberes e de práticas e buscando a valorização do conhecimento, da cultura e do patrimônio alimentar. Desenvolvemos então materiais como revista, e-book, posts em redes sociais e podcast que abordavam a temática das PANC. Todos esses materiais podem ser acessados gratuitamente, tanto por redes sociais como pelo site do Sustentarea e também via aplicativos de comunicação, como ocorreu com os áudios do podcast que foram divulgados via whatsapp. Essa diversidade de possibilidades de acesso ocorreu visando proporcionar uma maior acessibilidade, pois assim o acesso é feito sem a necessidade de aplicativos, já que podem ser acessados também pelo site. Além disso, também visando ampliar a acessibilidade, além dos materiais como revista, e-book e posts que são compreendidos através da leitura, também disponibilizamos conteúdos através do podcast, onde o conteúdo é compartilhado por áudio, ampliando o acesso para pessoas que não conseguem ler.

Atores envolvidos (institucionais e/ou coletivos)

A experiência contou com uma série de atores em cada uma de suas etapas e no desenvolvimento dos produtos finais. Como atores fixos, que já fazem parte da estrutura do Sustentarea e participaram em diferentes momentos, executando tarefas variadas na elaboração dos produtos desenvolvidos, contamos com estudantes de graduação em Nutrição, profissionais formados e estudantes de pós-graduação em diferentes níveis e campos do conhecimento: Antropologia, Biologia, Ciência de Dados, Ciências Sociais, Engenharia de alimentos, Farmácia, Gastronomia, Geografia, Jornalismo, Nutrição, Saúde Pública, Ainda, contamos com as coordenadoras do Sustentarea, que são professoras do departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Com inspiração na diversidade das PANC, a diversidade de gênero, de formações e de regiões do país foram priorizadas ao realizar o convite para a participação de atores pontuais nas experiências, além de ter sido considerada também a vivência prévia de cada convidado com as PANC. Assim, contamos com: – Elisabete Fonseca, agricultora e conhecedora de PANC de Pugmil, no Tocantins; – Valdely Kinupp, que é um dos maiores pesquisadores e conhecedores de PANC no Brasil, é professor doutor e Fundador-Curador do Herbário do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, e é proprietário do sítio PANC em Manaus, onde produz PANC de forma agroecológica; – Neide Rigo, nutricionista e autora do blog Come-se, dedicada a identificar, divulgar e desenvolver receitas com PANC, de São Paulo, capital; – Débora Shornik, chef entusiasta do uso de PANC e todas as preparações do cardápio do restaurante Caxiri, em Manaus, Amazonas; – Thaíza Cristina, cientista social, educadora ambiental, co-criadora e coordenadora da Ecoz, uma iniciativa de venda e doação de cestas de alimentos agroecológicos plantados por pequenos produtores que também trabalham com PANC, que é desenvolvida em Osasco, São Paulo. Estabelecemos, ainda, uma parceria com um ator institucional, a ECOZ, iniciativa de moradoras de Osasco, SP, com o objetivo de tecer uma rede que una as consumidoras e produtoras, para entregar cestas de alimentos frescos e sem veneno para as pessoas, valorizando a biodiversidade, a economia local, saúde e segurança alimentar. Thaíza participou de um dos episódios do Podcast, visando divulgar o trabalho realizado pela ECOZ, e o grupo de receitas do Sustentarea desenvolveu receitas para acompanhar as cestas que contêm PANC, visando auxiliar em sua incorporação na cozinha das famílias compradoras e beneficiadas pelas doações da ECOZ.

Estratégias

As principais estratégias mobilizadas para alcançar os objetivos propostos foram a idealização, planejamento e elaboração de: – Uma matéria na revista do Sustentarea, que inaugurou toda a experiência com PANC e teve o intuito de apresentar, definir, caracterizar e promover a valorização e consumo de PANC pelo público leitor da revista; – Uma série de posts nas redes sociais do Sustentarea desvendando, esclarecendo e dando visibilidade às PANC, à partir da combinação de imagens e texto, que auxiliam na identificação e reconhecimento; – Dois episódios de podcast sobre as PANC e seus desdobramentos; – Um livro digital de informações e receitas com PANC. Matéria na revista do Sustentarea: a matéria foi publicada em Outubro de 2018, na revista do Sustentarea, apresentando o que são as PANC, características, como consumir e as potencialidades das PANC. A matéria marca o início da discussão sobre a temática dentro do Sustentarea, visando incentivar os leitores a adotar o hábito de incluir PANC na alimentação. Link: https://www.fsp.usp.br/sustentarea/revista-n3/ Posts: a mídia social Instagram foi usada como ferramenta para veicular informações sobre as PANC, com a combinação de imagens e texto, que auxiliam na identificação e reconhecimento de cada espécie. As postagens foram divididas em 4 subgrupos: – “Cultivo”, no qual foram abordadas técnicas de plantio e colheita das PANC. – “Receitas”, onde foram desenvolvidas e divulgadas receitas com Panc, visando a promoção da autonomia alimentar do usuário. – “É PANC” procurou abordar as PANC de maneira descritiva, fornecendo informações como: nome científico, características botânicas, distribuição geográfica e curiosidades específicas de cada uma. – “Que alimento é esse?”, no qual foram abordadas características das PANC como: origem, informações nutricionais e percepção sensorial. Foram desenvolvidas 59 postagens, usando as funcionalidades desde a publicação no feed, stories, perguntas e enquetes. Através da ferramenta de enquetes foram levantadas questões como a incorporação das Panc na rotina alimentar, locais de comercialização e partes alternativas de consumo das espécies. A partir da interação com o usuário, foi possível programar a periodicidade de posts e também qual abordagem proporciona mais engajamento e consequentemente indicando maior interesse da população. Os dados fornecidos pelo Instagram Insights demonstraram que as publicações de receitas foram de maior relevância para os seguidores, obtendo a média de (número de contas) alcançadas. Nesse sentido, foram adotadas novas estratégias para aumentar as publicações que possam incentivar o aproveitamento da biodiversidade alimentar. Os posts abordaram 40 espécies de PANC. A escolha deu-se especialmente pelo desenvolvimento espontâneo em espaços urbanos, hortas, jardins e quintais, a fim de promover o conhecimento botânico da população de grandes cidades. Além dos nomes científicos, os nomes populares das espécies foram expostos, como forma de preservar a cultura do uso alimentício de plantas. Link: https://www.fsp.usp.br/sustentarea/category/panc/ Podcast: cada episódio do Podcast “Comida que Sustenta” seguiu uma estrutura diferente, apresentando objetivos complementares. O primeiro, denominado “PANC”, teve duração de pouco mais de 26 minutos, organizados em 5 diferentes quadros: – “Histórias e Memórias”, no qual uma estudante de nutrição e sua avó, agricultora e conhecedora de PANC, compartilharam sua experiência com essas plantas, que se iniciou na infância da avó e está sendo resgatada por ambas atualmente, por meio do aprofundamento em materiais diversos sobre o tema, produção e consumo próprios, além do compartilhamento das variedades colhidas com vizinhos e conhecidos; – “Disse-me-disse”, durante o qual uma farmacêutica e estudante de doutorado em Alimentos e Nutrição, com enfoque em PANC, compartilhou informações sobre a riqueza nutricional dessas espécies vegetais, bem como possíveis cuidados que devem ser tomados ao colher e preparar PANC; – “Saúde Planetária – e eu com isso?”, em que Valdely Kinupp propôs uma reflexão aprofundada sobre a definição, as características, a riqueza nutricional, a capacidade de resiliência das PANC, e a importância de promover a produção e incorporar essas tantas vegetais aos hábitos alimentares de brasileiros de todas as regiões do país, como forma de resistência à padronização e defesa da soberania alimentares; – “E aí, bora cozinhar?”, quadro no qual Neide Rigo compartilhou em detalhes uma receita de salada de mamão verde, uso não convencional para uma planta convencional encontrada com facilidade no Brasil; – “Coisa fina”, momento em que Débora Shornik compartilhou a importância que as PANC têm na cozinha de um restaurante profissional que incorpora essas plantas em todo o seu cardápio, contando com a sazonalidade e a variedade tão características das mesmas. Link: https://www.fsp.usp.br/sustentarea/comidaquesustenta/03-panc/ O segundo episódio recebeu o nome de “Tem PANC no prato?” e teve como objetivo aproximar as pessoas que nos ouvem dessas espécies vegetais, por meio da seguinte estrutura: – Quadro 1 – ECOZ: Thaiza Cristina apresentou a ECOZ, uma ação social que nasceu no início de 2020 com o intuito de levar alimentos frescos e sem veneno para mulheres mãe solo em condição de vulnerabilidade. As PANC estão presentes com frequência nas cestas, e Thaiza destacou a importância de conscientizar e informar sobre elas para que seja possível sua incorporação nos hábitos alimentares das mulheres beneficiadas com as cestas e suas famílias. – Quadro 2 – Perguntas e respostas: As apresentadoras esclareceram dúvidas comuns sobre as PANC, tais como onde encontrá-las, os cuidados necessários para sua utilização segura, diferenças entre plantas espontâneas e PANC, destaque à variedade de sabores e aromas que encontramos entre as PANC. – Quadro 3 – Receita com PANC: Um dos membros do Grupo de Receitas do Sustentarea compartilhou a receita de pesto de ora-pro-nobis, fortalecendo a compreensão de que receitas “tradicionais” podem ser adaptadas para incorporar as PANC no cotidiano de forma prática e criativa. Link: https://www.fsp.usp.br/sustentarea/comidaquesustenta/bonus-tem-panc-no-prato/ Uma vez idealizados, planejados e produzidos, os episódios foram hospedados no Site do Sustentarea e no agregador de músicas e Podcasts Spotify, além de serem disponibilizados na íntegra como arquivos de áudio por meio do aplicativo de comunicação instantânea WhatsApp. A estratégia de uso do WhatsApp como ferramenta de compartilhamento do Podcast aumenta exponencialmente a capacidade de alcance dos episódios, uma vez que os mesmos podem ser encaminhados sem limite por cada usuário do aplicativo que os receber. E-book: concatenando a temática das PANC dentro do Sustentarea, o livro online conta com uma curadoria de 13 receitas simples e acessíveis que foram elaboradas, testadas, ajustadas e fotografadas com o objetivo de aproximar os indivíduos das PANC e facilitar sua inserção na alimentação cotidiana. Após uma revisão da literatura da área, as espécies de PANC escolhidas para compor o livro foram beldroega, cambuquira, capuchinha, coração de bananeira, feijão-guandu, folha de batata-doce, jaca verde, ora-pro-nóbis, peixinho, taioba e tupinambo. Essas plantas foram cuidadosamente escolhidas por serem espécies não convencionais, porém tradicionais encontradas no ambiente urbano, seja em feiras, hortas comunitárias, ou no âmbito doméstico, facilitando o acesso, e, consequentemente, favorecendo a incorporação na alimentação. Além das receitas, o e-book também traz informações iniciais sobre as 13 PANC, incluindo: sua história, como e quais partes utilizar em preparações culinárias, o que esperar de seu sabor (aqui, fazendo uma comparação com alimentos convencionais) e como reconhecê-las. E, no fim, indica referências para quem deseja se aprofundar mais no assunto. Link: https://www.fsp.usp.br/sustentarea/e-books/ Estratégias de arregimentação e comunicação utilizadas: foram mobilizadas diferentes estratégias de divulgação dos materiais desenvolvidos. Em relação ao Podcast e ao E-book, em um primeiro momento, foi realizada a divulgação primária dos materiais através das páginas do Projeto Sustentarea, incluindo Facebook, Instagram, Site, Twitter e LinkedIn. Posteriormente, tendo em vista ampliar o público atingido, foi realizada a divulgação secundária (ou Institucional) dos materiais de duas formas: (i) através do boletim interno da Faculdade de Saúde Pública da USP, tendo em vista acessar a comunidade interna da Instituição, e (ii) através do Jornal da USP, com vistas a acessar a comunidade USP, a comunidade em geral e a mídia. Neste sentido, foram concedidas duas entrevistas ao Jornal da USP, a primeira teve como enfoque a divulgação do podcast “Comida que Sustenta”, e a segunda o lançamento do livro online. A terceira forma de divulgação foi realizada através da mídia aberta e originou-se da divulgação institucional. Foram concedidas entrevistas para televisão, rádio, jornais online e gravação de podcasts sobre o tema. A revista e os posts foram divulgados apenas por meio de divulgação primária e secundária.

Resultados alcançados

Na visão dos autores, os objetivos foram e ainda estão sendo alcançados em sua plenitude. A experiência é considerada não concluída por ter originado materiais que podem ser acessados sem limitação geográfica ou temporal, o que torna sua aplicabilidade contínua. A revista foi lançada em 2018, sendo que nesta época ainda não era realizada a coleta de indicadores referente ao número de downloads do material, contudo, a página do site que hospeda esse número da revista contou com 288 acessos. Em relação aos posts sobre PANC, a utilização desse veículo de comunicação tem permitido maior interação com a população, além de fornecer métricas relevantes que contribuem para a definição de futuras postagens sobre a temática. O perfil do Sustentarea no Instagram possui atualmente 6777 seguidores (sendo 84,6% mulheres; 30,3% da cidade de São Paulo e 35,5% na faixa etária de 25 a 34 anos) e foi verificado que 41% (Média:41.65%, Desvio padrão:26.11%, Mediana: 36.5%) dos usuários que interagiram com as postagens referentes à temática “Panc” não eram seguidores do perfil Sustentarea. Nas postagens de receitas com PANC foram obtidas médias de 71 curtidas, 6 comentários, 12 compartilhamentos e 17 ações de salvar a postagem. Em relação aos posts com o tema “cultivo” foram coletadas médias de 58, 2, 0 e 4, respectivamente. Nos posts com o tema “é PANC”, foram obtidas médias de 54, 3, 5 e 7 respectivamente. Por fim, nos posts sobre “que alimento é esse?”, foram obtidas médias de 43, 2, 1 e 6 respectivamente. O perfil do Podcast “Comida que Sustenta” no agregador de Podcasts Spotify possui atualmente 400 seguidores. Até o momento, os dois episódios do Podcast sobre PANC tiveram aproximadamente 332 inicializações. Os episódios contaram, ainda, com a participação de sete convidadas e dois convidados, todos envolvidos com PANC em sua vivência pessoal e/ou profissional, além de terem mobilizado diretamente três estudantes de graduação, duas estudantes de doutorado e uma de pós-doutorado, e três professoras universitárias em sua concepção, elaboração e divulgação. Em relação ao livro online, os resultados mais expressivos são, até o momento, os quase 1900 downloads do material. Um outro fator relevante que evidencia a importância e o interesse da comunidade e da mídia pela temática foi a divulgação do livro por meio de podcasts, entrevistas para rádio e televisão, e divulgação da experiência por outros projetos e iniciativas, fato que não foi planejado ao início da atividade. Ao todo, foram 6 entrevistas e 12 matérias de divulgação, incluindo uma matéria traduzida para o francês. Compreende-se também que, tendo em vista a facilidade de compartilhamento do Podcast no formato de arquivo de áudio sem hospedagem em plataforma específica e encaminhado via aplicativo Whatsapp, bem como do E-book no formato PDF, não há um controle exato a respeito da sua disseminação, sendo que o número de pessoas alcançadas pode ser muito maior do que o que somos capazes de captar a partir das métricas oficiais oferecidas pelas plataformas. A principal dificuldade encontrada durante o desenvolvimento das experiências foi a escassez de referências bibliográficas acadêmicas (particularmente na forma de artigos científicos) sobre o tema, a qual foi enfrentada a partir do contato direto com estudiosos do tema, como é o caso do Valdely Kinupp, um dos maiores pesquisadores e conhecedores do tema no Brasil; e partir do conhecimento empírico, igualmente relevante e adequado tendo em vista o objetivo elencado. Também mobilizamos outros tipos de literatura, como relatórios técnicos, livros, e teses/dissertações acadêmicas.

Considerações finais

Entendemos como um ponto bastante significativo da experiência o fato de termos desenvolvido produtos com uma grande preocupação no embasamento científico de todas as informações divulgadas, o que se faz fundamental especialmente no contexto de desinformação, obscurantismo e negacionismo científico que vivenciamos atualmente no Brasil. Porém, a finalidade da experiência é dialogar justamente com a população de fora do ambiente acadêmico e que não necessariamente faz parte do público que tem se envolvido na discussão sobre as PANC, ampliando este público, compartilhando experiências e multiplicando conhecimento. Dessa forma, a partir de uma linguagem mais acessível e de ferramentas audiovisuais atraentes para os mais diversos públicos, conseguimos dar voz a especialistas do Brasil inteiro, ao mesmo tempo em que alcançamos populações de faixas etárias e realidades diversas em todo o território nacional, extrapolando o conhecimento científico para além dos muros da universidade, no intuito de promover mudança real nos ambientes e hábitos alimentares. Na sociedade atual, há uma tendência do fluxo de conhecimento obtido por meio das tecnologias de informação e comunicação (TIC), que são ferramentas que viabilizam o processamento e a transmissão de informações, bem como o compartilhamento de conhecimento por meio eletrônico. De fato, a experiência tem como forma inovadora a transformação de disseminar e disponibilizar o conhecimento científico sobre PANC e o aproveitamento da biodiversidade alimentar articulada na sociedade digital, que poderá acessar conteúdos em linguagem acessível, sendo um estímulo para a incorporação dessas espécies na alimentação humana. A experiência contempla diferentes discussões como a identificação das espécies por meio de fotografias, cultivo, habilidades culinárias, experiências pessoais de entusiastas e informações científicas. A ideia de apresentar os conteúdos por meio de diferentes recursos, é devido a integração que pode gerar. Espera-se que a experiência possa inspirar a elaboração/divulgação de materiais sobre PANC em outras localidades do país, utilizando diferentes tipos de espécies, adaptadas ao bioma, à cultura alimentar e às experiências locais. Além disso, entende-se que o material, pautado em um arcabouço técnico-científico e de saberes locais, seja um potencial multiplicador de conhecimento dentro de universidades, escolas e cursos técnicos de diferentes áreas de formação. As perspectivas de aplicação dos materiais desenvolvidos são diversas e se adequam a diferentes contextos. Os materiais educativos sobre PANC podem ser utilizados no âmbito de serviços de saúde, particularmente nas Unidades Básicas de Saúde capilarizadas pelo território brasileiro, a partir das Práticas Integrativas Complementares em Saúde (PICS) – como rodas de chás, hortas comunitárias, cujas ações buscam a promoção de saúde e recuperação de doenças, com enfoque na escuta acolhedora, no vínculo terapêutico e na integração do usuário com o meio ambiente e a sociedade. Por fim, a característica de adaptação do material a diferentes contextos também potencializa sua utilização em ações de educação alimentar e nutricional e ambiental em territórios e comunidades, a partir da integração com atividades de agricultura urbana e periurbana, sobretudo dentro das hortas comunitárias. Durante o processo de construção dessa experiência aprendemos e continuamos aprendendo cada vez mais sobre o universo vasto e rico das PANC e como elas tem um grande potencial benéfico para o nosso sistema alimentar, sendo um ponto de encontro entre o conhecimento popular e científico em prol da promoção de uma alimentação saudável para toda a população brasileira. Aprendemos também, observando os resultados que tivemos, que o compartilhamento de receitas e o incentivo ao desenvolvimento de habilidades culinárias, como o Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda, é uma ótima maneira de aproximar o público da discussão sobre uma alimentação mais saudável. Sendo algo que pode vir a ser cada vez mais explorado nos diversos equipamentos com potencial de promover uma alimentação saudável através de atividades de educação alimentar e nutricional. Levando em conta que as PANC são diversas e variam de acordo com a região em questão, recomendamos que essa experiência seja replicada em outras localidades para expandirmos os conhecimentos acerca das plantas alimentícias e não convencionais de cada local. Algo que não foi um objetivo pontual da experiência atual, mas que recomendamos e almejamos para o futuro, é a tradução dos materiais para outros idiomas, como o inglês, espanhol e francês ampliando a acessibilidade, não só em relação à abrangência internacional, mas também com a finalidade de acessar às comunidades estrangeiras que vivem no Brasil, como por exemplo grupos de refugiados.