O movimento Comer Pra Quê (CPQ) teve início em 2017 e é uma iniciativa voltada às juventudes nacionais com o objetivo de incentivar a consciência crítica sobre a alimentação na perspectiva do Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável. Em 2019, o projeto iniciou nova fase, incluindo ações específicas para dois grupos: i) as juventudes que produzem alimentos e que se organizam para a alimentação consciente no campo e na cidade e; ii) estudantes de graduação em Nutrição.
O CPQ busca incentivar reflexões e diálogos com os jovens através de perguntas mobilizadoras, como “O que pensamos sobre a alimentação (eu, o outro, a sociedade e o planeta)? Como compreendemos os sistemas alimentares? Como podemos nos organizar e sermos protagonistas na produção de alimentos e na alimentação consciente?”, perguntas essas que se desdobraram em temas e diversos materiais de mobilização.
Os diálogos com as juventudes se inspiram nos seguintes temas mobilizadores: 1) De onde vem a nossa comida? (A sustentabilidade do sistema agroalimentar e sua relação com os modos de produzir, comer e viver); 2) A comida é nossa! (Comida como um patrimônio material e imaterial, um elo indissociável entre cultura, história e memória); 3) Cozinhar pra quê? (A autonomia culinária nos permite transformar os alimentos e as ideias, nos liga à natureza e às pessoas); 4) Imagem meramente ilustrativa ( Indústria de alimentos e sua publicidade); 5) Tempos modernos (O tempo como um dos principais obstáculos para alimentação adequada e Saudável); 6) Comer é um ato político! (Como práticas alimentares influenciam a esfera política na luta por alimentos saudáveis); 7) Juntin ou rapidin? (Convivência ou conveniência? Decisões importantes que fazem parte das escolhas alimentares); 8) Você já comeu água hoje? (Água embutida nos alimentos. O agronegócio, baseado em monoculturas, responde por 70% do uso da água e por 54% de sua contaminação); 9) Você come propaganda? (Produtos alimentícios anunciados na TV contêm alto teor de publicidade e marketing); 10) Todos juntos e misturados (Comida e gênero. Cozinhar é tarefa para todos. Não é apenas responsabilidade de um único gênero). A partir destes temas foram produzidos spots de rádio, fanzines, vídeos, publicações e animações que estão disponíveis gratuitamente nas plataformas digitais do CPQ.
Diante do cenário pandêmico de COVID-19, o CPQ tem realizado ações interativas em meio virtual tendo em vista a sensibilização e mobilização das juventudes para (re)pensar a comida e o ato de alimentar-se a partir de premissas que fortaleçam os sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis. Além disso, o projeto se utiliza das redes sociais para produzir conteúdos educativos e de mobilização sobre a temática da alimentação adequada e sustentável. Ao incentivar a reflexão sobre os sistemas alimentares e temas que convergem com a priorização do consumo de alimentos in natura e minimamente processados, o movimento contribui para a promoção do consumo de frutas, legumes e verduras entre as juventudes.
A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) e a Promoção da Alimentação Adequada e Saudável são prioridades na agenda da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN).
Nesse sentido, as ações do CPQ buscam envolver jovens de diversas origens, vinculações e interesses em torno de questões relacionadas à alimentação contemporânea, em sua multidimensionalidade. Sobretudo, fortalecer o pensamento crítico, informar e mobilizar as juventudes em direção à uma alimentação que respeite e considere a alimentação sustentável, local, justa e limpa.
Incentivar os jovens de 15 a 29 anos a refletirem sobre os sistemas alimentares atuais, bem como sobre as dimensões da alimentação e as formas de produção e consumo consciente de alimentos na perspectiva de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), apoiando assim, a promoção do consumo de frutas, verduras e legumes.
O delineamento metodológico das atividades do movimento “Comer Pra Quê?”, partem da concepção de que o protagonismo juvenil é uma estratégia pedagógica para a ação cidadã, sendo considerado um potente modelo político-pedagógico. Se orientam pelos pressupostos pedagógicos da educação Freireana, em especial: a dialogicidade, a problematização e a construção coletiva de conhecimentos.
Esse relato traz o enfoque das atividades realizadas pelo Movimento no período de 2020 até agosto de 2021.
Nos eventos e oficinas virtuais a problematização parte da exposição dos materiais do CPQ (animações, vídeos, spots ou fanzines), que abordam diferentes aspectos relacionados à alimentação contemporânea, seguidos de diálogo sobre o tema apresentado. Os participantes são convidados a deixar suas expressões (frases, textos, imagens, desenhos) em plataformas digitais (Jamboard, Mentimeter, Padlet).
No que diz respeito às ações nas redes sociais, o projeto utiliza seu perfil no Instagram para realização de ações de comunicação, mobilização e educação por meio de desdobramentos e aprofundamento dos dez temas mobilizadores do Movimento. No ano de 2020 foram desenvolvidas lives com jovens buscando capturar percepções sobre as práticas alimentares contextualizadas ao momento pandêmico. Em 2021 adotou-se uma agenda editorial para produção de conteúdo semanal considerando, além dos temas mobilizadores, datas comemorativas, acontecimentos recentes no universo da alimentação, sustentabilidade e o incentivo à consciência crítica das juventudes em relação à alimentação.
Movimento Comer Pra Quê, docentes e estudantes de graduação e pós graduação das Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-Macaé), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Ministério da Cidadania e jovens de diversas regiões do país.
O movimento conta com uma equipe técnica encarregada da logística e do apoio no desenvolvimento das ações. Dessa forma, para a organização das oficinas com as juventudes a equipe realiza mapeamento de instituições e organizações nacionais e internacionais com atividades no âmbito das juventudes no Brasil e busca ativamente o contato com estas, para aproximação e para apoio na divulgação dos eventos, tendo em vista o público jovem específico de cada oficina.
A realização de oficinas e eventos também ocorre por meio de convites de instituições, em função da visibilidade das ações e materiais do projeto nas redes sociais e site.
A gestão das redes sociais e a produção de conteúdo se dão pela equipe técnica em conjunto com alunos de graduação, extensionistas, vinculados ao Movimento. Dessa forma, possibilita-se o protagonismo e formação desses jovens ao produzir conteúdos educativos, ajustados à linguagem e aos interesses das juventudes.
De dezembro de 2020 a agosto de 2021, a equipe do CPQ realizou de maneira remota/online 4 oficinas, participou de 5 eventos técnico-científicos a nível local e nacional e 7 aulas da disciplina Educação Alimentar e Nutricional em cursos de Nutrição de diferentes regiões do país.
Os eventos e oficinas realizados contaram com um total de 785 participantes dos estados da Paraíba, Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Pará, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.
As atividades realizadas em eventos e oficinas promoveram diálogo e reflexão sobre a alimentação em sua multidimensionalidade, perpassando pelo tema da alimentação adequada sustentável, a qual contempla o consumo adequado de frutas, verduras e legumes. Além disso, foi possível durante as atividades divulgar ativamente os materiais mobilizadores do projeto, buscando engajar jovens na pauta da alimentação adequada e sustentável. Os materiais propõem que os jovens repensem suas escolhas alimentares refletindo sobre todo o caminho que o alimento percorre até chegar ao prato, considerando desde a produção, perpassando pela propaganda/marketing, distribuição e comercialização, até o consumo e descarte de resíduos, em diálogo com as orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira.
No que diz respeito às ações nas redes sociais, foram realizadas no ano de 2020 seis lives com jovens. Os temas abordados foram: 1- “Como está a sua alimentação em tempos de isolamento social?”; 2- “Convivência na alimentação e a conveniência das comidas rápidas – Como você está se alimentando nesse momento de pandemia?”; 3- “A publicidade de alimentos e bebidas durante o isolamento social”; e contou com uma série de três lives sobre o sistema alimentar intitulada “Do campo à mesa: o que a pandemia mudou nesse caminho?”, composta por 4- “Os impactos da pandemia na produção e comercialização de alimentos”; 5- “Estratégias de comercialização de alimentos da agricultura familiar durante o isolamento social”; 6- “O futuro do comer: alimentação e sistema alimentar pós pandemia”.
Os diálogos em linguagem não técnica, com temas ajustados aos interesses das juventudes, possibilitaram a aproximação dos participantes a questões relacionadas com a comensalidade, à publicidade de alimentos e o sistema alimentar, no contexto da pandemia. Sendo assim, as lives podem ter contribuído para promoção de hábitos alimentares mais conscientes e saudáveis, como o consumo adequado de frutas, verduras e legumes, por meio das reflexões geradas sobre o ato de comer e as escolhas alimentares individuais e coletivas.
Na busca contínua por incentivar à consciência crítica das juventudes foram realizadas 36 publicações no Instagram, durante o período de 05/07/2021 a 20/08/2021, a partir do desdobramento dos temas mobilizadores do Movimento, datas comemorativas e acontecimentos relevantes no campo da alimentação adequada e sustentável.
As publicações mobilizaram um total de 2.790 curtidas e 90 comentários.
O engajamento total (curtidas + comentários + salvos) nas 36 publicações foi de 3.217, e a média de engajamento por post foi de 89,3 (curtidas + comentários + salvos / número de posts).
O alcance total foi de 23.088 e o total de impressões foi de 29.463. O alcance diz respeito ao número de contas que visualizaram qualquer uma das publicações do perfil, enquanto as impressões representam o número de vezes que o conteúdo do perfil foi exibido, sendo possível que uma mesma pessoa seja contabilizada na taxa de impressões diversas vezes.
Entre abril de 2020 e agosto de 2021, a partir do conjunto de ações nas redes sociais descritas acima, houve um aumento do número de seguidores, que passou de 2034 para 3625 seguidores. Vale ressaltar que o alcance do Instagram do CPQ? é orgânico, ou seja, todos os indivíduos que interagem com o perfil chegam até ele por interesse próprio, uma vez que não é realizado o patrocínio de posts para impulsionamento.
Especificamente os temas das postagens se relacionam à sistema e cultura alimentar, incentivo ao consumo de alimentos in natura e minimamente processados em detrimento de alimentos ultraprocessados, Direito Humano à Alimentação Adequada, Insegurança Alimentar, alimentação na pandemia, autonomia nas práticas alimentares, publicidade de alimentos, tempo, praticidade e gênero.
Dessa forma, as publicações podem ter contribuído para: 1) aumentar a conscientização sobre os benefícios do consumo de alimentos in natura (frutas, legumes e verduras), 2) repensar e promover estilos de vida diversificados, adequados e saudáveis, 3) reduzir a perda e o desperdício de alimentos, por incentivar o aproveitamento integral, cadeia curta de consumo e alimentos da safra.
As atividades do CPQ representam uma importante incidência de ações de alimentação e nutrição com jovens e se alinham com o Plano Plurianual de Segurança Alimentar e Nutricional (2016-2019), que indica a necessidade de promoção do acesso da juventude às ações de SAN.
Por priorizar metodologias ativas e o protagonismo juvenil, as atividades são desenvolvidas de forma ajustada às linguagens e interesses das juventudes, representando assim um maior potencial de transformação de práticas alimentares, incluindo o incentivo ao consumo de frutas, legumes e verduras, em favor de sistemas alimentares justos e sustentáveis.
O projeto previa ações presenciais que foram canceladas em decorrência das medidas sanitárias adotadas desde março de 2020, para o controle da pandemia de COVID-19 no país, que incluem entre outras a adoção do distanciamento social. Tendo em vista este cenário, a metodologia dos eventos passou por processos de adaptação para que pudessem ser realizadas em meio digital, sem que os objetivos do projeto fossem prejudicados.
Uma das principais limitações dos eventos e oficinas em ambiente virtual é a ausência das trocas não verbais, já que muitos participantes permanecem com a câmera fechada, o que pode causar um sentimento de distanciamento que dificulta a criação de vínculo. Apesar disso, nos eventos e oficinas, houve incentivo às interações via chat e por meio de ferramentas digitais como Jamboard e Mentimeter e na rede social, ao comentário e curtida nas publicações. Desta forma, buscou-se formas para romper as barreiras impostas pelos ambientes virtuais, incentivando a interação. Porém, é preciso destacar, que a modalidade virtual tem permitido que o Movimento alcance jovens de diferentes vínculos institucionais e regiões geográficas, os quais, provavelmente, não seriam alcançados em ações na modalidade presencialmente.
A partir das experiências com as juventudes, o movimento pretende elaborar tutoriais sobre a metodologia de trabalho, que poderão inspirar ações de parceiros e demais interessados, de forma que possam ser desenvolvidas em outros espaços e contextos contribuindo para promoção da alimentação adequada e sustentável, incluindo o consumo de frutas, legumes e verduras.