APSREDES

Mapa de Feiras Orgânicas

Autores do relato:

Janine Giuberti Coutinho janine.giuberti@idec.org.br


Rafael Rioja Arantes rafael.rioja@idec.org.br


Mariana Ribeiro maribeironutri@gmail.com


Contextualização

O Mapa de Feiras Orgânicas é de abrangência nacional. Conforme será detalhado ao longo da aplicação, a ferramenta funciona de forma contínua, colaborativa e em espaço virtual, a partir de um mapa de geolocalização com identificação das feiras, grupos de consumo e comércios parceiros de orgânicos. Atualmente, temos iniciativas registradas nos 26 estados e no Distrito Federal, espalhadas por centenas de municípios. Enquadramos o histórico do Mapa como uma ferramenta que auxilia desde 2012, no consumo de alimentos, especialmente in natura e minimamente processados, de origem orgânica. A partir do incentivo às feiras e espaços alternativos de abastecimento onde predominam as FLVs, estamos também fomentando a aquisição de alimentos de agricultores familiares, cooperativas e outras formas de organização que privilegiam a geração de renda para diferentes camadas da população. Desse modo, enxergamos o Mapa para além de uma ferramenta prática para encontrar feiras, mas que tem sua origem ancorada na valorização da cultura alimentar brasileira e alimentos da sociobiodiversidade, incorporando as dimensões sociopolíticas valorizando quem produz os alimentos, e especialmente naqueles modelos que são mais saudáveis para as pessoas e sustentáveis para o planeta. De acordo com as estimativas do último levantamento realizado pela Vigitel (Sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico) em 2018, apontam que o consumo regular de frutas e hortaliças (ao menos 5 dias por semana) pela população adulta das capitais brasileiras e Distrito Federal foi de apenas 33,9%. Acreditamos que ao estimular os consumidores a conhecerem feiras, estamos também estimulando o consumo de FLVs já que são os grupos que predominam nestes espaços. Uma outra frente que auxiliamos, é na promoção das formas alternativas de agricultura que não utilizam agrotóxicos. Segundo o Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos do Ministério da Saúde, de 2007 a 2014 foram notificados cerca de 68 mil casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, o que equivale a 1 intoxicação por hora. Ainda no mesmo período, as vendas de agrotóxicos aumentaram 90% no país, enquanto a área plantada foi ampliada em apenas 19%. Com isso, a população está sujeita a um risco maior de exposição à contaminação do meio ambiente, da água, dos alimentos e do trabalho no campo. O Mapa de Feiras Orgânicas foi criado em 2012, para aproximar consumidores e produtores de alimentos orgânicos e agroecológicos, em 2017 a plataforma foi ampliada com a inclusão de receitas e uma biblioteca, para fomentar a disseminação de conhecimentos e estimular as pessoas a cozinharem e conhecerem os alimentos, especialmente os in natura e minimamente processados característicos de suas regiões. De acordo com a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) 2017-2018, as famílias brasileiras gastam em torno de 14,2% de seu orçamento total e 17,5% do orçamento de consumo com alimentação. Comparando essas despesas com a alimentação do domicílio e com o grupos de produtos, em 2017-2018 houve uma queda no grupos dos cereais, leguminosas e oleaginosas, passando de 10,4% em 2002-2003 para 8,0% em 2008-2009 e atualmente 5,0%; aumento de 3,0%, para 3,3% e hoje 3,6% em legumes e verduras; além de um aumento de 4,2%, 4,6% e 5,2% nas despesas com frutas. Em 2020 devido a pandemia de covid-19, dentro do Mapa de Feiras Orgânicas foi criada a plataforma Comida de Verdade, com o objetivo de mapear, divulgar e valorizar iniciativas que mantiveram a comercialização de comida de verdade no período de isolamento social provocado pela pandemia. Excepcionalmente na página Comida de Verdade, foram contempladas iniciativas que não produziam alimentos orgânicos ou agroecológicos, mas que eram de pequenos produtores e da agricultura familiar. Incentivando dessa forma, o consumo de alimentos saudáveis, e auxiliando no gargalo de produtores que foram amplamente afetados pela diminuição das compras públicas e fechamento das feiras por conta das restrições da pandemia. Contextualizamos a experiência do Mapa de Feiras Orgânicas como uma forma de estimular o consumo de alimentos recomendados no Guia Alimentar para a População Brasileira, como as frutas, legumes e verduras, que predominam nestes espaços. Além desta característica, entendemos que o nosso Mapa abrange premissas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com saúde, sustentabilidade, equidade e soberania. Já que privilegiamos produtores orgânicos, agricultores familiares e circuitos curtos.

Justificativa

Em uma pesquisa de preço realizada pelo Instituto Brasileiro do Consumidor (Idec) em 2010 (Quer pagar quanto?), foi constatado que os alimentos orgânicos eram mais caros nos supermercados em comparação com as feiras. Em 2012 o Idec, através da pesquisa Rota dos Orgânicos, mostrou que muitos consumidores prefeririam os alimentos orgânicos se eles fossem mais baratos e se houvesse mais canais de comercialização próximos de suas residências. Já em 2016, o Instituto Terra Mater e o Instituto Kairós realizaram um levantamento durante todo o ano (Produtos sem veneno são sempre mais caros?) onde se verificou que o preço de uma cesta de 17 produtos orgânicos estava, em média, cerca de 50% mais barato nas feiras do que nos supermercados. O Mapa de Feiras Orgânicas surgiu da necessidade de mostrar que o consumo de orgânicos pode ser mais barato e acessível em comparação com supermercados por exemplo, o que justifica pensar em alternativas que facilitem o acesso, criem relações mais próximas e saudáveis entre as pessoas (consumidores e agricultores) sem prejudicar o meio ambiente. As motivações principais para a criação do Mapa, foram, portanto, a dificuldade que os consumidores sentem em encontrar alimentos orgânicos, como frutas, verduras e hortaliças, e também a percepção de que estes alimentos custam demasiadamente mais caros. Isso porque muitos tomam como referência o preço dos supermercados, e não o das feiras e canais alternativos que divulgamos, que são comprovadamente mais baratos como os estudos demonstram.

Objetivo

O Mapa de Feiras Orgânicas tem como objetivo identificar espaços de comercialização de alimentos orgânicos e aproximar consumidores e produtores. A partir do Mapa, estimulamos a alimentação saudável e sustentável em todo o Brasil, mostrando que os alimentos orgânicos e agroecológicos podem ser mais acessíveis. Através da divulgação de iniciativas que produzem alimentos com essas características, buscamos encurtar o caminho do consumidor até o produtor de alimentos saudáveis, identificando em nosso Mapa, junto com a divulgação nas nossas redes sociais, e a partir da articulação e fomento com outras organizações parceiras.

Metodologia

De forma colaborativa é realizado o mapeamento de iniciativas que comercializam alimentos orgânicos e agroecológicos no Brasil. Através de um formulário (disponível em: https://feirasorganicas.org.br/adicionar-local/) são solicitadas informações sobre o responsável pelo registro da iniciativa, como categoria, nome, endereço completo, se possui algum selo que garanta a qualidade orgânica, se possui produtos da sociobiodiversidade, dias e horários de funcionamento, quais são os alimentos disponíveis, alguma forma de contato e foto. Essas inserções são feitas pelos próprios feirantes, ou por cooperativas e/ou associações de representantes, ou até mesmo consumidores que frequentam as iniciativas. Uma vez registradas as iniciativas em nosso site, fazemos a gestão para análise das informações. Ela inclui uma checagem através de sites e redes sociais das iniciativas para verificar as informações mínimas necessárias, ou seja, informações suficientes para que o consumidor possa encontrar e saber qual o tipo de alimento disponível. Para inserção no Mapa, as iniciativas são categorizadas como feiras orgânicas ou agroecológicas, comércios parceiros de orgânicos e grupos de consumo responsável. As feiras orgânicas ou agroecológicas são os espaços mais antigos de comercialização de alimentos, uma ótima alternativa da compra direta com o produtor, pois diminuem intermediários no processo (e, consequentemente, o preço), estimulam a autonomia do produtor e valorizam a produção local de alimentos; Os grupos de consumo responsável são iniciativas de consumidores organizados que se aproximam de produtores e, juntos, propõem comprar produtos de uma forma diferente da que ocorre no mercado tradicional, pois agregam preocupações com as questões sociais, ambientais e de saúde. O propósito desses grupos é fomentar o consumo diretamente do produtor, seja por meio da aquisição de cestas de alimentos orgânicos ou do financiamento dos produtores; Já os comércios parceiros de orgânicos são iniciativas que aproximam consumidor e agricultor, ainda que em espaços que não apenas as feiras, podendo a venda ser realizada através de um local físico ou virtual. Essa relação deve ser transparente e justa, com preços que possam cobrir as despesas operacionais. Além destas características, consideramos para a inserção de iniciativas nesta categoria, aquelas que tem uma lógica de funcionamento que incorpore efetivamente ações para remunerar os agricultores de forma justa, e fazer chegar aos consumidores com preços acessíveis.

Atores envolvidos (institucionais e/ou coletivos)

O Mapa de Feiras Orgânicas, assim como a página Comida de Verdade, é uma iniciativa do Idec que conta com a parceria com diversas organizações. Ao longo dos anos, os parceiros que colaboraram com o Mapa de Feiras Orgânicas e a plataforma Comida de Verdade foram: Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, Cadeia Solidária Frutas Nativas – Rio Grande do Sul, Conexsus – Conexões sustentáveis, CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do RS, Cooperação alemã por meio da GIZ – Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit, CSA Brasil, EITA – Educação, informação e tecnologia para autogestão, GEPAD – Agricultura, alimentação e desenvolvimento, Instituto Brasil Orgânico, Instituto Kairós, LACAF – Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar – UFSC, Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Portal do Consumo Responsável, Rede Agroecologia ECOVIDA, Rede Brasileira de Grupos de Consumo Responsável, Slow Food Brasil, movimento Tô aqui!, Sampa+Rural (Prefeitura de São Paulo), Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco.

Estratégias

Para atingir o objetivo de identificar os espaços de comercialização de alimentos orgânicos e aproximar consumidores e produtores, de maneira representativa nas cinco regiões brasileiras, lançamos mão de diversas estratégias de articulação e comunicação. Ao longo desses mais de 5 anos, o Mapa foi se consolidando através de diferentes parcerias como um importante instrumento neste mapeamento. Para aumentar a precisão da informação por meio de articulação com parceiros locais, sejam organizações que atuam nas diferentes regiões ou mesmo representantes de secretarias de estados e municípios, citamos por exemplo, o caso de uma parceria estabelecida com o Projeto Ligue os Pontos (Prefeitura de São Paulo), que utiliza o nosso Mapa na parte das feiras do site Sampa+Rural, e fizeram a checagem e atualização de todos os estabelecimento do munícipio de São Paulo. Também tivemos parcerias específicas no mesmo âmbito para as feiras do norte e também de Pernambuco. Apesar de ser uma plataforma que funciona de forma virtual, nossa expectativa é que cada vez mais ela se configure não apenas com uma funcionalidade prática aos consumidores, mas como uma forma de promover articulações entre diferentes atores neste mapeamento. No que diz respeito a parte de comunicação e elaboração de materiais, estamos constantemente disseminando em nossas redes a divulgação para os consumidores, incentivando que conheçam as feiras, e frequentem esses espaços. Elaboramos uma publicação intitulada “Caminhos para a Comida de Verdade”, com números de feiras e iniciativas durante a pandemia. As estratégias também incluem a elaboração e divulgação de cards nas redes sociais do Idec, divulgação orgânica de personalidades influentes que atuam na promoção de alimentação saudável, assim como aparições nos mais diversos veículos de mídia para comentar sobre a plataforma e discutir as questões relacionadas.

Resultados alcançados

Os principais alimentos comercializados pelas iniciativas cadastradas no Mapa de Feiras Orgânicas in natura e minimamente processados, de produção orgânica ou de transição agroecológica. Hortaliças e frutas ocupam os primeiros lugares, nessa ordem, dos alimentos mais vendidos pelas iniciativas registradas na plataforma, o que é um indicativo de que os alimentos comercializados e os espaços divulgados no Mapa de Feiras contribuem para uma alimentação saudável e sustentável. Trazendo alguns indicadores concretos que utilizamos para verificar e monitorar o desenvolvimento do Mapa: Temos hoje 1043 iniciativas registradas em todo o Brasil, cobrindo os 26 estados mais o Distrito Federal, contemplando um grande número de municípios. Estes números estão em constante evolução, por exemplo, o Mapa iniciou como um registro das feiras apenas do estado de São Paulo, e foi evoluindo gradativamente. Em 2016 já apresentava mais de 500 iniciativas, chegou a 760 em 2018, e ultrapassou pela primeira vez a marca das 1000 iniciativas em 2021. Em relação às métricas de comunicação, o Mapa de Feiras já teve mais de 1 milhão de acessos nestes anos de existência. Mensalmente, o Mapa recebe em média a visita de 12 mil usuários. Utilizamos estas métricas para verificar não apenas os acessos, mas para entender o alcance e utilidade da ferramenta. Outro indicador que utilizamos é o número de organizações parceiras engajadas no Mapa. Na última iniciativa que conduzimos, para divulgar os locais que continuaram a abastecer a população durante a pandemia, reunimos mais de 10 organizações parceiras no levantamento.

Considerações finais

Os resultados alcançados até o momento com o Mapa de Feiras Orgânicas, reforçam não apenas a necessidade de que cada vez mais os consumidores. procurem por alimentos in natura e minimamente processados orgânicos e agroecológicos, mas também que os gestores e legisladores adotem políticas públicas que incentivem espaços alternativos onde circulam esses alimentos e, especialmente, as aquisições de alimentos da agricultura familiar, orgânica e em transição agroecológica. Entendemos que o Mapa é inovador por trazer uma solução para aproximar consumidores e produtores, fomentando relações de consumo que sejam mais saudáveis e sustentáveis. Destacamos que o Mapa, ao longo dos anos, apresenta uma perspectivas práticas de aplicação e conexão com diferentes atores, ao lidar diretamente com a população como atividade fim que tem a ferramenta, mas colaborar com outras organizações da sociedade civil e eventualmente gestores públicos. Como aprendizados, podemos citar a importância do caráter contínuo e colaborativo do Mapa. Por se tratar de uma atividade que abrange todo o Brasil, tivemos que criar mecanismos e parcerias para manter a plataforma atualizada, este é um desafio constante.