O Distrito Federal foi uma das primeiras unidades da Federação a estabelecer e implantar as práticas integrativas e complementares em saúde como uma política de governo. A Política Distrital de Práticas Integrativas em Saúde foi implementada em 2014. A Secretaria de Saúde do Distrito Federal assumiu formalmente o compromisso da estruturação, continuidade, garantia de insumos e financiamento das práticas, que estão inseridas nos três níveis de atenção. Em 2020, antes da pandemia, as práticas eram ofertadas em 138 das 240 Unidades de Saúde. A experiência também está registrada em vídeo documentário produzido pela equipe do Laboratório.
O DF conta com Farmácia Viva, horto medicinal e atualmente, são instituídas dezessete práticas: Acupuntura, Arteterapia, Automassagem, Fitoterapia, Hatha Yoga, Homeopatia, Lian Gong em 18 terapias, Medicina e Terapias Antroposóficas, Meditação, Musicoterapia, Reiki, Shantala, Tai Chi Chuan, Terapia Comunitária Integrativa, Ayurveda, Laya Yoga e a Técnica de Redução de Estresse – T.R.E.
“A política harmoniza as ações. Faz com que, em um território, de um estado ou de uma localidade, a utilização dos métodos seja horizontal, e todo mundo usa a mesma prática com a mesma filosofia. Isso faz com que todo mundo avance, e melhora na qualificação, melhora no que diz respeito à entrega de resultados”, pontuou o General Pafiadache, Secretário de Saúde do DF.
As práticas são desenvolvidas por voluntários e pelos funcionários públicos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, que conta com mais de 35 mil servidores. Os profissionais que têm interesse recebem qualificação por meio de cursos que são ofertados diretamente pela SES/DF, ou por meio de parcerias com instituições como a Escola de Aperfeiçoamento do SUS. Os servidores habilitados são autorizados, por uma portaria, a dedicar a partir de seis horas da carga horária para a oferta das práticas integrativas.
“No todo, nós atingimos todas as modalidades de Unidades de Saúde que nós temos, da atenção básica, atenção primária, UBS, até o nível terciário mais complexo, como UTIs. Nós temos alguns projetos de práticas integrativas também nas equipes de UTIs, e ainda no nível educacional, onde também é uma das áreas importantes da saúde, do SUS. No nível educacional, temos diversas iniciativas, habilitando, capacitando, qualificando o profissional de saúde para que ele esteja cada vez mais em contato com as metodologias e com a maneira de pensar salutogênica”, disse Cristian da Cruz Silva, gerente de Práticas Integrativas em Saúde do DF.
A oferta das práticas integrativas é monitorada em tempo real, por meio de dois painéis virtuais implantados no final de 2021. “O monitoramento da oferta de serviços das práticas integrativas em saúde na rede SES/DF é feito pelos dois sistemas oficiais que nós temos. Um é o e-SUS, que é o sistema nacional, oficial, de registro das práticas integrativas em saúde. O segundo é o sistema TrakCare. Este sistema é utilizado pelos instrutores que estão nas unidades especializadas, e também nos hospitais. Nós temos também o formulário de produção de PIS, do Google Forms, onde os instrutores de PIS dos três níveis de atenção podem fazer o registro da oferta da sua prática”, explicou Graziella Giovanna de Lucas Zeferino, responsável pelo monitoramento da oferta de PIS na GERPIS-DF.
No Centro de Referência em Práticas Integrativas de Planaltina, está situada uma das primeiras farmácias vivas implantadas no país. O Distrito Federal, por exemplo, foi pioneiro na introdução do xarope de guaco no SUS, em 2000. “O Centro iniciou em 1983 com um pequeno canteiro de plantas medicinais. E houve uma adesão imediata e muito forte da população ao uso destas plantas, também trazer plantas para se informar se era o jeito correto de usar e tudo isso. Alguns médicos eram homeopatas e começaram a atender aqui também. Também trouxemos acupunturistas para o centro. Logo no início, a gente viu que o atendimento individual com estas práticas necessitava de um complemento com trabalhos em grupos para a coletividade. Foram introduzidos grupos de auto massagem, tai chi chuan, oficinas diversas de autoconhecimento, de alimentação, tornou-se um ambiente onde a comunidade se encontra e vem buscar o cultivo de sua saúde”, explicou Marcos de Barros Júnior, gerente do Centro de Referência em Práticas Integrativas em Saúde.
“Nós percebemos que com as práticas integrativas, a gente consegue trabalhar a questão da prevenção, a questão do autocuidado e a questão de um vinculamento das pessoas aos procedimentos do centro de saúde”, pontuou Michelline Rodriguez, fisioterapeuta. A usuária do SUS, Darcy Machado Sullivan, aposentada, demonstrou a felicidade em participar das práticas: “Eu nunca vi uma coisa dessas. Nunca vi. Tudo, aqui, pelo SUS, não só o tai chi, mas até a yoga, se você quiser fazer, pode fazer também tudo pelo SUS, sem custo nenhum! Aqui, a gente chega, e a recepção é fantástica. Eu sinto, assim, um orgulho de estar participando do tai chi aqui do Lago Norte”.
Em 2019, o Distrito Federal atingiu 63 mil atendimentos, em 16 modalidades de práticas integrativas. Sobre as dificuldades encontradas, Marcell Alves Costa, gerente de serviços na Atenção Primária da UBS do Lago Norte citou: “O que a gente mais teve dificuldade foi fazer com que toda a equipe entendesse a importância da prática integrativa. A gente tendo este entendimento, um servidor apoia o outro, na busca de não perder a assistência para a população. Os servidores entendendo a importância de promover saúde no nosso território, eles apoiam os outros. Quando um tá fora, se surgir um paciente, uma demanda, outro servidor acolhe porque entende que o profissional está deslocado para a realização desta prática”.
Paula Lawall, Subsecretária de Atenção Integral à Saúde da Secretaria de Saúde do DF, comentou: “A gente precisa fazer com que os próprios gestores conheçam o que são as práticas integrativas. A gente precisa trazer à luz, para quem está fazendo a direção de toda a cadeia de comando, dentro da secretaria de saúde, qual a importância da prática e por que ela deve ser institucionalizada, tanto dentro da administração central como em relação aos profissionais que estão em outro nível da atenção. Para a gente poder ensinar, só de falar a gente não tem potência. Então a gente também oferta as práticas para que as pessoas aqui vivenciem essas experiências, elas entendam, sintam, e também possam ser multiplicadoras nos cursos de formação que a gente oferta aqui”.
O cultivo e o incentivo ao uso das plantas medicinais está presente desde o surgimento das práticas integrativas no Distrito Federal, e se mantém como um dos pilares da política distrital. Um dos locais de cultivo de plantas é o horto agroflorestal medicinal biodinâmico do SUS, na UBS do Lago Norte, onde as plantas medicinais são cultivadas conforme os princípios da agricultura biodinâmica. A equipe desenvolve toda a cadeia produtiva das plantas medicinais, com área de cultivo, de triagem das plantas, de todo o processamento de lavagem, secagem, trituração e manipulação.
“Neste processo das práticas integrativas, nós temos uma diversidade muito grande de necessidades dentro da população. Quando nós escolhemos a metodologia de cultivo, resolvemos sair do campo da monocultura, que é o grande paradigma de produção de plantas medicinais em larga escala, e entender que esta diversidade que vem dos sistemas agroflorestais é fundamental para a gente poder, de certa forma, criar uma resiliência para lidar com a diversidade também das pessoas”, explicou Marcos Antônio Ferreira, médico da ESF da UBS do Lago Norte.
O núcleo de Farmácia Viva, no Riacho Fundo, em atividade desde 1989, é uma das unidades farmacêuticas da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Nesta área, são cultivadas plantas medicinais para a produção de até 30 mil fitoterápicos. As principais espécies são boldo, guaco, funcho, alecrim, pimenta, babosa, erva baleeira e confrei. “Nós cultivamos um elenco definido de espécies vegetais medicinais, transformamos estas plantas, por operações farmacêuticas, em fitoterápicos, e distribuímos às Unidades Básicas de Saúde cadastradas ao núcleo de Farmácia Viva”, contou Nilton Júnior, Farmacêutico-Chefe do Núcleo de Farmácia Viva da SES/DF.
As práticas integrativas contribuem para o enriquecimento da carteira de serviços do SUS e das unidades de saúde, proporcionando aos usuários serem vistos além de pacientes, mas sim, como seres humanos, para que a partir daí se estabeleça o cuidado.
Para mais informações acesse: https://www.saude.df.gov.br/praticas-integrativas-em-saude/