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Gerente de Sistemas de Saúde da OPS/OMS em WDC fala sobre o enfrentamento das doenças crônicas nas Américas

O panorama das doenças crônicas no cenário internacional foi apresentado pelo gerente da Área de Sistemas de Saúde baseados em APS, da OPAS em Wasghinton-DC, Rubén Torres, durante o Seminário Internacional sobre Atenção Primária à Saúde – Acesso Universal e Proteção Social, realizado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), nos dias 24 e 25 de abril de 2012.

Na oportunidade, ele conversou com o Portal da Inovação na Gestão do SUS – Redes e APS, e defendeu a estratégia da Atenção Primária à Saúde e a integração da rede de serviços de saúde para enfrentar o aumento da carga de doenças não transmissíveis. “É necessária uma atenção que não centre apenas nos aspectos curativos, mas que atue fortemente os aspectos preventivos. Hoje as doenças crônicas representam a maior carga de enfermidade para todos os países das Américas, com exceção do Haiti”, disse.

Qual a carga das Doenças Crônicas nos países das Américas?

Rubén Torres – As doenças crônicas representam a maior carga de enfermidade para todos os países das Américas, com exceção do Haiti. A estimativa é de que aproximadamente 250 milhões de pessoas viverem com algum tipo de doença não transmissível nas Américas. O problema é que o enfrentamento da enfermidade não tem resposta exclusivamente do setor saúde. É uma situação multifatorial que sobre influência de vários aspectos. Para o sistema de saúde, é necessário implantar um modelo de atenção que responda a essa situação.

Qual o modelo de atenção que a OPAS/OMS defende para enfrentar as doenças crônicas?

Rubén Torres – Esse modelo de atenção deve estar centrado na estratégia da Atenção Primária de Saúde e na integração da rede de serviços de saúde, por ser a única oportunidade para o paciente ter uma atenção continuada e não fragmentada. É necessária uma atenção que não centre apenas nos aspectos curativos, mas que atue fortemente os aspectos preventivos. Um exemplo é o enfrentamento da obesidade, que não devemos enfrentá-la com cirurgia bariátrica, mas com ações de prevenção. Para isso, temos que levar em conta vários aspectos, inclusivos os mitos. Em primeiro lugar as doenças crônicas são altamente preveníveis. Quando falamos de doenças transmissíveis não há dúvidas da sua potencialidade de prevenção por meio de vacinas, etc. Mas quando falamos de doenças crônicas há uma resignação muito grande, só que a população tem que entender que grande parte delas são preveníveis. Como exemplos de medidas de prevenção cito a redução do hábito de fumar, do consumo de álcool, de ingestão de sal, a necessidade de realizar de atividade física. Ademais, não entendo porque os sistemas de saúde não optam por tratar de forma efetiva as enfermidades crônicas, já que sairia muito mais econômico para os governos. Os modelos de atenção organizados por níveis de complexidade e prestação de cuidados baseados em especialistas são modelos inadequados para enfrentar os problemas atuais do perfil de morbi-mortalidade.
O que a APS precisa para dar conta das doenças crônicas crônica?

Rubén Torres – Quando a APS tem capacidade resolutiva, ela é capaz de lidar com o paciente de doença crônica ou aguda. Quando falamos de APS preparada para atender as doenças crônicas estamos falando de equipe multidisciplinar, médico de família, enfermagem treinada, plano de cuidado, apoio ao autocuidado, monitoramento do paciente e etc. Se tivermos essa APS resolutiva, ela estará preparada para resolver qualquer situação de saúde. Sabemos que 75% das causas que demandam consultas médicas podem ser resolvidas na APS, muito antes de chegar ao hospital.

Como os países das Américas estão enfrentando o problema das doenças crônicas?

Rubén Torres – Creio que o tema está introduzido na agenda política ou no imaginário político, todos falam da responsabilidade da APS. O grande desafio é que essa APS tenha capacidade resolutiva. Não vamos conseguir enfrentar as condições crônicas com uma atenção primária primitiva. O Brasil é pioneiro neste tema em vários aspectos. É um país que tem logrado bons resultados e que entende que a fragmentação do sistema de saúde é um empecilho para o enfrentamento dessa enfermidade. Além disso, o Brasil tem um sistema hospitalar que é exemplo para os países das Américas.

A OPAS/OMS lançará em maio uma nova ferramenta para auxiliar os países das Américas, por meio da Plataforma Regional de Acesso e Inovação para Tecnologias Sanitárias. C
omo será essa ferramenta?

Rubén Torres – É uma ferramenta que vai permitir reunir um conjunto de informações para dar resposta a demandas dos sistemas de saúde, nos aspectos de medicamentos, evidências que sustentam a inclusão de novas tecnologias, estudos sobre custo efetividade que permitirá comparar preços de insumos em toda a região das Américas. O objetivo é evitar ataques de produtores de equipamentos e tecnologias que combinam preços na região. Será uma ferramenta importante para os países enfrentarem grandes desafios. A plataforma tem um banco de dados que é alimentado por todas as representações da OMS, por centros colaboradores, com acesso livre para todos os atores dos sistemas de saúde das Américas, colaborando no processo de tomada de decisão. O Brasil tem um papel fundamental nessa plataforma.

Quais outras parcerias estão prevista com o Brasil?

Rubén Torres – Teremos muitas atividades com o país, como por exemplo, a qualificação das agências reguladores de alimentos. Também recebemos do governo Brasileiro o pedido de apoio para difundir as experiências aprendidas com atenção familiar em outros países.

Vanessa Borges
Agência de notícias do Portal Redes e APS

 

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