“A Atenção Primária à Saúde (APS) está sendo renegada a um papel secundário no combate da Convid-19”, alertou o médico espanhol e professor da Escola Andaluza de Saúde da Família, Sergio Minué, que participou do debate virtual realizado neste sábado (04/01), pelo Portal da Inovação na Gestão do SUS em parceria com grupo da área da Saúde da Escola de Administração de Empesas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (AEESP FVG – Saúde).
“Os pacientes com suspeita de Covid-19 precisam ser acompanhados pelo médico de referência da APS que conhece a história de saúde desses usuários e que podem fazer um diagnóstico preciso, pois muitos deles apresentam insuficiência cardíaca, depressão ou simplesmente gripe durante a emergência sanitária”, defendeu Minué que acredita no papel de coordenador do cuidado da APS na pandemia. Ele defende também o protagonismo da APS no cuidado de grupos vulneráveis como moradores de rua, de abrigos comunitários, de asilos e em lares de idosos, grupos de risco para a doença respiratória.
Os médicos sanitaristas participantes do debate virtual, Renato Tasca e Adriano Massuda, concordaram com o papel estratégico da APS mas se colocaram preocupados com a possibilidade das unidades de saúde se transformarem em centros de transmissão da Covid-19 corroborando para a expansão da doença.
Sérgio Minué apresentou algumas estratégias para que a APS funcione na sua potencialidade durante a pandemia de Covid-19, sendo a primeira delas a necessária proteção dos profissionais de saúde da APS, por meio do uso de equipamentos de proteção individual (EPI). A segundo ponto apresentado pelo médico espanhol abordou o atributo comunitário da APS. “As zonas especiais de confinamento de pessoas, como asilos e presídios, são fundamenteis serem assistidos pela APS no território”, recomendou Minué.
O terceiro ponto abordado partiu de um problema identificado na Espanha, que segundo ele, foi a má gestão dos recursos humanos durante o manejo clínico da pandemia. “Há diferenças nos perfis dos profissionais de saúde requisitados durante a resposta clínica da doença e essa gestão precisa ser planejada no serviço de saúde”, explicou.
Porém o principal item colocado pelo médico espanhol e o maior desafio do primeiro nível de atenção passa pela reorganização do processo de trabalho da APS. “Para não deixar ninguém de fora e atender todos os pacientes, mesmo aqueles sem a Covid 19, a APS precisa estruturar muito bem a atenção para reduzir os contatos presenciais. Neste momento é muito importante desenvolver métodos de consulta por vídeo, por mensagens no celular ou por telefone entre a APS e o usuário”, defendeu Minué. “Haverá ocasiões em que o contato presencial será fundamental, mas precisa ser organizado para no domicílio do usuário”, completou.
Quando o atendimento remoto ou domiciliar for insuficiente para acompanhar o paciente, o médico espanhol sugere que o serviço de saúde organize sua rede hospitalar para diferenciar os centros de saúde destinados aos pacientes de Covid-19 dos não infectados. “Na Espanha, os centros de saúde voltados para atender os pacientes de Covid-19 fazem um rodízio no território para que os pacientes tenham acesso à assistência mais próximo de casa”, explicou Minué.
Adriano Massuda apontou a necessidade de os órgãos sanitários desenvolverem protocolos de cuidados diferenciados para o ambiente hospitalar e para a abordagem comunitária da Covid-19. “A APS precisa ter uma orientação melhor por meio de protocolos para abordar ações de saúde coletiva e utilizar melhor as ferramentas que dispõem, como os Núcleos de Apoio de Saúde da Família (Nasf), que possuem multiprofissionais a serem utilizados na resposta à doença. Falta uma melhor coordenação do cuidado e integração das ações entre a vigilância epidemiológica com a assistência”, alerta Massuda.
Renato Tasca concordou que a potencialidade da APS neste momento é o seu atributo comunitário, mas destacou que esta atenção precisa ser reorganizada durante a pandemia. “A APS não pode responder da mesma forma durante a pandemia de Covid-19, o nosso modelo de atenção atual precisa se projetar de forma diferente e a humanização virtual se coloca como a principal alternativa”, reafirmou o médico.
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