Três experiências demonstram como a capilaridade do primeiro nível de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) contribui na resposta à pandemia de Covid-19 ao se conectar com os usuários no território. Crato/CE, Teresina/PI e Sorocaba/SP priorizam o contato com a população mais vulnerável socioeconomicamente, levando em consideração aspectos clínicos elegíveis para casos graves de Covid-19. As ações passam por rastreamento de usuários com alto risco de ter um desfecho negativo para Covid-19, classificação de risco em populações vulneráveis para a doença e estratégias de comunicação comunitária.
As experiências participam da iniciativa APS Forte no combate à pandemia, desenvolvida pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e pelo Ministério da Saúde, que já recebeu o relato de mais de 800 práticas provenientes de todo país. Os detalhes foram apresentados no debate virtual “APS conectada com a comunidade”, realizado no dia 19 de junho, como parte das atividades da iniciativa.
“É uma riqueza de conhecimento que estamos recebendo de todas as regiões do país”, disse o apresentador do debate, Renato Tasca, e coordenador da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS. “É um equívoco achar que se vence a pandemia apenas com a rede hospitalar. Se a APS estiver melhor preparada, tenho certeza que há redução nas internações hospitalares”, explica a assessora técnica do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Maria José Evangelista, que participou do debate como moderadora.
De Crato, no Ceará, a fisioterapeuta e residente multiprofissional em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri (URCA), Maria Alice Alves, apresentou a experiência “Estratificação de risco à Covid-19 para gerenciamento de ações em educação em saúde na UBS”. Profissionais de saúde e os residentes da Unidade Básica de Saúde Dr. José Ribeiro identificam as famílias vulneráveis economicamente e com comorbidades elegíveis para pacientes graves de Covid-19 no território de abrangência.
“Em duas microáreas, das 200 famílias cadastradas, identificamos 16 famílias com alto nível de vulnerabilidade e 72 famílias com nível médio”, explica Maria Alice Alves. “Esse levantamento é importante para direcionar ações voltadas para essas vulnerabilidades encontradas. O passo seguinte é a territorialização, onde utilizamos programas da internet como o SW Maps e o Google Earth Pro, que possibilitam termos mapas dinâmicos. São programas que permitem alimentar com todos os dados clínicos e socioeconômicos”, explica Maria Alice.
A assistência às famílias cadastradas e consideradas mais vulneráveis à Covid-19 é realizada pela equipe da UBS utilizando o whatsapp e também por visitas domiciliares. A equipe ainda desenvolveu ferramentas para a educação em saúde, como informativos contendo os sinais de alertas da doença, os sintomas da Covid-1 e as medidas de prevenção recomendadas. Também foi criada a página da UBS na rede social no Instagram (@ubsrecreio) para manter o contato diário com a população.
Veja a apresentação – SMS Crato/CE
A interiorização da Covid-19 no interior de São Paulo colocou Sorocaba em estado de alerta. Com 32 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 44 equipes de Saúde da Família, para uma população em torno de 780 mil pessoas, a Secretaria Municipal de Saúde de Sorocaba teve que inovar na comunicação com a população, especialmente, aquela residente em áreas vulneráveis socioeconomicamente.
Durante a pandemia, a prefeitura intensificou a relação com os veículos da imprensa para ampliar a divulgação diária do boletim epidemiológico da Covid-19 e da taxa de ocupação de leitos, visando a alertar a população sobre o crescimento de casos e de óbitos por Covid-19 na cidade. Porém, uma análise aprofundada das secretarias de Saúde e Cidadania apontou que ainda havia falta de comunicação, especialmente, nos territórios com mais casos da doença e mais vulneráveis.
“Apesar das atividades de imprensa, da publicidade, das redes sociais, do site criado exclusivamente para a Covid-19, a pandemia se tornou política e a rejeição da população com o setor público ficou mais evidente”, comenta o assessor de imprensa da secretaria, Marcelo de Almeida Júnior. A resposta ao problema se deu com a experiência “A importância da comunicação comunitária no combate à Covid-19”, apresentada no debate realizado no dia 19 de junho, como parte das atividades da iniciativa APS Forte no combate à Covid-19.
“A comunicação comunitária é muito interessante porque ela traz a transformação social, ela resgata a cidadania, a participação direta da população, o acolhimento e a educação social”, explica Júnior. “Então, a gente teve a ideia de fazer vídeos com personalidades conhecidas de cada território. A gente fez um filtro com os líderes comunitários mais conhecidos, passou as dicas de prevenção da prefeitura, para que eles gravassem os vídeos, mas sem ser um vídeo oficial da prefeitura”, explica Júnior. “Desta forma, os vídeos têm proximidade com a população e não geram desconfiança”, ressalta.
A experiência conta ainda com a parceria da Secretaria de Cidadania, que dispara os vídeos para cada grupo de whatsapp dos Centros de Referências de Assistência Social de cada região. “Nós disparamos os vídeos e os informes oficiais da prefeitura de forma segmentada para cada grupo de whastapp”, conta Júnior. Outra estratégia adotada foi a utilização de carros de som e cartazes personalizados em cada UBS com os números da Covid-19.
Apresentação da SMS Sorocaba/SP
Em Teresina, a prefeitura reservou 23 Unidade Básicas de Saúde, de um total de 90, para atender aos pacientes suspeitos e confirmados de Covid-19. “Entendendo que a APS é central na rede de cuidado em saúde no combate à Covid-19, a gente resolveu investir na busca ativa de novos casos suspeitos de síndrome gripal na população, ampliando a capacidade de testagem, a notificação de casos e o rastreamento de contatos de casos confirmados de Covid-19 no domicílio”, explica Andréia Sena, enfermeira e apoiadora institucional da Diretoria de Atenção Básica da Fundação Municipal de Saúde (FMS)de Teresina, Piauí.
“A gente investiu muito na notificação dos casos desde o primeiro dia de atividade nas UBS exclusivas para síndrome gripal. Pelo E-SUS VE, a gente envia os dados para um sistema que importa a lista de casos confirmados de toda rede, pública e privada, e envia a relação dos pacientes para um grupo de enfermeiros que faz a teleconsulta, monitorando os sintomáticos e identificando os contatos intradomiciliares. Depois, a equipe de testagem segue para o domicílio dessas pessoas”, explica Andréia Sena.
Desta forma, Teresina testa diariamente cerca de 1.000 pacientes nas 23 UBS, que funcionam de domingo a domingo, e nas visitas domiciliares, segundo a diretoria de Atenção Básica da FMS. “A gente aumentou muito a quantidade de testes realizados porque a quantidade de casos está em curva ascendente. A gente tem um total de 27% dos resultados dos testes como positivo”, explica.
O município também colocou à disposição da população um número de Whatsapp (86 99425-1578) para agendar o teste de Covid-19. “Com essa experiência, a gente conseguiu evitar a circulação de pessoas possivelmente infectadas, fortalecendo a manutenção do isolamento domiciliar para diminuir a disseminação do vírus ”, considera a enfermeira Andréia Sena. “Com a identificação precoce dos casos, a APS evita o agravamento do quadro da infecção”, explica Sena.
Veja a apresentação – BUSCA ATIVA COM RASTREAMENTO DE CONTATOS DOMICILIARES ok
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