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“A quarentena está funcionando. Sem quarentena nós estaríamos vivendo o que Nova Iorque está passando agora, o que Espanha já viveu, sem lugar para enterrar os mortos”, ressaltou o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), durante o debate virtual promovido pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e pelo Portal da Inovação na Gestão da Saúde, na última quinta-feira (09/04).
O debate, que tratou sobre a reorganização e ampliação dos serviços hospitalares para a resposta da pandemia de Covid-19, contou com a participação do secretário de saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, do assessor regional da equipe médica de emergências da Organização Pan-Americana da Saúde em Washington, Luis de la Fuente, sob a moderação da coordenadora do FGV Saúde, Ana Maria Malik.
Diante da desigualdade social exacerbada no país, agora expressa em números de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis no setor privado e no público, Vecina defendeu uma lista única de leitos de UTI para os pacientes de Covid-19 regulada pelo gestor estadual. “Não podemos aceitar que um cidadão com plano de saúde tenha quatro vezes mais chances de sair vivo da Covid-19 do que um paciente do SUS, por questão de acesso à leitos”, defende. “É mandatório utilizarmos o arcabouço legal, já disponível, para estruturar uma fila única desses leitos, públicos e privados, com a adequada renumeração devido aos custos diferenciados”, ressaltou Vecina.

Para gestor estadual da saúde, Ismael Alexandrino, as dificuldades relacionadas às estruturas físicas hospitalares do SUS prejudicam a resposta da rede de saúde à pandemia. “Antes da pandemia, o Estado de Goiás já registrava um déficit de centenas de leitos de UTI, e agora estamos vendo se aproximar um tsunami de casos de Covid-19 sem que tenhamos leitos necessários”, disse. “Estamos pegando estruturas municipais menores e algumas estruturas transitórias, como hospital de campanha, para enfrentar a pandemia. Nós defendemos que depois da pandemia, esses leitos continuem nos municípios para que possamos reparar um pouco o déficit da rede”, planeja.


O secretário Alexandrino falou ainda sobre outra preocupação para os gestores estaduais que diz respeito a insuficiência de recursos humanos capacitados para o manejo clínico da doença na rede hospitalar. “Percebemos que os profissionais bem qualificados clinicamente já estavam lotados nos hospitais com leitos de UTI. Estamos tendo dificuldade de alocar profissionais qualificados no manejo clínico da Covid-19 nos novos hospitais criados para a pandemia”, completou.
O assessor da OPAS para emergências, Luis de la Fuente, enfatizou a necessidade de um planejamento integrado entre diversos níveis do sistema de saúde à pandemia, que envolve ações desde a atenção primária até alta complexidade hospitalar. “Para cada cenário pandêmico, a resposta é diferente. São três níveis de resposta, que passa pelo fortalecimento da rede instalada: a Atenção Primária para atender os pacientes de Covid-19 não graves; a rede de apoio hospitalar, com a logística de ambulâncias, com os centros de triagem nas portas dos hospitais que canalizam adequadamente os casos, até a o manejo clínico dos pacientes hospitalizados”, explicou. “Cada país deve centrar esforços visando atender a necessidade regional e nacional, com respostas modulares e flexíveis, nos diferentes cenários”, ressaltou Fuentes.
Ana Maria Malik pontuou durante o debate os pontos essenciais levantados pelos convidados para a resposta à pandemia. Ressaltou a questão da segurança do paciente e dos profissionais de saúde, o papel da APS nas emergências sanitárias, a logística para aquisição de insumos estratégicos, entre outros tópicos. Para ela, um dos legados desta emergência sanitária é a oportunidade da sociedade discutir como ela quer construir o seu futuro depois da pandemia, pensar em quais políticas são essenciais para uma sociedade mais solidária. “O SUS é cidadania e após a pandemia, a sociedade precisará construir um novo mundo”, defendeu.