Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) realizou na manhã desta quarta um fórum digital para discutir estratégias de proteção de trabalhadores do SUS em situações de emergência. O evento, que contou com mais de 60 pessoas representando 20 Estados do País, marca a estreia de reuniões periódicas organizadas para articular ações conjuntas na área de gestão do trabalho para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Nos encontros semanais, serão formuladas também estratégias que possam ser implementadas na rotina, num período do posterior ao controle dos casos de Covid-19.
Coordenador Técnico do Conass, o professor Fernando Cupertino destacou a importância do encontro. Haroldo Pontes, assessor técnico do Conass, observou que a força de trabalho é um dos elementos-chave da resposta à situação de emergência. Monica Padilla, da Opas, ressaltou a importância desse espaço de trabalho gerado pelo Conass para aportar elementos estratégicos para fortalecer a gestão do trabalho e da educação no País como recurso chave para o enfrentamento a situações de emergência, especialmente no momento em que países de todos os continentes se mobilizam para agir frente ao COVID-19. Renato Tasca, da Opas, afirmou que boa parte dos problemas hoje enfrentados na pandemia têm origem em problemas antigos, resultantes de financiamento insuficiente para o SUS. O intercâmbio de experiências, completou, é essencial para encontrar mecanismos de resposta a esses desafios.
Integrante da equipe da Opas para a América do Sul, o especialista Hernan Sepulveda, relatou a estratégia para o enfrentamento da Covid-19, proposta em dialogo com vários países da America do Sul. A ação passa por quatro eixos. O primeiro deles é de informação suficiente para conhecer a disponibilidade de pessoal para trabalhar com pacientes contaminados pelo coronavírus e o potencial de incremento. O segundo, seguridade e proteção, tanto física como psicológica, para os profissionais, submetidos a forte estresse, não apenas pelo grande volume de trabalho, mas também pela escassez dos equipamentos de proteção individua. O terceiro eixo é o de reorientação dos processos de trabalho para equilibrar cargas de trabalho e combinação de competências profissionais. Já o quarto eixo é o de parâmetros para a gestão de sistemas contratuais.
Sepúlveda destacou ainda a necessidade de otimizar o trabalho dos profissionais, com escalas e equipes de reserva. Tais grupos entrariam em campo no caso de contaminação de trabalhadores de saúde que estão prestando atendimento, um problema que ocorre em quase todos os países que enfrentam a pandemia. O especialista chileno reforçou ainda a necessidade de se otimizar a gestão de recursos humanos, com recrutamento de estudantes que estão próximos da conclusão da graduação e da reinserção de profissionais aposentados que se voluntariam para o trabalho. Sepúlveda lembrou também da necessidade de se avaliar a situação contratual das equipes de saúde e da oferta de garantias ao profissional, em caso de adoecimento.
Professor da Escola Andaluza de Saúde Pública, Jose Martinez Olmos, classificou a pandemia de Covid-19 como um incêndio epidemiológico, uma situação inédita que trouxe impactos econômicos maiores do que os apresentados pela Guerra Civil Espanhola. O país, que contabiliza 208.389 casos confirmados e 21.717 mortes determinou confinamento da população para reduzir a escalada das contaminações. A medida reduziu o avanço das transmissões e a expectativa é de que, em meados de maio, passados 55 dias de confinamento, algumas atividades comecem a ser retomadas. Isso será feito de forma gradual. Olmos observou que ainda não está clara a estratégia que sera adotada nessa abertura progressiva.
O professor da Escola Andaluza contou que, no enfrentamento da pandemia, a Espanha adotou algumas medidas para ampliar a sua capacidade de atendimento. Uma das medidas foi a convocatória e retorno ao trabalho de profissionais que já estavam aposentados. Além disso, facilitou a atuação de profissionais estrangeiros que não tinham até então permissão para atuar no País, de especialistas da União Europeia e, ainda, de estudantes de cursos do último ano de graduação. “A intensidade da epidemia é tamanha que nenhum sistema de saúde estava preparado para uma pandemia dessa natureza”, disse. Também na Espanha, 30 mil profissionais de saúde foram afetados pela Covid-19, acirrando as dificuldades para o atendimento da população.
Para lidar com uma situação totalmente inusitada, integrantes da Secretaria de Saúde da Paraíba resolveram usar informação e, sobretudo, identificar as necessidades dos profissionais da ponta. A Secretária Executiva de Saúde da Paraíba, Renata Nóbrega, contou que, assim que casos começaram a ser relatados, uma enquete foi realizada para verificar quais as principais necessidades dos profissionais de saúde. Um curso de formação, feito com a Escola de Saúde e Pública, foi formulado e divulgado no YouTube. Essas aulas, contou Nóbrega, já tiveram mais de 1.800 visualizações. Além disso, a secretaria montou um atendimento psicológico para dar apoio aos profissionais na saúde. A maior demanda, de acordo com ela, é de profissionais da enfermagem.
Este encontro inicia a atividade sistemática para analisar e compartilhar soluções, fazer sinergia e aportar, efetivamente, para responder aos desafios do Covid-19 no País.