Que saúde você vê? Foi com essa provocação à secretários estaduais de saúde e suas equipes de comunicação, comunicadores da saúde, profissionais da mídia e profissionais e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), que o CONASS realizou em parceria com o Canal Saúde da Fiocruz, o seminário CONASS Debate – Que saúde você vê? – no último dia 28 de novembro, na Fiocruz no Rio de Janeiro.
Para o ministro de Estado da Saúde, Arthur Chioro, a provocação chama à reflexão sobre qual é a saúde que estamos comunicando e qual é a comunicação necessária para dialogar sobre saúde com a sociedade.
Chioro ressaltou a relevância do tema e afirmou que será necessário ter muita criatividade e ousadia na proposição de novas formas de comunicação. “Precisaremos pensar nessas múltiplas maneiras de comunicar em cada instituição, mas acima de tudo pensar em uma política nacional de comunicação em saúde, não do SUS, mas em saúde, com capacidade de encarar esses desafios que a comunicação do século XXI nos coloca. Avançar nessa perspectiva vai ser central para esse esforço de consolidação do próprio sistema”, reforçou.
O ministro da Saúde observou que existe hoje uma dissociação entre o que a sociedade pensa do SUS e o que os militantes e os profissionais do sistema pensam. Segundo Chioro, não se trata de não lidar com os problemas do SUS, mas sim de encontrar um espaço de construção desse imaginário popular que ressalte as experiências exitosas e o bom cuidado prestado à milhões de brasileiros no dia-a-dia, e que possa se contrapor às situações de desumanização e de negação do direito à saúde. “Para dar conta desse desafio é fundamental pensar em estratégias para reencantar a população brasileira com o seu sistema de saúde. Um sistema que é central para se pensar em desenvolvimento social e humano”, disse.
Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, corroborou a importância de se discutir a comunicação como eixo central e estruturante para a saúde pública brasileira. “Se nós não conseguirmos fazer com que o protagonismo da saúde esteja no pensar da sociedade, não conseguiremos avançar nos nossos desafios, e a comunicação é peça central nesse processo”, afirmou.
Para o vice-presidente do CONASS na região sul, secretário de Estado da Saúde do Paraná, Michelle Caputo Neto, o debate tem grande importância já que a comunicação é um instrumento fundamental para fortalecer o SUS.
O secretário lembrou que, apesar de todas as melhorias nos indicadores de saúde pública, o que se destaca para grande parte da imprensa e que acaba por repercutir de forma muito contundente para a população, são os desafios que ainda não foram superados e as dificuldades que o sistema ainda enfrenta. “Às vezes todo o trabalho que é feito com muita dedicação por todos nós trabalhadores do SUS, vai por água abaixo por conta de algum problema que não conseguimos sanar, portanto é fundamental que nos comuniquemos melhor porque o SUS foi muito inovador desde a sua governança, com a suas diretrizes e características até todas as conquistas que ele nos possibilitou até hoje”.
Que saúde você vê? Que saúde você faz?
O debate sobre o tema, desta vez, aconteceu em novo formato. Logo após a abertura do encontro, o público presente participou do programa Unidiversidade que abordou diversos aspectos da comunicação em saúde. Alguns assessores de comunicação das Secretarias Estaduais de Saúde levantaram questões como a compreensão do SUS pela sociedade, a importância da capacitação e valorização dos profissionais de comunicação em saúde para o SUS e a existência de novas mídias, foram abordadas ao longo do programa.
Direitos, desafios e caminhos a seguir
Na parte da tarde, iniciou-se o debate com a presença dos convidados Cláudia Colucci, jornalista da Folha de São Paulo; Inesita Araújo, pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz); Fabiane Leite, produtora dos programas de saúde da Rede Globo, e Murilo César Ramos, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB). Eles participaram do programa Sala de Convidados, que foi transmitido ao vivo pelo Canal Saúde e pela internet.
Foram duas horas de discussão acerca da imagem do SUS na mídia, da relação entre os gestores de saúde e a imprensa, do cenário político da comunicação no Brasil e seus impactos sobre a saúde brasileira.
Para o pesquisador da UnB, Murilo César Ramos, o direito à comunicação é fundamental para o direito à saúde. Ele ressaltou a importância de se pensar em políticas amplas para a comunicação no Brasil. “Ficou claro pra mim, depois desse debate, que há uma convergência entre esses dois direitos. O direito à saúde é universal e converge com o direito à comunicação. Um não pode viver sem o outro, mas enquanto a comunicação não for afirmada como um direito, nós comunicadores seremos sempre assessores quando na realidade temos de ser sujeitos nesse processo também”, disse.
Inesita Araújo, lembrou que não será possível construir uma política de comunicação com a troca constante que existe hoje de gestores e de seus profissionais de comunicação. “Os assessores de comunicação são uma categoria fundamental nesse processo que está sendo discutido aqui hoje. Eles são o lugar de imediação entre o público e o privado, entre Estado e sociedade, mas infelizmente ainda não têm a devida valorização. Esses profissionais merecem muito mais atenção do gestores. É preciso investir nessas pessoas”, disse.
A jornalista da Folha de S. Paulo, Cláudia Collucci, observou que a comunicação em saúde feita pelas instituições é na maioria das vezes focada mais no gestor e não no próprio sistema de saúde. “Muitas vezes não se pensa em melhorar a imagem do SUS, mas sim em melhorar a imagem de uma gestão específica”.
Para Fabiane Leite, produtora de programas de saúde da Rede Globo, é preciso começar a pensar que o usuário precisa de uma comunicação que o ajude a navegar pelo SUS e a entender como o sistema funciona. “O que acontece é que somos sempre pautados por denúncias acerca da dificuldade de acessar o sistema. Claro que existem todos esses problemas estruturais, mas a gente precisa criar um sistema de navegação para o usuário porque se não, ele sempre vai bater na porta dos hospitais lotados e consequentemente vai procurar a mídia para denunciar e mais uma vez, isso irá virar uma manchete negativa”, concluiu.
Os programas com os debates na íntegra serão disponibilizados em breve no nosso portal e no site do Canal Saúde.
Por Tatiana Rosa, Assessoria de Comunicação Social do CONASS
Fotos: Ricardo Souza