APSREDES

Brasil desenvolve banco de dados clínicos hospitalares sobre COVID-19 para contribuir com a Plataforma Global da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Pesquisadores de instituições hospitalares desenvolveram uma ferramenta de inteligência artificial que extrai, armazena e aperfeiçoa a leitura de dados clínicos capaz de fornecer informações sobre as características clínicas e laboratoriais dos pacientes internados por Covid-19 no Brasil. A ferramenta já organizou uma central de dados clínicos anonimizados (chamado de data hub), inicialmente com mais de 100 mil notas clínicas estruturadas, provenientes de guias de internações, e de dados clínicos não estruturados, como prontuários clínicos, tendo por piloto o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Hospitais Universitários da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e Hospital Conceição de Porto Alegre (GHC).

A solução digital permitiu que o Brasil contribuísse de forma automatizada com a Plataforma Clínica Global da Organização Mundial da Saúde / Organização Pan-Americana da Saúde, com envio de dados clínicos anonimizados das internações por Covid-19 entre 2020 e 2021. A curadoria científica deste data hub é feita por pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), EBSERH e GHC, que apontaram quais informações clínicas e terapêuticas deveriam ser representadas por um conjunto de variáveis clínicas para a leitura do software.

“O software identifica nos documentos dos pacientes as principais gravidades, comorbidades, como também procedimentos, medicamentos, testes e diagnósticos realizados durante a trajetória terapêutica do usuário no serviço hospitalar. A análise de correspondência desses parâmetros nos permitiu identificar uma acurácia bastante alta dessas variáveis”, explica o pesquisador Ricardo Kuchenbecker, epidemiologista do HCPA/UFRGS.

Os desenvolvedores da ferramenta digital e os pesquisadores do HCPA, EBSERH e GHC querem ampliar o escopo do software para que ele identifique os custos econômicos das internações. Sem a automatização da transferência dos dados clínicos, o envio das informações para a OMS seria realizado por planilhas produzidas manualmente, como fizeram outros países.

Atualização da Plataforma Global

A ferramenta digital foi apresentada na reunião realizada em setembro (01/09) com os representantes dos centros colaboradores que vão contribuir com a segunda etapa da Plataforma Global de Dados Clínicos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesta atualização da Plataforma, participam cerca de 62 hospitais e 80 unidades da Atenção Primária à Saúde (APS) e ambulatórios especializados vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS), reunidos pela OPAS Brasil e Ministério da Saúde, via projeto de cooperação com a OMS e OPAS Washigton.

Além de colaborarem com o envio de dados clínicos anonimizados de pacientes hospitalizados de Covid-19 até maio de 2022, parte dos centros colaboradores também contribuirá com informações sobre as condições pós-Covid. Um dos objetivos do projeto é definir as necessidades clínicas e de reabilitação de médio e longo prazos dos usuários com sequelas pós-Covid ou Covid Longa.

Data Hub Brasil

Para o coordenador da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS Brasil, Roberto Tapia, a construção e a manutenção de data hub clínico, desenvolvido no Brasil para facilitar o envio de dados clínicos para OMS, é uma grande contribuição para os gestores da saúde e para a comunidade cientifica brasileira.

O data hub Brasil permite o processo automatizado de extração e transferência de dados não identificados e anonimizados a partir das bases clínicas dos hospitais, com mecanismos automatizados de extração de dados e com a geração de relatórios. “Estamos trabalhando no sentido de transformar o data hub para que ele possa receber contribuições de registro clínicos em caráter de colaboração compartilhada de outros centros de pesquisas e instituições, a exemplo de biobancos internacionais”, explica Ricardo Kuchenbecker.

O data hub está hospedado na nuvem de um grande servidor e está em construção o manual de governança para que permita o uso por outros centros colaboradores, sob a gerência do HCPA. A constituição de biobancos para fins de pesquisa no Brasil segue Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 441 de 2011 e Portaria do Ministério da Saúde (MS) nº 2201 de 2011.

 

 

 

 

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe