APSREDES

Atendimento de urgências e emergências de Covid-19 na Atenção Primária à Saúde – a educação permanente na resposta à pandemia

Assista à integra do debate

As demandas trazidas pela Covid-19 exigem reações rápidas e soluções inovadoras no atendimento das urgências e emergências na Atenção Primária à Saúde (APS). Três experiências desenvolvidas no Sistema Único de Saúde (SUS) utilizaram estratégias da educação permanente para ampliar e qualificar os atendimentos dos casos mais urgentes de Covid-19 na atenção primária, abrangendo adequação de estrutura física, capacitação das equipes e estabelecimento de fluxos na rede assistencial.

Os cases de Brasília-DF, Sorocaba-SP e Arapiraca-AL foram compartilhados durante o debate virtual O atendimento de Urgência e Emergência na Atenção Primária no contexto da Covid-19, realizado nesta quarta-feira (10/09) pelo Portal da Inovação na Gestão do SUS, como parte da iniciativa APSForte no SUS – no combate à pandemia.

A divulgação dos relatos das equipes que enfrentam o dia a dia da pandemia representa uma forma veloz de acessar o conhecimento, reforçando o ambiente protetivo para a população, conforme destacou a coordenadora da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde e Capacidades Humanas da OPAS/OMS no Brasil, Mónica Padilla.

Padilla lembrou que o Brasil, assim como todo o mundo, tem presenciado os impactos de uma pandemia sem precedentes para muitas gerações, e neste cenário, a atenção de urgência e emergência na APS tem se convertido em um espaço que ultrapassa a resolução dos problemas, atuando como orientadora dos pacientes para as demais vias de acesso à rede de saúde.

A médica afirmou que as experiências da Atenção Básica evidenciam como os sistemas de saúde são um fator de proteção para seus cidadãos. “O cidadão tem que se apropriar desse direito e desse recurso valiosíssimo”, ressaltou Padilla.

Distrito Federal: atendimento a pacientes graves em UBS periférica

O médico Ruan Ribeiro Ferrazza, residente da Escola Superior de Ciências da Saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal, apresentou a experiência de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do Distrito Federal que passou por uma reestruturação para atender os pacientes mais graves com Covid-19 que estivessem saturando e, inclusive, com parada cardiorrespiratória. “Hoje, temos mais conhecimento, mas, no início da pandemia, havia uma insegurança muito grande. Ninguém sabia o que a doença poderia acarretar. Então, estruturamos a UBS e preparamos os servidores para qualquer tipo de patologia”, conta o médico.

A equipe reorganizou a unidade, separando os casos de Covid-19 dos demais, e montou um leito de UTI para acolher os pacientes potencialmente graves. Os efeitos práticos da intervenção foram a capacitação dos trabalhadores, maior segurança para os usuários e definição de fluxos.

Abordagem ao paciente grave com COVID-19 em unidade básica periférica do Distrito Federal

Sorocaba: capacitação de multiplicadores

Em Sorocaba – SP, os gestores decidiram ampliar uma experiência de capacitação desenvolvida em uma UBS para as 32 unidades do município. De acordo com o relato da supervisora da Secretaria Municipal de Saúde de Sorocaba, Diéssika Falleiros, o treinamento em urgências e emergências para os sintomáticos respiratórios graves representou uma ressignificação da Atenção Básica. “O investimento na educação permanente para os profissionais da linha de frente no combate à Covid-19 era o que a gente precisava para fortalecer a APS”. 

Mostrando às equipes que era possível realizar o atendimento de casos graves com os recursos que já existiam nas UBS, os gestores utilizaram os espaços disponíveis, com adaptações como o direcionamento de salas reservadas para o atendimento de urgências e emergências.

Capacitação de profissionais multiplicadores da Atenção Básica em Urgência Emergência - Sorocaba/SP

Arapiraca: treinamento em oxigenoterapia

O município de Arapiraca, localizado no agreste alagoano, implantou treinamentos em oxigenoterapia para os profissionais da APS e adquiriu novos equipamentos, ao constatar que as equipes não estavam preparadas para seguir os protocolos de manejo clínico de pacientes com baixa saturação de oxigênio. A enfermeira especialista em UTI e assessora técnica de Atenção à Saúde de Arapiraca, Lousanny Caires Rocha Melo, contou que foram implantadas áreas de precaução de atendimento aos pacientes com síndrome gripal em 90% das UBS. “Com isso, conseguimos assegurar o atendimento para usuários tanto com sintomas gripais como os casos de rotina”.

Segundo Melo, entre os pacientes atendidos, 5% apresentaram saturação de oxigênio inferior a 95%. Estes casos receberam suporte para estabilização, com oxigenoterapia e uma rede de urgência e emergência que assegurava a continuidade de atendimento pelas UBS.

A importância da SpO2 e oxigenoterapia no manejo clínico da Covid19 na APS - SMS Arapiraca/AL

Complexidade da APS

Ao final das apresentações, a debatedora, Maria Inez Padula, diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, chamou atenção para a complexidade da APS. “Uma situação de emergência tem uma determinada complexidade, mas o dia a dia da atenção primária é muito mais complexo que proceder uma intubação orotraqueal e referendar um paciente para uma emergência. Convivemos com violência, situações graves de adoecimento, vulnerabilidade social. Tudo acontece na APS, do ponto de vista do processo de saúde e adoecimento”.

Para Mónica Padilla, “as apresentações evidenciam a capacidade da APS para responder em forma flexível, integradora e rápida as demandas da saúde da população e a importância de uma gestão que age oportunamente, com investimentos necessários, para garantir a capacidade resolutiva requerida”.

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe