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Acolhimento de pacientes no pós-Covid-19, monitoramento de indicadores e ampliação de acesso no campo demonstram a organização da APS

A capacidade da Atenção Primária de se modificar para atender às necessidades dos territórios, promovendo o acesso e a integralidade do cuidado, foi um dos destaques na primeira apresentação das iniciativas finalistas do Prêmio APS Forte no SUS. Nesta quinta-feira (10/03), durante a live do Eixo 1 – Organização dos serviços de APS para o atendimento integral, foram apresentadas as experiências de Palotina – PR, Canaã dos Carajás – PA e Vitória de Santo Antão – PE. O encontro abre uma série de quatro debates virtuais, que acontecerão todas às quintas feiras de março, para divulgar as 12 finalistas no Prêmio.

O Coordenador da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS/OMS Brasil, Roberto Tapia, ressaltou a importância da divulgação das experiências. “Para nós, da OPAS, esta é uma iniciativa fundamental. O fortalecimento do SUS e da Atenção Primária à Saúde é uma linha permanente de atuação. E, nesta linha, o Brasil é o maior parceiro na América Latina”. Tapia salientou, ainda, a quantidade de experiências que participaram desta edição do Prêmio, demonstrando a força da APS no país. “Tivemos mais de mil inscrições. Aqui, não significa que temos as melhores, porque todas são muito valiosas”, comentou.

A Tecnologista em Gestão de Políticas de Saúde da CGGAP/DESF/SAPS/MS, Erika Rodrigues de Almeida, chamou atenção para o caráter inovador das iniciativas, que podem ser replicadas em outros lugares do país e até mesmo no exterior: “Estas experiências são inovadoras e podem servir de modelo. Sabemos o quanto a pandemia tem evidenciado novos desafios para a Atenção Primária, para o SUS, mas também tem evidenciado desafios históricos, de assistência, de acolhimento, atendimento e educação permanente”.

Palotina – PR: Acolhimento e atendimento multiprofissional em reabilitação pós-Covid-19

O município de Palotina, no Oeste paranaense, organizou um serviço específico para o acolhimento de pacientes que continuaram apresentando sintomas no período posterior à infecção pela Covid-19. Entre a população de mais de 30 mil habitantes, foi realizada uma triagem dos casos que testaram positivo para o coronavírus, para manter a continuidade da assistência após o fim do isolamento.

A Diretora da Atenção Básica de Palotina, Jessica Kehrig Fernandes, explicou que a criação do ambulatório foi uma forma de responder às dificuldades encontradas pelos pacientes que procuravam os serviços de saúde no pós-Covid-19. “As equipes identificaram que os pacientes ficavam muito perdidos após a infecção com Covid. Muitas vezes, procuravam alguma unidade com algum sintoma remanescente, e não conseguiam sanar suas dúvidas. Havia um grande número de pacientes inseguros, com dúvidas e sequelas”, relatou.

Para organizar o atendimento a esses pacientes, foi criado um instrumento de estratificação, envolvendo todas as equipes. Foram estipulados três faixas de risco: baixo, médio e alto, a partir de uma classificação que se baseava na pontuação de cada paciente, conforme o tempo que positivou para a Covid-19, as principais comorbidades e queixas apresentadas.

Conforme a pontuação, os pacientes eram destinados ao serviço mais adequado. Aqueles que eram classificados como baixo risco eram encaminhados a encontros presenciais para esclarecimento de dúvidas. Além de realizar reuniões, as equipes de saúde utilizavam outras estratégias, como envio de mensagens e vídeos por aplicativos de celular. Os pacientes de risco intermediário passavam por uma consulta com o médico de referência, e os pacientes de alto risco eram direcionados para a equipe de saúde domiciliar.

Após a triagem e a classificação, os profissionais que faziam o acolhimento verificavam se a classificação estava correta, ou se era necessária uma readequação. “A percepção do profissional que fazia o atendimento possibilitava que se levasse o paciente para outro nível de risco. A ficha não era engessada. Ela possibilitava aos pacientes caminharem entre as linhas de estratificação para que fossem melhor atendidos. A equipe priorizou o atendimento da demanda do paciente”, disse Jessica.

Segundo a Diretora, entre maio e outubro de 2021, foram realizadas mais de 1,5 mil estratificações em Palotina. Destes pacientes, 98,4% foram estratificados imediatamente após a liberação do isolamento, no máximo 30 dias após o resultado positivo, o que possibilitou a recuperação mais rápida de sequelas. A maioria dos pacientes, 96,51%, foi identificada como baixo risco; 2,57% como risco intermediário, e 0,92% como alto risco. As principais queixas que os pacientes continuaram apresentando no pós-Covid-19 foram perda de paladar e olfato, cansaço, tosse, cefaleia, ansiedade, perda de peso, fraqueza, dor muscular, falta de apetite, insônia, falta de ar, tristeza e desânimo.

Canaã dos Carajás – PA: Ampliação do acesso e monitoramento dos indicadores da APS

Em Canaã dos Carajás, no Pará, o monitoramento das ações e a reorganização da Atenção Primária à Saúde possibilitaram maior acesso da população aos serviços. Embora conte com uma população de 38 mil habitantes, o município possui mais de 76 mil pessoas cadastradas no e-SUS, aumentando o desafio de ofertar um atendimento equânime, integral e longitudinal.

Segundo a Coordenadora das Redes Assistenciais à Saúde, Eliana Pessoa do Vale, entre 2017 e 2019, o município passou por um processo de reorganização da APS, com o objetivo de ampliar o acesso aos serviços. Esta ampliação foi alcançada com uma série de modificações, incluindo horário de atendimento estendido, reorganização das agendas, implantação do acolhimento à demanda espontânea, reterritorialização das microáreas e implantação do prontuário eletrônico integrado entre todas as UBS, inclusive na zona rural.

A partir de então, Canaã dos Carajás passou a realizar encontros de monitoramento quadrimestrais dos resultados e estruturou metas para alcançar os indicadores do Previne Brasil, programa do Ministério da Saúde que estabelece um novo modelo de financiamento da APS. O processo de organização do monitoramento dos indicadores do Previne Brasil visava à garantia do acesso dos usuários e ao alcance da cobertura de 100% das metas em todos os indicadores previstos no Programa.

As metas foram definidas com parâmetros semanais, mensais e quadrimestrais para cada um dos indicadores de acordo com o perfil populacional do território. Nos resultados relacionados à vacinação, o monitoramento era diário. Os demais resultados eram monitorados semanalmente, e todos os indicadores passaram a ser avaliados em reuniões entre os gerentes e as equipes.

Para Eliana, o trabalho em equipe foi o grande diferencial da experiência de Canaã dos Carajás. “O monitoramento dos indicadores dá retorno do que não foi alcançado. Todo mundo tem que trabalhar em rede, é preciso haver integração da equipe. Formar as pessoas com este perfil, é o grande desafio. Em Canaã, temos esse comprometimento, e isso faz a diferença”, observou.

Uma das estratégias utilizadas para alcançar as metas foi a realização de busca ativa, por meio de ligações e visitas domiciliares, e o agendamento de consultas. A vacinação domiciliar, especialmente dos usuários com mais de 60 anos, e a reabilitação domiciliar dos usuários pós-Covid-19 também contribuíram com os resultados.

Durante a pandemia, as Unidades Básicas de Saúde mantiveram o atendimento às linhas de cuidado, com consultas de rotina, acompanhamento e realização de visitas domiciliares, solicitação, coleta e entrega dos exames. “Quando a gente percebeu que os nossos pacientes, que precisavam ser atendidos na Atenção Básica, não estavam frequentando os serviços por causa da pandemia, nós criamos um ambulatório específico para a síndrome gripal, para deixar que todos os outros públicos fossem atendidos normalmente”, contou a Coordenadora.

Com a manutenção de todos os serviços da APS no contexto da pandemia, Canaã dos Carajás obteve, no terceiro quadrimestre de 2020, a melhor pontuação do estado do Pará no programa Previne Brasil. No segundo quadrimestre de 2021, o município recebeu pontuação 10 em seis dos sete indicadores. Com estes resultados, passou a receber 97% do incentivo no 2º quadrimestre e no 3º quadrimestre de 2021.

Eliana considera que o alcance dos resultados, além de impactar no recebimento de incentivo financeiro, reflete o principal objetivo do município, que é a ampliação do acesso aos serviços e o fortalecimento da APS como porta de entrada da Rede.

Vitória de Santo Antão – PE: Programa Saúde no Campo: ampliação do acesso à saúde em um município do interior Pernambucano

No município de Vitória de Santo Antão, no Pernambuco, o Programa Saúde no Campo ampliou o acesso à saúde entre os moradores das comunidades rurais. A Coordenadora da Atenção Básica do município, Alexciane Priscila da Silva, relatou que a iniciativa surgiu a partir do diálogo com as lideranças comunitárias e do mapeamento dos territórios, onde foram identificadas as principais necessidades da população.

O Programa foi implantado em setembro de 2021, com a inauguração do Consultório Multidisciplinar de Atenção à Saúde de Oiti, vinculado ao Programa Saúde da Família.
Neste processo de oferta do cuidado, foram desenvolvidas ações como vacinação, orientação com assistente social, atendimento médico e orientação de saúde bucal, além de rodas de conversa, vistas domiciliares com equipes multidisciplinares, introdução de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e entregas de cestas básicas.

Conforme o relato de Alexciane, o objetivo principal de todas estas ações foi a oferta de cuidado integral à população rural. “Nós percebemos que, na impossibilidade de o homem do campo chegar nas unidades básicas, são as ações da Atenção Primária à Saúde que devem bater na porta de suas casas, buscando diminuir barreiras de acesso e provocar o caminho do encontro”.

As equipes da APS estão em constante capacitação, visando à sustentabilidade da iniciativa. Alexciane contou que os profissionais estão sempre vinculados a uma Unidade de Saúde da Família dos territórios atendidos. O maior desafio, segundo a Coordenadora, é superar as distâncias, tanto para os usuários quanto para as equipes. “Aos poucos, vamos aprendendo como construir esta logística. O grande segredo é dialogar com a comunidade, com as lideranças, que abrem suas portas, que anseiam a nossa ida. Eles nos querem nesse território, e cabe a gente encontrar esse caminho do encontro, para efetivar esse cuidado”.

Assista à íntegra da live em: https://youtu.be/47PBak7Hwvg

Vídeo de Vitória de Santo Antão – https://youtu.be/EUH8YxeMLzM

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