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A experiência do Grupo Hospitalar Conceição no manejo de hipertensão e diabetes na APS

O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) está conseguindo enfrentar a epidemia das doenças crônicas após reorganização do Serviço de Saúde Comunitária (SSC), um serviço de Atenção Primária que cobre aproximadamente 105 mil pessoas residentes nas zonas norte e leste de Porto Alegre. Composto por 12 unidades de saúde, o SSC registra resultados positivos na qualidade da atenção prestada aos usuários com diabetes e hipertensão arterial, assim com na melhoria de acesso do cidadão ao serviço. “Nós atualizamos os serviços com a necessidade de saúde da população atendida por nós. Já tínhamos hipertensos e diabéticos acompanhados, mas gostaríamos de ampliar o acesso dos que não estavam acompanhados e com as melhores tecnologias do manejo de crônicas”, conta Claunara Mendonça, gerente do Serviço de Saúde Comunitária/GHC. 

O reflexo do trabalho foi observado na redução do número de internações hospitalares, comparando os anos de 2010 e 2012. Foram internadas, nesse período, menos pessoas por hipertensão (de 12 para 5), por angina de peito (20 para 6), por insuficiência cardíaca (93 para 25), por doenças cerebrovasculares (106 para 52) e por diabetes (49 para 16) em hospitais do GHC. Esse resultado se torna ainda mais relevante porque ocorreu no momento em que houve incremento de cobertura, ou seja, quando o serviço de saúde melhorou a identificação e o vínculo das pessoas hipertensas e diabéticas com o serviço. Entre janeiro de 2010 a dezembro de 2012, a cobertura em hipertensão arterial passou de 34% para 59% e em diabete melito, de 35% para 53% da estimativa populacional do SSC. Atualmente estão inscritos nas unidades 10.984 hipertensos, sendo 67% encontram-se com a pressão controlada, e 3.064 diabéticos, com 52% deles com glicemia controlada.

A mudança começou quando o enfrentamento da condição crônica passou a fazer parte do plano estratégico do SSC. “O cuidado das crônicas, diabetes, hipertensão arterial e sofrimento psíquico, passou a ser prioridade no SSC. Uma das mudanças foi a implantação de indicadores gerenciais para esses problemas, com metas estabelecidas pelas equipes cujo cumprimento é parte da avaliação de desempenho dos trabalhadores, explica a gerente Claunara Mendonça. A gestora conta ainda que a etapa mais difícil foi a de estabelecer o papel de cada um da equipe multiprofissional no cuidado do usuário crônico. “Não é uma construção fácil. Estamos permanentemente passando por alinhamentos conceituais e discussões de formação para avançarmos na implantação de novas formas de oferecer o cuidado”, conta.

Primeiramente, foi feito um levantamento das necessidades de ensino e atualização dos profissionais de saúde, que somam cerca de 450 pessoas. “A receptividade foi muito positiva porque havia uma ânsia em aprender novas tecnologias para o manejo de crônicas. Por meio de um questionário, verificamos que havia uma necessidade de atualização clínica em hipertensão e diabetes, entre toda a equipe, médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde”, explica a médica Sílvia Takeda, da equipe de monitoramento do SSC.

A demanda foi respondida nos dois últimos anos (2011 e 2012) com a realização de oficinas, de encontros regulares nas unidades de saúde e de discussões sobre questões clínicas para cada categoria profissional, sensibilizando e capacitando, assim, toda a equipe para a nova abordagem de cuidado das doenças crônicas. “Apostamos em um processo contínuo de educação permanente para sustentar a mudança. Sistematizamos as práticas preconizadas pelo Modelo de Atenção às Condições Crônicas nos nossos encontros e oficinas. Atualizamos os protocolos clínicos da diabetes e hipertensão, amplamente divulgado e utilizado pela equipe. Elaboramos um algoritmo para subsidiar os médicos e enfermeiros durante as consultas nas unidades de saúde”, conta a coordenadora do Centro de Pesquisas em Atenção Primária/SSC/GHC, Margarita Diercks.

Este ano (2013) estão sendo introduzidas novas ferramentas do manejo de crônicas nas unidades de saúde, como as consultas coletivas por equipe multidisciplinar; a utilização de instrumentos de autocuidado apoiado; e o plano de cuidado elaborado e monitorado pelos profissionais e usuários. “Estamos fazendo um alinhamento conceitual sobre as ferramentas, que de certa forma demandam novas atitudes e práticas por parte dos profissionais e dos usuários, mas contamos com a boa receptividade deles”, diz Silvia Takeda.

Também será implantada este ano a estratificação de risco de vulnerabilidade de pacientes, com uma nova metodologia que avalia o risco cardiovascular com a capacidade do usuário de se cuidar, que foi desenvolvida por dois médicos do SSC. “Faremos inicialmente essa estratificação por meio manual, pois ainda não conseguimos avançar no sistema de informação”, explica Claunara Mendonça. Outra demanda decorrente da estratificação será a programação de consultas de acordo com as necessidades dos usuários. “Estamos repactuando com os gerentes de unidades, profissionais de saúde, essa questão da agenda de consultas, e algumas delas ocorrerão de forma coletiva”, explica a gerente.

Avaliação

O grupo de monitoramento do SSC acompanha a implantação do modelo de crônicas por meio de um conjunto de indicadores relacionados à atenção em Hipertensão de Diabetes, são eles: cobertura de hipertensos e diabéticos, proporção de hipertensos e diabéticos com controle clínico; proporção de hipertensos com rastreamento para depressão/ansiedade/alcoolismo (através da aplicação do SRQ20 e CAGE para hipertensos cujo controle clínico não está adequado); proporção de hipertensos com depressão/ansiedade/alcoolismo com plano terapêutico estabelecido. 

Além desse monitoramento, o Centro de Pesquisa em APS do GHC avaliará o impacto na situação de saúde e no processo de trabalho, por meio do projeto de pesquisa “Avaliação da Atenção à Saúde em hipertensão arterial sistêmica e diabete melito, em Atenção Primária”. A pesquisa longitudinal com duração prevista para 4 anos prevê o acompanhamento de pelo menos 4 medidas de indicadores de resultado (na população) e indicadores de processo (na população e nos profissionais das equipes multidisciplinares). A avaliação dos processos educativos utiliza como referencial as dimensões de Kirkpatrick modificado por Freeth (satisfação dos participantes com a atividade de ensino-aprendizagem, mudanças de conhecimento, práticas, atitudes, e resultados em saúde). “O fato de ter uma pesquisa acompanhando todo processo de mudança no modelo de atenção do SSC traz um ar seriedade e continuidade. Com o registro teremos evidências científicas sobre a experiência em curso”, diz Margarita Diercks. Foi realizado um estudo transversal para avaliar a situação de saúde das pessoas com diabetes e hipertensão e a organização dos serviços no momento da introdução das mudanças no modelo de atenção, onde 2.529 usuários hipertensos e diabéticos e 329 profissionais de saúde que compunham as equipes multidisciplinares foram entrevistados.

Por Vanessa Borges, do Portal da Inovação em Saúde (www.inovacaoemsaude.org)

Fotografias:  US Jardim de Itu – SSC/GHC

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