Procedimentos de exodontia múltipla em AD

Sedação domiciliar para realização de procedimentos de exodontia múltipla em pacientes acamados devido a sequelas neurológicas

Em quantos pacientes já foi utilizado o procedimento?

1- Instituição Preponente:
Programa de Assistência e Internação Domiciliar – PAID
Rua Wenceslau Brás, 429, Parque São Paulo
Cascavel/PR
CNPJ:09.051.532/0001-22

2- Autores:
Angelina Souto Dalzochio, enfermeira do PAID
Reginaldo Florentino da Silva, dentista do PAID
Rogério Yassuaki Sakurada, médico do PAID

3- Contato:
45-39021890
rysakurada@hotmail.com

4- Eixo: Cuidados em AD

5- Tema principal: Adaptação de procedimentos e técnicas para o contexto domiciliar e familiar

6- Título: Sedação domiciliar para realização de procedimentos de exodontia múltipla em pacientes acamados devido a sequelas neurológicas

Sedação domiciliar para realização de procedimento de exodontia múltipla em pacientes acamados devido a sequelas neurológicas

Este trabalho busca relatar a experiência do Programa de Assistência e Internação Domiciliar de Cascavel (PAID) quanto ao atendimento odontológico prestado aos usuários do serviço e a tentativa de fornecimento de maior conforto e humanização ao paciente.

A higiene oral em pacientes acamados torna-se de suma importância principalmente se considerarmos o perfil destes atendidos pelo serviço. Em sua grande maioria, são indivíduos que não conseguem realizar os cuidados com a cavidade oral sozinhos ficando dependentes de terceiros para tanto, sendo que por não conseguirem se comunicar tanto verbalmente como através de gestos tornam-se suscetíveis a uma limpeza de má qualidade. Soma-se a isso, o fato de que grande parcela já possuía problemas dentários previamente e que foram agravados pelo estado mórbido que os levaram ao acamamento.

Durante os atendimentos rotineiros executados pelo odontólogo, foram verificadas as precárias condições de saúde oral de muitos dos pacientes, sendo a presença de dentição cariada não funcional e em muitos casos, somente das raízes dentárias dos indivíduos alguns dos grandes problemas levantados. Tais situações corroboram com o aparecimento de estomatites, abscessos orais, mau hálito, disfagia, contaminações de sondas e até mesmo no surgimento de pneumonias, como estão comprovando os mais recentes estudos.

Ainda outro fator importante na recuperação da sanidade oral do paciente se refere à dor que o mesmo possa sentir, visto que as raízes estando expostas tornam-se sensíveis ao contato com alimentos e medicamentos, assim como às flutuações de temperatura local. Isto gera grande desconforto tanto para o paciente quanto para a equipe, pois em muitos casos estes pacientes não respondem a comandos para permanecerem com a boca aberta o que resulta em um inadequado tratamento das patologias. Estas ficam dependentes de um centro de atendimento especializado, ou até mesmo da internação hospitalar para sua resolução.

Os objetivos destes relatos são os de demonstrar a possibilidade de tratamento odontológico domiciliar mediante sedação endovenosa, com acompanhamento médico, em pacientes acamados que não se comunicam e que não respondem a comandos, associado à oclusão bucal voluntária ou não, buscando a menor exposição do paciente ao ambiente hospitalar com redução do risco de infecções nosocomiais.

A metodologia utilizada foi através da análise de experiência em cinco casos de atendimento no domicílio com sedação endovenosa utilizando a medicação Midazolam.

Os procedimentos foram embasados nos serviços realizados em clínicas odontológicas que se utilizam da sedação para procedimentos. Todos os paciente realizaram ao menos eletrocardiograma, exames de função renal e coagulação sanguínea, glicemia, e raio x de tórax. Em adultos com menos de 60 anos a dose utilizada foi de 2,5 mg administrada 5 a 10 minutos antes do início do procedimento com incremento de doses adicionais de 1 mg se necessário. Doses médias totais têm sido em torno de 3,5 a 7,5 mg.

Porém, considerando que nossos pacientes submetidos ao procedimento eram em sua maioria com idade acima de 60 anos ou debilitados e cronicamente doentes a dose inicial a dose inicial foi reduzida até cerca de 1,0 mg e ser administrada 5 a 10 minutos antes do início do procedimento. Doses adicionais de 0,5 a 1 mg foram acrescentadas durante o procedimento se houvesse superficialização da sedação, uma vez que nestes pacientes o pico do efeito pode ser atingido menos rapidamente. Uma dose total maior que 3,5 mg geralmente não foi necessária. A dose de manutenção utilizada foi de 0,05mg/kg/h em infusão contínua em solução fisiológica de 100ml com boa resposta, havendo apenas um caso em que a dose teve que ser aumentada para 0,07mg/kg/h devido à não manutenção com a dose utilizada previamente.

Quanto aos procedimentos, as exodontias variaram na retirada de 4 a 15 peças dentárias nos indivíduos analisados Após a sedação era realizada a anestesia com lidocaína injetável com vasoconstritor para seu melhor manuseio e conforto.

Durante os procedimentos, os cuidados tomados para segurança do paciente consistiam na permanência de ambulância no local com sistema de oxigênio e materiais de intubação orotraqueal, ambu, sistema de aspiração de vias aéreas, oxímetro portátil, equipamento para verificação de pressão arterial e glicosímetro.

Dentre as intercorrências ocorridas, podemos relatar acúmulo de secreção salivar em cavidade oral com necessidade de aspiração bucal; em uma paciente houve discreto aumento de sangramento provavelmente devido a nossa opção de não retirarmos o uso de antiagregante plaquetário por considerarmos o risco embólico maior que a intercorrência bucal, todavia o procedimento foi bem realizado sem demais agravos; em outro paciente houve discreta queda de saturação de oxigênio com índice basal de 92% caindo para 86% e rapidamente revertido com pequeno suporte de oxigênio em cateter nasal a 2 l/min. Não houve intercorrências nos pós operatório dos paciente sendo que graças a utilização de pontos com fios absorvíveis, estes se desprenderam sozinhos após a cicatrização.

Os principais resultados alcançados com os procedimentos incluem a alta satisfação dos usuários e de seus cuidadores que, em todos os casos, estavam aguardando à muito tempo a liberação de internação hospitalar para realização dos procedimentos, principalmente devido a ausência de estrutura ambulatorial com equipe médica para sedação dos pacientes. Também observamos baixo nível de complicações nos procedimentos realizados, principalmente devido a equipe já conhecer o paciente de longa data e já estar acompanhando sua evolução clínica, podendo antecipar possíveis intercorrências. Outro grande ponto positivo é o relaxamento mandibular com facilitação da abertura bucal, o que não ocorre na anestesia local. Não houve sinais de infecção em cavidade oral após o procedimento, sendo que em dois pacientes observamos acentuada melhora do quadro de gemência crônica, provavelmente provocado pela algia local e em outros dois pacientes presenciamos grande melhora no padrão alimentar via oral, inclusive facilitando na deglutição dos alimentos.

Concluindo, acreditamos que o trabalho realizado é inovador principalmente pela inclusão dos procedimentos domiciliares de odontologia, muitas vezes esquecidos pela equipe de saúde, mas que podem trazer um imenso benefício ao cliente do serviço. Quanto ao procedimento de sedação este vem a ajudar, mediante prévios cuidados, no trabalho do dentista para promover uma melhor qualidade de vida mesmo naqueles indivíduos altamente debilitados, evitando o remover desnecessário para o ambiente hospitalar e promovendo seus direitos de acessibilidade aos serviços de saúde.

 

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